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Tempo de Odiar?

Tempo de Odiar?

VPinoe15

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Capítulo

Há dois anos um misterioso vírus, de origem desconhecida, transformou humanos em criaturas perigosas e sanguinárias. Viver é incerto e as pessoas que restam buscam se aliar a grupos cujos líderes são fortes o bastante para lutarem pela sobrevivência dos poucos que sobraram. É tempo de odiar, ou de confiar? ----------------------- Dedico este livro especialmente ao autor de Charon Docks At Daylight, Zoe Reed, por ter me inspirado a que escrevesse este romance, do subgênero de inimigos a amantes. Também dedico a todas as pessoas que estiveram comigo até aqui, nessa longa jornada chamada vida, com dificuldades, erros e acertos inerentes a qualquer indivíduo.

Capítulo 1 Survivalists

Capítulo 1 – Survivalists

Sargento Meg Butler

Mais um dia amanhecia na cidade litorânea de Galveston, Texas. Provavelmente deveria ser uma manhã tipicamente quente em que crianças sairiam para brincar ou que iriam às praias sem nenhum temor; se tudo estivesse normal, as pessoas se esforçariam para executar suas tarefas do cotidiano sem outras preocupações.

Bons tempos foram esses, em que o mundo tinha sido apenas mundo e nada mais além. Entretanto, há dois anos a realidade era muito mais sombria e nefasta, reduzindo não somente esta cidade, como todos os Estados Unidos da América e pelo que sabíamos os demais países do planeta, a cenários lúgubres e cheios de incertezas.

Os dias costumavam ser bonitos e, por conta disso, Galveston outrora se caracterizou por se tratar de uma região litorânea bastante visitada por turistas, mas desde que a humanidade foi assolada pela existência de um vírus terrível e mortal, tudo mudou.

Inúmeras foram as vítimas e as transformações sociais, devido à rapidez com que os contágios ocorreram, a partir da primeira onda com a investida de diversos mordedores os quais se pareciam muito com humanos em aspecto e em forma, ou até mesmo aconteceram mortes violentas pela ação intempestiva de pessoas que, preocupadas com o fato de que seu semelhante pudesse estar infectado, atiravam sem critério algum.

Abri meus olhos cansados de maneira um tanto vagarosa e me sentei na cama para que trocasse de roupa, enquanto os constantes sons de passos do lado de fora me impeliam a deixar o dormitório para que eu realizasse as tarefas necessárias ao cargo que ocupava.

Eu, que contava 28 anos, costumava dormir com uma faca debaixo das cobertas apenas por precaução nos últimos 18 meses, desde que chegamos a esta base. Não que imaginasse que infectados os quais chamávamos de errantes – porque todos eles conservavam o hábito de perambular durante a noite em busca de fazer novas vítimas –, fossem invadir o espaço militarizado que eu encontrei por indicação de meus pais, junto aos Survivalists que eu comandava.

Mas sim os humanos me preocupavam, especialmente aqueles que objetivavam destruir como única forma de recomeçar. Eles notadamente eram mais perigosos do que os contaminados.

Substituí a calça de moletom e a regata – ambas na cor azul clara – por um traje tipicamente militar. Não que alguém me exigisse algum tipo de formalidade quanto ao uniforme, principalmente em dias difíceis que sequer um governo existia, muito antes pelo contrário. Mas eu gostava de manter algumas tradições, por mais estranho que pudesse ser.

Vesti uma calça corse com bolsos cargo, não deixei de posicionar os protetores de joelho e de quadril de modo adequado, pois os perigos estavam sempre à espreita do lado de fora da base, em especial para as constantes missões de resgate de sobreviventes a que me propunha. Em seguida coloquei o top esportivo, a camiseta, um colete balístico e as botas, igualmente no estilo militar.

Ajeitei a cama o melhor que pude, esfreguei os olhos castanhos para afastar o cansaço, peguei meus utensílios de cozinha e deixei o quarto que ocupava, trancando a porta ao passar. Coloquei a chave no bolso da calça junto à minha faca e de forma um tanto apressada me dirigi ao refeitório da localidade sem sequer me preocupar com minha aparência – afinal de contas ficar bonita também não era prioritário.

O local em que nós nos alimentávamos já estava cheio àquela hora da manhã. Observei que pessoas iam e vinham, algumas a terminar e outras a começar suas refeições cuidadosamente preparadas pelo grupo de 20 cozinheiras que tínhamos. Os civis conversavam amenidades ou até mesmo falavam sobre quais seriam os afazeres que teriam durante o dia, fosse na base que nós ocupávamos ou então no enorme terreno aos fundos, o qual usávamos como criadouro de animais e de hortaliças para a obtenção dos alimentos que conseguíssemos.

