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Capítulo

Lia Scussel acaba de levar um pé na bunda do namorado, que terminou o romance por telefone. Determinada a superá-lo, a jovem universitária se arruma e vai para uma noite de balada com sua melhor amiga. É nesta noite que conhece um homem mais velho, sedutor e que a trata como mulher, não uma garotinha. E ela adora isso. Ela ama isso! O que Lia não esperava, no entanto, é que após se entregar ao homem perfeito, ele fosse desaparecer e não mais responder suas mensagens. Como se não fosse o bastante, ao iniciar mais um semestre na faculdade, ela descobre que o amante fujão é seu mais novo professor de filosofia... mas este é apenas o início de uma história cheia de reviravoltas! Consumida por uma paixão voraz, Lia não consegue lidar com a rejeição e se fecha completamente para o amor... mas durante um intercâmbio na Austrália ela conhece um diplomata encantador e mais do que disposto a ter sua chance de conquistá-la. Será que Lia está pronta para se render a um novo amor, ou ser rejeitada pelo professor teria deixado cicatrizes irrecuperáveis em seu coração?

Capítulo 1 PRÓLOGO

DIAS ATUAIS

Um dia minha mãe me disse:

“A vida é cheia de amores e um deles será o certo, aquele que vai se

encaixar perfeitamente no seu coração.”

Dez anos se passaram desde que ouvi essas palavras.

Levou algum tempo até eu entender o que ela quis dizer.

Já tive alguns amores nesta vida, alguns deles me deixaram boas

lembranças, outros nem tanto, mas todos me serviram de aprendizado.

Nenhum dos meus amores foi desperdiçado, de cada um deles eu tirei uma

lição, mas a principal delas, a que levo até hoje como um mantra e que

costumo dizer em voz alta todos os dias ao me olhar no espelho, antes de sair

do quarto e viver o meu dia é:

— Simplifique, não complique!

Foi assim que nasceu Talia Price, meu novo eu.

Quando me casei com Richard e nos mudamos para Londres, eu sabia

que seria definitivo.

Foi amor à primeira vista.

Estou falando de Londres, não do meu marido.

Com Richard as coisas foram um pouco mais devagar, mas de qualquer

forma era definitivo. Estávamos casados há quatro anos e não me imaginava

vivendo de outra forma a não ser em sua companhia. Ele foi se encaixando

perfeitamente no meu coração e finalmente aceitei que era a pessoa certa e

que me faria feliz.

— Oi, amor. — Richard me deu um beijo na testa assim que saiu do

banheiro.

Estava lindo em seu terno azul-marinho. O cabelo castanho com um leve

tom dourado contrastava com a pele alva e os olhos de um leve azulacinzentado.

Meu marido era tão lindo como quando nos casamos.

Percebendo que o estava analisando, Richard semicerrou os olhos e fez

seu típico beicinho sedutor.

Ah, sim!, meu marido sabia ser sexy propositalmente, mas em grande

parte do tempo ele nem sequer se esforçava, era tão natural quanto respirar.

Sua elegância com certeza foi herdada do pai inglês, mas, a sua sensualidade

foi da mãe brasileira.

Meu James Bond particular não era um superagente secreto, mas suas

missões diplomáticas para a embaixada brasileira o afastavam de mim por

bastante tempo. Por isso eu o admirava sempre que estávamos a sós, era

como se tentasse capturar sua imagem para minhas lembranças, seu sorriso

torto e seu olhar penetrante me seduziam todos os dias.

Eu sabia que era uma mulher de muita sorte.

— Se ficar me olhando desse jeito, vou levar um belo esporro do

embaixador, porque eu estou prestes a tirar toda a minha roupa — disse

fazendo um gesto dramático para si mesmo, em seguida apontou para mim

com o semblante sério, mas totalmente falso. — E a sua roupa.

Sorri ternamente.

— Proposta tentadora, mas vou ter que recusar — desconversei.

Meu marido era sério demais, profissional demais e eu jamais o faria

sujar sua imagem diante do embaixador.

