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Capítulo

Mina é uma jovem bem-sucedida profissional e academicamente. No entanto, nem todos os setores de sua vida possuem tanto êxito, pois sua virgindade continua intacta mesmo após tantas tentativas de perdê-la. Então, Mina contrata um garoto de programa para enfim solucionar esse pequeno "problema". Após alguns incidentes bem inusitados entre quatro paredes, Mina decide voltar para casa. No caminho, ela e Ryker– o garoto de programa – se tornam testemunhas de um crime cometido pela máfia russa em Paris e, consequentemente, se tornam alvos dessa organização.Essa única noite terminará com os dois fugindo para a Holanda a fim de salvarem suas vidas. Contudo, apesar do perigo eminente, ambos se deixam envolver por uma atração avassaladora e talvez a noite de Amsterdã seja muito convidativa para que Mina tente, mais uma vez, entregar-se de corpo e alma a Ryker.

Capítulo 1 Maneira de não perder a virgindade

Eu sentia meu esôfago inteiro tremendo enquanto tentava sugar o ar devagar.

Minhas vias aéreas ardiam e não importava quantas vezes eu bebesse só mais um

copo de água, minha garganta continuava seca.

– Se eu for embora, você promete não desistir?

– De jeito nenhum. – Segurei Elise pelo braço. Se ela fosse embora, eu ia

começar a correr e só pararia quando chegasse em casa.

– Mina, eventualmente vamos ter que nos separar. A menos que você queira

que eu fique aqui até o fim – riu. – E acho que não vai querer.

– Isso foi uma ideia ruim.

– Ruim é você ainda ser virgem.

– Isso foi uma ideia muito, muito ruim.

– Pare de catastrofizar tudo, Mina. Não combina com você.

Arregalei os olhos para ela, irritada. Não combina comigo? Catastrofizar é,

provavelmente, a única coisa que sei fazer direito.

– É, tudo bem. – Ela balançou a cabeça sorrindo. – Talvez combine com você

um pouquinho. Mas vai ficar tudo bem. Você só precisa respirar. E tentar parar

de transpirar.

– Ai, caramba! Estou transpirando muito? Estou, não estou?

– Mina! Eu estava brincando.

Mas era tarde. Eu já tinha corrido para o banheiro e enfiava papel higiênico

embaixo dos braços quando Elise foi atrás de mim. Começava a perceber um

pouco de abuso em sua voz. Sua paciência estava acabando.

– Se você não quiser fazer isso, a gente vai embora. Quer dizer, você vai. Eu

vou ficar.

– Eu queria ter um terço da sua segurança.

– Você foi criada pelo seu avô. Existe um motivo por trás da expressão

“menina criada por vó”, sabia?

– Não foi minha avó, foi meu avô – corrigi. Mas só um pedaço bem pequeno

da minha mente conseguia se concentrar na conversa.

– Pior ainda! Querida, me escuta. Homens fazem isso o tempo todo. A maior

parte deles perde a virgindade assim.

– Ah, Elise. Mas não deveria ser especial?

– Deveria. Mas também devia ter sido uns anos atrás. Então, relaxa, você já

não está mesmo dentro do padrão feminino.

– Diga para mim! Diz a lista para mim!

– Ai, caramba, Mina, vou te bater.

– Diz a lista!

– Sabe qual é seu problema? Que você aprendeu como ser mulher com

aquelas revistas femininas que você coleciona. Juro que elas têm numeração para

tudo.

– Elise, por favor!

– 12 Dietas rápidas e práticas – entoou com uma voz de comercial –, 23

Maneiras de ser sensual com roupas velhas. – Sustentava um sorriso plastificado

no rosto enquanto prosseguia com as manchetes imaginárias.

– Você não está ajudando.

– 50 Maneiras de enlouquecer Elise. 102 maneiras de morrer virgem. Você

tem que parar de listar as coisas!

– Só mais essa vez! Prometo!

Ela expirou longamente e esfregou as têmporas antes de se virar para mim.

– Já fiz isso antes e não é nada demais. – Levantou o indicador. – Você é

muito estressada, e se for esperar o homem ideal não vai fazer isso nunca. –

Dedo médio. – Melhor que seja com um profissional que sabe o que está fazendo

e vai focar no que é bom para você, em vez de um cara qualquer que só vai

querer gozar e dar o fora. – Outro dedo. – Se é uma decisão sua, não tem como

se arrepender. – Mais um dedo. – Se perder a virgindade logo, vai ficar mais

tranquila, e sua segunda vez poderá ser mais especial que qualquer primeira vez.