Tão logo fui cumprimentada com uma breve continência por uma das moças que ali trabalhava, fui servida por ela e rapidamente me sentei em frente aos irmãos gêmeos Robert e Emily Foster, que me saudaram com alegria, embora eu percebesse o quão cansados estavam. Provavelmente os dois permaneceram na enfermaria durante a madrugada, a cuidar dos feridos. Mas, apesar disso, eles mantinham a sanidade em meio ao caos que enfrentávamos. Ou pelo menos faziam todo possível para manter a calma, eu não estava muito certa de qual era a hipótese.

Fosse como fosse, os dois eram responsáveis por me ajudar a conseguir o equilíbrio necessário quando eu, enquanto líder do grupo a que pertencia há praticamente dois anos, passava por alguma espécie de abalo emocional.

Devolvi o cumprimento com um leve aceno respeitoso e permaneci quieta a degustar minha refeição, dois ovos, alguns poucos pedaços de carne e salada. Tanto Robert quanto Emily sabiam que eu não gostava muito de falar sem que me alimentasse primeiro, por esse motivo continuaram a dialogar entre si.

— O que vai fazer hoje, Meg? — Robert me perguntou alguns minutos depois.

Ele, assim como sua irmã, possuía olhos castanhos claros pequenos e cabelos loiros. Os dois tinham pouco mais de 30 anos e, se o mundo estivesse em uma situação tida como natural, os gêmeos seriam médicos reconhecidos, fosse no Exército Americano ou fora dele. Como, porém, nós estávamos em uma circunstância completamente desprovida de controle do lado externo da base, eu aproveitava para usar de seus serviços, em troca de lhes fornecer alimento e proteção.

— Tenho que deixar a base com os soldados escalados pra missão mais tarde. — Iniciei, após engolir um pouco de comida. — Ouvi relatos de mais sobreviventes espalhados por aí.

— Então vocês... Vão às ruas, de novo?

— Sim.

— Eu sei que o comando é seu e que apesar de ser ajudada por John e por Alexia a decisão final é sua, mas... Não acha que já temos pessoas demais para abrigar por aqui? — Ele parecia preocupado.

— Não posso negar moradia e segurança a pessoas que passam suas vidas buscando por isso, Bob. — Eu justifiquei como se fosse óbvio. — Tudo que quem tá lá fora precisa é de uma chance de ter um abrigo confiável.

— Eu sei que não pode, seria até monstruoso se nós fizéssemos isso. — Ele suspirou com pesar. — Mas nós temos muito com que lidar por aqui. Os Tigers estão próximos demais...

Eu respirei fundo para conter meu temperamento irritadiço, à mera menção do numeroso grupo de pessoas que se opunha a nós. Esses indivíduos normalmente perigosos ocupavam as casas próximas a uma das praias mais famosas da cidade no período pré-epidêmico. Tratava-se de desordeiros sem nenhum objetivo construtivo.

A maior parte deles matava sem piedade e, se você interpusesse o caminho dos integrantes desse grupo, precisaria se preparar para correr ou para morrer, especialmente se a líder dos Tigers estivesse no que eles chamavam de batidas, movimentos em que buscavam por suprimentos por bem ou por mal, onde quer que conseguissem.

— Acredito que o que meu irmão queira dizer é que... Nós já tivemos algumas baixas importantes durante a última semana... Por enquanto são apenas nossos soldados que estão sendo feridos. Mas isso ainda pode se agravar caso civis fiquem no fogo cruzado, sargento.

Emily tinha razão quanto ao risco que corríamos. A principal preocupação dos doutores Foster era que os Tigers fossem capazes de chegar à nossa base e de tentar tomá-la à força. Eu já havia feito um esboço com uma provável rota de fuga pelos fundos caso nós precisássemos sair às pressas, mas com 540 moradores, incluindo civis e soldados, certamente retirar todos sem o mínimo de organização poderia ocasionar diversas vítimas, o que me deixava igualmente apreensiva.

— Eu precisaria conversar com o John e com a cabo Álvarez a respeito do assunto. — Comentei em resposta, ao me referir às duas pessoas mais próximas de mim no comando dos soldados. O primeiro era um jovem que contava 22 anos, primo dos médicos, casado com a segunda pessoa citada por mim, cabo Alexia Álvarez – uma das poucas aliadas que me restava, que conheci no período pré-epidêmico. — Mas talvez possamos expulsá-los de East Beach. — Eu concluí.

Eu ainda não tinha ordenado que os soldados comandados por mim fizessem essa tentativa, porque certamente traria muitas baixas de parte a parte e, o clima tenso que se instaurou entre nós e os Tigers desde os últimos dois anos teria um inevitável estopim conflituoso, o qual eu protelava custe o que custasse, apesar do ódio que sentia.

Por esse motivo decidi que, antes que nós saíssemos às ruas, precisaríamos conversar, John, Alexia e eu, como oficiais de posto mais alto – mesmo que fôssemos jovens. A questão era que não havia mais nenhum militar de alta patente em nosso país que pudesse assumir, reunir e capitanear os grupos Survivalists. Então, terminei minha refeição e me despedi de meus amigos, para que pudesse procurar por eles. Certamente ambos já tinham se alimentado e estavam na sala de armas, depósito onde nós guardávamos todo tipo de armamento que encontrávamos, o qual não ficava acessível aos civis.

