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Meu CEO é um mafioso

Meu CEO é um mafioso

Cristina Rocha

4.9
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27
Capítulo

SINOPSE:   Violleta finalmente completou a maioridade. Sua infância de longe foi uma das melhores, passando seus dezoito anos dentro de um orfanato, onde viveu acuada e fragilizada com os pensamentos de que foi abandonada por sua própria família. Entretanto, isso é deixado no esquecimento, com sua forte iniciativa de seguir em frente, rumo por sua liberdade, independência e o desconhecido. Tudo que ela precisa agora é de um emprego, só não esperava cair nos braços do diabo vestido de terno e gravata.   Ettore Ferrari, para muitos um CEO de negócios, dono das maiores empresas do país, mas de longe ele é quem pensam ser. Ettore é um mafioso cruel, sem escrúpulo, temido por todos ao seu redor. Um demônio que terá o privilégio de capturar um anjo, e sem nenhum esforço, manchará a alma da inocente moça.   Um romance dark que te envolverá do começo ao fim, onde Violleta e você leitora, se apaixonaram pelo sombrio de um homem poderoso, charmoso e envolvente.  

Capítulo 1 Violleta

CAPÍTULO 1

VIOLLETA

Estou dando uma última olhada pela janela do meu quarto. Posso avistar algumas adolescentes a conversar no banco do pátio. Diversas vezes me sentei no mesmo, somente para ter meu momento de silêncio com um bom livro nas mãos. Por ter um jeito mais reservado, sempre encontrei dificuldade em me socializar com as pessoas. Tinha medo de dizer ou fazer algo que pudesse me levar às broncas, brigas ou castigos aqui dentro do orfanato.

Sim. Vivi meus dezoito anos nesse local com paredes escuras, guardada a sete chaves. Nunca pude ir para o lado de fora desses muros e tampouco houve alguma oportunidade para tal ato, como uma curiosidade ou até escapatória. A vigilância sempre foi meticulosa pelas funcionárias e superiores, todas do sexo feminino. De modo algum estive perto de uma presença masculina, sequer imagino a textura da pele ou a fragrância de um perfume diferenciado. Mas idealizo, como todas nós no orfanato, encontrar uma pessoa especial, um amor verdadeiro para a vida inteira que me apresente um mundo novo fora desses muros.

Solto um suspiro ao mirar pela vidraça sentindo o vento frio percorrer meu rosto, me arrepiando. Observo um pássaro distante; alegro-me, pois em minutos estarei livre como ele. A diferença entre nós é que o animalzinho não tem ansiedade ou expectativas de vida, já eu, estou totalmente nervosa pelo que me aguarda além desse casarão velho.

Independente do que vier, estou feliz. Esperança é tudo que me alimenta para essa nova etapa de minha existência.

Afasto-me do batente, pegando meu último pertence em cima da cama e guardando em minha pequena maleta com pouquíssimas roupas. Não podia deixar para trás minha única lembrança, a de que um dia tive uma família, que um dia pertenci a algum lugar, que talvez tenha sido querida, ou mesmo indesejada. Nunca saberei ao certo.

Soube pela minha tutora do orfanato, que o homem que me entregou neste local se parecia muito comigo, ao menos lembrava-a como estou atualmente. Talvez fosse um parente — um pai, tio ou irmão mais velho —, o único resquício que tenho é essa manta cor-de-rosa com as letras “II” na extremidade. Podem ser as iniciais de dois nomes, um sobrenome, talvez! Eu sabia que meu sobrenome não era meu realmente, o orfanato dava aos bebês um único nome na falta de documentação, logo, assim como dezenas de crianças naquele lugar, eu era Violleta “Santi”. Um membro de uma família invisível formada por crianças que nunca tiveram direito a um nome, a uma herança de sangue.

Pergunto-me o que levou a essa pessoa a me abandonar em definitivo? Por que não me quiserem? Por que não me cuidaram como uma família normalmente faria?

Sempre senti falta de carinho, atenção e amor. Cresci como uma jovem insegura, carente e medrosa. Talvez pelos traumas que carrego pelo esquecimento de uma família que nunca me buscou ou quis saber de mim.

Porém a partir de hoje tudo isso vai mudar! Viverei uma vida de que fui privada, totalmente liberta, sem limites para meus sonhos com uma nova casa. Fecho o zíper da mala, dando uma última olhada no quarto que foi meu confinamento determinada a não pensar mais nele um dia sequer dali para frente.

