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Romance na Padaria de Paris

Romance na Padaria de Paris

Sayaka Cutrim

5.0
Comentário(s)
263
Leituras
4
Capítulo

Os jovens John Davis e Pierre Blanc, cada um seguindo o seu próprio caminho, nunca imaginariam que o destino teceria tramas tão surpreendentes em suas vidas. No entanto, num cenário inusitado, o galpão da padaria parisiense, o inesperado acontece: um beijo apaixonado selando um momento único. Envolvidos pelos sabores doces e pelo aroma do pão recém-assado, Pierre inicia uma jornada de autodescoberta, enquanto Davis parte em busca incessante da sua verdadeira felicidade.

Capítulo 1 Prólogo

O som estridente dos meus fones de ouvido me levava para um universo distante, enquanto eu me encontrava imerso nas memórias da minha amada cidade natal, Campo das Flores. Lá, com seus meros cinco mil habitantes, todos conhecem a todos. Meu círculo de amizades é amplo, porém há três pessoas que são como irmãos para mim.

Hellen Giordanni, o raio de sol de Campo das Flores, sempre transbordando simpatia e humor, apesar de nossas brincadeiras animadas, não conseguiu conter as lágrimas que teimavam em escapar. Lucca Rodríguez e Matteo Passion, os cavalheiros reservados, encerraram-se em suas próprias conchas, lutando para não demonstrar suas emoções. Mas eu, atentamente, percebia a tormenta pelo brilho fugaz em seus olhos. A última festa que tivemos foi carregada de sentimentos à flor da pele - uma despedida inevitável.

Como se atravessássemos um portal do tempo, aquele momento singular parecia se desenrolar em câmera lenta. Risos e brincadeiras explodiam no ar, enaltecendo o vínculo especial que compartilhamos durante anos. Os abraços eram apertados, carregando a sensação de que essas memórias marcantes nunca seriam apagadas. A festa, embriagada de nostalgia e saudades antecipadas, mergulhou todos nós em um mar de emoções.

Em meio aos cânticos de despedida e lágrimas que se fundiam com as gargalhadas, a verdade crua de que era minha hora de partir se tornou mais evidente. Naquela noite iluminada pelas estrelas, senti uma mistura agridoce de sentimentos, uma combinação única de melancolia e euforia, pois sabia que meu caminho atual me levaria a outros horizontes.

Hellen, Lucca e Matteo estavam enraizados profundamente em meu coração, uma parte essencial do meu ser. Compartilhávamos histórias, segredos e aventuras, entrelaçados como galhos de uma árvore frondosa. Partir significava deixar para trás não apenas uma cidade, mas também uma parte de quem eu era.

Assim, enquanto encarava meus amigos emocionados, percebi que nossos laços transcenderiam a distância física. Nossa amizade resistiria ao teste do tempo, fortalecida pelas lembranças preciosas e pelo amor inabalável que nos unia. Sabia que essa partida era apenas o começo de um novo capítulo, e apesar das saudades, eu embarcaria rumo ao desconhecido, levando comigo o calor e a força dessas amizades verdadeiras.

Ambos aguardam ansiosamente nosso reencontro nas férias de meio de ano, uma expectativa que também arde em meu peito. O voo de chegada, que está previsto para aterrissar daqui a meros 20 minutos, traz consigo um marejar de emoções, um vislumbre de novos começos. Apesar das minhas próprias incertezas, há uma curiosidade sussurrante pelo que nos aguarda nessa cidade lendária, Paris, a majestosa cidade das luzes, como sempre ouvi minha mãe chamar.

Foi ela, minha querida "mama", quem nos guiou até aqui, impulsionada por uma promoção em seu trabalho. E agora, estamos aqui, no alto das alturas, na iminência de desbravar uma nova realidade. Na janela do avião, vislumbro as nuvens que pairam delicadamente abaixo, como um tapete de algodão sobre o céu. O sol se põe em tons dourados, pintando o horizonte com um espetáculo de cores. Estamos suspensos entre as nuvens, cruzando oceanos e continentes, rumo a uma cidade que pulsará com vida, arte e história.

