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O Caminho das Estações

O Caminho das Estações

Gabriela.B

5.0
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84
Leituras
1
Capítulo

Quanto tempo um sentimento pode esperar? Juno imaginava já saber tudo o que o amor é capaz de fazer até conhecer Nirav, que subverteu todos os seus conceitos de sentimento em um piscar de olhos e os levaria a ruína. Sete anos depois, Juno não tem outro caminho a seguir senão aquele que a leva de volta até Nirav. E assim como as estações vem e vão todos os anos, o sentimento entre eles ainda resiste ao tempo.

Capítulo 1 O ímpeto de viver

Quando o ônibus adentrou o perímetro da cidade, um sol ardente brilhava no céu límpido, sem nuvens para esconder a pintura.

A cidade brilhava sob a luz do dia. Pessoas indo e vindo, algumas mais felizes do que outras. O calor daquele sol movimentava não só a cidade, mas o curso da vida.

Florencia era uma cidade pequena, mas em desenvolvimento. Tinha mais casas do que prédios e apartamentos, mais paisagens naturais do que em concreto. Apesar de parecer uma típica cidade de interior, Florencia movimentava um potencial no meio universitário, considerando as universidades que surgiam pela cidade, atraindo um público mais jovem do que aqueles becos e vielas estavam acostumados.

Era a segunda vez que Juno visitava a cidade e a empolgação em seu peito era quase palpável. Havia se apaixonado desde o primeiro momento. Talvez por soar como um respiro em seu dia-a-dia tão corrido e uma margem para novidades em uma vida tão monótona no geral.

No auge dos seus vinte e um anos, Juno já era uma mulher feita e era bela. Não era tão alta, mas esguia. Sua pele era bem clara, mas com uma aparência saudável. Os cabelos ondulados eram castanhos acobreados, com caimento abaixo dos ombros. Os olhos grandes eram expressivos, com a cor de avelãs, seu olhar era quente e acolhedor. O nariz fino e alongado, com algumas sardas dispostas. Já sua boca delineada trazia o traço mais belo de seu rosto, o seu grande e enérgico sorriso.

Trazia consigo uma energia vivaz, cheia de ímpeto de existir, mas quando outras pessoas estariam vivendo o ápice de suas vidas, Juno precisava desdobrar-se para cuidar da mãe enquanto tentava construir a própria vida.

Sua vida era, até então, resumida em dividir-se entre a faculdade de cinema, os estágios fracassados, os cuidados para com uma mãe desgastada e um relacionamento amoroso que, apesar dos pesares, parecia durar.

Por isso, Florencia parecia um atrativo tão grande para seus olhos. Entretanto, há pouco tempo atrás, ela sequer tinha conhecimento da existência daquele lugar.

Cresceu em grandes cidades, dentro de pequenos apartamentos, junto com sua mãe, até então sua única família. Não tinham parentes no interior do estado para visitar nas férias ou mesmo uma casa de passeio em algum lugar remoto. Tudo acontecia nos ecos de becos acinzentados.

A novidade apareceu junto com um antigo acontecimento trágico do passado de sua mãe. Sua tia, Octavia, desaparecida por mais de trinta anos.

Juno conhecia a história de Octavia, apesar de nunca imaginar conhecê-la de verdade. Sua mãe, Olivia, por outro lado, nunca deixou de ter esperanças.

Octavia foi separada da irmã ainda adolescente, por volta dos quinze anos. O casamento de sua avó estava encontrando seu fim por conta de traições e abusos, de modo que a única saída foi expulsar o marido de casa. No entanto, recusando-se a sair de mãos vazias, raptou a própria filha para criá-la sob sua supervisão, reclamando seu direito como pai.

"Ele teria me levado também", lembrava de sua mãe contando. "Eu precisei sair para comprar algumas coisas para a casa e deixei Octavia sozinha, que não queria vir comigo. Quando retornei, ela já não estava mais lá."

Mais de trinta anos se passaram desde então, mas as buscas nunca acabaram. Mesmo assim, conforme os anos passavam e sua mãe precisava construir a vida por cima daquele trauma, algo pareceu quebrar dentro dela. Além do desaparecimento de sua irmã, Olivia perdeu a mãe muito jovem e foi abandonada ainda grávida. Juno cresceu vendo as cores e a vida da mãe decaírem aos poucos, sem nada o que pudesse fazer.

