Terra de belezas naturais, abençoada por Deus, com a luz do sol que a aquece por aproximadamente mais de duzentos dias por ano. Paixões e traições que destroem amizades; perdoadas, porém jamais recuperadas. Novas descobertas, novos horizontes. O sonho de tornar-se jornalista. Todavia, a vida reserva a Susy muitas surpresas, desilusões e um grande amor, capaz de superar tudo. Uma amizade forte entre duas moças esconde a dúvida respeito à homossexualidade. O irmão que Susy não tinha conhecido aparece de repente e as suas vidas entrelaçam-se. A dor pela descoberta de um filho autista. O amor, sem ele a felicidade não existe.
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O
sol já tinha nascido e iluminava os seus lindos cabelos loiros,
através das telhas do "seu
humilde quarto". Oh!
Queria dizer "da
sua humilde casa".
Porque mesmo se era só um quarto com um banheiro; aquele ambiente
era usado também como cozinha e sala de estar, enquanto seu pai não
terminava de construir a casa de sua família.
Susy
sentia ainda a preguiça matinal e desejava ficar na cama, um pouco
mais. Malgrado a sua sonolência e apesar da sua mente ainda está
absorvida pelas imagens dos tantos fantasmas e fadas que povoaram os
seus pesadelos e os seus sonhos, teve que levantar-se. Em primeiro
lugar, porque já eram seis da manhã e ela tinha que ir à escola; E
também, porque os galos faziam um grande barulho com os seus cantos
e não deixavam ninguém dormir até mais tarde. Eles eram mais
eficientes que o despertador, já que não era possível desligá-los
e voltar a dormir, como frequentemente acontece com os despertadores
e celulares.
Ela
levantou-se, tomou banho e vestiu-se sozinha. Já tinha quatro anos,
sentia-se grande o bastante para vestir-se sozinha e não aceitava a
ajuda da sua mãe, exceto, para abotoar os botões e fechar ou abrir
o zíper das suas roupas.
Sentou-se
para tomar o café da manhã com seu pai Luís e com a sua irmã
Clarisse. Bebeu um pouco de leite e comeu uma tapioca. Quando
terminou, correu para a porta, levando consigo um caderno dentro de
uma sacola de plástico.
Era
o seu primeiro dia no jardim da infância e ela estava bastante
ansiosa. Tinha a intenção de aprender a ler e a escrever. Um dia
tornar-se-ia alguém importante: não sabia ainda qual profissão
escolheria: mas sabia que seria alguém importante!
Chegou
ao maternal às seis e
cinquenta.
Teve
que esperar dez minutos para poder entrar, já que a escolinha
iniciava às
sete da manhã. Escolheu uma cadeira na primeira fila, em frente à
professora.
Sentou-se
com as pernas
cruzadas e ficou
boquiaberta, quando começaram a entrar as outras crianças. Uns eram
vestidos como ela; e levavam consigo um caderno dentro de uma sacola
de plástico, um lápis e uma borracha de cabeça, na ponta do lápis.
Porém, entraram na sala de aula, outras crianças com mochilas
coloridas e lindas: com a imagem do Batman, da Barbie e de outros
personagens dos desenhos animados, que ela assistia na TV. Susy ficou
com muita vergonha da sua sacola de plástico e sentou-se em cima
dela, para que ninguém a visse e zombasse dela. De qualquer forma,
não era assim importante ter a mochila da Barbie ou o caderno da
Cinderela. Aquilo que realmente importava era que ela estava ali,
naquela escola pública. E brincaria e aprenderia como todos os seus
coleguinhas, com ou sem mochila colorida.
Sua
professora era uma jovem, que ela conhecia. Mas sentiu-se muito feliz
chamando-a de tia. Naquele dia, ela brincou bastante, fez amizade com
outras crianças e tentou consolar um menino que chorava. Às nove, a
sua avó materna levou-lhe a merenda: tapioca com leite. Às onze
horas, sua avó a esperava do lado de fora do portão para levá-la
para casa. Sua mãe não podia ir buscá-la, pois trabalhava em uma
fábrica e naquele horário estava trabalhando.