— Arrumou tudo, querida? — Viro-me olhando para a senhora Dolores, que parecia ser a única que sentia uma simpatia por mim nesse asilo de crianças e jovens moças.

— Sim. Estou pronta. — Suspiro apreensiva.

Observo-a se aproximar com sua roupa desgastada e cabelo oleoso por trabalhar a anos na cozinha. Ela estende a mão me entregando uma bolsinha. Pego-a abrindo, ficando boquiaberta com o que vejo dentro.

— Meu Deus. Não posso aceitar. — Fecho e lhe entrego, mas sou interrompida no percurso.

— Por favor, Violleta. Aceite minhas economias, você está indo para um mundo novo e precisará estar preparada. — Sem perceber deixo lágrimas caírem. Ela sempre demonstrou ser muito carinhosa comigo, sempre fui sua protegida quando outras jovens vinham me bater ou caçoar. — Eu tenho uma casa e um emprego, e a vida lá fora não é nada fácil. Não é muito, mas te ajudará a se manter, até arrumar um trabalho na área qual fez seu curso de secretariado no ano passado.

— Tem certeza de que não te fará falta? — Estou constrangida com seu ato de bondade. Não quero atrapalhar ou prejudicar ninguém.

Ela segura minhas mãos que ficam unidas com as suas.

— Tenho. Economize o máximo que puder e busque algum imóvel no centro, onde se têm as melhores chances para um bom emprego. — Aceno com a cabeça. — Tome cuidado com homens aproveitadores, você é muito inocente ainda, Violleta. E sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua ruína, querida.

— Um dia, eu vou te recompensar por isso. Eu prometo — digo, mesmo sem saber o que o futuro me reserva.

— Viva bem, Violleta — diz a mulher com comoção em seus olhos cansados. — E nunca mais pense neste lugar.

Escuto atentamente seus conselhos e me despeço com um abraço e beijo terno em seu rosto rechonchudo, sem antes, receber também um lanche para a viagem. Não tenho palavras para expressar toda a minha gratidão. Eu certamente não pensaria mais naquele orfanato, não o visitaria nem passaria perto dele, mas nunca esqueceria aquela senhora e minha dívida para com ela.

*****

Consegui chegar ao centro da cidade com sorte e um pouco de ajuda. Pensei que me perderia no percurso, porém foi bem mais fácil que previ. Bastou somente uma orientação da senhora que estava comigo no ponto de ônibus para descer em uma das ruas mais movimentadas. Confesso me senti um peixe fora d’água com esse tumultuado fluxo de pessoas, maioria vestidas de social, bem apresentadas. Sinto-me envergonhada com meu simples vestido floral soltinho até os joelhos e as sapatilhas desgastadas.

De esquina observo uma banca de jornal e me aproximo para pedir mais informações.

— Boa tarde! O senhor poderia me ajudar? — Encaro um homem acima do peso, nos seus quase quarenta anos, bebendo seu refrigerante diet, em cima de um banquinho que quase nem cabe seu traseiro.

— O que quer, garota?

— Estou meio desorientada. Poderia me indicar um local barato pela região para que possa me acomodar? Um hotel, uma pensão, talvez.

— Isso depende. Vai comprar algo na minha banca?

Nossa! Essa é minha primeira experiência na rua de que realmente ninguém faz algo de graça para outra pessoa, tudo em base de troca de favores, nada diferente do que via no orfanato. Por um instante quis que a cidade fosse composta apenas por senhorinhas solícitas como a que encontrei no ônibus, mas como preciso dessa informação, separo alguns trocados para comprar algo de sua banca, bem empoeirada por sinal.

Olho à minha volta e vejo alguns jornais.

— Vou querer um periódico de empregos.

O homem bufa percebendo que não conseguirá uma boa venda comigo. Após me entregar o jornal e eu pagar por ele, aguardo pacientemente sua resposta sobre minha pergunta. Levo um susto quando sinto seu toque inesperado em minha mão, pegando-a e acariciando de um jeito nojento. Senti repulsa na hora. Encaro seus olhos para suas explicações.

— O que uma moça tão bonita faz sozinha numa cidade grande? Se quiser posso te levar para minha casa, bem na minha cama. O que acha?

— Quero que responda minha pergunta — digo enfática.