Quando reencontraram Octavia, a esperança de ver sua mãe feliz novamente reacendeu. E por um tempo, ela estava certa. Olivia chegou a visitar Florencia algumas vezes, mesmo sem a companhia da filha, mas não demorou para que ela retornasse ao seu distanciamento. Portanto, Juno estava na companhia apenas de suas bagagens naquela viagem.

A rodoviária estava movimentada naquele fim de semana. Vários ônibus estacionando e partindo de hora em hora. Algumas pessoas se despediam enquanto outras, assim como ela, seriam recebidas.

Conforme descia do ônibus, segurando suas bagagens, Juno sentia a euforia de estar de volta. Era apenas a segunda vez que estava ali, mas o apego que criou pela cidade fazia parecer que nunca havia partido.

Octavia a esperava no terminal de ônibus, sustentando um sorriso acolhedor. Junto com ela, estava a esposa, Abigail, que também trazia um semblante amigável. Ambas tinham a idade avançada, entre os quarenta e cinquenta e tantos anos.

Sua tia era a mais velha, bem alta e magra, com cabelos castanhos acobreados, assim como os de sua mãe e os seus. Os olhos eram largos e verdes, os lábios e o nariz bem finos. Abigail, apesar de ser a mais nova, tinha os cabelos já grisalhos, com um brilho bonito. Seu rosto era mais retraído, com olhos finos, pequenos e escuros. O nariz era achatado logo acima da boca pequena.

Elas a receberam com um abraço acolhedor, que a fez se sentir imediatamente em casa.

— Como é bom ver você. — Abigail envolveu o braço em seus ombros, conduzindo-a.

— Seja bem-vinda, minha querida! — Octavia disse, ajudando com as malas. — Sinta-se em casa.

Estavam animadas com sua visita, afinal estavam se reconhecendo como parte de uma família. Entretanto, Octavia sentiu a falta de Olivia quando descobriu que apenas Juno estava a caminho.

Juno desejava que sua mãe estivesse ali para aproveitar aquelas férias, quase nunca tinham um momento de descontração entre elas. E também desejava a companhia de seu namorado, mas ele só poderia vir no próximo fim de semana. Ou melhor, ele só queria vir na próxima semana.

Da primeira vez que estiveram ali, há mais ou menos um mês, Nicholas veio acompanhando Juno, cedendo aos seus pedidos. Ela teria conhecido Florencia antes, junto com a mãe, mas passava a maior parte do seu tempo livre na casa de seu namorado, que morava longe. De qualquer forma, ele acatou seus pedidos e a acompanhou em sua primeira estadia. E ele odiou.

Tudo o que encantou Juno, incomodou Nicholas. Achou a cidade abafada demais, parada demais, sem graça demais. Preferia a movimentação das cidades grandes, os barulhos, até mesmo o cheiro. Juno ficou desapontada com a reação do namorado, mas ainda tinha esperança de que ele pudesse gostar do lugar, só precisava dar uma segunda chance. Todavia, Nicholas não estava tão certo assim.

Estavam há quase dois anos juntos, e Juno se perguntava como era possível durar tanto tempo ao lado da mesma pessoa. Sempre se considerou um pouco esquiva para relacionamentos, pois toda vez que conhecia alguém, em pouco tempo já estava enjoada. Com Nicholas foi diferente. Construíram um relacionamento pouco a pouco e agora já parecia uma vida inteira.

No caminho para a casa de suas tias, a conversa girou em torno do bem-estar de sua mãe. Juno não teve coragem de contar que ela estava se distanciando de propósito pelas próprias inseguranças, então apenas comentou sobre como ela estava atarefada. Falaram também sobre Nicholas e o relacionamento dos dois.

Enquanto conversavam e caminhavam, Juno observava todo o lugar, fotografando cada detalhes com seus olhos tão atentos, ansiosos para absorver o máximo daqueles cenários.

A cidade estava viva. As ruas estavam cheias de pessoas, o som de conversas era suave como som ambiente, o cheiro dos estabelecimentos de comida fazia seu estômago roncar e o sol no ponto alto do céu deixava seu corpo quente e suado. Ela respirou fundo, fechando os olhos. Estava feliz.

A casa pertencia a Abigail, era pequena, mas muito acolhedora. Tinham cinco cômodos apertados e uma varanda mais espaçosa. A cor clara das paredes parecia beber da luz do sol, tomando um brilho dourado.

