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A Maldição do CEO

A Maldição do CEO

Chloe Reymond

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18
Capítulo

Alejandro Sanches carrega uma sombra no coração. Viúvo e tendo que cuidar sozinho de uma filha adolescente, ele vê seu mundo bagunçado ao conhecer a nova funcionária da sua empresa. Por ser muito mais velho, ele tenta fugir da atração, mas acaba cedendo a paixão. O problemas são as coincidências da garota com a donzela do conto que sua mãe publicou alegando ser sobre a maldição da sua família. Chloe Hickmann é uma moça simples que se apaixonou pelo CEO rabugento da empresa onde trabalha como corretora de imóveis. Por em três meses não ter conseguido finalizar nenhuma venda, sua única chance é vender a mansão "amaldiçoada" dos Sanches. O problema é que para isso precisa viver nela por sete dias, com o CEO.

Capítulo 1 PRÓLOGO - Maldição em forma de livro

Poucos dias após o casamento, o duque de Sanches estava extremamente irritado. Andava de um lado para o outro no quarto.

Cleo, sua jovem esposa, o seguia com o olhar, fascinada pela beleza máscula do marido. Desceu o olhar do seu rosto, onde se destacava olhos azuis límpidos, lábios finos e algumas marcas deixadas pelo tempo, detalhes moldados por uma estrutura máscula e cabelos castanhos parcialmente grisalhos. Seguiu pelo peito musculoso desprovido de pelos, e de roupas, após uma manhã bem agitada na cama. Desceu um pouco mais até o volume em suas roupas intimas. Mordeu os lábios com as cenas que vieram a sua mente.

Sentindo-se observado, Alejandro parou perto da cama e passou a fazer o mesmo.

Demorou-se no rosto da esposa, onde os fios longos e dourados se espalhavam no travesseiro. A boca pequena o fazia endurecer só de lembrar o que estavam fazendo minutos atrás, os olhos castanhos que sorriam junto com os lábios ao se ver analisada e desejada. Quando seu olhar se perdeu no corpo delicado, coberto por uma fina camisola, ele balançou a cabeça negando.

— Estou extremamente tentado a não fazer essa viagem. Ficar dois meses longe de você parece um pesadelo.

Sua esposa apenas segurou seu braço o puxando de volta para a cama.

— Esperarei ansiosa pelo seu retorno — o fez se sentar e puxou sua cabeça para o seu colo. — Não pense que está indo para longe de mim, pense que logo estará voltando e...

— E iremos viajar em uma lua de mel de verdade — ele prometeu, a interrompendo.

— Sim. Podemos ir para um lugar com praias paradisíacas? — Cleo pediu sorrindo, cheia de esperança. Ela tinha um sorriso que desarmava o marido. Era assim desde o momento em que se viram pela primeira vez.

— Iremos onde desejar, minha borboleta. — Acariciou o rosto da esposa.

Ela sorriu e beijou sua mão. Amava o apelido pelo qual ele a chamava desde que se conheceram, quando ela corria na floresta atrás de várias borboletas coloridas.

O duque se apaixonou de imediato. E não perdeu tempo em buscar o matrimônio.

Ele era viúvo e tinha uma filha poucos anos mais jovem que sua bela esposa.

Cleo também se apaixonou de imediato por aquele homem de expressão fechada, que quando sorria iluminava tudo ao seu redor. Ela ficou encantada com o belo homem que a observava. Seus pais até tentaram convencê-la a não se precipitar por causa da diferença de idade, mas o amor falou mais alto e em poucos meses estavam casados.

***

Apesar de Cleo fazer de tudo para se tornar amiga de Mariah, filha do seu marido, a garota não tinha nenhum interesse nessa amizade, mas fingia muito bem.

Quando o duque saiu na viagem de negócios que tanto desejou evitar, foi tranquilo com a visão das duas mulheres de sua vida na porta principal acenando para ele.

Ele nunca viajaria se sequer imaginasse que Mariah tinha um plano em mente para tirar Cleo do lugar que era só da sua falecida mãe.