– Elise levantou o polegar e eu soube que a contagem tinha terminado. – Vai

doer como o inferno e de qualquer jeito você não vai conseguir nenhum orgasmo

– acrescentou murmurando.

– Ah! – Pronto… toda a confiança transmitida pela repetição da lista

extinguiu-se com o último comentário. – O que acontece se doer?

– Se doer, dói, Mina. Cresce!

– Eu tomo alguma coisa?

– Anticoncepcional. E pílula do dia seguinte se a camisinha estourar.

– Para dor, Elise!

– Você ficou maluca? É sexo, não tortura.

– É ilegal! E se a polícia aparecer, o que eu faço?

– A gente já conversou sobre isso e você sabe que não é assim. E se fosse,

você iria presa. O que mais?

Eu estava a dois segundos de começar a chorar.

– É sério. – Ela me segurou pelos braços em um carinho tranquilo. – Você

precisa se acalmar. Não vai acontecer nada. Você perde a virgindade, paga o

cara; aí a gente sai e você arranja um namorado que não vai te abandonar por

causa disso.

– Não estou fazendo isso por causa do Michel!

– Eu sei, eu sei. Michel era um idiota que só queria sexo. A gente pode achar

um cara que goste de você, mas não se engane, meu bem, ele também vai querer

sexo.

– Ai, minha nossa… – Eu estava com minha mão na testa. – Como vou contar

isso para minha filha?

– Mina, juro que você merece um tapa. Se você não aprender a fazer isso, a

possibilidade de ter uma filha é inexistente, sabia? Então, por que não se

preocupa com uma coisa de cada vez?

Ela olhou para o relógio.

– O Matt é extremamente pontual, o que significa que ele deve bater na porta

do meu quarto daqui trinta segundos. Tenho que sair. Não se preocupe! Não

conheço o cara que vai ficar com você, mas pedi para o Matt trazer alguém

legal!

Eu achava impressionante como Elise conseguia falar do garoto de programa,

com quem ela saía repetidas vezes, com tanta intimidade. Era um homem que ela

pagava por sexo. E não era nem como se ela precisasse.

Respirei fundo. Nenhuma de nós duas precisava. Mas Elise tinha um ímã para

homens egoístas e dizia que, ultimamente, Matt era o único que conseguia fazêla gozar. E eu… bem… eu era um caso à parte. Já tinha chegado a me trancar

com um cara em um quarto algumas vezes. Mas nunca conseguia ultrapassar a

barreira do tirar a roupa.

Elise me deu um beijo na bochecha e saiu. Assim que a porta se fechou atrás

dela, esqueci todos os motivos pelos quais fazer aquilo era uma boa ideia.

O destino, no entanto, se encarregou de que eu não tivesse muito tempo para

me questionar. Algumas batidas firmes e curtas, e eu soube que meu

acompanhante para a noite estava na porta.

Respirei fundo. Mais uma vez. Uma terceira.

Ele bateu de novo. Girei a maçaneta e tentei sorrir.

Ele era bonito. De um jeito discreto e tímido, nada do que eu esperava. O

cabelo loiro era cortado bem curto e arrepiado. Seus olhos castanhos tinham algo

simpático e agradável. Parte de mim ficou contente: seria mais fácil ficar à

vontade com um homem bonito normal do que com algum primor da raça

humana. Outra parte, contudo, ficou levemente decepcionada: se era para ficar

com um homem normal, eu poderia simplesmente ir a um bar, não? Em vez de

deixar Elise me convencer a cometer um quase crime?

Usava camisa branca e calças pretas. Sua gravata escura tinha um nó bem

dado. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas resolvi que se fosse para

falar qualquer coisa, iria gaguejar, me confundir, parar de respirar, transpirar e,

muito provavelmente, desmaiar. Se eu ia fazer aquilo, que fizesse de uma vez.

Coloquei meus braços em torno de seu pescoço e o beijei. Era possível que eu

estivesse usando língua ou saliva demais… Mas suas mãos se enfiaram nos meus

cabelos e imaginei que talvez estivesse fazendo alguma coisa certo.

