Amor ao dever

As manhãs na casa da família de Raviv eram sempre muito agitadas e ele gostava disso, por isso sempre que estava prestes a viajar para uma missão muito longa, gostava de passar uma ou duas semanas junto com seus pais para quando estivesse em meio a dificuldades lembrar daquele ambiente caótico que amava. Dessa vez ele tinha conseguido convencer seu irmão Douglaa a ir junto, o que era bem difícil, pois o irmão estava sempre ocupado com sua própria empresa e filantropia.

-Me diz que é a última vez que você me faz ficar tanto tempo dormindo na minha cama de adolescente - Douglaa disse da porta do quarto do seu irmão mais velho.

-Do que depender de mim, você vai ficar pelo menos uns seis meses sem fazer esse grande sacrifício - Raviv respondeu sem tirar os olhos da mala que estava arrumando.

-Até que é menos tempo do que estamos acostumados - Douglaa deu de ombros e entrou no quarto do irmão. -Nossa queria mãe já sabe que pretende ficar esse tempo todo fora?

-Ela sabe que a missão dessa vez é muito importante e que eu não vou voltar enquanto ainda houver trabalho a ser feito.

-Então seis meses é o mínimo.

-Com sorte, vai ser o máximo.

-Sorte não é seu forte - Douglaa sorriu torto para o irmão que revirou os olhos.

-Hora do café meninos, por favor, não se atrasem - a mãe disse passando pela porta e se deteve por um momento -Viv querido, para onde vai com essa mala?

-Depois do café, vou direto para o quartel receber oficialmente a minha nova missão mãe, hoje é meu último da por aqui, eu tinha te disse isso ontem.

-Mas ela resolveu ignorar - Douglaa respondeu com um sorriso irônico no rosto.

-Você não tem mais nada para fazer além de ficar me azucrinando Douglaa? - a mãe perguntou com as sobrancelhas arqueadas e em seguida fez um gesto com as mão indicando a saída do quarto para o filho mais novo.

-Ter eu tenho, mas nada tão divertido do que tirar a senhora do sério - ele disse se levantando e saindo do quarto.

-Não há nada que eu possa dizer que impeça você de sair em nova missão? - A mãe fez um beicinho.

-Mãe, meu dever me chama, há pessoas mundo afora precisando de pessoas que estejam dispostas a ajudá-las assim como eu estou - Raviv se aproximou da mãe e colocou as duas mãos nos ombros diminuto da senhora - eu quero fazer o bem ao maior número de pessoas que eu posso.

-Eu sei, eu só não suporto te ter longe por tanto tempo - a mãe disse resignada.

-Todo tempo longe vai ser compensado por saber que foi a senhora que me ensinou o que eu uso para fazer o bem mãe.

-Eu me sinto orgulhosa da pessoa que você se tornou Raviv, mesmo que o que você se tornou te deixe um pouco mais longe do que eu gostaria.

-Eu sempre voltarei minha mãe - Raviv envolveu a mãe em um abraço de urso como ela gostava, arrancando uma risada em meio as lágrimas que ela estava evitando soltar.

Raviv era uma pessoa especial, mas longe de ser incomum onde eles viviam. A família vivia em uma região onde seres humanos tinham a capacidade extraordinária de manipular elementos, ninguém sabia como e nem os motivos para isso acontecer, mas algo nos genes dessas pessoas dava essa capacidade a muitas famílias. Raviv, sua mãe e seu pai eram ótimos manipuladores de água. Raviv utilizava essa habilidade para ajudar pessoas ao redor do mundo com trabalho voluntário pelo exército. Sua mãe, Sedna, o ensinou a se comunicar com lençóis freáticos logo quando ele despertou o elemento, então o garoto entrou para a carreira militar como o seu pai e com essa habilidade apurada, começou a ser levado em missões para saber onde havia água para que poços pudessem ser escavados e levar água potável a povoados mais necessitados. Era para mais uma dessas missões que ele começava a se preparar novamente.

-Demoraram mais do que o habitual - Zenebe resmungou do eu lugar da mesa enquanto via Raviv e Sedna se aproximarem.

-A mamãe estava tentando convencer o Rav a ficar - Douglaa disse do seu lugar enquanto enchia o prato com torrada e bolinhos.

-Douglaa tenha modos - a mãe o repreendeu - e sim Zenebe, estávamos conversando sobre a partida de Viv para a nova missão - Sedna disse enquanto Raviv puxava a cadeira para ela se acomodar.

-Espero que não tenha tentado sentimentalismo barato para tentar desviar a atenção de Raviv para o que realmente importa. que é...- Zenebe começou a falar e Sedna e Douglaa disseram juntos:

-A honra de cumprir seus deveres militares - os dois se encararam e trocaram um olhar risonho e cúmplice.

-Vocês dois não sabem o que é isso - Zenebe dispensou a zombaria com um aceno de mão.

-Nós sabemos querido, mas você sempre fala isso - Sedna disse acariciando a mão do marido.

-Ela quis dizer que já está chatão - Douglaa disse.

-Douglaa, por favor, tem algum dia em que a gente pode ter um café da manhã sem você fazer um comentário que vai tumultuar o dia de todo mundo? - Raviv disse após um longo suspiro, com a mão no rosto.

-Um dia, Raviv, quem vai tumultuar tudo vai ser você e eu vou estar sentado bem aqui assistindo tudo de camarote.

-Espere Doug, mas espere sentado, eu não pretendo fazer nenhum tumulto em momento algum da vida - Raviv retrucou o irmão que apenas deu de ombros.

-É isso que vamos ver - Douglaa respondeu tomando um gole do seu café.

Os pais se entreolharam e sorriram. Douglaa e Raviv por mais que fossem diferentes se amavam e sabiam que essas provocações era uma das últimas que eles veriam por um longo período de tempo.

Eles só não contavam que Douglaa estava certo, Raviv ia mesmo começar um tumulto e tudo começaria quando iniciasse a sua nova missão.