Nos primeiros dias ela agiu normalmente. Já estava chegando a data do retorno do seu pai quando ela reuniu alguns dos empregados na cozinha e fez algumas exigências de como deveriam agir quando o duque chegasse.

Para deixar claro que não estava brincando, ameaçou:

— Lembrem-se do que devem falar quando meu pai chegar se quiserem manter seus trabalhos e suas vidas, pois se eu não conseguir me livrar dela me livrarei de cada um aqui.

— Sim, senhorita — eles responderam quase que em coro.

Fariam tudo que ela ordenasse, pois já presenciaram um empregado ser condenado a prisão por causa de mentiras e caprichos dela; temiam por suas vidas e de seus entes queridos.

Mariah saiu da pequena reunião com um sorriso no rosto, mas seu sorriso sumiu assim que ela entrou na casa principal e ouviu a novidade.

— Parabéns, senhorita! Em breve conhecerá seu irmão ou irmã. — O médico, que veio por causa dos recentes enjoos de Cleo, declarou ao vê-la.

— Ela está grávida? — a surpresa impediu que Mariah disfarçasse a raiva. Seu rosto ficou vermelho, mas ela logo se recuperou, sorrindo dissimulada. — Que maravilha! Meu pai vai ficar muito feliz.

Alheio ao perigo que sua cliente corria, o médico recomendou:

— Pedi que sua mãe descansasse um pouco, mas pode subir para partilharem essa alegria.

Mariah teve vontade de gritar que ela não era e nunca seria sua mãe, porém simplesmente sorriu para o médico e se despediu fingindo que subiria logo mais para saber sobre as novidades.

Mal o médico saiu da casa, ela não conseguiu mais disfarçar. Subiu correndo ao seu quarto, deixando Cleo confusa na sala, e abafou um grito de ódio no travesseiro; depois de rasgar vários vestidos em uma crise de raiva.

Cleo deixou para lá a reação da garota. Imaginou que fosse ciúmes por não ser mais filha única, e tinha certeza que isso mudaria quando conhecesse seu novo irmão ou nova irmã.

***

O duque voltou da viagem louco de saudades da sua filha e da sua esposa.

Mal desceu da carruagem e andou rapidamente em direção a casa, mas foi interceptado pela cozinheira que foi babá de Mariah durante a sua infância.

— Ainda bem que o senhor chegou. Por favor, salve a senhorita. — A mulher implorou cheia de aflição. Por mais que fosse uma encenação, ela realmente se sentia aflita, pois doía em sua consciência machucar alguém para não se machucar.

— Como assim? O que houve com a minha filha? — perguntou. Sua ansiedade começava a se transformar em preocupação.

— A senhora se transformou completamente após sua partida. Fez muitas maldades com a senhorita, mas nada tão cruel como fez há quase dois dias.

O duque a olhava sem acreditar no que ouvia.

Ela continuava falando e olhando os pés:

— A senhorita está presa no celeiro, nua e sem direito a comer. — No fundo temia perder a coragem de mentir para o patrão se visse a expressão no rosto dele. Todos que conheciam o duque de Sanches sabia do profundo amor que ele sentia pela filha e pela esposa.

— O que? — o duque começou a acreditar que estava em um pesadelo. Para ele era impossível crer em tal coisa.

— Por favor, salve-a!

Ainda sem acreditar, o duque foi em direção ao celeiro.

Sentiu como se morresse um pouco ao ver a filha encolhida em um canto.

Ela estava nua e com os olhos vermelhos de chorar. Mais cedo, ela mesmo havia ordenado a um empregado que a trancasse ali e, caso sua madrasta aparecesse e questionasse sua ausência, devia dizer que estava em seu quarto e não queria ser incomodada.

— Filha? Meu Deus! — o duque se aproximou rapidamente.

Enquanto a cobria com seu casaco, ele perguntou a empregada:

— Onde está a senhora?

