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Capítulo

Júlia passou a adolescência e boa parte da juventude construindo seu autoconhecimento, autoaceitação, empoderamento e apesar do "bullying" que sofre por ser gorda, conseguiu tornar-se uma mulher confiante, independente, formada em Estética e Cosmética e dona do salão de beleza mais conhecido da favela onde ela mora. Tudo parece perfeitamente bem na vida da morena até o Marcelo, seu melhor amigo e amor platônico, ser preso por assassinato. Determinada a descobrir se o homem é culpado ou inocente das acusações, a jovem aceita fazer visitas íntimas a ele na prisão e percebe que o sentimento que ela nutriu durante anos é correspondido.

Capítulo 1 Tensão sexual

Dedico este livro a todas meninas, garotas e mulheres que nunca sentiram-se representadas nas histórias. No meio de tantas protagonistas magras e sempre tão padrões, espero que vocês sintam-se mais acolhidas nessa obra e que, de alguma forma, a Júlia seja uma ponte para todas olharem para os próprios corpos com mais ternura e admiração.

Com amor, Magrí

JÚLIA BRAGA

INÍCIO DE 2020

Faça do espelho seu novo melhor amigo, eu repetia mentalmente, enquanto me arrumava e sorria igual a uma idiota diante do meu reflexo.

— Tu tá linda, sabia? — Marcelo, o meu amigo, se pronunciou, logo atrás de mim, me encarando com os braços cruzados através do espelho e eu assenti, um pouco envergonhada.

— Só estou nervosa, porque é o primeiro encontro há mais de cinco anos. — Fiz uma careta, terminando de ajeitar a alça do meu vestido e uma gargalhada ecoou pelo quarto. — É sério! Desde o meu último namoro eu nunca mais estive apaixonada e só fiquei pulando de pau em pau.

— Eu sei como é isso. Depois que terminei com a Louise, me sinto meio perdido com esse lance de paquera.

— A Louise terminou com você — corrigi, rindo. — E vamos combinar que foi bem feito! Ficar com a Arlene, a melhor amiga dela, foi uma puta sacanagem.

— Eu sei, pô. — O observei afastando-se, cabisbaixo e logo em seguida, sentando-se no colchão.

— Olha, eu não quero te julgar, mas eu sou mulher e me coloco no lugar dela. — Girei os calcanhares para encará-lo e acrescentei: — Você está prestes a completar 31 anos e namorar uma garota tão mais nova, já é problemático em tantos níveis que poderia ficar duas horas te dando palestra sobre o assunto e para foder mais ainda o psicológico da menina, você ainda trai? Porra, RM, nem fodendo tem como te defender!

— Eu tenho mais é que me foder muito nesta vida, né? — concluiu, sabendo que a minha resposta seria sua.

Sorri, me divertindo com a sua resposta.

— Já disse que te amo hoje mesmo você sendo a versão favelada do Hardin de After?

— Nem sei quem é essa porra, mas nada além da sua obrigação me amar, porque eu sou o melhor amigo do mundo. — Ele dá de ombros, sendo incapaz de demonstrar o que sente por mim.

É o jeito dele. Eu entendo. Nunca me incomodou o fato desse homem não saber lidar com demonstrações de afeto. Levando em consideração que o pai é traficante e assassino, eu acho totalmente compreensível que o Marcelo tenha problemas emocionais ou eu tô lendo romances darks demais.

— Eu vou deixar minha localização ligada em tempo real e pelo amor de Deus, fica atento! — Aponto o meu dedo na sua direção, mudando de assunto para quebrar o gelo.

— Não se preocupe, amor. Vou deixar meu celular no último volume e se esse teu chefe se atrever a fazer algo que você não queira, eu o mato.

— Espero que seja uma maneira de falar, RM. Não quero acreditar no que estão falando de você pela comunidade.

Volto a olhar para o espelho pendurado na parede, conseguindo me ver da cintura para cima e gosto do que vejo. Meu cabelo preto está liso, o vestido justo na cor laranja realçou meus seios fartos e modéstia à parte, estou deslumbrante. Abro uma gaveta que fica logo abaixo, escolho a bijuteria barata que vejo e coloco o par de brincos nas minhas orelhas.

— Vestido de garota de programa na cor laranja, decote na medida certa, cabelo liso na raiz e ondulados nas pontas — Mariana, minha irmã caçula, elogiou assim que invadiu o quarto.

— Obrigada, piranha. O que você quer?

— Tem como você me emprestar R$150,00 pra comprar três livros de uma autora nacional que eu amo? — Ela faz uma carinha de pidona.

— Já ouviu falar em pirataria? — RM sugere e a minha irmã olha para ele como se quisesse estrangulá-lo.

— Eu não sou uma filha da puta sem noção que vai piratear a autora brasileira, né? Bom senso faz bem, tenta usar.

— Amanhã, eu te dou o dinheiro — interrompi o assunto antes que virasse uma briga.

— Obrigada, obrigada, obrigada! — A garota dá pulinhos de alegria, me abraça e sai sem falar com o Marcelo.

