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Não Era Amor

Não Era Amor

Ronald_P

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33
Capítulo

Trenton e Caroline se conheceram na faculdade. Ele, quarterback do time de futebol americano e ela, uma gordinha que era invisível para a maioria dos seus colegas de classe. Os anos se passam e a gordinha invisível se transforma na dona de um império. O jogador de futebol americano, com ambições de ser um grande advogado, volta a cruzar o caminho de Caroline. Esse reencontro traz à tona sentimentos antigos, carregados de revolta, atração e uma química avassaladora.

Capítulo 1 Capitulo 1

Dois anos depois

Eu não conseguia parar de olhar para as pedras de gelo boiando naquele copo de uísque vindo de uma reserva de mais de trinta anos, me sentindo levemente perdido. Todas as vezes em que parei para planejar minha carreira eu não havia contado com a chance de isso estar acontecendo.

Dediquei anos ao escritório e estava difícil acreditar que por puro capricho do Senhor Flint, Flint Montgomery, o famoso e mais competente advogado da área de Direito Internacional de Atlanta, eu teria que começar do zero.

Na última semana, meu querido chefe havia anunciado que em homenagem ao seu aniversário de oitenta anos ele simplesmente iria fechar seu escritório para sempre, estrear seu recém-comprado veleiro de um milhão de dólares e conhecer o mundo antes de morrer. Ele não tinha ex-mulheres ou herdeiros, não que soubéssemos, era um homem sozinho, e isso ajudou na tomada da decisão. Eu o invejava um pouco, pois tinha um turbilhão de responsabilidades nas minhas costas que não me deixavam jogar tudo para o alto e aproveitar o mundo.

Por um lado eu entendia que ele havia alcançado seu máximo, já

estava cansado e dado tudo de si nos últimos anos, o homem precisava de férias. Mas, por outro, éramos trinta e oito funcionários que não sabiam o que fazer a partir de agora. Pessoas que tinham feito todo um plano de carreira baseado no trabalho dentro do escritório e, por um capricho, estavam na rua, extremamente perdidos.

Meus devaneios foram interrompidos por seu pedido de atenção.

- E assim, encerro as atividades da Montgomery, desejando a todos muita sorte, sucesso em suas carreiras e coragem, para enfrentar os percalços da vida. - Ele deu um gole em seu uísque em meio aquele silêncio constrangedor. - Alguns de vocês devem estar me odiando muito agora, mas tenho certeza que me agradecerão no futuro. Saúde! - Elevou seu copo de uísque e levantamos em resposta. Era visível o desespero de meus colegas, de alguns dava até pra sentir o ódio a poucos metros. Contudo, não havia nada a fazer naquele momento, a não ser aceitar, brindar e fingir o melhor sorriso possível. - Vocês estão dispensados. Vão cuidar de suas vidas - disse encerrando seu "discurso motivacional", fazendo questão de cumprimentar um por um.

Eu era o último e torcia para que minha hora chegasse de uma vez para que pudesse sair logo dali e decidir o que iria fazer da minha vida. Não sabia nem como procurar emprego depois de todos esses anos, estava aqui desde muito jovem, comecei como estagiário.

Será que existia um

empregosurgentesparaadvogadosbrilhantes.com?

- Miller! - A voz de Montgomery me alertou. - Meu melhor homem! - Ele soltou essa pérola na frente de todos os outros que ainda restavam na sala, me fazendo ver de uma vez por todas que ele estava pouco se importando com suas relações sociais, ou se estava sendo educado ou não.

- Assim que todos deixarem minha sala, fique. Precisamos conversar.

Ignorei o jeito nada sutil e o fato de que todos haviam ouvido aquilo e apenas assenti, esperando a sala esvaziar por completo, conforme o combinado. Não que eu precisasse esperar muito tempo, logo após ele proferir aquelas palavras, não sobrou uma alma viva no recinto.

- Miller, Miller... - Flint começou, sentando-se em sua cadeira antiga de couro marrom. - Vou sentir falta de trabalhar com você.

- Digo o mesmo, senhor. - Sentei-me na cadeira do outro lado de sua mesa, copo cheio ainda em mãos. Não estava com a mínima vontade de beber, além do fato de que não havíamos passado nem da hora do almoço.

- Não pense que sou doido em lhe deixar na mão. Quando digo que você é meu melhor advogado, não é da boca para fora. - Deu outro gole em seu uísque. - Você está aqui desde que era estagiário e toda a confiança que depositei em você jamais foi quebrada.

- Fico grato por isso. - As palavras dele me causaram certo alívio,

mas tentei não me empolgar demais. Afinal, nem sabia o que ele estava reservando para mim.