O ar ao redor é carregado de uma mística que me envolve, enchendo meus pulmões com uma mistura de excitação e nervosismo. Em uma combinação harmoniosa, o silêncio permeia a cabine, enquanto um olhar furtivo é trocado entre aqueles que compartilham desse mesmo destino. Os pensamentos flutuam, tecendo teias de possibilidades, sonhos e anseios. Uma energia incomparável preenche esse espaço, onde perspectivas se cruzam, vidas se entrelaçam e histórias ganham um novo capítulo.

Em meio à euforia e apreensão, meus olhos encontram os de "mama", seu rosto calmo e sereno, transmitindo uma confiança que acalma minha agitação interna. Ao lado dela, segurando firmemente minha mão, sinto a presença acolhedora de um lar móvel, de ligações inquebráveis. Juntos, compartilhamos esperanças, sonhos e a ânsia por descobrir o que o futuro nos reserva nessa cidade desconhecida e cativante.

Enquanto atravessamos as nuvens, a ansiedade é embrulhada num leve frêmito de emoção. Como passageiros da vida, somos transportados para um destino novo e auspicioso. Neste preciso momento, estamos no limiar do desconhecido, prestes a desembarcar em solo parisiense, prontos para desembrulhar as promessas que nos esperam. A adrenalina corre em minhas veias, impulsionando-me a abraçar essa nova jornada com o coração aberto e a mente contemplativa. As portas da aeronave se abrirão em breve, liberando nosso espírito aventureiro para vivenciar e mergulhar na magnitude dessa cidade que pulsa com vida.

Enquanto a aeronave rasga os céus vastos e intermináveis, permito-me recuar no tempo, mergulhando em devaneios sobre a minha capacidade de me adaptar a Paris. Observo as nuvens esvoaçantes, que brincam com raios de sol dourados, proporcionando um espetáculo divino no horizonte. Um turbilhão de pensamentos invade minha mente, envolto em um véu de contemplação e incertezas.

Minha mãe repetiu incontáveis vezes, em um tom vibrante de entusiasmo, que a França sempre foi seu maior sonho. Posso visualizá-la agora, em seu diário revelador, guardado com segurança, mas algumas vezes franqueado a meus olhos curiosos. Suas palavras, traçadas com um toque singelo e recheadas de emoção, revelam parisianos pitorescos, piqueniques à margem do Sena e a aura romântica que paira no ar parisiense. Essa cidade de encantos é algo que sempre habitou os sonhos dela.

No entanto, Paris nunca conseguiu encontrar um abrigo em meu coração. Nunca me seduziu com sua fama de metrópole das luzes, com suas torres icônicas e a majestade de seus museus. Confesso, em segredo, que uma dúvida inquietante permeia meus pensamentos: o que essa cidade singular reserva para o meu futuro? Essa incógnita me consome, alimentando minha inquietação e curiosidade.

Enquanto a aeronave avança, rompendo o véu das nuvens, sou tomado por uma sensação de desprendimento. O balanço suave do avião, trazendo-me um senso de pertencimento em meio à vastidão celeste, reflete meus pensamentos errantes. Minha mente navega pelos labirintos de possibilidades enquanto meu coração permanece cauteloso, aguardando a revelação dos segredos que Paris guarda.

Embora ao meu redor haja uma atmosfera frenética, onde outros passageiros encontram-se tomados por uma mistura de excitação e ansiedade, eu permaneço absorto em minha própria imersão. A turbulência emocional que ecoa em minha alma encontra um eco nas asas da aeronave, que cortam o ar imperturbáveis. Em meio a essa dualidade entre os devaneios incertos e a realidade inabalável, uma certeza envolve minhas reflexões conturbadas: a experiência que se desenrolará diante de mim, além do glamour ilusório, será única, verdadeira e minha.

E assim, entre as nuvens que se estendem em todas as direções, permito-me sentir o vento acariciar meu rosto, transportando-me além das fronteiras físicas da aeronave. Paris nos recebe de braços abertos, e, aos poucos, sinto minha resistência cedendo diante dos encantos que a cidade se dispõe a revelar. A cada suspiro vagaroso e contemplativo, eu me preparo para desvendar os mistérios que aguardam silenciosos nas margens do Sena.

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