— Tenho que terminar meu relatório para a loja de antiguidades do Sr.

Smith.

— Aquela da Church Street?

— Uhum.

Ele deu um sorriso debochado.

— Você pode me trazer um souvenir?

— Que tal um queijo? — Pisquei para ele.

— Do mercado de laticínios? — Fez uma careta. — Dispenso! Pode ser

um relógio de bolso, de algum famoso da realeza antepassada.

— Ei, não brinque com isso — repreendi. — A loja do Sr. Smith é

pequena, mas ele tem itens realmente valiosos lá. Avaliar as peças e traçar

um perfil histórico para elas aumenta a possibilidade de venda e a

valorização, já que torna as peças ainda mais interessantes.

— Tudo bem, você é minha contadora de histórias favorita. Mas eu

preciso ir trabalhar.

Fomos até a sala, onde o desjejum estava servido. Marie iniciava seus

serviços bem cedo, para que tudo estivesse pronto assim que levantássemos.

Richard serviu-se de uma xícara de chá e nem sentou para tomá-la.

— Ei bonitão, senta aí e beba esse chá direito. — Empurrei seus ombros

para baixo, fazendo-o se sentar. — Ainda tem cinco minutos antes de sair de

casa.

— Você acordou mandona demais! — Brincou com um sorriso

malicioso no rosto. — Sempre que eu te deixo ficar por cima você acorda

assim, toda dominadora.

— Pare com isso, a Marie pode ouvir!

— Não está mais aqui quem falou.

Tomamos o desjejum em silêncio, Richard se despediu assim que o

motorista o chamou, indo para a embaixada. Continuei tomando meu café,

devagar, deliciando-me com o croissant de chocolate que Marie tinha

preparado.

Aquela mulher tinha mãos de fada na cozinha.

Richard não gostava de dirigir, por isso tínhamos Donald, o motorista,

que era companhia constante de Richard e o acompanhava durante o

expediente na embaixada. Por outro lado, eu amava dirigir e tinha meu

próprio carro.

Meu trabalho como freelancer exigia que eu me locomovesse para

qualquer lugar, a qualquer hora, portanto não queria usar dos serviços de

Donald e tirá-lo de Richard. Além disso, preferia ir sozinha.

Cheguei à loja do Sr. Smith eram quase oito horas, antes disso, enrolei

um pouco pelo Alfies, uma antiga loja de departamento com mais de setenta

comerciantes, espalhados por quatro andares. Como boa historiadora que era,

eu me encantava com tudo que lembrasse o antigo, passear por aquelas

lojinhas poderia não ser um grande desafio, mas me animava e gostava de

perambular por ali antes de iniciar um dia de trabalho.

O Sr. Smith estava atendendo um cliente quando entrei no

estabelecimento.

— Bom dia — cumprimentei os senhores com um gesto rápido de

cabeça.

— É com essa moça que você deveria conversar. — Ouvi o Sr. Smith se

referindo a mim para o homem à sua frente.

Observei-o com atenção para ver se o reconhecia, mas não. Nunca o

tinha visto na vida.

Franzi a testa e aguardei que me chamassem.

— Sra. Price, este homem está procurando uma especialista para ajudálo na organização de uma grande exposição.

Meus sentidos ficaram em alerta.

Organizar uma exposição?

Seria um sonho!

— Olá. — Aproximei-me do homem que aparentava uns sessenta anos.

— Sou Talia Price. No que eu poderia ser útil, senhor...

— Lewis, meu nome é Charles Lewis — Apresentou-se cordialmente,

exibindo um sorriso simpático que me deixou aliviada.

Eu odiava apresentações formais, nunca sabia o que dizer.

Todavia aquele nome...

— Espere aí, o senhor é diretor do Museu Britânico, estou certa? —

perguntei com expectativa.

— Sim, o próprio — confirmou o que eu já imaginava.

Meu sorriso não poderia ter sido mais radiante. O famoso “de orelha a

orelha”.