— Deve estar chegando. Foi passar o dia com os pais.

— Prepare um banho e alimentos para a senhorita.

— Sim, senhor.

A mulher seguiu na frente enquanto o duque a seguia com a filha, que ainda chorava, nos seus braços.

Mariah não falava nada. Só chorava. Ele queria questionar o que exatamente aconteceu, porém temia a resposta.

Depois de se vestir e comer, ela finalmente falou:

— Posso morar com a vovó? — sua voz era apenas um fio depois de tanto choro. Não tinha dificuldade nenhuma em chorar sem motivo; era um dos artifícios que usava desde criança para conseguir tudo que queria.

— Precisa me contar o que aconteceu. Somente assim irei decidir o que fazer.

Mariah contou uma história que inventou. No seu relato disse que a madrasta se transformou em uma megera na ausência dele e que em um ataque de fúria a obrigou a tirar as roupas e ficar no celeiro.

— Ela disse que nada mais me pertencia. Que eu teria direito a roupas, comida ou dignidade somente quando permitisse. — Limpou uma lágrima invisível.

— Não posso acreditar. — O duque fechou os olhos, se sentia indignado e magoado.

Como Cleo foi capaz de algo assim? Dei tudo que ela queria, a amei com toda minha alma. Como ela pode machucar a minha filha? — pensava desolado.

— A maioria dos empregados presenciou, mas entenderei se o senhor escolher acreditar nela. Só peço que me permita morar com meus avós ou até mesmo em um convento. Tenho medo dela, papai. Eu te imploro. — Agarrou a mão dele.

Sanches acariciou a mão da filha por alguns instantes.

— Por enquanto, descanse. Preciso pensar.

Meio tonto, ele saiu do quarto da filha. Sentia-se desnorteado. Não acreditava que ela tinha motivos para mentir, mas ainda assim procurou alguns dos funcionários. Eles confirmaram. Disseram que a senhora ficou irreconhecível durante sua ausência.

Com ódio por ter o coração pisoteado, ele pegou uma garrafa de rum e sentou na varanda esperando a chegada da esposa. Todos sabiam que ele estaria de volta hoje, a ausência dela era mais um sinal de que realmente seu pesadelo era real.

Nem mesmo ao marido ela respeita mais? O que houve com a esposa carinhosa e companheira? Seus pensamentos vagavam em tais questionamentos enquanto bebia sem parar.

***

Cleo chegou quando o sol estava se pondo.

Ao ver o marido na varanda correu até ele, mas quando percebeu que ele estava embriagado ficou sem saber como agir. Era a primeira vez que o via naquele estado.

— A dona de tudo finalmente chegou — ele rosnou enquanto se levantava.

Antes que Cleo pudesse questionar o motivo do tom de deboche, ele a segurou com força pelo braço e a arrastou até o celeiro.

Quando chegaram em frente ao celeiro, a soltou fazendo com que ela caísse sentada no chão.

— Eu te dei meu amor. Por que isso não foi suficiente? Por que teve que machucar a minha filha? — gritava loucamente.

Ela o olhava apavorada. Esperou tanto por um retorno apaixonado e em troca recebeu violência.

— Meu marido, fiz algo ...

— Cale-se! — a interrompeu. — Não vai agir como santa agora que cheguei. Não vai me fazer de tolo.

Nesse instante, Mariah se aproximou e ficou atrás do pai, como se tivesse medo da mulher no chão. O duque não podia ver o sorriso vitorioso no rosto da filha.

Alguns empregados olhavam a cena sem disfarçar.

Levado por uma ira sem tamanho, o duque ordenou:

— Levante-se e tire as roupas.

Cleo se levantou, mas, ao invés de tirar as roupas, questionou:

— Não entendo. Por que está sendo tão cruel?

— Tire tudo. Nada pertence a você. — Ele ignorou sua pergunta. O álcool o impedia de pensar com clareza. Tudo que passava pela cabeça foi a forma como encontrou a filha e seus empregados dizendo que sua menina foi humilhada sem piedade.