Soltei o beijo e ia puxá-lo para dentro do quarto. Só não sabia por onde. Pela

mão? Mão seria delicado demais. Pela gravata? É, pela gravata seria uma boa

ideia. Estava levando a mão para o tecido escuro que descia sobre seu peito

quando ouvi três palavras escaparem de seus lábios descrentes:

– Serviço de quarto?

Ele estava perguntando ou afirmando?

Sua mão apontou para o corredor à minha esquerda, então o carrinho do

serviço de quarto, com itens cobertos por uma toalha branca e delicada, me fez

perceber que ele estava afirmando.

Eu estava muito perto de desenvolver Parkinson, Alzheimer, câncer ou

qualquer outra doença grave que me mandasse para um tratamento bem longe

dali. Meu cérebro analisou a roupa que ele estava usando e eu vi a plaquinha

dourada com seu nome inscrito, presa na camisa branca. Obrigada por ter

chegado atrasado para a festa, cérebro.

– Boa noite. – Seu olhar se desviou para algo ao nosso lado no corredor,

oposto ao carrinho.

Virei o rosto na direção que ele encarava e, parado no corredor com um

sorriso de quem presenciara a cena, estava o mais formidável modelo da raça

humana que já tinha visto.

– Mina Bault? – perguntou.

Ele era uns bons vinte centímetros mais alto que eu. Forte de um jeito que te

faz imaginar o que está por baixo da roupa. Seus cabelos escuros e finos

formavam um topete natural próximo à testa, contornando um rosto perfeito de

traços delicados e um queixo quadrado. Sua barba havia sido muito bem-feita, e

a única coisa que me perfurava mais que seus intensos olhos azuis era o sorriso

divertido que tinha estampado no meio do rosto.

– Seu amigo vai se juntar a nós?

Olhei para o garçom e me forcei a respirar fundo.

– Não, eu… – Eu só tenho o costume de beijar estranhos no meio do corredor

– Estava só…

– Aquecendo? – perguntou, e eu quis morrer.

– Você é…? – Estendi a mão para que ele me cumprimentasse. Ótima ideia,

Mina. Você agarra o garçom e despeja formalidade com o garoto de programa.

Parabéns, garota.

– Pode me chamar de Ryker.

– Ryker – falei decidida. Era praticamente impossível a façanha de me

envergonhar ainda mais, e essa ideia me deu a dose de determinação de que eu

precisava. – Por que não entra?

Eu estava sendo mais formal com o homem a quem eu ia pagar para fazer

sexo comigo do que com os meus clientes do trabalho. Que legal, Mina…

Ele passou pelo garçom e me atrapalhei entre ir para a direita ou para a

esquerda, o que acabou impedindo sua passagem. Ryker me segurou pelos

braços e me fez decidir por um dos lados enquanto passava pelo outro. Acho que

eu conseguiria um orgasmo só de terminar com essa noite. A ideia de mandar o

garoto de programa embora e acabar com aquela humilhação já seria um prazer

sem fim.

– Não pedi serviço de quarto.

– Ah, perdão. Mas diz bem aqui – ele pegou a comanda –, Elise Benoit, quarto

1206.

Mordi o lábio, já cansada. Não sabia se Elise tinha mandado aquilo para mim

de propósito ou se tinha pedido para o quarto errado.

– Bem, vamos ver o que é.

– Me informaram para que deixasse dentro do quarto com o…

Eu já puxava o pano que cobria parte do carrinho e então vi uma delicada

cesta marrom sobre a superfície de metal. As tiras de madeira se trançavam,

formando uma alça firme que segurava um compartimento de tamanho

considerável. O que havia ali dentro, eu podia apenas imaginar. Só consegui

reconhecer um item: a coisa rosa e comprida que se esticava para fora do cesto

de madeira era, sem qualquer dúvida, um vibrador. Eu apenas deduzi que o

presente deveria estar repleto de todos os tipos de sacanagem, muitos dos quais

certamente não saberia identificar, muito menos usar. Sobre eles, preso por um

laço colorido e brilhoso, estava um imenso cartão com os dizeres “Boa primeira

foda, amiga”, seguido por um número ultrajante de exclamações.

Eu tinha que parar com a ideia de que a noite não poderia ficar pior. No

entanto, estava redondamente enganada.