Juno foi acomodada no segundo quarto da casa, originalmente do filho falecido de Abigail. Leo era o nome dele. Aparentemente, faleceu devido a um acidente de carro por embriaguez, mas Juno nunca teve coragem de perguntar os detalhes, não tinha o direito de se intrometer nas dores de outra pessoa só por curiosidade.

De qualquer forma, Abigail nunca sentiu necessidade de se desfazer das coisas do filho. Então, quando Juno passou a visitar a casa, o quarto recebeu uma nova utilidade. E Juno o adorou.

Era o único cômodo pintado com uma cor diferente, um profundo azul índigo — todos os outros tinham a cor creme. Suas estantes eram repletas de livros de ficção, desde aventura até drama. Juno tinha vontade de ler todos. Mesmo os artefatos que decoravam o quarto atraíam os olhos dela. Miniaturas de animais entalhados em madeiras e quadros com mapas rabiscados em papel velho e queimado.

— Está com fome? — Octavia perguntou, depois de deixá-la se acomodar no quarto. — O almoço está quase pronto, apenas esperando por você.

— Estou faminta.

Na cozinha, ela se sentou junto de suas tias e almoçou até que estivesse satisfeita. Comeu depressa, pensando no que fazer quando terminasse. Sua ansiedade aumentou pensando nas pessoas que iria reencontrar.

Da primeira vez que estivera ali, Juno conheceu novas pessoas. Louise, Helena e Hester eram algumas dessas pessoas e as mais próximas de Juno até então. Hester e Helena eram irmãs, mas era Lou que tinha energia de sobra pelas duas. Andavam trocando mensagens, ansiosas para se encontrarem novamente.

Por isso, depois do almoço, ela correu para o celular para avisar que havia chegado. Então encontrou mensagens de sua mãe e de Nicholas.

Sua mãe perguntava se havia chegado bem e desejava diversão a filha. Nicholas pedia para avisá-lo quando chegasse e ressaltava:

"Não apronte muito!", seguido de figurinhas divertidas.

Juno respondeu-os em seguida de suas colegas e perdeu um bom tempo conversando com o namorado. Ele perguntava de tudo e Juno respondia de imediato, demonstrando quão animada se sentia.

Estava rindo enquanto respondia uma mensagem dele quando escutou um assobio na janela.

Louise e Helena tinham acabado de chegar para recebê-la. Debruçadas no peitoril da janela, elas chamaram Juno para fora.

— Hester não pode vir, está na casa do namorado. — Helena avisou.

Empolgada, Juno as recebeu na varanda, abraçando-as com força.

Louise era baixa e tinha um corpo avantajado, com belas curvas. Sua pele pálida entrava em contraste com seus longos cabelos alaranjados. Seu rosto redondo tinha sardas salpicadas por todos os lados. Os olhos amigáveis eram azuis, o nariz arrebitado e lábios carnudos. Helena tinha a pele negra, era alta e tinha um corpo definido. Seus cabelos trançados estavam presos em um coque. O rosto alongado tinha belos olhos castanhos, um nariz arredondado e lábios também carnudos.

Ambas estavam com roupas de calor. Louise usava um vestido solto em tons de verde e chinelos nos pés. Helena vestia uma regata branca e uma bermuda jeans, também usava chinelos. Já Juno estava descalça, ainda vestida com a roupa da viagem, calça jeans e uma camiseta de tecido leve, listrada em azul e branco.

— Achei que só viria na outra semana junto com Nicholas. — Lou comentou quando se reuniram na varanda.

— Eu estava tão ansiosa para vir que não consegui esperar por ele.

— Fez muito bem! Nem posso acreditar que vai passar as férias toda conosco. Fiz tantos planos...

— Dessa vez ele está mais animado em vir? — Helena perguntou, sentando-se no banco de madeira. Lou se juntou a ela.

Juno balançou os ombros, fazendo uma careta.

— Ele queria que eu passasse as férias lá na cidade dele, mas todas as minhas férias, feriados, folgas e fins de semana eu passo lá.

— Estava vivendo em um looping praticamente. — Louise franziu o cenho.

— Não cansa fazer a mesma coisa sempre?

Juno suspirou, se juntando a elas, sentando-se entre as duas, mesmo estando calor demais para tanto contato físico.

— Vocês já sentiram vontade de viver outra vida, em outro lugar, ser outra pessoa? — Juno perguntou e ela própria respondeu. — Algumas vezes, é assim que eu me sinto.

Lou sorriu.

— Essa pode ser a sua chance, quem sabe?

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