— Por que está fazendo isso comigo? Eu não mereço. — Lágrimas de vergonha e decepção desciam pelos olhos de Cleo. — Acreditei que você me amava.

— Tão cínica! Depois do que fez com minha filha, devia se dar por satisfeita por eu não matá-la. — O ódio, a tristeza e o álcool serviam de combustível para ele agir cada vez mais impulsivamente.

— Não fiz nada. — Cleo desviou o olhar para a garota. — Mariah, diga ao seu pai. Eu não fiz nada.

Mariah teatralmente se escondeu atrás do duque.

— Não fale com a minha filha. Sequer olhe para ela.

Cleo percebeu que poderia dizer qualquer coisa que não conseguiria fazer o marido escutá-la.

Ele não acredita em mim. Não me ama. Não importa o que tenham dito a ele, o seu amor foi fraco o bastante para não confiar em mim. — Seus pensamentos eram dolorosos. Estava tão magoada que não conseguia pensar com clareza. Nem mesmo ouvia a voz lá no fundo que insistia que ela não precisava fazer o que ele mandava. Destruída e decepcionada, ela se desfez de cada peça de roupa rapidamente até se ver completamente nua diante das pessoas que olhavam.

Seu coração já estava morto. Não ligava mais para a vergonha.

Pela primeira vez o corpo do duque não reagiu a vê-la nua. Dessa vez só conseguiu sentir tristeza. Seu coração se escureceu.

Percebendo que começava a chorar na frente de todos, ele a puxou pelo braço e a empurrou para dentro do celeiro.

— Fique nesse lugar até que eu decida o que fazer com você — ordenou, trancou a porta e saiu em direção a casa onde pegou outra garrafa de rum.

Ninguém ousou segui-lo, nem mesmo sua filha.

***

Nua no celeiro úmido e frio, Cleo chorava e tentava entender o que estava acontecendo.

Não conseguia acreditar que a felicidade de descobrir que teria um filho podia ser ofuscada por alguma mentira ou mal-entendido. Era difícil aceitar que a amizade que Mariah demonstrava, desde que se conheceram, era mentira, mas diante de tudo que viveu nos últimos minutos não havia outra explicação. Por algum motivo ela havia mentido para o pai, uma mentira tão grave que o fez se transformar naquele monstro.

Seria por causa da gravidez? — se questionava.

A tristeza era tamanha que doía fisicamente em seu peito.

Com medo de que algo acontecesse com seu bebê, Cleo rezava e chorava.

Mas a dor cada vez mais forte a fez perder a consciência.

***

O dia seguinte chegou e, por causa da bebida da noite anterior e da dor de ter se enganado com a mulher que não conseguia deixar de amar, o duque não saiu do quarto em nenhum momento.

No fundo desejava morrer. A única coisa que o mantinha vivo era saber que sua filha precisava dele.

A noite já estava quase começando quando ele se decidiu. Mesmo revoltado com seus sentimentos, resolveu apenas manter Cleo longe. Daria a ela a escolha de voltar para a casa dos pais ou morar em outro país. Sabia que jamais conseguiria machucá-la. A imagem dela chorando já o perseguia como um pesadelo constante.

Deixou o quarto usando a mesma roupa com a qual passou a noite e seguiu para o celeiro.

Mariah também seguia para o celeiro para ver seus espólios.

Ela estava sorridente, mas seu sorriso sumiu ao ver a lavadeira levando comida e agasalho para a sua madrasta.

— O que está fazendo? — perguntou irritada.

— Vou levar um cobertor e alimento para a senhora. — A empregada respondeu sem se amedrontar. — Era uma das poucas que não participou da reunião, e quando soube do que acontecia se revoltou com seus colegas.

— Você é burra ou surda? — Mariah não conseguiu controlar o tom de voz.

Nessa hora o duque, que se aproximava, parou surpreso com a atitude da filha.

A empregada enfrentou a garota.