- Eu é que fico grato, rapaz. - Sorriu. - E apesar de ter tomado essa decisão de abandonar o Direito e o meu escritório, eu tenho noção de que você não merece ficar sem emprego.

- Não só eu como muitos outros advogados competentes daqui do escritório, Sr. Flint - respondi com firmeza.

- Eu só podia indicar uma pessoa e não estou em posição de fazer milagres, Trent. - Ele abriu sua gaveta e tirou um cartão. - Indiquei você para o escritório de um grande amigo meu, da época da faculdade. Tenho certeza que você dará continuidade à sua carreira de forma excelente por lá.

Ele me entregou o cartão de papel escuro e espesso, com letras em dourado. Parker Williams Associates. Era impossível não conhecer esse nome, era um dos melhores e mais conhecidos escritórios de direito criminal de Atlanta e provavelmente de todos os Estados Unidos. Não era a especialização que eu exercia exatamente naquele momento, entretanto, era a que sempre sonhei em atuar, desde o momento em que decidi que queria ser um advogado. Flint sabia disso. Estava estampado em seu sorriso quando levantei minha cabeça para agradecê-lo.

- Eu disse que alguns de vocês iriam me agradecer futuramente. - Continuou sorrindo. - E sei que você não irá decepcioná-los. Como nunca

me decepcionou.

Era a melhor notícia que eu poderia receber em um momento de tanta tensão. Nenhuma palavra que eu pudesse falar agora seria suficiente para agradecer o Sr. Flint.

- Eu estou realmente muito grato por essa oportunidade. Não vou decepcioná-lo - falei com toda a convicção que tinha e sentia naquele momento.

Entrar na área criminal de fato era tudo o que eu queria. Minha área atual era a de crimes internacionais e esses não tinham a ação que eu ansiava e precisava. Eu queria crimes reais. Havia estudado a minha vida inteira para isso. Provavelmente, a estabilidade e segurança que eu sentia aqui na Montgomery havia feito com que eu me acomodasse e não corresse atrás dos meus reais objetivos. Me incomodou um pouco o fato de ter que passar por isso para perceber o que estava fazendo da minha vida, mas não era mais hora de remoer minhas escolhas e sim de dar o meu máximo nesta chance que havia me sido dada, vamos combinar, praticamente de graça.

- A quem devo procurar quando chegar lá? - perguntei, vendo o nome de Stanley Parker Williams no cartão. Provavelmente, ele era o tal amigo do Sr. Flint, mas eu sabia que ele havia morrido em um acidente de avião há uns dois anos, junto com sua esposa. Foi uma tragédia terrível, televisionada e comentada por todo o país.

- Ah, meu saudoso amigo Stanley. Gostaria muito que ele pudesse ter conhecido você. - Seus olhos demonstravam real pesar. - Você deve procurar pela filha dele, Caroline. Ela que está no comando agora.

No momento que ouvi o nome, algo me soou muito familiar, mas deixei de lado por pensar que provavelmente tinha sido pelas notícias na televisão. Agradeci novamente a Flint aquela maravilhosa oportunidade e saí da sala, com um sorriso tão grande que estava difícil de esconder, o que foi péssimo para a atual situação do resto do escritório.

- Me diz que ele te deu o escritório de presente! - Bradley, meu assistente, exclamou no momento em que me viu. - Por favor, diz que sim e me re-contrata como seu estagiário. Ou assistente júnior. Pelo amor de Demóstenes, o pai da Advocacia! - falou com as mãos unidas em oração.

- Infelizmente, não foi dessa vez. - Fui para minha sala e peguei algumas caixas vazias de sua mão, reunindo todas as minhas coisas.

- O que foi então? - perguntou curioso.

- Ele me indicou para uma vaga na Parker Williams.

Mais uma vez foi difícil esconder meu sorriso, estava sentindo muita pena de Bradley. Ele era um estudante de Direito muito competente, com inteligência e determinação ímpares, e agora estava na mesma situação que todos os outros funcionários da Montgomery: desempregado.

- Aquele escritório de criminal? - Estranhou. - Mas e a área

internacional?

- Flint sabia dos meus sonhos e vontades. Meu desejo sempre foi trabalhar exclusivamente na área criminal.

- Percebi quando iniciei meu trabalho aqui e você me mandou adicionar ao clipping diário toda e qualquer notícia dessa área - disse, dando de ombros. Logo suspirou e sorriu tristemente antes de continuar. - Boa sorte nessa nova caminhada, então.

- Obrigado, Bradley. E isso aqui não é uma despedida. - Apertei seu ombro. - Se eu tiver como te indicar para alguma vaga, pode ter certeza que o farei.

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