A base possuía quatro andares, sendo o último destinado a mim e às pessoas que tinham famílias, enquanto o terceiro andar era destinado aos demais sobreviventes que encontrávamos. No entanto, como Galveston não se tratava de uma cidade muito grande, sequer chegava perto de importantes centros do Texas como eram Dallas e Houston, logo precisaríamos de outro lugar para ocupar, porque abrigávamos sobreviventes das cidades e dos estados próximos, também.

A sala de armas se situava no primeiro andar, perto da saída de emergência e, quando lá entrei, cumprimentei de maneira amigável meus companheiros de missão: John e sua esposa, a cabo Álvarez, que primeiramente me saudaram com uma continência.

— Nós estávamos conversando sobre o que faremos daqui pra diante. — O rapaz comentou com um sorriso leve. Assim como os irmãos Foster ele não era muito alto e tinha olhos castanhos bastante expressivos.

— Mas nós esperaríamos você chegar para decidirmos o que fazer. — Complementou Alexia com um sorriso sem jeito, enquanto equipava algumas armas para entregar aos que pretendessem sair.

Eu assenti e esbocei um leve sorriso. Cabo Álvarez era militar de carreira como eu, mas quando o comando de nosso grupo ficou sem ninguém por conta da morte de meus pais e de meu irmão mais velho, eu insisti para que, mesmo pertencendo a uma patente militar inferior a minha, ela assumisse a liderança. À época eu estava fragilizada demais por ter perdido meus familiares de modo traumático e, com o comando e com as responsabilidades que adviriam do posto que eu ocuparia, temi me exceder. Porém, sempre que precisei contar com minha colega ela esteve por perto, principalmente na desgastante luta contra grupos rivais.

— Os Tigers realmente continuam naquelas casas em East Beach? — Eu indaguei ao passar a mão pelos cabelos.

— Pelo que Javier e Alejandro nos disseram, sim. — John comentou com um suspiro. — Acabamos de falar com um deles via rádio.

— Os dois ainda estão tentando acompanhar as movimentações deles?

— Sim. Conseguiram ocupar o alto de um prédio e ambos estão com rifles... Então eles têm uma boa visão de lá de cima.

— Temos que trazer os dois de volta. — Eu resmunguei, um tanto apreensiva que eles acabassem mortos. — Vou chamar um grupo de soldados para que me acompanhe lá fora.

— Você vai voltar a buscar por sobreviventes, Meg? — O tom preocupado de Alexia me fez erguer uma sobrancelha.

— Nós precisamos fazer isso, caso contrário não há por que continuarmos aqui. — Eu respondi, antes de me virar de costas para o casal de amigos. — Vocês dois ficarão aqui na base. Se algo der errado e eu não conseguir voltar em dois dias, vocês podem assumir o comando em definitivo.

— Não achamos que você vá morrer... Na verdade nós nem pensamos nisso. — Foi a vez de John se pronunciar, assim que trocou um olhar cúmplice com sua esposa. — Nós só estamos preocupados que você acabe se encontrando com a líder dos Tigers.

— Ela não teria coragem suficiente pra me matar. — Voltei a resmungar, antes de me afastar em definitivo.

A bem da verdade, se eu fosse pensar bem, não tinha certeza de que eu não seria morta. As pessoas pertencentes ao meu grupo confiavam plenamente em mim e em meu comando, tanto que muitas delas não imaginavam que eu poderia vir a ser atingida por qualquer coisa ruim.

No entanto eu era tão humana como os civis que nos acompanhavam, talvez eu só assumisse uma posição de liderança por pretender seguir o legado de meus pais, que acreditavam que havia pessoas que queriam e que mereciam construir uma vida apesar de tudo.

Por esse motivo eu precisava sair. Tinha que procurar sobreviventes, até porque, diversos viajantes que passavam pela cidade espalhavam para outras pessoas que buscavam um lugar seguro, que meu grupo era uma excelente alternativa. Pedi, então, aos soldados Patrick, Adrian Garcia, Jennifer, Molly Morgan e Nicolle que se preparassem com a finalidade de me acompanhar para uma missão nas redondezas, ao que eles assentiram e disseram “sim, senhora”, em uníssono, após me saudarem em uma continência.

Retornei ao arsenal logo depois para pegar três radiocomunicadores e ordenei que ou John ou Alexia permanecesse perto do enorme rádio montado no balcão aos fundos da sala de armas, porque meus soldados e eu poderíamos nos comunicar a qualquer momento para que nós solicitássemos reforços caso fosse necessário e, quando eu estava prestes a sair novamente, a cabo Álvarez me segurou pelo braço.

— Tem certeza de que não prefere que eu vá?