— Não, senhorita. Sei muito bem o que a senhorita ordenou e as mentiras que inventou. Só que não vou deixar a senhora ser maltratada só porque fomos ameaçados de perder o sustento dos nossos filhos. Prefiro morrer a ser cumplice de tal crueldade.

— É muita ousadia. — A garota riu debochada.

— E vou contar a verdade para o duque. Pode fazer o que quiser comigo, mas vou contar que a senhorita inventou toda aquela história e ameaçou os empregados para confirmarem.

— Atreva-se e... — o sorriso sumiu deixando uma expressão que transbordava ameaça.

— Qual é a história inventada? — o duque decidiu anunciar sua presença.

Apavorada, Mariah olhou para o pai. Sabia que a reação dele seria devastadora se descobrisse tudo o que fez.

— Não se atreva a mentir para o meu pai! — ameaçou a criada antes que ela começasse a falar.

A mulher não se intimidou. Encarando o duque, sem medo das consequências, respondeu:

— A senhorita nunca foi humilhada pela senhora. Ela inventou tudo porque estava com raiva do senhor ter casado. Enquanto fingia ser amiga da senhora, ela ameaçou os empregados para que confirmassem sua mentira, mas a senhora está grávida e não pode ser maltratada assim.

Grávida? — o peito do duque se apertou recordando o que fez com a esposa na noite anterior.

— Que história é essa de gravidez?

— O doutor confirmou recentemente. Ontem a senhora ficou fora porque foi contar a novidade aos pais.

— Você sabia? — ele se aproximou ameaçadoramente da filha.

— Aquela mulher tomou o lugar da minha mãe e queria me afastar do senhor. Ela é um monstro! — encurralada, ela gritou expressando toda sua raiva.

O duque a olhou como se não a reconhecesse.

Mariah simplesmente bateu o pé em um gesto de birra e correu para a casa onde se trancou no quarto.

Ele não a seguiu. Queria saber a história toda, queria dizer o quanto a filha foi burra por se sentir ameaçada ou por achar que ele esqueceria sua primeira esposa. Ele queria dizer tanta coisa, mas sentia que precisava cuidar de Cleo primeiro.

Correu em direção a entrada do celeiro. Cuidaria de sua esposa e só depois resolveria a situação.

Entrou sem conseguir controlar o desespero.

Suas pernas até fraquejaram quando viu a esposa encolhida e imóvel em um canto. A nudez dela ao invés de excitá-lo o fez chorar de arrependimento.

Se aproximou devagar e perguntou:

— Cleo, podemos conversar?

Não houve resposta.

Ele se abaixou e acariciou as costas dela.

— Por favor, vamos ... — começou a falar, mas parou ao notar o quanto ela estava fria.

Com o coração aos saltos, ele a virou e percebeu que nunca mais teria chance de conversar com ela.

Cleo estava morta.

Tudo que restava ao duque era o desespero e o arrependimento.

Agarrado ao corpo frio da esposa morta, ele chorou e gritou por horas até perder a lucidez.

Ninguém se atreveu a se aproximar.

Exatamente a meia noite, ele carregou o corpo de sua amada e o colocou na cama deles.

Depois de beijar sua barriga fria, a cobriu com um cobertor e beijou sua testa.

Encarando-a, disse:

— Volto em instantes e ficaremos juntos para sempre.

Saiu do quarto, ainda possuído pela loucura, e pegou um machado. Enquanto andava, as recordações de seus momentos com Cleo e a vontade de voltar no tempo e nunca a ter magoado e abandonado no celeiro eram as únicas coisas que o acompanhavam.

Pelo caminho ele atingia a qualquer pessoa com o machado. Queria matar a todos que permitiram que fosse enganado.

Ao perceberem o que estava acontecendo, alguns empregados tentaram segurá-lo, mas parecia que a adrenalina, a decepção e a raiva de si mesmo o deixava com uma força sobre-humana; então eles começaram a tentar fugir.