Por tempo demais, fiquei entre continuar olhando para o garçom e decidir o

que fazer com a cesta. Ryker voltou para a porta, visivelmente curioso com o

motivo do nosso silêncio repentino.

– Uau! – riu. – Que bom que um de nós estava se divertindo. Porque o

garçom, assim como eu, parecia às margens de um irremediável derrame. – Você

veio preparada! – brincou.

– Minha amiga tem um senso de humor pouco compreensível – expliquei ao

garçom. Caprichei na gorjeta, mesmo sabendo que quantidade nenhuma de

dinheiro apagaria essa noite de sua mente.

Ryker pegou a cesta e levou para dentro do quarto.

Foi bom ele ter tomado a iniciativa, porque se dependesse de mim ou do

garçom, aquela porcaria ficaria ali no corredor mesmo.

– Você está com vergonha – disse ele, assim que largou a cesta em cima da

mesa.

Não diga…

– É só porque é… – Cocei a nuca. Não havia como dizer aquelas palavras de

modo que saíssem corretamente.

– É a sua primeira vez?

Senti meus ombros caindo pesadamente quando soltei o ar em desistência.

– Acho que poucas mulheres fazem isso, não é? Perder a virgindade com… –

Gesticulei na direção dele e deixei as palavras no ar.

– Mais do que você imagina. – Sorriu.

– Sério? – Agora, com a porta fechada, eu começava a me sentir mais calma.

Não estava pronta para meditar, nem nada assim. Mas estava menos

desesperada.

– Você se surpreenderia em saber como a normalidade é pouco normal.

– A normalidade é pouco normal? – Ri do seu absurdo e com meu coração

batendo um pouco mais devagar pude começar a assimilar como ele era gostoso.

– Escreva em um pedaço de papel tudo que define uma pessoa normal. Tudo.

E eu te desafio a sair e encontrar essa pessoa. – Deu de ombros. – Ninguém é

normal. O normal é ser estranho. – Sorriu e eu quis derreter. – Você pode pensar

em outra pessoa, se preferir – explicou. – Se quiser, pense em um namorado, ou

ex-namorado, enquanto eu te toco. Não há qualquer problema. Pode até me

chamar por outro nome, se quiser.

Aquilo estava ficando estranho demais.

– Mas tudo bem se eu te chamar de Ryker?

– Tudo. – Balançou a cabeça afirmativamente. – Só quero que entenda que a

noite é sua. – Ele se aproximou e tocou meus braços novamente. Mas dessa vez

havia algo diferente em seu toque. Algo intenso. – A gente vai fazer o que você

quiser. Exatamente como você quiser. Nada mais e nada menos.

Ryker passou os braços pela minha cintura, e eu comecei a achar aquilo uma

ideia excelente. Nunca tive um namorado com um porte daqueles. Era

interessante ser abraçada por um homem musculoso. Ele beijou meu pescoço e

mordeu minha orelha. Eu me empinei, involuntariamente, empurrando meu

corpo contra o dele. Suas mãos alcançaram minha nuca e seus dedos se enfiaram

nos meus cabelos. Queria tocar seu corpo, mas estava com medo de fazer a coisa

errada e acabar interrompendo o delicioso caminho de beijos que ele traçava do

meu ombro até o meu pescoço. Seus dentes já estavam no meu queixo quando

senti uma pontada na parte inferior da minha barriga. Olhei para baixo,

assustada, e vi sua ereção.

Isso não ia dar certo.

Não ia, não ia, não ia.

Ryker puxou meu lábio inferior entre seus dentes, mas eu estava atenta demais

para o meu arredor. Mantive os olhos abertos e a respiração travada.

Eu queria me bater.

Qual era o meu problema?

– Você tem alguma preferência? – sussurrou, acariciando meu nariz com o

seu. – Prefere que eu fale? Ou quer que fique em silêncio? Tem algum lugar

onde gosta de ser tocada ou algum que não te agrada?

Eu não fazia a menor ideia do que eu gostava.

Acho que ele imaginou que eu fosse virgem no que diz respeito à penetração,

mas eu era virgem em tudo. Havia muito pouco de que eu sabia ou tinha

experimentado. Nossa… Só tinha visto um homem completamente nu uma vez.

E, quando isso aconteceu, tive uma crise de riso absurda e dali em diante foi

horrível.

– Eu não… não sei.