— Sim. Por que você me fez essa pergunta?

— Você tem ideia de o quanto você é importante pra essas pessoas, Meg... Não somente os civis admiram você pelos enormes feitos que já conquistou desde que chegamos a esta base, mas os soldados também. — Ela iniciou cuidadosamente em baixo tom, enquanto John conversava com o quinteto que eu tinha requisitado para a missão.

— Eu sei, sim. Embora eu não tenha feito nada sozinha... Mas por que você está falando uma coisa dessas logo agora?

— Porque eu sei o quão abalada, o quão mexida e irritada você fica quando se encontra com... Aquela moça insuportável. Ela tem a incrível capacidade de deixar você furiosa e, convenhamos, lá fora... Tudo que você precisa é estar o mais equilibrada possível.

— Eu sei disso... Alexia. — Afastei meu braço da mão dela com alguma cautela e respirei fundo. Eu sabia por que ela me dizia aquilo, mas não podia me restringir a não deixar a base por conta da principal liderança do grupo rival.

A garota de quem ela falava tinha sido responsável por inúmeros atos de extrema brutalidade e continuava a conseguir seguidores, embora seu grupo fosse menos numeroso que o nosso. Todavia era bem armado, tendo diversos desertores como leais serviçais.

— E mesmo com tudo isso você prefere ir, não é?

— Sim. Se ela estiver lá fora posso tentar buscar algum diálogo...

— Ela mata pessoas sem demonstrar nenhum tipo de arrependimento, Meg. Acho difícil que pare pra escutar você.

— Eu tenho que tentar. Não por mim, mas sim por todas as pessoas que já foram mortas e pra impedir que mais gente inocente acabe morrendo no fogo cruzado.

— Mesmo que ela tenha feito tudo que fez?

— Sim.

Alexia suspirou de forma resignada e deu de ombros. — Eu vou ficar a postos no rádio, John vai ver como estão as hortaliças e vai conversar com os civis pra verificar do que precisam, então.

Acenei positivamente e, depois de pegar o armamento de que precisava – um rifle o qual pendurei no ombro e uma pistola que coloquei em um coldre preso à minha coxa –, atirei munições dentro de uma mochila, joguei-a sobre meus ombros, entreguei dois radiocomunicadores – um para Adrian Garcia e outro para Molly Morgan –, e liderei o caminho frente aos meus soldados para que nós saíssemos.

Fomos até a porta da base, que era guardada por quatro pessoas fortemente armadas que trocavam de turno com outro quarteto após uma jornada de oito horas. O prédio possuía muros altos em volta, sendo altamente protegido e, anteriormente à epidemia, havia sido utilizado por grupos de soldados que treinavam na cidade. Como dispúnhamos de um gerador que levava eletricidade a todo edifício, caso nós tivéssemos alguma invasão em nosso território, os soldados que ficavam de vigia tinham a missão de acionar o alarme, que ecoaria por toda base como forma de aviso para que nos organizássemos.

Eu os cumprimentei com um leve aceno, o que levou os quatro rapazes a desejar sorte para nós do lado de fora após eles nos saudarem em breves continências, porque nunca sabíamos o que nós encontraríamos. Era certo que os infectados estariam dormindo amontoados, agrupados nos prédios escuros porque tinham intolerância à luz, mas os humanos não tinham intolerância a absolutamente nada, o que tornava tudo bastante perigoso.

Se sair durante a noite se tratava de uma temeridade por conta dos errantes que poderiam nos matar, ao longo dos dias o problema era os grupos de pessoas hostis como os Tigers, facções que provavelmente existiam em todo país – embora não soubéssemos de notícias acerca dos demais estados.

Em Galveston felizmente só havia um grupo perigoso como esse para que monitorássemos, mas nós tínhamos de observar outros que dominavam os grandes centros como Dallas e Houston, por exemplo, cidades controladas por grandes assentamentos de cunho escravocrata, porque eles poderiam querer conquistar localidades pequenas como as nossas.

Caminhávamos sempre em silêncio pelas ruas tomadas de vegetação – em sua maioria árvores trepadeiras tinham crescido por toda parte e, nas casas em que havia grama, tudo estava praticamente coberto. Eu costumava ficar impressionada ao notar como quase tudo havia se modificado em somente dois anos. Tristes anos esses, os quais nós não tínhamos notícia de nada, de nenhuma cura. De nenhuma esperança de que retomássemos alguma normalidade.

Nos primeiros dias após a situação ter evoluído de epidemia para pandemia, as pessoas tinham sido orientadas pelo governo do último presidente que tivemos que não entrassem em pânico. Ele havia garantido que o exército controlaria a qualquer tipo de desordem.

Ele depositou em nossos ombros nem tão largos a árdua tarefa sem nem sequer saber o que nós iríamos enfrentar. O Senhor Presidente havia feito politicagem sem que fosse necessário. O que nós precisávamos enquanto sociedade era que houvesse uma junta médica para descobrir uma cura, porque a realidade nas ruas era completamente diferente.

