As últimas palavras

MONÓLOGO

Era uma manhã tranquila, o vento passeava entre meus cabelos, as ondas quebravam de uma forma mais agitada, ouvia os pássaros cantando. A praia nessa época do ano costuma ser vazia, só havia eu e um casal distante, pareciam estar se divertindo e um sorriso se formou em meu rosto me fazendo lembrar de quando eu também vivia algo assim.

Então uma saudade invadiu meu peito, um sentimento bom me foi tomado. Já não sentia mais dor quando as lembranças me consumiam. Eu sempre passeava pela praia nas manhãs de sol e colocar meus dedos na areia me fazia sentir paz, desde que ele partiu esse tem sido meu refúgio e eu não sei quando voltarei a me sentir, amada, feliz, e desejada novamente.

3 anos se passaram e eu ainda buscava um rumo, deixei algumas coisas de lado e aos poucos fui me reconstruindo, sempre ficava a um fio de desistir de tudo se não fossem aquelas últimas palavras. Elas me assombravam, mas também me lembravam de que eu precisava seguir, já me recuperei muito, mas ainda tem aquela pontinha, aquela que causa dor e faz com que as lembranças sejam tudo o que tenho.

Lia

Luzes fortes e som alto, nas sextas-feiras costumo ir à um bar com minhas amigas, gostamos de experimentar novos lugares e esse abriu tem uma semana, achei curioso um bar se chamar “CALMARIA” já que isso é a última coisa que se tem nesses lugares.

Beatriz, minha melhor amiga estava muito animada, fazia um mês desde que seu relacionamento havia terminado, e essa foi a primeira vez que realmente a vi feliz. Bia passou por um momento muito delicado, realmente sofrera a dor de seu término como ninguém e agora estava mais do que pronta para seguir em frente, e essa era a missão da noite nos divertirmos e ajudar a Bia a paquerar por aí.

Beatriz me olha com aqueles olhos brilhantes e sorriso largo, minha amiga realmente tinha uma beleza inexplicável, sua pele estava bronzeada, seus cabelos eram cacheados, olhos castanhos, lábios carnudos e traços delicados. Seu corpo era definido, já que ela amava se exercitar.

— Precisamos beber, hoje vai ser a festa do ano. —Disse ela dando pulinhos e sacudindo meus braços.

Lia: Ok, Bia! dessa vez foi fácil de me convencer!! —Disse brincando já que eu para beber não precisava de convites.

Fomos até o bar e buscamos os Drinks mais diferentes que poderiam existir, Bia quis tomar um que se chamava “silêncio “ eu escolhi “Giro”, realmente me fez girar, acho que era alguma espécie de vodka, gelo seco e algo que eu não consiga identificar, mas que deixava aquela bebida bem doce, mascarando todo álcool que ela realmente continha. Então depois de duas doses pegamos mais uma e fomos para pista, além de Bia, também estavam Margot, Analu e Gisela.

Estamos no 1º semestre da Faculdade de Literatura e acabamos nos unindo para aguentar a pressão e estar longe da família. A pista estava lotada, todas pessoas alegres, dançando como se hoje fosse o último dia de suas vidas e assim também fizemos. Depois de algumas músicas eu já podia sentir o suor escorrer pelo meu corpo, não aguentava mais então fui ao bar pegar algo para beber.

—Vou querer mais um “Giro”, por favor. Pedi ao barman que parecia estar um pouco perdido com a quantidade de pessoas que estavam ali.

Foi ali então que meus olhos encontraram os dele, olhos claros e iluminados, ele era alto cabelo preto, músculos definidos e estava sorrindo. Meu coração deu uma palpitada quando vi que ele vinha em direção ao bar, não só ao bar, mas em minha direção.

— Impressão minha ou você estava me olhando descaradamente? — Disse ele fitando os olhos em mim, e de alguma forma a voz dele me causou arrepios.

— Você não acha que tem gente demais aqui para ficar pensando que estou olhando para você? —Não ia transparecer assim tão fácil que eu realmente tinha ficado babando por ele, já se sentia seguro o suficiente sem a minha ajuda.

Barman entregou minha bebida e quando fui pegar ele foi mais rápido que eu no movimento, assim a pegando com um sorriso de quem se sentia vitorioso, a cada sorriso que ele dava meu coração palpitava, não fazia ideia de mais quanto tempo era capaz de resistir a ele.

— Acho que preciso de um incentivo para devolver a sua bebida. —Disse ele me encarando profundamente, analisando cada movimento e reação do meu corpo.

— Incentivo? O fato de eu ter pagado ela já não resolve? Precisei usar meu cinismo para lidar com ele, já que o seu charme estava me consumindo.

Ao mesmo tempo ele ousava no charme seu jeito convencido me irritava. Ele se aproximou mantendo contato com meus olhos, senti um arrepio subir a espinha, seu cheiro era maravilhoso, seus olhos, sorriso. Quando senti seu hálito refrescante bem pertinho.

Ele parecia perceber o efeito que estava causando e ainda mais parecia amar. Eu estava pronta para me aproximar e ceder a qualquer tentativa de beijá-lo. Foi quando fomos interrompidos por uma voz animada e eu a reconheci facilmente, Bia.

Bia: Amiga, te procurei pela festa inteira, você sumiu! — Então ela o analisou de cima a baixo parecia ter tido a mesma reação que eu.

— Agora entendi o motivo! — Disse Bia dando uma risadinha.

Senti meu rosto esquentar, tinha certeza de minhas bochechas estavam vermelhas. Pigarreei e voltei a minha postura. Ela havia percebido a tensão sexual que havia no ambiente.

