A proposta ousada do CEO
Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
O caminho para seu coração
Acabando com o sofrimento de amor
O retorno chocante da Madisyn
Minha assistente, minha esposa misteriosa
Uma noite inesquecível: o dilema de Camila
A ex-mulher muda do bilionário
Um casamento arranjado
A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
“De todas as aberrações sexuais, a mais singular talvez seja a castidade”.
Rémy de Gourmont
– Até pouquíssimo tempo atrás, eu era o ser humano mais medíocre da face da Terra. Tímida,
insegura, presa em um empreguinho que me impedia de mostrar meu potencial, vítima de um severo
transtorno obsessivo-compulsivo e completamente insatisfeita sexualmente. Então uma coisa
aconteceu: ele apareceu.
Sorri.
– Sim – balancei a cabeça afirmativamente. – Homens podem fazer isso com a gente. Onde vocês
se conheceram?
Agora era ela quem sorria.
– Em um sonho.
Questionei sua afirmação com o olhar, afinal ela não me parecia uma romântica sem fundamentos.
– Sim, doutora. Em um sonho. É exatamente isso que a senhora ouviu. Não sei se foi uma
alucinação, um desejo do inconsciente ou obra do sobrenatural. Não sei o que aconteceu. Mas ele
perturbou meu sono por semanas – ela fechou os olhos como se estivesse revivendo uma memória
particularmente deliciosa. – Eu ainda me lembro da primeira vez que ele veio na minha cama.
***
Meus dias eram sempre iguais. Levantava, ia trabalhar, voltava, dormia… Nunca fazia nada
diferente ou especial. Nunca. Pelo contrário, a rotina era a única coisa que me agradava. Por meio
dela eu tinha uma falsa sensação de controle que achava muito confortável. Assim que qualquer coisa
saísse da minha normalidade, por mais ínfima que fosse, eu entrava em desespero. Não sabia lidar
com o inesperado e fazia o possível e o impossível para evitá-lo.
A primeira vez que ele apareceu em meus sonhos foi após um dia particularmente infernal.
Lembro-me de ter entrado em casa batendo a porta atrás de mim. As palavras agressivas de um
colega de trabalho continuavam girando em minha mente… “ela é só uma malcomida”. Odiei aquela
expressão. Odiei o homem que a pronunciou. O que eu iria fazer? Gritar com alguém não era do feitio
de uma pessoa com o meu nível de passividade. Mas eu estou me adiantando nos fatos.
Trabalho como assistente editorial para uma editora tradicional, a Manuscrito Editorial. Nunca
tive talento para escrita, mas sempre fui viciada em literatura. Assim que saí da faculdade, tinha o
sonho de descobrir a próxima Amélie Nothomb. Nos meus devaneios diários, eu nunca ousei sonhar
que conquistaria algo, tamanha era a minha baixa autoestima, mas sonhava que encontraria pessoas
que seriam autoras de gigantescas realizações. E eu, por tê-las descoberto, teria sua gratidão eterna e
uma incondicional amizade.
Era uma quinta-feira e as sinopses de obras recém-recebidas estavam me esperando em cima da
minha mesa. Meu trabalho sempre era conduzido com o máximo de presteza e perfeccionismo, mas
isso nunca me garantiu qualquer promoção ou posição privilegiada dentro da empresa. Eu ressentia
meus superiores por isso… mas o que eu poderia fazer?
Passei os dedos pelas folhas de papel.
– Com licença – não sei por que Vicent insistia em pedir licença quando se aproximava da minha
mesa. Ele aparecia do nada e começava a falar como se eu não tivesse qualquer outra ocupação na
vida a não ser ouvi-lo. – Meu relatório sobre o manuscrito do Igor. Revise e repasse pro pessoal da
diagramação, sim?
E, sem nem ao menos um “bom dia” ou “até logo”, ele se foi. A educação de Vicent se reduzia ao
seu “com licença” inexpressivo. Vicent era um dos membros da nossa equipe de edição. Ele lia e
relia manuscritos várias vezes para encontrar falhas e para passar sugestões tanto ao pessoal de
revisão quanto ao pessoal de diagramação sobre como tornar o texto mais encantador aos leitores. Eu
esperava profundamente que dessa vez seus relatórios fossem inteligíveis, ao contrário das
coletâneas de informações genéricas que ele geralmente jogava em uma folha de papel A4 semana
após semana. O Caminho atrás da casa, de Igor Bolt, era o nosso manuscrito estrela do semestre,
mas as correções que Vice fazia eram sem nexo. E por “sem nexo” eu quero dizer idiotas.
Era a terceira vez que ele tinha que refazer o relatório em um período de cinco dias; todas as
vezes, por um pedido meu. Esperava que dessa vez estivesse bom o suficiente para ser repassado, já
que eu não teria coragem de pedir mais uma vez.