— Sou grande admiradora do seu trabalho, a exposição daquelas oito

múmias do Egito e Sudão foi estupenda! — Eu parecia uma adolescente

diante de seu ídolo teen do momento. — Superou aquela sobre a Dinastia

Ming, mas fiquei igualmente impressionada com a riqueza do material

histórico. A curadoria dessas exposições temporárias é realmente impecável.

Parabéns.

— Vejo que a senhorita é apaixonada por história — Observou bastante

satisfeito. — As exposições têm sido um sucesso, temos recebido mais de

doze milhões de visitantes por ano. Não estou entre os curadores dessas

exposições temporárias, mas sou quem os seleciono, portanto, aceito o elogio

e repassarei aos verdadeiros responsáveis.

— Desculpe o meu entusiasmo — disse corando —, mas tenho visitado

o museu desde que me mudei para Londres e nunca tive a oportunidade de

conhecê-lo, Sr. Lewis. É um grande privilégio para mim.

— O privilégio é meu. Paul estava me falando sobre o seu trabalho, ele

me deu ótimas referências suas.

Paul, o Sr. Smith, nunca havia mencionado que conhecia o diretor

Lewis. De certa forma, ser lembrada por alguém como referência seria ótimo

para o meu currículo.

— Nunca trabalhei em um grande museu, mas me envolvi bastante em

trabalhos freelancer para colecionadores, casas de leilões e lojas de

antiguidades.

— Qual exatamente é a sua especialidade?

— História Antiga e Medieval.

Ele pareceu ficar feliz com a minha revelação.

— Talvez a senhorita seja quem eu esteja procurando.

— Senhora. Sou casada.

— Ah, sim!, perdão. Mas como eu disse anteriormente, Sra. Price, talvez

seja a pessoa ideal para o trabalho.

Um frio na barriga tomou conta de mim ao ouvir a palavra trabalho.

— Que trabalho?

— Estou em busca de uma nova curadoria, responsável para a próxima

exposição temporária no museu.

Meus olhos brilharam com a possibilidade.

— O senhor está falando sério?

Charles Lewis franziu o cenho, parecendo um pouco confuso.

— Por que eu não estaria?

— Ah, desculpe. É que nunca ouvi falar de uma curadora mulher

trabalhando no Museu Britânico.

— Realmente, tivemos poucas mulheres trabalhando como curadoras no

museu, principalmente nas últimas exposições. Isso não significa que temos

alguma restrição quanto à contratação de profissionais do sexo feminino,

apenas que homens tenham se destacado para a vaga, com um currículo mais

rico. Antes que a senhora me entenda mal, venho a esclarecer que esse fato se

dá pelas candidatas terem família constituída, portanto os filhos e marido são

sempre a prioridade, já os homens, na ocasião, tinham um currículo mais

extenso por serem solteiros e se dedicarem inteiramente aos estudos e ao

trabalho.

— Entendi. Sou uma mulher casada, mas acredito que meu currículo

acadêmico e profissional seja bem amplo para minha idade.

— Posso perguntar quantos anos a senhora tem, com todo o respeito do

mundo, é claro.

Essa coisa de que mulheres não gostavam de revelar sua idade era um

pouco ultrapassada. Ao menos, eu nunca me importei em dizer a minha, mas

talvez fosse porque ela ainda não era avançada demais.

— Vinte e nove anos, desde a semana passada.

O senhor Lewis retirou a carteira do bolso e, abrindo-a, sacou um cartão

e o estendeu em minha direção.

— Encaminhe-me um currículo seu, para o museu. Se possível, entregue

pessoalmente à minha secretária, no setor administrativo. Diga-lhe que eu

pedi que levasse. Irei analisar as referências e em breve entro em contato com

você para uma entrevista formal. Tudo bem?

Se estava tudo bem para mim?

Estava ótimo!

Richard nem acreditaria quando eu lhe contasse.

— Claro, seria um sonho poder fazer parte de uma exposição no Museu

Britânico.

— Não está nada concretizado, mas há grandes possibilidades. Agora,

preciso ir.

— Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Lewis.