A diplomacia já não ditava mais o ininterrupto e incontrolável ir e vir de pessoas à época. Aeroportos, estradas e outros meios de transporte eram constantemente utilizados pela população durante os primeiros dias, o que propagou ainda mais a circulação do vírus e causou enormes problemas devido ao colapso de alguns serviços essenciais.

Indivíduos em geral faziam de tudo para ter certeza de que seus familiares estavam bem, ou então muitos civis tinham entrado em desespero porque haviam perdido tudo... Toda referência de vida ao verem seus entes queridos morrerem ou serem devorados vivos pelos errantes.

Enquanto militares cabia a nós as tarefas de bloquear as fronteiras, de eliminarmos pessoas recém-contaminadas, além de matarmos todos os infectados que pudéssemos caçar e, com profundo pesar, tínhamos de assassinar prováveis doentes que comprometessem a ordem nas ruas, pela possível propagação viral, embora eu tivesse me negado a matar qualquer pessoa, exceto se ela se transformasse.

Nos primeiros 15 dias após a declaração do estado de pandemia as coisas pareciam que iam se acalmar devido ao toque de recolher, embora houvesse inúmeros infectados para serem eliminados. Entretanto, uma deserção em massa de soldados fez com que nossas fileiras diminuíssem drasticamente.

Esse foi um dos motivos pelos quais a credibilidade governamental começou a cair a tal ponto, que ninguém mais acreditava em uma só palavra dita pelo Presidente dos Estados Unidos da América, além do fato de que, pouco a pouco toda e qualquer estrutura social antes conhecida começava a desmoronar.

O vírus continuava a evoluir nos grandes centros urbanos, completamente alheio a qualquer disputa política e, com o passar dos dias, não havia desordem somente nas fileiras mais baixas do exército, mas tenentes, coronéis, capitães e generais também tinham se rebelado ou até mesmo sido contaminados, o que tornava a situação desesperadora.

Foi então que, uma semana após a grande escalada epidêmica, meus pais, Samuel e Hanna Butler, decidiram evacuar a cidade de Galveston por conta própria e organizar, na medida do possível, os habitantes que restavam vivos.

Como médicos do exército eles, juntamente com meu irmão, Primeiro Sargento Martin, rapidamente equiparam outros soldados que optaram por nos seguir, agrupando civis que necessitavam de proteção e de um teto seguro para que descansassem.

A partir de então, nós passamos a travar inúmeras batalhas contra criminosos perigosos, contra desertores e contra infectados. Perdemos diversos soldados leais a nossa causa, mesmo assim nós não desistimos. Porque mais importante do que procurar a cura, se realmente ela existisse em algum lugar, era garantirmos nossa sobrevivência.

Enquanto me recordava do dever que tinha de cumprir, meus soldados e eu rumávamos em direção à praia de East Beach sem que tivéssemos plena certeza do que encontraríamos. Nós sabíamos que havia sobreviventes por lá, mas também tínhamos informação de que os Tigers haviam tomado o local, por isso cabo Álvarez se preocupou com minha saída.

Como eu era uma oficial comandante da base reconhecida por todos, ela talvez considerasse que eu pudesse nomear alguém para liderar o quinteto de soldados que seria responsável por fazer a averiguação.

Porém, se eu lutava pela causa como realmente dava a entender, porque era no que eu acreditava, não podia apenas permanecer confortavelmente sentada a dar ordens, enquanto meus homens e mulheres pereciam corajosamente no enfrentamento contra os errantes ou contra os Tigers.

Imediatamente paramos ao dobrar à esquerda em uma rua, porque todos nós ouvimos o barulho de um estouro ao longe. Nós nos entreolhamos porque o som do estrondo não estava claro. Parecia-se com um disparo de arma de fogo, mas de qualquer maneira, era importante que nós mantivéssemos atenção redobrada para não sermos surpreendidos.

Passamos a andar com um pouco mais de rapidez, ao mesmo tempo em que o silêncio tinha voltado a ser ensurdecedor. Ao menos para mim, indicava que algo de ruim estava prestes a acontecer. Só não imaginava que fosse o que eu visualizaria à distância quando peguei meu rifle para olhar através do escopo.

Observei com absoluta indignação meus soldados – Alejandro e Xavier –, serem alvejados por tiros, assim que eles desceram de uma escada do prédio o qual improvisavam como posto de controle.

Muito provavelmente os dois tinham sido descobertos pelos Tigers durante a vigília, mas de qualquer forma, por mais que quisesse, eu não teria a oportunidade de perguntar a eles.

— Vamos avançar. — Sussurrei para os soldados que me acompanhavam e, sempre calados, todos seguiram minhas ordens, armas em punho para tentar salvar seus companheiros, embora soubessem que seria uma missão difícil.