Talvez fosse o destino, mas só conseguiram fugir os que não participaram da farsa.

Mariah, que estava dormindo depois de chorar de raiva por não ter conseguido se livrar da madrasta, saiu do quarto ao despertar com os gritos dos empregados que corriam pela casa tentando se esconder nos quartos, ou em qualquer outro lugar.

Como nenhum empregado parava para lhe dar explicações, ela desceu as escadas correndo para saber o que acontecia.

Quando viu o pai banhado de sangue e desferindo golpes frenéticos em um homem no chão da sala, ela entrou em pânico.

Vendo que ele ia em sua direção, ela soltou um grito esganiçado:

— Papai?

Com olhos vidrados, ele a alcançou e a segurou pelos cabelos arrastando-a até perto da mesa.

— Vamos morrer como uma família — rosnava diante dos gritos dela.

— Papai, o senhor enlouqueceu — Mariah estava apavorada.

— Você, que eu criei com tanto amor, destruiu tudo ao meu redor sem pestanejar. Você me fez perder a mulher que amo e o filho que ela esperava. Como pode ser tão monstruosa e me transformar nisso?

— E eu? E a minha mãe? Nos amou em algum momento? — sabendo que ninguém a salvaria, ela decidiu enfrentá-lo.

— As amei e ainda amo. Mesmo te odiando agora, ainda a amo. Por isso vamos morrer juntos.

— Seria capaz de me machucar? — Dessa vez não havia resquício de arrogância, era só uma filha implorando para o seu pai voltar a si.

O duque a soltou.

— Saia daqui. Deixe-me queimar com os meus pecados. Pagará pelos seus de acordo com o desejo dos céus. — Uma breve lucidez surgiu no duque, que via os corpos sem vida por sua causa.

Confusa e com medo, Mariah correu para o lugar onde se sentia mais segura; seu quarto. Ela tentou correr escada acima, mas caiu, rolando escada abaixo. E não se levantou.

O duque caminhou até ela lentamente. A dor em seu coração ter se multiplicado era o sinal de que também havia perdido sua filha. Ela também estava morta.

Ele a pegou no colo e seguiu em direção ao quarto dela.

— Eu causei tudo isso ao não ser hábil em demonstrar o quanto te amo. Se soubesse o quanto é importante para mim jamais se sentiria ameaçada por ninguém em minha vida. Sinto muito, minha filha.

Ele a colocou na cama, beijou sua testa como se desejasse boa noite e saiu da casa em busca do necessário para incendiar tudo.

Foi de cômodo em cômodo colocando fogo. Os últimos foram o quarto da filha e o seu.

Despejou querosene na filha e a viu queimar. Lágrimas desciam de seus olhos.

Não havia retorno. Estava louco e sozinho.

Devagar, ele seguiu novamente ao quarto que dividia com a esposa. O fogo já tomava conta de grande parte da casa.

No quarto, ele despejou querosene ao redor e se ajoelhou na beira da cama segurando a mão de sua amada. O sentimento que teve pela sua primeira esposa foi belo, mas não chegava perto do que sentia por Cleo. Perdê-la o fez perder a razão de viver. Talvez porque sua primeira esposa deixou a filha para que ele pudesse amar, e Cleo se foi carregando o filho que nem tiveram a chance de conhecer.

Enquanto esperava o fogo alcançá-lo, o duque acariciava a mão dela e sussurrava:

— Amor, mesmo que eu volte em uma outra vida como seu escravo, não poderei sofrer o bastante para pagar o que fiz com você. — Sentindo o fogo próximo, ele sentou na cama e acariciou os cabelos dela. — Também espero que minha filha se arrependa e seja feliz onde quer que sua alma esteja.

— Eu te amo! — declarou se deitando ao lado dela e segurando a sua mão sem vida.

Logo o fogo alcançou a cama transformando o casal em corpos em chamas.

A vida do duque e o corpo da sua esposa se extinguiram nas labaredas, restando apenas corpos carbonizados de mãos dadas.

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