– Tudo bem. – Ele me deu um beijo molhado e demorado na bochecha, e meu

rosto ficou formigando onde seus lábios haviam tocado. – A gente descobre.

Afastou-se brevemente para tirar a própria camisa. Mentalmente agradeci seu

gesto. Se era para ficarmos nus, eu realmente queria que ele começasse. Só a

ideia de ficar nua na frente de um homem vestido me dava arrepios. Arrepios

dos ruins.

– Você quer experimentar fazer isso? – Indicou o próprio cinto.

Ele queria que eu tirasse a roupa dele?

Engoli em seco.

– Você pode só olhar, se preferir.

É. Isso aí, por favor. Só olhar. Eu prefiro. Valeu.

Ryker ficou de cueca na minha frente.

Eu tive vontade de dizer um palavrão.

Aliás, tive vontade de gritar um.

Nunca tinha visto um homem tão desenhado na minha vida. Parecia efeito de

Photoshop.

Sem querer, ele puxou a cueca um pouquinho para baixo ao despir as calças, e

me peguei observando longamente a barra de sua cueca, onde seus pelos

começavam a aparecer.

– Quer que eu tire tudo logo? – Levantei o rosto, nervosa, e tive certeza de que

meu rosto traidor estava vermelho. Ele estava rindo de um jeito descarado, o que

me deixou aproximadamente dezoito vezes mais envergonhada.

Inclinou a cabeça e me observou com um sorriso sorrateiro. Ele estava

esperando eu responder?

Quais eram minhas opções? Dizer “quero, meu bem, tira tudo”? É… Até

parece que eu ia conseguir dizer aquelas palavras em voz alta.

Até parece.

Abri a boca e esperei alguma graça divina encantar meus lábios com o dom da

palavra.

No entanto, como milagre não é algo que aconteça na minha vida, continuei

com minha cara de tonta em frente ao homem seminu. A única coisa que havia

mudado era minha boca, que estava piorando a situação, abrindo e fechando em

um monólogo mudo.

Ryker ainda esperou educadamente por algum tempo.

E quando digo “educadamente”, quero dizer se divertindo com o meu grau

absurdo de timidez.

Assumi o controle da minha boca e consegui murmurar:

– Como você preferir.

Como ele preferir… Ele é um garoto de programa, Mina. Ele provavelmente

prefere ser pago e ir embora.

– Prefiro que você venha aqui tirar, então. – Seu queixo travou, e vi suas

feições másculas e quadradas assumirem um tom autoritário.

Ele devia estar testando várias abordagens para ver o que eu preferia. Ver o

que me deixava animada.

Eu não gostava daquela cena e achei melhor avisar.

– Não gosto disso. De cara que manda, ou me bate… Nada disso, tá?

Se ele tivesse me ganhado em um bar, já estaria rindo. Deu para ver em seus

olhos. Estaria colocando as roupas de volta, dando risadas e um adeus que não

deixaria dúvidas de que eu não tenho solução.

– Tudo bem. – Ele me puxou para perto do seu corpo de novo e, creio eu, sem

saber o que fazer comigo, voltou a me beijar.

Eu queria animar as coisas.

Queria ficar excitada! Nunca tinha acontecido comigo. Elise dizia que eu

confundia excitação com nervosismo e que toda vez que eu estava quase nua

com um homem, confundia desejo carnal com ansiedade de véspera de prova. E

então eu começava a balbuciar coisas sem sentindo e organizar meus

pensamentos por meio de listas. Como se estivesse repassando os temas das

questões.

Elise me conhecia bem demais.

Era quase como se ela fosse eu, só que em outro corpo.

Será que ela não podia perder minha virgindade por mim? Ia ser tão bom se

pudesse.

Certo, Mina! Você não pode voltar para casa virgem hoje. Já chega! Está na

hora! Faça alguma coisa!

Comecei a beijá-lo de volta, mas tinha plena noção dos meus beijos

desajeitados e nada sedutores.

Pega nas partes íntimas dele, Mina!

Eu nunca tinha feito isso antes.

Já tinha visto um homem nu, mas nunca tocado em sua nudez.

Certo, vamos lá. Eu consigo.

Desci a mão pela sua cueca e pude sentir seus pelos e seu calor. Ele estava rijo

para um dos lados, então apalpei sua ereção.

Tá, e agora? Faço o quê?