Sua expressão fica sombria e fechada. Minha vontade foi de vomitar, confesso. Não deu para negar o nojo que senti com suas segundas intenções comigo. Começo a tremer, recordando de minha infância abandonada. Como queria alguém para me proteger e cuidar. Todavia recordo de que estou sozinha, que não tenho ninguém além de mim mesma. Se quero ser ouvida e respeitada, terei que lutar por meus direitos, demonstrando ser forte, mesmo que no fundo esteja repleta de pavor.

Com minha mão livre, retiro seus dedos sujos de cima de mim e advirto:

— Escute bem. Não sou qualquer mulher para você propor essa depravação. Comprei seu jornal como propôs em troca de uma simples indicação de moradia barata, mas se você não pode me ajudar, vou buscar alguém que possa. Ah, e quem sabe não veja um policial na rua para contar o quão “bem” o senhor trata as mulheres que passam por sua banca. — Na hora seus olhos se arregalam, percebendo que não estou brincando com minha ameaça de denunciá-lo.

— Calma, moça. Não é para tanto! — Franzo a testa em desaprovação. — Está vendo a rua que cruza de trás de você? Pois bem, lá tem uma pensão humilde onde poderão te ajudar.

— Obrigada — digo firmemente e começo a andar. Por dentro, minhas pernas parecem gelatinas e a vontade de chorar é enorme.

Afasto-me indo para o tal albergue. Porventura no caminho vejo uma loja de eletrônicos, compro o celular mais simples e fácil que achei, somente para receber ligações e mensagens, para futuras propostas de emprego. Surpreendo-me com a cortesia da moça que administrava essa casa. Ela hospeda famílias com quartos individuais, tendo que compartilhar os banheiros — que eram poucos — e a cozinha. Com um pequeno acréscimo, teria direito as três refeições diárias.

Não pensando duas vezes, aceitei na mesma hora, pois minhas habilidades culinárias se estendiam apenas até a canja de galinha do orfanato. Ainda que meu dinheiro fosse pouco, contava com minha própria predisposição a encontrar logo um emprego em algum lugar daquele caos urbano. Se todo o tempo livre que eu tiver, puder focar em buscar um trabalho com uma boa remuneração, assim ficará melhor em alcançar meu objetivo.

Escolhi o menor quarto disponível, contendo uma cama de solteiro e uma pequena cômoda. Respiro fundo ao entrar e fecho a porta. Aqui começa minha nova vida, com cortinas furadas e um leve cheiro de poeira.

Sento-me na cama colocando a pequena mala ao meu lado. Abrindo-a, retiro cuidadosamente minha manta e minhas poucas vestimentas, guardando tudo nas gavetas estreitas. Lembro que preciso adquirir pelo menos uns três conjuntos de roupas sociais para entrevistas e início de trabalho, se tiver sorte. Tenho que me misturar com as pessoas que vi mais cedo.

Encaixo a bolsa já vazia debaixo da cama e saboreio meu lanche, feito com tanto carinho pela cozinheira do orfanato. Ele será minha última lembrança daquele lugar. Gostaria de tomar um banho, entretanto nem sabonete tinha comigo, ou produtos de higiene.

— Bom, Violleta, está na hora de fazer umas compras e conhecer a vizinhança — digo em voz alta para mim mesma, me animando com a ideia.

****

Procurei caminhar nas ruas cautelosamente. Algumas horas apenas na cidade grande e já percebi como as pessoas daqui são imprevisíveis, hora podem ser gentis e prestativas, hora extremamente aproveitadoras e cheias de más intenções. A ruindade não vem estampada na face do ser humano, por isso, todo cuidado é pouco.

Gasto com moderação com coisas que necessitava, passando em algumas lojas de roupas, sapatos, e coisas para o lar. Não resisti e comprei alguns objetos para deixar meu humilde quarto, com cara de meu. Voltando ao albergue, a primeira coisa que faço é tomar um banho demorado, lavando minha pele e alma daquele orfanato. Dei atenção ao meu longo cabelo, lavando-o três vezes, me depilando por completo também.

No meu quarto me distraio decorando-o com os poucos objetos que adquiri. Coloquei um vaso de lírios em cima da cômoda e um tapete de crochê bonito no piso frio. Vi algo na loja que me encantou na mesma hora. Sempre tive medo do escuro, porque no orfanato não deixavam dormir de luz acesa, então vi um pequeno abajur de tomada colorido, com formato de borboleta. Sabia que me ajudaria a ter bons sonhos estando próximo de minha cabeceira.