— O prazer foi todo meu, Sra. Price.

Despedindo-se em seguida do Sr. Smith, o Sr. Lewis saiu pela porta do

antiquário enquanto eu permanecia de queixo caído, mas acreditando que

aquilo realmente estava acontecendo comigo.

— Vamos ao trabalho, Sra. Price? — O Sr. Smith me tirou dos

devaneios e acordei para a realidade.

— Mas é claro! — Eu não conseguia tirar o sorriso do rosto. — Muito

obrigada por me recomendar, Paul Smith.

Passei a manhã toda redigindo os documentos necessários para as peças

que o Sr. Smith havia solicitado. Assim que assinei e carimbei as páginas,

expliquei a ele algumas dicas para seduzir os clientes e fazê-los se interessar

ainda mais pelas peças.

Encerrando o trabalho no pequeno antiquário, recebi meu pagamento em

dinheiro, conforme o combinado, e fui embora da Church Street.

****

Um emprego como curadora honorária do Museu Britânico seria um

sonho se realizando.

Jamais me imaginei com um cargo de tamanha responsabilidade.

Sabia que era muito competente, que meu currículo era bem extenso e

minhas especializações bastante significativas, mas nunca me candidatei a

uma vaga tão conceituada, mesmo que meu sonho de juventude universitária

tenha sido trabalhar lá.

De todos os museus de Londres, o Britânico era meu favorito.

Foi o primeiro museu nacional público do mundo, em funcionamento

desde 1753, com entrada gratuita aos visitantes. O Museu Britânico possuía

um arsenal com mais de oito milhões de artefatos históricos. Embora nem

todas as peças estivessem em exibição, já que muitas delas ficavam

guardadas em depósitos, elas pertenciam a diversas fases da história cultural

da humanidade, desde o início dos tempos até os dias atuais, o que

significava mais de dois milhões de anos. Ter acesso a alguns dos artefatos

guardados seria no mínimo excitante. Imaginar-me pesquisando e

descrevendo as peças, elaborando uma exposição, era mais do que eu

ambicionaria para minha carreira como historiadora.

Cheguei em casa a tempo para Marie preparar um almoço rápido. Queria

contar ao Richard sobre o encontro com o Sr. Lewis, pois sabia que ele

ficaria extasiado com a possibilidade tanto quanto eu.

Desde que nos mudamos para Londres e obtive meu grau de mestre na

universidade de Aberdeen, Richard me incentivou a procurar emprego ou

algum estágio em museus renomados da capital britânica.

Sempre fui afiada para correr atrás dos meus estudos e ambicionei ser

uma grande profissional, com um currículo invejável, mas quando se tratava

de dar a cara a tapa e me aventurar em um museu renomado, eu era a

primeira a desistir da ideia. Sentia-me tão insegura e o medo de ser recusada

acabava falando mais alto.

Quando o Sr. Lewis disse que existia uma grande possibilidade, algo

dentro de mim despertou para que todo aquele medo e insegurança fossem

por água abaixo. Era uma grande oportunidade, quase nenhuma mulher tinha

conseguido o cargo de tamanha importância.

Eu seria uma dama em meio aos cavalheiros, o que era bastante

desafiador.

Não quis incomodar Richard no trabalho, optei por contar a novidade

assim que ele estivesse em casa. Pedi à Marie que preparasse um jantar

especial para nós e deixasse a mesa posta.

Redigi meu currículo e como tinha a tarde livre, aproveitei para ir até o

Museu Britânico a fim de entregá-lo no setor administrativo. Não queria

parecer afobada demais, mas também não queria ser esquecida e preferi ir o

quanto antes para que Charles Lewis pudesse se impressionar comigo e me

contratar.

****

Chegando ao museu, admirei a praça coberta. Sempre me impressionava

a beleza daquele lugar, as paredes todas em tons claros, com pilares gigantes

e o teto de vidro.

Eu moraria naquele lugar, mesmo que para isso precisasse dividir o

espaço com múmias.