Eu estava beijando o homem e sentindo seu pênis duro na minha mão. Fechei

a mão ao redor de uma parte do membro e fiquei com a mão lá, parada;

esperando alguma coisa acontecer.

Ele moveu o quadril e eu imaginei que seria interessante também mover a

mão. Não sou idiota. Sei como um homem se masturba. Mas são duas coisas

bem diferentes: saber como ele faz e fazer por ele.

Ryker colocou a mão sobre a minha e a essa altura preferia que aquilo tudo

acabasse em vez de que começasse. Confundindo excitação com ansiedade de

véspera de prova.

Maldita Elise que me conhecia tão bem.

Era exatamente isso.

Eu não conseguia relaxar e curtir o momento. Só podia pensar no que estava

fazendo e no que ia fazer depois.

– Pode me pegar onde quiser – sugeriu.

Isso queria dizer que ele não estava gostando? Era possível.

Os testículos!

Os homens gostam de carinho nos testículos, não é?

Desci mais a mão até suas coxas, procurando o lugar certo para massagear. Eu

não conseguia enxergar e, dado o meu nível de experiência, o tato não era

exatamente confiável. Então, achei uma parte que me pareceu apropriada e

apertei.

Só queria massageá-lo… Seduzi-lo.

Mas percebi que seu testículo estava no meu pulso. Foi então que ele gemeu

de um jeito esquisito, antes de se afastar de mim.

Seu rosto estava bastante vermelho quando ele levou as mãos à virilha.

Ah, droga. Eu tinha apertado forte demais.

Alguém me mata, agora, por favor.

Castrei o garoto de programa.

– Ai, meu Deus! – Levei as mãos à boca. – Ryker! Sinto muito!

Ele sentou na cama, curvando-se sobre o próprio corpo, com as mãos

protegendo a virilha. Protegendo-as de mim, obviamente.

Corri até a cesta safada de Elise. Alguma coisa ali ia ter que ajudar!

Se ela não tivesse colocado um gel para dor, no caso de a mulher apertar uma

parte sensível do homem com muita força, ela claramente não me conhecia tão

bem quanto imaginava.

Um tubo vermelho escrito “gel térmico” prometia resfriar a pele quando

aplicado. Não pensei duas vezes.

– Aqui! Isso vai melhorar.

Comecei a massagear a ereção – descrente diante das circunstâncias – de

Ryker, quando ele segurou minhas mãos e puxou o pote.

– Isso é de morango?

– Não sei.

O pote era vermelho. Olhei a embalagem e vi um desenho minúsculo de um

morango logo abaixo da marca.

Que importância tinha o sabor? Ele ia querer que eu fizesse sexo oral nele?

Porque eu não estava pronta para isso. Principalmente para um garoto de

programa.

– Eu tenho alergia a morango!

Ele se levantou e correu para o chuveiro.

Fiquei no meio do quarto parada, sozinha, tentando repassar os

acontecimentos.

Era de se imaginar que Elise supusesse que, por algum motivo, eu desistiria de

perder a virgindade hoje. Mas quando eu contasse a ela os acontecimentos da

noite em detalhes, duvido que fosse acreditar de primeira.

Abri minha bolsa e tirei da carteira o valor equivalente a duas horas.

Não tinha passado trinta minutos. Mas eu, provavelmente, tinha acabado com

as chances que Ryker tinha de se reproduzir, sem contar os danos à sua

ferramenta de trabalho.

Coloquei ainda uma gorjeta gorda sobre as notas já no balcão e peguei minhas

coisas.

Eu podia imaginar que dali a muito tempo eu iria olhar para trás e rir daquela

situação.

Mas seria só dali a muito, muito tempo.

Por enquanto não queria ficar ali nem mais um segundo.

– Para onde você está indo?

Parei no meio do estacionamento. O tempo que levei para fazer o checkout no

hotel havia sido mais do que suficiente para que ele me alcançasse. Eu sabia que

sim, mas não imaginei que ele fosse fazer isso.

– Estou indo embora. Acho que já fiz estrago o bastante por uma noite.

– Senhorita Bault, não é a primeira vez que tenho um acidente com morango.

Ou com lubrificantes – acrescentou. Correu pelo estacionamento atrás de mim e

me segurou pelo braço. – Não gosto de ser pago por um serviço que não prestei.