O
seu primeiro dia de escola foi ótimo. E ela não via a hora de
voltar à escolinha. À tarde, depois do almoço, ela fazia a sesta,
e "ajudava" sua mãe nos trabalhos domésticos, ou seja, tentava
ajudar e depois brincava com sua irmã Clarisse que era um ano mais
nova que ela. Passava uma parte da tarde na casa do seu avô paterno;
pois o mesmo tinha comprado uma televisão em preto e branco e
deixava que ela e Clarisse assistissem aos desenhos animados.
Passou-se
algum tempo e Susy completou seis anos. Uma tarde de sexta-feira, não
teve vontade de ir para a casa do seu avô e ficou em casa, olhando
seu pai que trabalhava construindo a casa da própria família. Luís
trabalhava com um pedreiro seu amigo, o seu Zé: um homem moreno e
dono de lindos olhos verdes; simpático e sempre sorridente. Ouvia as
vozes dos dois homens que cantavam "Asa branca", canção de Luís
Gonzaga, cantor do Nordeste brasileiro (mesma região onde vivia
Susy), falecido em mil novecentos e oitenta e nove: o rei da sanfona.
Sempre que escutava essa canção, ela chorava. Embora a sua terna
idade, possuía uma grande sensibilidade. E o texto da canção (que
lhe foi explicado muito bem pelo seu avô) falava da grande seca do
nordeste, o que tinha obrigado muita gente do sertão a emigrar para
as grandes cidades. A maioria partia para o sudeste: sobretudo para
São Paulo, para procurar trabalho.
No
passado, os nordestinos sofreram muito por causa da seca. Todavia,
isto ocorre ainda hoje. Lembro-me de uma célebre frase de Dom Pedro
II, que no ano de mil oitocentos e setenta e sete, quando o Nordeste,
sobretudo o Ceará, sofreu uma grande seca, pronunciou a célebre
frase: "Venda-se o último brilhante da coroa, contanto que nenhum
nordestino morra de fome!" Os nordestinos mortos por causa da fome
foram muitíssimos! Quem sabe se todas as joias da coroa foram
vendidas!
A
menina via os seus pais trabalharem duro para manter a família e
muitas vezes, sentia de ser um peso sobre os ombros deles. Quando
crescesse queria tornar-se alguém principalmente para ajudá-los.
Ela
foi inscrita no ensino fundamental. Lá, naquela nova escola havia
mais crianças, muito mais do que na escolinha da infância! Mais
professores! Era uma escola muito maior do que o pré-escolar! Era
uma escola estadual!
Naquela
nova escola, às vezes ficava com vergonha dos seus pais, pelo fato
deles serem muito pobres. Principalmente, quando a professora
perguntava qual a profissão dos pais de cada aluno: assunto que se
tornava atual, quando se aproximava o dia primeiro de maio. As outras
crianças não eram ricas, mas ela queria poder responder que seu pai
era médico como o seu tio e a sua mãe era hum ... Jornalista! Isto!
Era o que ela queria ser quando crescesse: Jornalista!
Cada
ano que passava, o seu desejo de ser jornalista crescia, e os seus
pais tentavam dissuadi-la; porque naquela época, era muito difícil
para filho de agricultor, conseguir o diploma de um curso
universitário.
As
coisas melhoraram, quando a garota recebeu uma bolsa de estudos, para
frequentar uma escola particular: um colégio administrado por irmãs
de caridade. Ela era a mais pobre da sua classe, mas apesar de tudo,
era a mais inteligente e dedicada; sempre apelidada de CDF por alguns
dos seus colegas, os quais morriam de inveja, porque a menina recebia
sempre as notas mais altas, mesmo se passava fome. E para justificar
na frente das colegas a sua magreza, dizia que fazia dieta para
manter a linha.
Capítulo 1 A magnífica terra da luz- capítulo 1
22/04/2024