—Oi, Bia eu vim buscar um drink, mas já estava voltando. —Disse dando um sorrisinho, notei que ele me olhava enquanto conversava com a Bia.

—Não vai me apresentar seu amigo? — Disse ela com um tom de suspeita

—Claro, é... eu só não seu nome. —E realmente naqueles minutos eu sequer imaginei perguntar seu nome, tudo foi tão rápido e intenso que não havíamos de fato sido apresentados.

—Me chamo Caleb, é um prazer te conhecer! —Disse com um sorriso simpático.

Bia fez uma cara de aprovação, como se tivesse gostado dele, fiquei sem jeito e acabei revirando os olhos, enquanto ele se distraia cumprimentando Bia, aproveitei para pegar minha bebida de volta e assim tomando um gole. Sentia que o efeito do álcool estava passando e não sei se teria coragem de seguir flertando.

—Bom, eu não queria atrapalhar, só fiquei preocupada com sua demora, Eu vou voltar para a pista com as meninas e nos vemos por lá, mas se precisar sair, só me mande uma mensagem. —Disse Bia dando uma piscadinha, e eu sabia do que ela estava se referindo.

Senti meu rosto corar ao mesmo instante. Caleb retribuiu a piscada, e pareceu ficar feliz ao ouvir aquilo, seu perfil era lindo e eu fiquei admirando por alguns breves segundos, ele percebeu e isso o fez sorrir novamente. Antes que eu pudesse responder a Bia, ela saiu dançando e a perdi de vista no meio da multidão. Voltando seu olhar para mim, me fazendo ficar desconfortável com a forma que ele me fitava com os olhos e dessa vez ele deu um passo para trás, assim me olhando da cabeça aos pés. Naquele momento agradeci por ter tido tempo de me arrumar, não posso negar de fato que eu sou bonita.

Meus cabelos são longos e loiros, meus olhos eram claros e estava bem maquiada, mesmo usando algo mais sutil. Optei por um vestido mais justo, colocando a mostra minhas curvas. Nos pés usava uma sandália, mas não de salto alto.

— Aonde estávamos? —Me perguntou enquanto me analisava.

— Você estava pedindo algo em troca da minha bebida, mas acho que não será mais necessário. —Bebi um gole enquanto o encarava com um olhar vitorioso, parece que nessa fui eu que te peguei.

Sua expressão era de decepção, abaixou os ombros e fez um biquinho. De alguma forma aquilo me fez rir, parece que havia mais de uma versão que não era somente o convencido. Confesso que ficava a cada minuto mais interessada em cada versão que ele pudesse me oferecer.

—Posso ao menos saber seu nome?

—Lia, me chamo Lia!

—Bom Lia, meus amigos estão me esperando para irmos embora, será que posso ter seu número?

— Me fez a pergunta enquanto me entregava seu telefone. Anotei meu número com um coraçãozinho no final.

Então ele se aproximou me dando um breve beijo no canto da boca, sem perceber fechei meus olhos, eu poderia ficar horas sentindo seu cheiro e seu toque, mas ele se afastou me fazendo voltar a realidade.

— Não esqueça que ainda me deve, princesa.

Acenei dando tchau, eu jamais havia me sentindo daquele jeito, não era comum me sentir afetada por um garoto, ainda mais quando acabará de conhece-lo. De uma certa forma ele me causou alguns efeitos e reações diferentes. Foi aí então que percebi que não peguei seu número, e se ele não me chamasse? E se demorasse meses? Me senti uma tonta por ter deixado essa chance passar. Afastei aquele pensamento, pedi mais um drink e voltei para a pista em busca de minhas amigas. Chegando na pista me deparei com as meninas dançando e Bia aos beijos com um garoto, que parecia ser muito bonito.

Tinha cabelos dourados e era mais alto que ela, me juntei a elas e fui dançar mais um pouco, como amanhã não teríamos aula aproveitei para me desprender do horário. Dei uma olhada no celular para conferir se Caleb tinha me mandado algo, mas nenhum sinal dele, resolvi tirar o foco disso e me divertir.

A noite seguiu assim, até que já eram 5 horas da manhã e eu estava exausta, Bia tinha ido embora com o garoto no qual ela estava agarrada a note toda, então só me restou ir embora, como as meninas moravam no mesmo prédio que eu Bia dividimos aplicativo para irmos.

Cheguei em casa exausta, tirei meus sapatos calçando o chinelo que deixo na sapateira ao lado da porta de entrada, nosso apartamento era aconchegante, não tinha luxo nenhum, mas era perto da faculdade e haviam 2 quartos. O que para Bia e eu era perfeito, tínhamos a nossa privacidade e ao mesmo tempo uma a outra. Bug, meu gato se esfregava entre minhas pernas, implorando por carinho. O peguei no colo e andei até seu prato de comida colocando mais de sua ração preferida e não precisou muito esforço para que ele fosse comer. Segui meu rumo ao banho, precisava tirar aquele cheiro de boate do meu corpo.

Peguei um pijama fresquinho já que era uma noite quente, fiz uma skin care e entrei para o chuveiro, deixei a água correr pelos meus cabelos e corpo, era tudo que eu precisava para terminar a noite. Enquanto tomava meu banho não podia deixar de pensar em Caleb e em seu sorriso encantador, mal podia esperar para que ele entrasse em contato, esperava o ver novamente.

Sai do banho, peguei uma água e fui direto para cama, em poucos segundos adormeci.