– É só pelo inconveniente. E por quase ter causado um acidente… mais grave

– adicionei, olhando para o meio de suas pernas.

– Olha, se você está com vergonha de fazer isso, tudo bem. Mas não diga que

foi por causa desse pequeno incidente.

– Não, não estou dizendo isso. – Continuei andando em direção à última

fileira de carros, onde o meu Citroën prata estava estacionado.

Peguei a chave do bolso e algumas vozes no escuro chamaram minha atenção.

O que me atraiu não foi exatamente o que elas diziam, mas o tom de

confidência, acompanhado de um choramingo baixo.

– Acho que a gente devia voltar e…

– Shh! – pedi, gesticulando para Ryker.

– O que foi? – Ele se aproximou.

Havia quatro homens na linha das árvores, alguns metros depois do

estacionamento. Escondidos nas sombras. Discutiam alguma coisa, mas não era

uma simples discussão. Existia uma tensão estranha na cena. Era algo no tom de

voz que usavam ou talvez em sua expressão corporal. Não soube definir com

precisão e, olhando em retrospectiva, talvez eu devesse ter me enfiado no meu

carro e ido embora. Mas fiquei ali, as mãos apoiadas no Citroën, com Ryker logo

atrás de mim. Um dos homens se moveu e a luz da lua iluminou seu rosto.

– Oh, merda! – Ele suspirou, me puxando pela cintura e me forçando a me

abaixar. – Aquele é…

Seja lá quem ele fosse, o garoto de programa não teve tempo de concluir a

frase. O homem alto e corpulento puxou uma arma do cós das calças e atirou no

outro. Levei as mãos à boca em um grito mudo.

– Vem – murmurou Ryker, no meu ouvido. Eu queria obedecer, mas meu rosto

estava petrificado. – Mina, a gente precisa dar o fora daqui agora. – Ele tocou

minha mão e se manteve abaixado enquanto tentava se distanciar do carro. Dei

dois passos atrás dele sem conseguir tirar os olhos da cena.

– Se abaixa! – sussurrou, me puxando para baixo. Fiquei imóvel por um

segundo, assistindo através da janela do meu carro dois dos homens se

agacharem junto ao corpo, enquanto um terceiro mantinha-se de pé observando a

cena. Ryker devia ter julgado aquele um bom momento para ir embora, então

levantou-se um pouco, me puxando junto. O homem de pé pareceu ter notado

sua movimentação e, pelo vidro escuro das janelas, pude vê-lo olhar ao redor,

para o estacionamento vazio. Para o meu Citroën prata. Para Ryker.

Soltei um grito abafado e a mão no meu braço me puxou. Estava agachada

naquele labirinto de carros, quando o homem levantou a arma para nós e atirou

pela segunda vez.

O estrondo fez meu mundo inteiro girar. O barulho rouco, abafado pela copa

das árvores, não era tão alto quanto eu imaginava, no entanto esperei que alguém

o ouvisse e chamasse a polícia.

Infelizmente, nem mesmo a mais veloz das polícias seria capaz de nos salvar a

tempo. Os tiros cessaram, mas nós não ficamos para descobrir por quê. Ryker me

guiou por vários metros entre os carros, correndo de volta para o hotel, para

depois da recepção.

Minha respiração queimava com meu coração batendo com força, distribuindo

um nível absurdo de adrenalina para cada canto do meu corpo.

Do outro lado da recepção, na passagem de embarque e desembarque para

carros, um casal jovem e enamorado se despedia de alguns amigos ao lado de

um táxi parado. Ryker me enfiou pela porta aberta, roubando a carona do casal, e

eu o vi se virar para trás, nervoso, antes de mergulhar no banco de trás junto a

mim. O taxista tentou reclamar, assim como o casal, mas o garoto de programa

gritava que era uma emergência, e o desespero em seu rosto e sua voz pareceu

fazer com que todos acreditassem nele. Logo o táxi partiu abruptamente, fazendo

os pneus cantarem e deixando para trás o casal sem táxi, seus amigos e os

assassinos do estacionamento, que, com alguma sorte, não teriam como nos

encontrar.

– O que… O que…? – sussurrei.

– Era Yuri Kulik! – Devolveu baixinho. – Você não viu?

Meu corpo inteiro gelou em uma temperatura nunca antes atingida.

– Não – avisei. – Eu não vi nada. E você também não.