Eu começava a não me importar mais com a possibilidade de deflagrar um conflito aberto contra aquelas pessoas desordeiras e de extrema frieza. A líder deles havia sido responsável por diversos crimes ao longo dos últimos dois anos e, com a queda da sociedade como conhecíamos antes, nós não dispúnhamos de leis vigentes para punir ninguém. Então, a única forma de pará-la seria através do uso da força, embora essa alternativa não me agradasse em nada, porque algum inocente sempre morria no fogo cruzado.

Passamos por algumas residências chiques que se situavam na quadra mais próxima à praia de East Beach. Nós adentramos uma delas, de onde sabíamos que tínhamos ouvido os disparos e, tão logo nós entramos, Adrian Garcia se agachou para escutar o que Javier sussurrava, já que os corpos deles tinham sido arrastados até o local.

— O que ele disse? — Perguntei em um sussurro, tão logo o soldado de origem latina voltou a ficar de pé.

— Que há Tigers no andar de cima, senhora. Ele os reconheceu pelas tatuagens nos braços deles. — Respondeu-me baixinho. — E há mais deles espalhados, inclusive na casa da frente, onde há sobreviventes.

— Então vamos sair daqui rápido. — Eu ordenei em um sussurro. — Não precisamos de um confronto aberto agora, porque estamos expostos.

Meus soldados assentiram ao meu comando e caminharam em direção à porta, ao mesmo tempo em que passos apressados nas escadas da casa em que ainda estávamos me deixava alerta. Dei uma rápida olhada nos cadáveres de Alejandro e de Javier. O primeiro tinha sido alvejado pelas costas certamente de modo covarde, enquanto o segundo tinha sido ferido por um tiro de raspão e por diversas facadas.

Porém, eu sabia que não tinha tempo hábil para me despedir deles, nem mesmo para solicitar que pelo menos dois dos meus soldados aqui voltassem para buscar os corpos dos dois, a fim de proporcionar um enterro digno a eles, devido à difícil situação em que nós nos encontrávamos.

Voltei-me para a porta e, quando dei três passos ágeis com o objetivo de deixar a residência, já que meus soldados tinham acabado de sair do local, fui surpreendida pelas costas com uma rajada de disparos. Eu só não fui atingida pelos tiros, porque na quietude do ambiente fui capaz de escutar o engatilhar das armas e de me jogar ao chão a tempo suficiente de evitar o pior.

Mesmo deitada segurei meu rifle com força com ambas as mãos e comecei a revidar, enquanto dois de meus soldados retornavam para me auxiliar. — Sigam seus companheiros atrás de possíveis sobreviventes! — Eu gritei tão alto quanto pude, apesar do tiroteio intenso.

— Mas senhora... — Ouvi o tom hesitante de Adrian.

— Vá, soldado Garcia. Eu ficarei bem. — Eu ordenei, ao chamá-lo pelo nome de guerra. Porque se houvesse sobreviventes a precisar de ajuda, isso era o mais relevante no momento.

Ele não teve alternativas e se afastou junto aos demais, principalmente ao ouvir o som de uma explosão em uma residência próxima. Todos nós sabíamos que aquele era o modus operandi dos Tigers quando encontravam sobreviventes que não quisessem ser leais a eles.

Extremistas como eram, não toleravam que a sociedade esboçasse qualquer forma de reorganização. Talvez tivessem perdido a esperança no futuro, talvez não confiassem mais em outros humanos... Eu não saberia dizer quais exatamente eram os motivos deles. Mas eles simplesmente matavam pessoas sem nenhuma hesitação.

Do ângulo em que eu estava, agora agachada perto de um sofá, tinha uma ótima visão para acertar dois deles, e foi o que fiz quando estiquei o braço e me ergui vagarosamente. Com disparos precisos assassinei uma dupla de homens do grupo rival sem hesitar.

Em seguida pendurei o rifle de volta no ombro e saquei minha pistola no exato instante em que um terceiro sujeito veio em minha direção com um bastão de beisebol nas mãos, pronto a me atacar.

Eu o atingi com dois tiros na cabeça quando sua tentativa de me golpear por pouco não foi exitosa e, quando o quarto indivíduo correu para me socar pelas costas de modo inexperiente, girei em meus calcanhares para que pudesse confrontá-lo, acertando-o com o taco que pertencia a seu aliado por diversas vezes até derrubá-lo ao chão.

— Onde está sua líder? — Eu indaguei com brevidade, a pistola engatilhada.

O garoto de aproximadamente 18 anos não me respondeu e engoliu em seco. Apenas esboçou um sorriso tranquilo enquanto eu atirava em sua perna esquerda. Eu não saberia dizer se ele não se importava com a morte ou se tinha aceitado seu destino. Fato era que ele não esboçava reação alguma, o que me deixava ainda mais furiosa.

— Onde está sua líder? — Repeti o questionamento com visível impaciência.

