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A babá que me amava

A babá que me amava

Chloe Reymond

5.0
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Leituras
5
Capítulo

Alessander foi vítima de um golpe da barriga. Tudo que ele precisa é de uma babá que realmente cuide com carinho da sua filha. Só não esperava que Sahar aparecesse para conquistar os dois. Ele a desejava. Sua filha a amava. Daria certo ou seria apenas um caso que afetaria sua filha ainda mais que o abandono da mãe?

Capítulo 1 I

"Mais uma vez, família é muito mais que DNA"

Sahar

— Mãe, acorda! Não posso me atrasar no primeiro dia. — Puxei o cobertor e o cheiro de álcool aumentou no ambiente. — Cadê a chave do carro?

— Ai, cala a boca! Você tagarela demais. — Ela puxou novamente o cobertor.

Ela nem mesmo gosta de álcool, mas é viciada em jogos e quando está com seus “parceiros” bebe simplesmente porque eles bebem. O resultado é uma ressaca daquelas, e geralmente bolsos vazios.

— A senhora saiu e bebeu sem considerar o dia. Preciso trabalhar. — Continuei parada perto da cama.

— Vai de ônibus. Vendi o carro ontem.

Dei um passo para trás.

Vendeu?

— A senhora perdeu nosso carro no jogo? — puxei o cobertor novamente. Não estava acreditando nessa merda.

— Me deixa em paz. — Puxou o travesseiro por sobre o rosto.

— Meu Deus, mãe! Não temos mais nada. Acabei de conseguir um emprego e a senhora perdeu o único bem que tínhamos.

— Para de resmungar ou vai se atrasar.

Merda!

Mesmo que eu quisesse ficar e gritar com minha mãe, ela estava certa. Eu precisaria fazer mágica para chegar ao trabalho no horário.

É o meu primeiro dia no hotel. Droga!

Guardei o salto na bolsa e coloquei um tênis. Corri tanto que cheguei sem folego no ponto. Por sorte, cheguei segundos antes do ônibus sair. Se perdesse esse, só em meia hora para aparecer outro.

Enquanto o ônibus rodava pela cidade, em direção ao centro, minha mente cruel me levou de volta a um passado que gostaria de apagar.

Eu odiava lembrar dessa parte da minha vida. E culpo meu pai por isso, um homem que nunca cheguei a conhecer. Minha mãe me gerou em um dos seus momentos perdida nos jogos, nem sabe quem é meu pai. Culpo ela também. Eles deviam ser mais responsáveis. Não é só sair por ai transando e colocando filho no mundo. Uma criança precisa ser cuidada e educada.

Aprendi da pior forma. E tenho certeza de que se tivesse a figura masculina de um pai e marido de verdade em casa, não cairia no pior erro.

Tudo aconteceu quando eu tinha treze anos. Diferente das meninas da minha idade, eu era muito grande e parecia ter mais de quinze.

Foi isso que chamou a atenção dele. Jaemerson Durães. Meu professor de história na escola pública do bairro.

Ele era atencioso, me ajudava muito nas matérias, e eu gostava dele. Acho que me identificava com seu nome tão estranho quanto o meu. E também me fascinava a tatuagem de dragão em seu braço.

Quando ele quis uma abraço, eu dei. Quando ele quis meu primeiro beijo, também. E quando quis a minha virgindade, não vi problemas em entregar a um homem tão bom, com o qual eu já me imaginava morando em sua casa com filhos e cães.

Ele não era bonito. Hoje vejo com clareza a ilusão de uma menina.

Ri no ônibus e uma lágrima desceu.

Naquela época eu o achava perfeito. Um homem de meia idade, baixinho e magro que usava um bigode ridículo.

O fato é que eu engravidei com treze anos e ele realmente me levou para a sua casa. Seria a realização de um sonho, se não fosse por eu estar escondida.

Ele dizia que poderia ser preso se soubessem da nossa relação. Hoje eu entendo melhor que ele devia mesmo ter sido preso naquela época. Como mamãe estava há quase três meses sem voltar para casa — às vezes ela conseguia contatos e ia jogar fora da cidade, muitas vezes fora do Brasil — e eu estava com medo por causa da gravidez, fui morar com ele. Ficava o tempo todo dentro de casa, sem poder nem mesmo ligar aparelhos domésticos para os vizinhos não perceberem. Ele trazia comida e me tratava muito bem.

Até aquela noite. Semanas depois.

Acordei com muitas dores. Ele se mostrou preocupado e me levou para o hospital. Sempre me alertando para não contar a verdade sobre o bebê.

A idiota mentiu que não sabia quem era o pai. E escutou calada o sermão sobre abortos e irresponsabilidade. A médica me encaminhou para o postinho do bairro.

Ela disse que eu tomei remédio abortivo, que é muito perigoso, que algo pior que perder o bebê poderia ter acontecido se meu professor não aparecesse no meu caminho. Que eu devia a minha vida a ele.

Por mais que eu dissesse que não tomei nada, ninguém acreditou.

— Ela não tem pai e a mãe é uma perdida na vida. Crianças assim geralmente tem esse destino, doutora. — Foram as primeiras palavras que ouvi de Jaemerson depois de mentir por ele.

Eu podia ser ingênua, mas era ótima de matemática. Coloquei cada situação como um número e cheguei a soma que não vi.

— Você me enganou — falei quando ele estava me levando de volta no carro.

— Está falando de que?

— Você me enganou. Me fez beber remédio para aborto.

— Sim. — Nem se abalou com a acusação. — Te fiz um favor. Que dia que uma criança pode ser responsável por outra?

— Eu achei que iria cuidar da gente, você disse que cuidaria, que seriamos uma família. — Me virei para ele, que tinha a atenção no trânsito. — De qualquer forma eu devia saber, devia poder escolher.

— Quer ser mãe e continua agindo como a criança que você é. Escolher o que, menina? Acha mesmo que eu colocaria em risco a minha liberdade para ter uma família com uma adolescente? Acorda desse sonho de princesa.

Quando percebi, ele estava parando o carro na porta da minha casa.

Olhei para ele sem entender.

— Não dá certo. Talvez quando tiver idade...

— Está terminando?

— Entrego suas coisas quando puder. Entre e descanse. Não esqueça as recomendações médicas. E a minha recomendação. — Antes que eu perguntasse que recomendação, veio a ameaça. — Não conte a ninguém o que aconteceu. Invente uma desculpa qualquer e volte a escola e sua vida. Ninguém precisa saber que esteve grávida, nem dos nossos problemas.

— A minha mãe... — Comecei a falar, mas ele me interrompeu.

— A sua mãe é uma vadia que poderia evitar da filha seguir o mesmo caminho se estivesse em casa. Só fica calada que tudo voltará ao normal.

— Com licença. — A mulher ao meu lado no ônibus me tirou dos pensamentos. Foi quando percebi que era o meu ponto também.

Me levantei dando espaço a ela.

Nada voltou ao normal. Eu me fechei. Semanas depois mamãe voltou para casa, dura e fugindo de dívidas de jogo. Não contei nada para ela, nem para ninguém. Hoje sei que o certo seria colocar ele na cadeia, mas era uma menina ferida física e emocionalmente. Deixei o bandido escapar. Porém o destino não deixou, ele morreu poucos anos depois do episódio no hospital.

Olhei o relógio e fiquei feliz. Ainda bem que programei chegar com uma hora de antecedência. No fim chegarei com pelo menos quinze minutos.

Basta de pensar no passado. Seguimos com o presente. Aprendi a lutar e cuidar de mim sozinha. Vamos a luta de cada dia!

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