– Não importa mais, Mina. Eles nos viram.

– Mas não sabem quem somos! – Eu não tinha nem certeza se eles tinham me

visto. – Só sabem que duas pessoas viram e que…

– Você acha mesmo que Yuri Kulik não vai conseguir nos achar? Você estava

hospedada naquele hotel, não estava? Fez o check-in?

– Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!

– A gente precisa sair dessa cidade, agora.

– O QUÊ? – Olhei para ele assustada e tive uma vaga sensação de que minhas

sobrancelhas estavam no topo da minha cabeça.

– Shh! – pediu, apontando para o taxista curioso, que nos observava pelo

espelho retrovisor. – Mina, sei que deve ser difícil compreender essa situação

toda. Você nunca deve ter passado por nenhum problema mais sério na vida. Mas

precisa entender que, se a gente ficar em Paris, a gente morre. Consegue

entender isso?

– A gente vai para polícia! Tem uma delegacia logo ali, depois da Glacière, no

13

o arrondissement. A gente vai até lá. – Gesticulei, resoluta – E deixa a polícia

resolver isso.

– E sabe o que eles vão fazer? Colocar a gente no sistema de proteção à

testemunha. Assim como fizeram com Pierre Arnois.

Um arrepio horrível subiu minha espinha. O caso Pierre Arnois era tudo de

que os jornais falavam nas últimas semanas. A testemunha-chave do caso contra

Yuri Kulik.

– E de que isso lhe servirá? – Ryker tinha um bom argumento. – A gente

precisa dar o fora daqui, Mina.

– E ir para onde?

– Tenho uns amigos. Em Amsterdã. É um… um clube. A gente poderia ficar

lá, teria um emprego. Esperaria essa poeira abaixar e pronto.

– Um clube? Em Amsterdã? Não, obrigada. Senhor, por favor! – indiquei ao

motorista. – Vire à direita ali, tudo bem? Eu moro no 11

o

.

– Você quer ficar em casa? – Ryker puxou meu braço, enquanto o taxista me

obedecia. – Você não está pensando direito, Mina.

– Vou procurar a polícia logo de manhã, Ryker. Aliás! Vou procurar a polícia

agora à noite mesmo.

O táxi parou, nos deixando na calçada do meu prédio.

– Olha, moça – ele me seguiu quando desci do carro –, sei que a gente não se

conhece, mas não te desejo mal. Principalmente, não te desejo a morte. Ficar na

sua casa com Yuri Kulik procurando por você é suicídio. Ir até a polícia e correr

o risco de cair nas mãos de um policial corrupto é atentado ao suicídio. Você não

me conhece, não quer vir comigo. Tudo bem. Mas não vou deixar que fique em

casa. Não tem algum lugar para onde possa ir?

Ele agitou os braços para a rua, fazendo outro táxi parar.

– Voltar para o hotel, então. – Resolvi quando ele me puxou para o automóvel.

Elise! Eu precisava de Elise.

– Agora, você perdeu o juízo mesmo. – Levantou a mão espalmada de pânico

e descrença.

Ele tinha razão.

– A casa da minha amiga! Ela está no hotel agora. Mas eu espero por ela lá!

– Você tem certeza?

– Absoluta. Tenho uma chave.

O olhar de Ryker gritava que ele estava prestes a me sequestrar e me tirar da

cidade.

Mas ele respirou fundo e manteve a porta aberta para mim.

– Se você mudar de ideia – sussurrou –, vou direto para a Gare du Nord.

Pegarei o primeiro trem para Amsterdã. – Olhou para o relógio. – Deve haver

um às sete horas. Vou comprar duas passagens por segurança. Se aparecer, tem

um lugar para você.

– Por que está fazendo isso? – Ele já tinha virado as costas e estava descendo

a rua, indo embora. – Você mal me conhece.

– Você é uma garota do bem que acabou de presenciar um assassinato. – Deu

de ombros. Eu podia ver os músculos de seu pescoço rígidos e tensos. – Não me

leve a mal, mas pareceu precisar de um pouco de ajuda.

Passei a língua nos meus lábios ressecados.

– Se mudar de ideia… – suspirou, passando as mãos no cabelo.

Ele se foi e eu disse o endereço de Elise ao novo taxista, esperando

desesperadamente que eu tivesse tomado a decisão correta.

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