Assim que entrei no setor administrativo, pedi para ser encaminhada até

a secretária do diretor Lewis. Um senhor gentil, com uniforme da segurança,

encaminhou-me até uma moça chamada Lane.

— Boa tarde, sou Talia Price. Estive nessa manhã com o diretor Charles

Lewis, ele pediu que eu viesse pessoalmente trazer meu currículo e que o

entregasse em suas mãos, aos cuidados dele.

A moça me observou por um pequeno período, mas continuou sorrindo

quando aceitou o meu envelope.

— Deixarei imediatamente na mesa do Sr. Lewis.

— Obrigada.

Não querendo interromper o trabalho de Lane, despedi-me cordialmente

e saí da área administrativa. Aproveitei que já estava por ali e fiz um pequeno

tour por algumas galerias do museu, das quais estavam algumas exposições

temporárias.

Passeando e observando tudo, peguei-me imaginando como seria

perfeito se eu finalmente conseguisse o emprego dos meus sonhos.

Já em casa, despedi-me de Marie que havia deixado tudo pronto para o

jantar.

Tomei um banho e me arrumei para esperar por Richard.

Não aguentando de ansiedade, enviei uma mensagem para o celular

dele, pedindo que chegasse cedo, pois eu tinha uma novidade para dividir.

Conhecendo Richard, ele já estava maquinando as possibilidades e

chegaria assim que pudesse.

Não demorou muito para que eu ouvisse o barulho da porta do hall se

abrindo. Corri até meu marido e joguei-me em seus braços, deixando-o

surpreso e todo sorridente.

— O que significa isso, mulher? — perguntou em meio aos beijos que

eu depositava por todo o seu rosto. — Saudade?

Richard me segurava no colo enquanto eu firmava minhas pernas,

enlaçadas em torno de sua cintura. Ao chegarmos na sala ele se sentou no

sofá, mantendo-me em seu colo. Apertando minha bunda com um pouco mais

de força, colou sua boca na minha em um beijo quente e avassalador.

Não havia como descrever seus beijos.

Tudo em Richard era intenso e sensual, sem meio termo.

Desde que nos conhecemos foi assim.

Atração imediata, a necessidade do toque, da pele contra a pele.

Enquanto nossas línguas dançavam na mesma sintonia, Richard passava

suas mãos por todo o meu corpo, puxando-me contra si.

— Te amo... Te amo... Te amo... — sussurrou ao pé do meu ouvido,

mordendo o lóbulo da minha orelha, assoprando meu pescoço, causando-me

arrepios na espinha, fazendo-me fechar os olhos e me entregar ao prazer do

seu toque.

— Também te amo...

Richard sempre foi o mais carinhoso de nós dois. Aquele que não tinha

medo de demonstrar os sentimentos, eu sempre fui mais travada, reservada

com as três palavrinhas. No momento que me senti pronta, quando finalmente

entendi que ele era o homem com quem eu passaria o resto da minha vida,

não tive medo de dizê-las, de fazê-lo ouvi-las e saber que vinham direto do

meu coração.

Fizemos amor ali mesmo, no chão da sala.

Lento.

Sem pressa.

Desfrutando um do outro.

Estávamos deitados, abraçados e nos olhando sem dizer nada.

Richard sorria feito bobo e eu retribuía.

— Por favor, me diga que vamos ter um bebê...

Meu corpo se retesou e em um gesto involuntário me sentei

apressadamente, encarando-o perplexa, como se ao invés de perguntar se eu

estava grávida ele tivesse pedido o divórcio.

— Por que você acha que estou grávida? — perguntei com calma,

recuperando-me do susto.

Richard continuou sorrindo, achando graça da situação.

Sentando-se ao meu lado ele alisou meus ombros, suas mãos quentes me

faziam querer derreter em seus braços.

— Você disse que tinha uma surpresa, assim que cheguei se atirou em

mim e então aqui estamos, no chão da sala. Enquanto eu te observava,

pensava em como seria ter uma menininha com as suas feições. Por alguns

segundos pude fantasiar estar segurando um filho nosso nos braços, e em

como você seria uma mãe maravilhosa.