Eu conseguia ouvir, da casa em que estava, que os soldados comandados por mim falavam alto e que algo acontecia na residência seguinte, mas enquanto não obtivesse a resposta de que precisava, eu não poderia abandonar o local.

— Onde está sua líder, porra?! — Indaguei pela última vez ao mirar fixamente a tatuagem em seu braço, batendo na cabeça dele com o taco.

— Vocês não são tão diferentes uma da outra, sabia disso? — O rapaz sussurrou após rir de leve, antes que eu atirasse em sua barriga.

— Que merda... Onde ela está! — Eu começava a perder o controle frente à falta de respostas.

Ele grunhiu em agonia. — Vocês duas defendem seus... Seus grupos com unhas e dentes... Fazem todo possível pra... Pra conseguir alimento pras... Pessoas que estão sob seus comandos...

— Há uma grande diferença, porque vocês matam quem estiver pela frente pra sobreviver. — Eu rebati, sem paciência para aquela discussão sem sentido.

— São só pontos de vistas opostos, nada mais do que isso. — Ele sussurrou, gravemente ferido. — Até porque, o que você tá prestes a fazer comigo não é nada diferente do que ela faz com outras pessoas. Talvez a única coisa diferente é que ela é mais violenta do que você.

Eu poderia até mesmo levá-lo como prisioneiro temporário, tratar de seus machucados, ressociabilizá-lo e tentar torná-lo parte do nosso grupo. O rapaz não me parecia ser alguém ruim, talvez somente tivesse se aliado a pessoas sem escrúpulos por uma questão de sobrevivência.

De qualquer maneira, não houve tempo hábil para que eu propusesse isso para ele, porque surpreendentemente o menino se arrastou e pegou a arma de seu colega que estava morto no chão no intuito de disparar um tiro em sua própria cabeça, o som do estampido da arma soou mais alto que meu grito para impedi-lo, uma tentativa desesperada de demovê-lo do impensado ato de tirar a própria vida.

Sem poder sequer lamentar o ocorrido eu deixei a casa e fui em direção ao local em que sabia que meus soldados estavam. Quando me aproximei vi Adrian Garcia, Molly Morgan, Nicolle e Patrick. Porém Jennifer não estava entre eles, fato que me intrigou.

— Onde está a soldado Johnson? — Eu indaguei preocupada.

— Lá dentro, senhora. — Respondeu Garcia. — Há crianças no interior da casa.

— Vocês a deixaram sozinha lá dentro? — Ergui as sobrancelhas com incredulidade.

— Não exatamente, senhora. Havia Tigers formando uma barreira humana a poucos metros de distância. Quando nos viram eles se espalharam de imediato. Receberam ordens para fazê-lo e... Nós não sabíamos como agir. — Justificou-se Patrick. — Então eu ordenei que nós esperássemos aqui até que a senhora chegasse.

Eu dei outra risada incrédula e corri para o interior da residência, com dois de meus soldados atrás de mim. Preferi não ordenar nada a eles naquele momento, porque estava suficientemente irritada com a tomada de decisão equivocada de Patrick. Sempre fui clara quanto ao objetivo de resgatarmos sobreviventes, ainda mais se fossem crianças que estivessem em perigo.

Ouvi os insistentes pedidos de socorro e de ajuda ao longe, então calculei que viessem do porão. Só não tinha a menor ideia de onde Jennifer estava, embora eu tivesse certo receio de descobrir.

Avançávamos em meio às chamas, o soldado Garcia, a soldado Morgan e eu, até que nós chegássemos ao porão. Foi então que encontramos duas crianças que, encolhidas de pavor, nos observaram com expectativa crescente, embora o temor marcasse seus pequenos rostos.

— Nos diga que uma de vocês duas é Meg Butler, por favor.

Eu esbocei um sorriso à menção de meu nome e dei um passo à frente. — Sim, sou eu. Qual é o seu nome? — Perguntei gentilmente ao menino.

— Michael. Eu tenho nove anos. Minha irmãzinha Ruby e eu procurávamos por vocês...

— Sozinhos?

— Nós sim. Tem outros viajantes que acho que foram mortos por uma mulher enorme. Ela assassinou aquelas pessoas a pauladas... Eu consegui escutar porque fui até a escada que liga o porão à casa...

— Tudo bem, agora vocês estão seguros... Levem-nas daqui, soldados. — Falei, ao me voltar para a dupla que me acompanhava.

— Mas aonde a senhora vai? — Indagou-me Morgan.

— Procurar por Jennifer.

Eles assentiram e ajudaram as crianças a ficar de pé. Teriam de passar pelas chamas novamente e, embora Adrian e Molly fossem dois dos meus melhores soldados, eu me preocupava com a possibilidade de que fossem emboscados por outros Tigers, ou até mesmo pela líder deles.

