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O Desaparecimento de Edgar

O Desaparecimento de Edgar

Rafael_ramires

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Capítulo

Daniel, policial, investigador, afastado das atividades por problemas de conduta, recebe a notícia de que seu melhor amigo Edgar está desaparecido. As pistas levam Daniel para um misterioso Circo que recém chegou na cidade. O Detetive vai ter que desvendar o mistério que envolve o desaparecimento de seu amigo e alguns de seus próprios medos para chegar até o fim deste caso.

Capítulo 1 Conto Desaparecimento de Edgar

Já havia passado dois anos desde o afastamento de Daniel. Ainda não havia retornado ao trabalho na delegacia como investigador. Não tinha liberação médica, pois suas recaídas com drogas eram frequentes. Já falavam em desligamento da corporação. Ele pouco se importava. Ainda sabia usar uma arma, intimidar e, em especial, investigar. Para sobreviver, fazia serviço de freelancer. Seu colega do departamento de vigilância sanitária havia telefonado dois dias antes avisando sobre uma possível denúncia de alimentos contaminados em um circo. Não encontraram nada de suspeito, em princípio.

Temendo que alguém estivesse escondendo algo, pediu ajuda do investigador. Depois do contato, Edgar, da vigilância sanitária, desapareceu. A última vez que foi visto era próxima a bilheteria do circo Carnivalle conversando com a mulher que vendia churrasco no espetinho.

Já era o terceiro dia de apresentações do peculiar circo. Daniel observava tudo que poderia ser um risco para a saúde. Encheu os bolsos com alguns doces, observou como produziam pipocas, rapaduras e outras coisas. Nada que chamasse a atenção. Nem mesmo uma violação contra a higiene ele conseguia perceber. Olhava o celular de tempos em tempos para verificar se havia alguma mensagem de Edgar. Na falta de família, amigos são tudo que importa.

Estava ficando sem opções quando percebeu a chegada a mulher que batia com a descrição que deram sobre a última vez que viram o amigo. Ela empurrava um carrinho que virava uma pequena tenda. Em alguns minutos conseguiu montar uma pequena churrasqueira quase ao lado da bilheteria. Tirou de dentro de uma caixa de isopor os espetinhos prontos com carne muito fresca. Não eram apenas de gado, mas de frango, porco, com pedaços de linguiça, cebola e pimentão. Tudo devidamente acondicionado. O cheiro da carne assando era excelente. O investigador lembrou que estava com fome. Foi até a moça. Ela não tinha a aparência agradável. Estava com a expressão fechada, pouco amigável, mas não falava de forma ríspida com seus clientes. Uma fila começou a se formar na frente dela para comprar o petisco.

O sabor era formidável. Daniel não sabia dizer se o tempero, o modo de preparo ou a fome que deixavam o gosto tão especial. Viu o isopor que ela trazia e reparou a logomarca. Era de uma distribuidora de carnes desconhecida para ele. Repetiu o nome algumas vezes para decorar. Comprou alguns para deixar em casa. Antes de chegar, parou na praça para fumar um pouco de seu pó do inferno. Uma forma de relaxar após um dia improdutivo de trabalho.

O telefone não parava de tocar e isso fez Daniel acordar. Ele ainda estava mais lento do que o normal. A cabeça girava lentamente e os olhos pesavam. Sair do lugar era muito difícil. Sempre dava uma dormência nas pernas antes do efeito deixar o corpo totalmente. Conseguiu, por fim, atender.

– Sou eu. Quem é?

– Investigador, é melhor parar de fazer perguntas. Se você continuar procurando algo, vai acabar encontrando. Seja esperto e não repita o erro de seu amigo.

– Alô? Alô?

Não era uma voz conhecida. Um pouco rouca, lenta e com um sotaque estranho. Nunca tinha ouvido antes. Daniel sabia que deveria estar perto de desvendar algo. Não era a primeira vez que o ameaçavam e nem seria a última. Ele não lembrou de ter feito muitas perguntas sobre o caso, mas já sabia que tinha coisas que o pó do inferno trata de esconder da memória.

Não teve dúvida sobre o que fazer. Precisava voltar ao circo. Na porta da geladeira havia um bilhete com o nome da distribuidora de carnes do circo. Já tinha uma ideia de por onde começar. A ligação havia deixado um pouco apreensivo. Achou que uma leve tragada de seu pó mágico não iria fazer mal durante o caminho.

Quando chegou na bilheteria do circo ainda era cedo. Havia uma pequena fila formada. Percebeu que algumas pessoas perguntavam pelo carrinho do churrasco. Daniel também não o via. Ele perguntou a um funcionário que informou sobre um problema com a carne e por esta razão talvez não fossem naquela noite. Deu ainda mais uma volta pelo lugar para encontrar algo suspeito, mas não teve sucesso. Uma dupla de palhaços parou em sua frente. Ele instintivamente levou a mão ao cabo da arma. Um deles fez uma reverência no estilo medieval e o outro convidou para ir ver o espetáculo. Daniel recusou. Apressou o passo para o carro. Tinha certeza que estava sendo vigiado. Edgar não desapareceu à toa. Alguém o sequestrou para esconder a atividade criminosa no local. O amigo sabia disso e por esta razão foi pego. Era o momento de voltar para casa.

Entrou rapidamente no carro e partiu. Quando se sentiu seguro, parou. Estava organizando as ideias. Precisava de uma prova para tomar alguma iniciativa mais direta. Eram poucas as evidências, mas algo deveria ser feito. Acendeu seu cachimbo ainda dentro do carro. Poderia intimidar a mulher do carrinho de churrasco. Mostrar o distintivo, a arma, dar uns tapas que poderiam fazê-la falar pelo menos sobre o Edgar. Pensou em como agir sem despertar suspeitas.