O dia se passou sem horas suficientes para que eu terminasse tudo o que precisava ser feito, e
papéis e mais papéis não paravam de se acumular em cima da minha mesa.
– Bom dia, linda – Colin tocou em meu ombro e eu senti um arrepio passar pelo meu corpo. Abri
um largo sorriso, mas ele já tinha saído. Ele sim era um homem educado e encantador. A linha de
chegada para a qual todas as mulheres corriam.
Ele seguiu direto para a copa distribuindo cumprimentos e sorrisos. Espreguicei-me na cadeira
tentando estalar a coluna e pensei que esse poderia ser um bom momento para uma pausa para um
café.
Passei os dedos pelos cabelos em uma tentativa inútil de arrumá-los. Respirei fundo e me dirigi
para a copa. Era agradável ter esses pequenos encontros sociais com o Colin, pois ele tinha um jeito
charmoso de soltar comentários simples que faziam com que eu me sentisse especial.
Mal coloquei a mão na porta vaivém e escutei a voz rasgada de Vicent sorrindo lá dentro:
– … umas seis horas. Vamos, Colin! Vai ser divertido.
– Talvez. Pode ser que eu chegue um pouco atrasado, tenho muito trabalho hoje. E você? Já
terminou tudo?
– Já. A não ser que aquela mulherzinha irritante me faça ter que começar tudo de novo.
A grande quantidade de risadas que ecoaram lá dentro deixou claro que Vicent tinha uma plateia
considerável.
– Do jeito que você escreve, eu fico impressionada que não te façam revisar tudo! – brincou uma
voz feminina.
– Muito engraçado – Vicent devolvia a brincadeira. – Confesso que a caneta não é minha
ferramenta preferida – insinuou.
– E qual seria sua ferramenta preferida? – a mulher pronunciava as palavras como se elas
derretessem na sua boca.
– Ah, meu bem – era quase um sussurro. – Se você tiver um tempinho será um prazer te mostrar.
Mais risos.
– Acho que você devia focar seus agrados na Nahia, Vicent. Ela definitivamente não gosta de
você, hein?
As risadas imperavam no pequeno ambiente enquanto Vicent concluía:
– E aquela ali não precisa de muito, não. Malcomida do jeito que é… Só preciso dar um sorrisinho
e ela vai se derreter com a atenção.
Voltei pra minha mesa sem sequer anunciar minha presença. Tive vontade de mandá-lo refazer
tudo, só de birra. Mas, infelizmente, dessa vez o relatório estava bom o suficiente. Terminei o que
tinha que fazer e voltei para casa. Esperar o elevador estupidamente lento do escritório tinha sido
quase impossível. Tive que engolir minha covardia junto com as lágrimas todo o caminho até o meu
lar, doce lar. Descarreguei minha frustração na porta. Coloquei a bolsa em cima da poltrona verde
que ficava do lado da entrada e depois alinhei o celular, as chaves e minha caneta favorita no
aparador de madeira ao lado da poltrona.
Tomei banho como se estivesse tentando exorcizar algum demônio que tinha entrado no meu corpo
através da minha pele. Malcomida, malcomida, malcomida. Tentei ler, tentei assistir televisão, tentei
jantar, tentei alinhar e realinhar os itens em cima da minha penteadeira. Mas nada tirava a voz
irritante de Vicent dos meus ouvidos. Duas pequenas palavras e eu tinha perdido o controle.
Lavei as mãos e o rosto, sentei na cama, limpei os pés, coloquei primeiro o pé direito em baixo
das cobertas. Tive vontade de levantar da cama e fazer tudo de novo, mas fiquei deitada com o
edredom em cima da cabeça e os olhos apertados.
Demorei muito para conseguir pegar no sono, mas quando finalmente consegui, o sonho começou
sem que eu percebesse.
Eu estava na copa de frente para Vicent.
– Com licença, Nahia – ele sorriu. – Você quer que eu te mostre minha ferramenta favorita? – ele
se aproximou e eu senti nojo. Coloquei meus braços estendidos diante de mim como um escudo
contra seu toque. Virei-me de costas e pensei em correr.
– Calma! Não vá ainda! – era outra voz que falava agora. Era uma voz suave e encantadora. Olhei
de volta. Vicent tinha sumido, o homem atrás de mim era alto e atlético, usava uma camisa de time de
basquete e um cabelo loiro curto penteado com um topete discreto. Seus olhos eram verdes e
profundos e ele tinha um cheiro delicioso.
Olhei ao redor. Estava incrivelmente ciente de mim e do meu corpo. Sim, eu sabia que estava