Com pouco, tudo ficou perfeito para mim, deixando agradável e aconchegante esse pequeno retângulo que chamarei de lar pelo tempo que for necessário.

*****

DUAS SEMANAS DEPOIS

Os dias vão passando e meu nervosismo de achar um emprego também.

Aquele jornal que comprei do homem da banca não me trouxe sorte, e todos os outros dias igualmente. Estava gastando um dinheiro que não podia e isso estava começando a me preocupar. Folheava os classificados quase com agressividade, e curiosamente me interessei na coluna de pessoas desaparecidas. Imaginei minha própria foto estampando um daqueles jornais amarelados e baratos, e cheguei a cogitar em procurar meus pais biológicos, mas refleti melhor e desisti. Eles não me quiseram quando eu era apenas um bebê, não iriam me querer agora.

De volta ao que importava, tinha feito um bom currículo, com informações objetivas e minha foto no canto superior esquerdo, como padrão. Porém, o destino não queria sorrir para mim. Custei em entender o que estava fazendo de errado. Compreendi que no mundo tecnológico, os empregos e até currículos eram feitos todos virtualmente, presencial seria somente na entrevista. Aquele mundo era muito diferente da isolada cidadezinha do orfanato onde tudo o que existia era a igreja e as quitandas.

Dessa forma, descobri a Lan House. Pagava alguns centavos por hora, enviando não somente meu currículo como também buscando mais empregos pela internet. Sempre tinha vagas interessantes e a maioria pedia experiência na área. Mesmo assim, eu encaminhava esperançosa por alguma resposta positiva.

Meu celular não recebeu uma única ligação nessas duas semanas. Minha distração para não surtar ou entrar em depressão, foi ler novos livros que comprei num sebo perto de casa, e outras horas, um único joguinho eletrônico que tinha no celular. Estava realmente planejando buscar um emprego como balconista ou empregada doméstica, por não pedir prática ou graduação maior que a minha.

Deitada na cama, com meu livro em mãos, me marca uma citação que não sai do meu pensamento.

“No fundo é como te quero.

No fundo é onde você vive.

Me envolva em suas pernas,

Me afogue no seu beijo.

Me guarde dentro de você.

Me deixe ver sua alma.

Eu sou um monstro sem você,

Quando estou no fundo, você me torna inteiro.”

— Leisa Rayven.

Que palavras lindas, fortes e contraditórias.

De repente me assusto com o toque do aparelho telefônico. Ele vibra em cima da cômoda. Meu coração quase sai pela boca de emoção e euforia. Por favor, Deus, que seja uma ótima notícia… Levanto-me apressada da cama, mas acabo escorregando no tapete, caindo de bunda no chão.

— Ai! — reclamo, apalpando meu bumbum dolorido. Mesmo com o desconforto, agarro o celular e atendo confiante. — Alô?

— Senhorita Violleta Santi? — Escuto uma voz feminina suave do outro lado da linha.

— Sim, sou eu — confirmo.

— Sou Carlota. Trabalho nos Recursos Humanos, na empresa Ferrari. — Nossa, eu lembro dessa candidatura, prédio bonito no centro e mulheres de salto alto. — Você nos encaminhou seu currículo para a vaga de secretária e o nosso presidente está precisando urgente de uma moça com suas qualificações. Você está disponível para esse cargo?

Como não estaria? Estou desesperada para trabalhar e ter uma renda! Espera, será que minhas qualificações seria meu curso simples ou minha foto ilustrada?

— Com toda certeza, estou — digo animada, com um sorriso entre os lábios. Eu precisava focar no que era importante: ter o que comer na próxima semana.

— Pode comparecer amanhã na empresa pelas oito da manhã? Falaremos sobre sua carga horária, benefícios e documentações.

— Estarei sem falta.

— Ótimo. Enviarei o endereço por mensagem de texto ao seu celular.

— Tudo bem.

— Perfeito.

— Obrigada. — Desligo dando pulinhos de felicidade.

Não acredito! Estou tão feliz. Antes tarde do que nunca. Valeu a pena esperar.

Contente, separo minha roupa e sapatos para amanhã, o mais próximo do que vi quando visitei a sede da empresa mesmo sem grandes sucessos. Desço para jantar, contando a novidade para quem estava na mesa de refeições me acompanhando. Todos se alegraram com a notícia.

Conto os minutos para logo amanhecer, ansiosa para saber o que me aguarda.

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