Quando acordou no dia seguinte, não conseguia lembrar o motivo de ter dormido tanto tempo. Havia um envelope em cima de sua mesa. Verificou em toda a casa se alguém estava lá. Dirigiu-se vagarosamente para pequeno pacote. O cheiro de carne podre já podia ser sentido. Abriu para ver o conteúdo. O odor que era ruim ficou insuportável. Algo havia caído no chão e Daniel segurava um pedaço de papel dobrado. Um dedo indicador cortado estava próximo ao seu pé. No bilhete apenas uma frase: “Se quer ver o resto de seu amigo, venha nos encontrar hoje”. Estava escrito no verso de um panfleto do circo.

O investigador pegou um canivete, um conjunto de munições de sua arma e conferiu para ver se estava plenamente carregada. Saiu apressado de casa. Precisava ter uma moeda de troca eficiente se fosse negociar a vida de alguém. Fazia alguns planos de como abordaria a mulher do churrasco.

Chegou no circo em tempo de ver as coisas ainda sendo preparadas para o espetáculo. Faltava apenas uma hora para a bilheteria abrir, mas já existia uma fila grande esperando pela principal atração da noite. Teve a impressão de que todos os funcionários estavam de olho nele. Andava o tempo todo com a mão no cabo da arma debaixo da jaqueta. Percebeu que um homem que vendia pipocas o encarava. Ele parecia nervoso e fez menção de fugir quando Daniel se aproximou. O policial apressou o passo e o homem largou tudo e começou a correr. O instinto do policial farejou algo de suspeito. Ele correu o mais rápido que pôde e conseguiu encurralar o homem entre dois caminhões. Um deles era um camarim móvel e o outro de uma distribuidora de carnes.

– Pare aí mesmo ou eu atiro! – Destravou a arma e fez questão do homem perceber isso. Ele levantou as mãos trêmulas e abaixou a cabeça.

– Lugar certo, pessoa errada, Daniel!

Disse uma voz feminina vindo pelas costas dele. Ele virou e teve tempo de perceber que era a mulher do carrinho de churrasco. Quando tentou apontar a arma, o movimento de um bastão de beisebol direto contra seu queixo fez tudo ficar escuro.

O cheiro de carne salgada assando estava uma delícia. Dava para distinguir alguns temperos pelo aroma. O som de talheres e a risadas descontraídas davam um astral especial ao momento. Tentando entender que ambiente era aquele, Daniel abriu lentamente os olhos. O rosto doía ao movimentar. Ele bateu as mãos nos bolsos e se viu sem as armas. O corpo estava envolto por um cobertor leve e surrado.

Ele tentou levantar, mas as pernas estavam dormentes. Daniel conhecia bem essa sensação. Era o que acontecia quando passava o efeito da droga. Tentou sair da cama, mas caiu no chão. O barulho fez alguém entrar no lugar.

– Ora, ora, finalmente ele acordou.

Era a mulher. Daniel estava dormente demais para reagir. Estava drogado além da conta. Alguém arrastou ele até uma grande sala de jantar. Os principais atores do circo estavam reunidos em uma mesa com refeição farta. Entre eles estava Edgar. Rindo um pouco, limpou a boca e caminhou até seu amigo no chão.

– Ora, ora, olha quem veio se juntar a nós. Seja bem vindo, Daniel.

– Vo… Você está vivo? Está trabalhando com eles? O que está acontecendo

– Antes de virar um agente, fazia parte do espetáculo. Sempre ajudo no que eu posso. Dessa vez foi emitindo licenças. E, claro, trazendo você.

– Eu? Quando eu levantar daqui vou dar uma surra em todos vocês. Me trouxe pra isso?

– Você não tem família, mulher, filhos, amigos ou vida decente. É um viciado, com má reputação e que ninguém dá a mínima. Nem mesmo investigar você consegue mais. Veja isso como uma coisa boa. Eu escolhi você, por isso.

Daniel tentou levantar, mas desequilibrou e caiu. Todos deram risadas altas. Incluindo Edgar. O investigador percebeu que suas pernas dormentes não estavam ali. Uma bandagem estava improvisada no limite do corte dos membros.

– O que fizeram comigo? O que vocês fizeram comigo?

Não houve respostas. Apenas mais risadas. Todos mordiam, cortavam, lambiam pedaços do delicioso churrasco que ele havia experimentado. O policial entendeu. Eles estavam comendo gente! A distribuidora trazia carne de pessoas. A mulher preparava de uma forma discreta misturando ingredientes e não levantava suspeitas. Edgar legalizava todo o esquema. Daniel ficou chocado ao lembrar que tinha comido o churrasco, que as pessoas faziam fila até a carne acabar e mais ainda por perceber que o banquete era com suas pernas.

– Pelo visto, você entendeu tudo agora.

Edgar pegou um pedaço e começou a comer. Fez um gesto oferecendo para Daniel.

– Você foi um péssimo colega. Agora, acabou.

Edgar sentou-se continuando a tenebrosa refeição. A mulher apontou para um homem que vinha de avental e um cutelo.

– Corte os dedos no lugar certo dessa vez. As crianças adoram esses pedaços pequenos.

O homem ergueu o cutelo mirando na cabeça. Daniel queria reagir, mas seu corpo dormente e lerdo não conseguia. Antes de tudo acabar, pôde ainda ouvir o açougueiro dizer:

– Hoje teremos costelas ao molho pardo, mamãe!

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