— Ela leva a sério mesmo esse negócio de livros?

— Eu entendo a Mariana defender as autoras que ela gosta, porque é um trabalho bastante desvalorizado no Brasil e quem realmente admira seu esforço, vai consumir de maneira legal para que você receba por aquilo que está expondo.

— É, eu não ia gostar que alguém fumasse maconha que vendo sem pagar, por isso leva logo um tiro na testa pra deixar de ser otário. — O moreno faz o sinal de armas com a mão e aponta para a parede.

— Marcelo!

— Foi mal! Mas o que estão falando de mim?

— Que você entrou para o tráfico de uma vez por todas… — Minha voz vacila. — Que você ficou no lugar do seu pai.

Silêncio.

A minha resposta foi o silêncio e honestamente, eu não precisava de mais nada para ter certeza que o Marcelo estava envolvido até o pescoço com o tráfico de drogas no morro em que moramos.

— Foi o Cigarro que contou para você?

— Não. Por que você sempre acha que é ele que te ferra? O cara não tá nem aí para o que acontece na sua vida.

— Desculpa, Júlia. Eu tinha esquecido que você é a defensora número um daquele moleque.

— É estranho que eu e o Cigarro tenhamos a mesma idade e eu seja lida como uma mulher e ele como um garoto.

— É uma maneira de falar. Óbvio que sei que ele já é um homem. Não precisa militar, porra! — Rebate, na defensiva. — Já enviou seu currículo para ser administradora do Quebrando Tabu?

— Otário! Tamanho macho e fica nessa de pagar de debochado?

— Vai lá com o Cigarro e me erra!

— Queria, ele é um homem gostoso pra caralho, inclusive, fode muito, mas tem namorada! — Provoco e recebo uma pancada de um travesseiro nas minhas costas.

— Esse cara comeu todo mundo?

— Sim, ué. Homem de verdade faz assim: come qualquer tipo buceta. Não fica escolhendo só as magrinhas como uns e outros que eu conheço.

— Falando assim, até parece que quer a minha pica e não tá sabendo pedir…

— Deus me livre. — Bato três vezes na madeira da penteadeira. — Gosto de macho legal e não macho escroto que trai a mina dele.

— Esquece isso, caralho.

— Esqueço não. Vou lembrar para sempre.

— Não quer outro tipo de memória, não? — De repente, sinto sua presença atrás de mim, suas mãos seguram a minha cintura e seu quadril pressiona a minha bunda. — Confessa que é louquinha pra me dar essa buceta.

Quem não é?

— Para com isso, satanás em forma de homem! — Ofego, me distanciando dele para não cair na tentação.

— Tenho certeza que eu faria melhor que o seu chefe.

— Nunca irei saber, meu querido.

Resolvo sair às pressas daquele quarto antes que dê muita merda para nós dois. Desço a escada com cuidado para não cair, já que não estou acostumada a usar salto alto e ao chegar no térreo da minha casa, a minha mãe me olha estranha, franzindo os lábios em desaprovação.

— Esse vestido te deixou mais gorda do que você já é, minha filha.

— Não, mãe. Esse vestido mostra o quanto estou gorda e pra mim, está tudo bem ser gorda. Por que a senhora se incomoda tanto com o meu peso?

— Eu me preocupo com a sua saúde.

— Sério? Ela está ótima. Quer ver meus exames? — Ironizo e caminho em direção à saída. — Até mais, mãe! Fique com Deus.

Caminho lentamente em direção à calçada e quando estou quase próximo ao meu carro, sinto as mãos do Marcelo tocarem meu antebraço, me forçando a olhar para trás.

— Foi mal ter dado em cima de você, não quis te deixar desconfortável e nem sei o motivo de ter feito aquilo.

— A tensão sexual sempre foi foda entre nós dois — afirmei e o vi ficar sem graça.

— A tua sinceridade é algo que nunca irei me acostumar. — Ele coça a sua cabeça, a tombando levemente para o lado.

— Não é bem um segredo que eu já fui apaixonada por você, mas sou gorda e não faço seu tipo.

— Eu nunca disse que é por você ser gorda.

— Mas é esse o motivo, não é?

— Não é, amor. Eu só não quero estragar a nossa amizade.

— Sinceramente, o que nos afastou foi você ter me esquecido completamente depois que começou a namorar a Louise. Sexo só fortaleceria nossa amizade.

— Você é muito oferecida. — Riu, me puxando para perto dele. — E eu gosto disso.

— Não nego que tenho interesse, porém estou indo sentar em outro pau, mas podemos marcar outro dia e recuperar todo o tempo perdido.

Viro de costas para ele, entrando no carro e dando partida no automóvel, o deixando com cara de idiota no meio da rua.

Nota da autora: Esse livro é um spin-off da história Lábios Infernais disponível em outra plataforma (quem quiser o link é só pedir no Instagram: autoramagri). Indecorosa é escrito por Magrí Bandeira com a colaboração da autoracapitu e websbela. Quem quiser, nos siga no Instagram para saber mais sobre todos nossos livros: autoramagri, escritorabela e brubsverena.

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