Impossível não me emocionar com aquelas palavras.

Acariciei o rosto do meu marido que em momento algum parou de me

fitar com um sorriso.

— Não estou grávida — contei em um sussurro. Não queria decepcionálo. — Nem sabia que você queria ter um bebê.

— Ei, não estou te pressionando. Apenas me antecipei em perguntar. É

claro que quero ter um filho seu, mas não precisa ser agora se não quiser.

Temos tempo.

Respirei aliviada.

No fundo tive medo de que o desejo de ser pai se tornasse um problema

entre nós, havia muitas coisas que eu queria fazer antes de ser mãe, não me

sentia preparada, ainda queria realizar outros sonhos antes da maternidade.

— Tudo bem, me assustei um pouco. Também quero ter um filho seu,

mas por que não um menino com esses olhos azul-acinzentados? — Brinquei

para descontrair.

— Seja menina ou menino, será um pedaço nosso e eu vou amá-lo mais

que tudo na vida.

Richard recomeçou seus beijos e se aprofundou novamente nas carícias,

pude sentir que ele estava mais do que pronto para o segundo round, mas o

jantar iria esfriar, se já não o tivesse.

— Amor... podemos continuar isso mais tarde, na nossa cama. Marie

preparou um jantar especial e, além disso, quero conversar com você.

Diminuindo as carícias pelo meu corpo, Richard fez seu biquinho

sedutor e não resisti meus impulsos de mordê-lo.

— Ai! Você é uma vampira. — Fez-se de ofendido.

— Sabe que tenho fetiche pelos seus lábios carnudos. Principalmente

quando faz esse biquinho lindo.

— É assim que você quer deixar para mais tarde? Provocando-me desse

jeito?

Levantei, fugindo de seu toque, e comecei a vestir minhas roupas.

Que se demorasse ele me faria mudar de ideia.

— Vamos jantar e conversar, depois poderemos tomar um banho juntos,

o que você acha?

Levantando-se também, começou a se vestir com pressa.

— Estou faminto e curioso.

Jantamos em silêncio, saboreando o delicioso risoto e um vinho da

adega de Richard.

Após o jantar, deitamos no sofá e assistimos um pouco de televisão, meu

marido era expectador do telejornal noturno e só desligou o aparelho ao final

do programa.

— Você vai me contar como foi seu dia hoje?

— Terminei meu trabalho na loja do Sr. Smith.

— Ele deve ter ficado muito satisfeito com o resultado.

— Ficou sim, inclusive, quando cheguei à loja, ele estava me

recomendando para Charles Lewis.

Richard franziu a testa, tentando se lembrar de algo, ou alguém.

— Esse Charles é o diretor do Museu Britânico, você praticamente

endeusa o cara.

— Eu não faço isso! — retruquei. — Mas ele é brilhante. Tive a

oportunidade de conhecê-lo nesta manhã e adivinha? O Sr. Lewis pediu que

eu enviasse um currículo através de sua secretária, pois estava bastante

interessado nos meus serviços e havia recebido boas recomendações,

inclusive do Sr. Smith.

— Isso é maravilhoso! — Seu semblante não deixava dúvidas do quanto

ele se sentia orgulhoso de mim. — Pode ser a oportunidade que você tanto

desejava.

— Não é? Nem acreditei quando o vi, quase me belisquei para ver se

estava sonhando.

Richard soltou uma gargalhada gostosa.

— Eu gostaria de ter visto essa cena, caso acontecesse.

— Sem piadinhas, amor. Deixe-me terminar: hoje à tarde fui até o

museu e deixei meu currículo com a secretária. Só preciso aguardar que entre

em contato.

— Mantenha a calma e não fique ansiosa demais. Você é uma

profissional muito competente e tenho certeza que essa vaga será sua. Assim

que receber a resposta, que será positiva, iremos comemorar.

— E que tal eu dar um banho em você agora? — sugeri dando a ele um

olhar cheio de promessas.

— Excelente ideia.

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