Velha Infância

Me chamo Camila, tenho tenho 23 anos e estou prestes a me formar em medicina.

Estudo na universidade federal do meu estado, já que tirei uma boa nota na prova do vestibular, me formo ainda esse ano e depois quero fazer residência em cirurgia.

Minha mãe, Cláudia trabalha como empregada doméstica para uma família muito rica, desde quando eu era criança.

Moramos minha mãe, minha irmã mais nova e eu, em uma casa que fica nos fundos da grande mansão dos patrões.

Meu pai deixou minha mãe quando minha irmã e eu éramos muito pequenas, tanto que ela nem lembra muito dele.

Minha mãe tem cuidado de nós todos esses anos sozinha, e eu a admiro muito por isso, houve momentos que não tínhamos muito, mas ela sempre deu o melhor de si por nós, até mesmo quando mergulhou em uma depressão sempre levantou e tentou cuidar de nós, trabalhou em lojas, vendeu balinhas no sinal, até que encontrou com o patrão dela e ele lhe ofereceu um emprego, diferente da mulher dele, ele é uma pessoa muito humilde, já ela é esnobe e olha todos de cima.

Foram tempos muito difíceis que nós três passamos, eu não gosto nem de lembrar.

Cresci nessa casa junto com os cinco filhos do casal, Miguel, o mais velho, João o segundo filho, Pedro o terceiro, Isabela a quarta e Rafael o mais novo, esse sempre foi dono do meu coração.

Se estamos juntos hoje? Não! Não estamos, aconteceram muitas coisas para que isso não desse certo.

Tenho um melhor amigo, Luan, nos conhecemos na faculdade e desde então somos amigos.

Luan é filho de médicos, ele tinha oportunidade de estudar em uma faculdade particular, mas estudar na federal é sonho de muita gente.

Apesar de ser rico, Luan é uma pessoa muito simples, já veio almoçar aqui em casa várias vezes e eu também já fui em sua casa, seus pais são pessoa simples igual a ele.

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As vezes quando tenho tempo vou até a casa principal ajudar minha mãe com seus afazeres, ela quem comanda tudo e cozinha para família, já que eles se acostumaram e gostam da comida que minha mãe prepara, e devo confessar que é muito boa mesmo.

Hoje na grande mansão está uma correria, pois depois de muitos anos Rafael vai voltar para casa. Não sei exatamente o que estou sentindo com isso, mas meu coração está um pouco acelerado com a possibilidade de vê-lo outra vez.

Como há muito trabalho a ser feito minha mãe me chamou para ajudá-la. Ela acordou super cedo e já deve estar trabalhando essa hora.

Eu tomo um banho, prendo os cabelos, visto uma roupa leve e vou para mansão ajudar minha mãe.

- Filha! Que bom que você veio, estou cheia de trabalho, dona Marisa faz questão que eu cozinhe, pode cortar esse legumes para mim?

- Posso. –coloco um avental, lavo minhas mãos e começo a cortar os legumes.

A cozinha hoje está bem movimentada, além das pessoas que trabalham na casa dona Marisa contratou mais algumas, ela gosta de dar festas, ainda mais sendo para o filho que não ver faz tempo.

Rafael viajou para estudar engenharia para atuar na empresa de sua família, todos os seus irmãos estudaram engenharia, exceto Isabela que estudou moda e mora em Paris, mas está passando uns dias com a família para esperar a chegada do irmão.

- Cláudia? Já está tudo pronto? –dona Marisa entra na cozinha elegantemente vestida.

- Quase dona Marisa.

- Ótimo, Miguel já saiu para buscar Rafael, quero tudo perfeito.

- Está tudo dentro do esperado. –minha mãe diz.

- Ótimo. –ela diz olhando para mim e sai.

Sei exatamente que ela não gosta muito de mim, ela só me suporta aqui porque gosta muito dos serviços da minha mãe e por ela ser de confiança, do contrário já teria nos expulsado daqui a muito tempo.

Ela mandou Rafael para longe pois descobriu o nosso namoro, e não quis que seguisse a diante, sofremos muito com essa decisão. O pior nisso tudo é que não tivemos nem como nos comunicar, já que na época eu não tinha celular e todas as vezes em que ele tentou falar comigo pelo telefone da casa nunca deu certo.

Os anos passaram e a vontade de falar com ele foi diminuindo, até que parou de existir, houve dias em que eu nem me lembrava dele.

E continuava assim até saber que ele está voltando, na verdade estou um pouco nervosa, não sei o que fazer quando o ver na minha frente, não sei se o sentimento que tinha por ele acabou ou está apenas adormecido, só saberei quando o tiver frente a mim.

Finalizo as saladas, coloco a comida na louça cara que dona Marisa escolheu para ocasião e me preparo para sair e voltar para minha casinha.

Quando estou prestes a sair uma voz grave me faz paralisar no lugar, me viro para ver quem é e me deparo com ele... Não reconheci sua voz, está mais grave, rouca e sexy.

Rafael, uns anos mais velho, mais alto, mais forte, uma barba por fazer, mas o sorriso ainda é o mesmo, consigo ver em seu sorriso o mesmo Rafael que se despediu de mim anos atrás.

- Camila. –ele diz.

- Oi.

- Como você cresceu.

- Você também.

- Como você está?

- Bem, como foi sua viagem?

- Tranquila.

- Que bom.

- Você não vai ficar?

- Não, só vim ajudar minha mãe e já estou de saída.

- Gostaria que você ficasse para a reunião que minha mãe organizou.

- Acredito que esse é um momento pra você ficar com sua família e seus amigos.

- Você é minha amiga.

- Melhor não, e também preciso estudar, para as minhas provas finais.

- O que você estuda?

- Medicina.

- Do jeito que você queria, parabéns.

- Obrigada, foi bom te ver, até mais.

- Até.

Viro as costas para ele e saio apressada, meu primeiro contato com ele foi melhor do que eu esperava, pensei que eu fosse ficar mais nervosa, mas conversamos normalmente.

Vai ver os sentimentos que eu tinha por ele não existem mais.