Seus Belos Olhos

O vento uivava pelas estreitas ruas da pequena vila, carregando consigo o peso de uma decisão irrevogável. Christina, com o coração apertado, enfrentou seus pais na sala escura da modesta casa onde cresceu.

Seu pai, um homem de olhos cansados e mãos calejadas, olhou para ela com tristeza. "Christina, minha filha, não temos escolha. As dívidas de nossa família nos sufocam, e a única saída é casar você com o filho dos Malcolm"

A mãe de Christina, com lágrimas nos olhos, segurou suas mãos. "Ele é rico, Christina. E cego. Não poderá ver sua juventude ou beleza. Mas é nossa única esperança."

Christina engoliu o choro e assentiu. Ela sabia que a família dependia dela para salvar sua honra. "Eu farei o que for necessário, mãe."

Assim, na manhã seguinte, Christina partiu para a mansão isolada onde Aaron Malcolm vivia. As paredes de pedra pareciam guardar segredos sombrios, e o jardim estava repleto de rosas murchas. Quando a porta se abriu, revelando um homem alto e sombrio, ela sentiu o coração acelerar.

Ele não sorriu. Seus olhos cegos pareciam atravessá-la. "Você é Christina?"

Ela assentiu, a garganta seca. "Sim, senhor."

Ele a estudou por um momento, como se tentasse enxergar. "Bem-vinda à minha casa, Christina. Espero que esteja preparada para uma vida de reclusão."

Christina olhou ao redor, para os móveis antigos e as cortinas empoeiradas. "Eu farei o meu melhor, senhor."

Aaron suspirou. "Não me chame de senhor. Meu nome é Aaron."

E assim começou a estranha dança entre eles. Christina, com sua doçura e esperança, e Aaron com sua amargura e escuridão. Ela estava determinada a conquistá-lo, a mostrar que o amor poderia florescer mesmo nos lugares mais sombrios.

Mas o que ela não sabia era que, ao tentar salvar sua família, talvez estivesse salvando a si mesma também.

Christina sentiu um turbilhão de emoções quando cruzou o limiar da mansão sombria. Seu coração, antes cheio de esperança e determinação, agora pesava como uma âncora. A incerteza a envolvia, e ela se perguntava se conseguiria suportar a vida reclusa ao lado de um homem tão amargurado.

Ao olhar nos olhos cegos de Aaron, Christina viu mais do que a escuridão física. Viu a solidão, o desespero e a relutância. Ela se perguntou como poderia conquistar alguém que não queria ser conquistado, como poderia trazer luz a um coração tão endurecido.

Mas, apesar do medo, Christina também sentiu uma centelha de determinação. Ela não se renderia à escuridão. Seu propósito era maior do que ela mesma: salvar sua família, encontrar redenção para suas dívidas. E, talvez, no processo, também encontrasse a própria salvação.

Com passos hesitantes, Christina seguiu Aaron pelos corredores frios da mansão. Ela sabia que a jornada seria difícil, mas estava disposta a enfrentar cada sombra, cada segredo, na esperança de que, no final, pudesse iluminar não apenas a vida de Aaron, mas também a sua própria.