Corri ao segundo andar e, como as chamas ainda não tinham alcançado o piso superior, passei a vasculhar um dos quartos, que tinha tido a porta arrombada. Deparei-me com três indivíduos mortos de maneira brutal por alguém e deduzi que, pela visão horrenda de seus corpos espancados e do sangue fresco para todos os lados, havia sido exatamente quem eu procurava: a líder dos Tigers.

A garota utilizava armas de fogo para matar alguns dos errantes, embora sua especialidade ao assassinar humanos não contaminados fosse com armas brancas ou improvisadas ou com as próprias mãos, por se tratar de alguém extremamente forte.

Foi então que o som de um radiocomunicador, vindo do cômodo ao lado, alertou-me de imediato. — Minha ordem é clara. Se encontrar outros desses filhos da puta é pra atirar pra matar. Eu não vou falar de novo. E quem não fizer o que eu mandei, vai ter tratamento especial quando eu voltar pra casa.

Eu conhecia muito bem aquela voz. Tratava-se, realmente, da líder dos Tigers, o que indicava que ela estava às proximidades da moradia. Em seguida virei-me ao ouvir o som de passos vacilantes e me deparei com Jennifer. Ela tinha um ferimento de faca na barriga e outro no pescoço.

— Foram eles que fizeram isso com você?

Ela acenou positivamente. — Eu... — A jovem de 19 anos tossiu. — Eu preciso... Que me deixe aqui.

— Nem pensar. Você pode andar?

— Acho que posso, pelo menos um pouco.

— Então vamos. Vou pedir ao Garcia e à Morgan que levem você até a enfermaria, soldado.

Ela não protestou ao meu comando, até porque não tinha forças para fazê-lo. Descemos as escadas com o máximo de urgência e, assim que saímos, nós nos deparamos com quem menos gostaríamos de encontrar.

— Ei, sargento Butler... Por acaso não estava quente demais aí dentro?

Seu tom tipicamente debochado me irritou, mas não o bastante para que eu perdesse o controle. — Você matou aquelas pessoas a sangue frio. E pretendia o que... Matar as crianças também!?

— Errado. É incrível como você não me conhece. Nem fui eu que incendiei essa casa.

— Eu não preciso me dar ao trabalho de conhecer você. Os dois anos em que está na liderança de seu grupo já foram o suficiente pra me mostrar do que você é capaz, pelo tanto de pessoas que você vitimou.

Eu saquei a pistola e a apontei para ela com determinação, mas de imediato ela revidou ao me apontar o revólver que portava. Adrian e Molly estavam com as duas crianças, protegendo-as ao se postarem em frente a elas, Michael e Ruby, que tinham olhares assustados em seus rostos.

Jennifer estava sentada perto de mim, enquanto Patrick, que trazia um kit de primeiros socorros na mochila, havia se agachado para cuidar dos ferimentos dela. Já Nicolle, arriscou-se ao sacar a arma que portava para atirar na garota que me enfrentava, entretanto a líder dos Tigers foi mais ágil e atirou nela primeiro.

— Merda! — Exclamei, ao correr para perto de Nicolle assim que notei seu braço machucado.

— Estou bem, senhora... — Ela gemeu, antes de deixar o rifle cair no chão.

— Essa conversa é entre nós, Butler. Agradeça aos céus, porque eu podia ter matado sua soldado. Então... Vamos falar de negócios. Mande seus bichinhos sair daqui agora mesmo.

— Eles são pessoas, garota! — Retruquei irritada.

— Tanto faz. — Observei-a dar de ombros. — Que chatice. Você leva tudo muito a sério.

Voltei-me para Adrian e para Molly. — Vocês conseguem, juntamente com Patrick, conduzir eles até a enfermaria, e às crianças pra triagem?

— Sim, senhora. — A dupla me respondeu em uníssono. — Faremos isso imediatamente.

Meus soldados levaram alguns instantes para partir, porque os ferimentos de Nicolle e de Jennifer inspiravam cuidados, então precisavam ter cautela na remoção delas.

Eu os observava de maneira vigilante, enquanto tinha me erguido e de novo havia apontado minha pistola para a jovem mulher que continuava parada à minha frente como se nada estivesse acontecendo.

Seus olhos verdes expressivos exibiam toda raiva e indiferença que marcavam a personalidade dela nos últimos dois anos. Boa parte desse ressentimento se direcionava a mim, eu sabia disso. Mas enfrentar o fato enquanto ela continuava a fazer vítimas de forma indiscriminada era algo que me afetava e muito.

— Sargento Butler, tá na escuta?

Ouvi a voz da cabo Álvarez no meu rádio e respirei fundo. Eu o tinha guardado na mochila às minhas costas e não o retiraria, pelo menos não agora que havia um revólver engatilhado apontado em minha direção, ameaçadoramente. Encostei o dedo no gatilho da pistola e assim permaneci, olhos atentos para àquela que me encarava com ódio latente. E nessa posição nós duas estávamos prestes a decidir nosso futuro, enquanto o céu se fechava em uma provável tempestade inesperada.

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