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PRÓLOGO: A COLISÃO ENTRE A FUGA E A BRUTALIDADE.
Era uma noite fria, de um outono que já se despedia, deixando um ar gélido e cortante pairar sobre a cidade.
O céu estava limpo, cravejado de estrelas indiferentes. Para a maioria das pessoas, era uma perfeita noite para o conforto, para o calor da lareira, para o riso compartilhado com amigos ou a doçura da união em família.
Uma imagem perfeita, de paz e segurança. Só que, para algumas pessoas, essa noite perfeita era apenas o palco de um drama terrível, o prenúncio de algo ruim, muito ruim!!!
Celina não sentia o frio em seu corpo; o pavor que a consumia era uma febre gélida que suplantava a temperatura ambiente.
Ela corria pelas ruas, uma silhueta desesperada e frágil, como se a própria vida fosse um fio tênue dependendo de sua rapidez e agilidade. E, de fato, sua vida realmente dependia daquela fuga frenética.
Estava descalça, os pés pequenos e delicados castigados pelo asfalto e pelas pedras. Seu traje era patético para o rigor do clima: uma camiseta regata fina e uma calça moletom desgastada, sem sequer uma blusa ou agasalho para oferecer um mínimo de proteção.
O vento gelado, um chicote impiedoso, batia em sua pele, fazendo-a estremecer a cada rajada, mas ela não podia parar. Corria pelas ruas escuras, onde as sombras se alongavam e pareciam observá-la, e já estava sem fôlego, o peito arfando dolorosamente a cada inalação.
Sua única meta era tentar fugir, tentar ser livre, e ter sua vida novamente em suas mãos. Ela não aceitava aquele destino que haviam traçado para ela, não suportaria viver aquela vida de opressão e dor.
O pensamento era claro e urgente: qualquer coisa, mas jamais se submeter ao que queriam para sua vida!
Enquanto a jovem corria em um desespero visceral para tentar sobreviver, bem próximo dali, em um galpão abandonado, desenrolava-se um acontecimento bem diferente, uma cena de violência que também destoava daquela noite "perfeita".
- Por favor... - A voz era rouca, um som moribundo que mal escapava dos lábios daquele homem moribundo, que suplicava por clemência.
Estava amarrado a uma cadeira velha, os pulsos e tornozelos presos por cordas grossas.
Seu rosto ensanguentado, quase irreconhecível sob as camadas de dor e sujeira, não era algo que fizesse o temido Kaleb sentir pena.
A frieza do Kaleb era lendária. Além disso, a situação era de sua própria autoria: foi ele mesmo quem deixou o rosto daquele homem, quase desfigurado! A boca, inchada e deformada pelos tantos murros que havia recebido, mal conseguia articular um pedido.
E o que dizer dos seus olhos? Um deles estava quase fechado, ele quase não conseguia enxergar por estar tão inchado, e o outro, com um enorme hematoma acima da sobrancelha e um grande corte, que descia quase chegando ao seu olho, era mais um resultado das violentas surras que levou, para completar o quadro de tortura, seu corpo, que mal se sustentava, mais parecia que tinha sido atropelado por um caminhão.
- Pensou mesmo, que poderia se esconder de mim? - O loiro alto, com sua presença imponente e terrivelmente temida, perguntou ao homem, a voz fria e cortante, enquanto ele permanecia amarrado na cadeira.
Kaleb pegou algo em uma mesa próxima a ele, um objeto que prometia mais dor e se virou, voltando-se para o homem preso, que agora estava à sua frente.
Vendo o que o Kaleb tinha em mãos, o homem sentiu o terror tomar conta de si e entrou em desespero.
- Por favor, eu vou te pagar! Por favor... não bata mais em mim, não me machuque mais! - Mais uma vez, o homem pediu clemência, a súplica se misturando a tosse e a cuspida de sangue, resultado da brutalidade recém-infligida.
- Na verdade... Eu já consegui meu objetivo! - Kaleb falou, com convicção inabalável. O objetivo não era apenas o pagamento, mas a demonstração de poder. - E é claro que vai me pagar! Tem três dias, nenhum dia a mais. - Ele disse ele, caminhando lentamente como um predador, os passos medidos, calculados, chegando a centímetros de distância do rosto do homem amarrado. A proximidade era uma ameaça. - Você teve a prova que não pode fugir de mim, Baltazar. Te encontrarei no inferno se for preciso. - Disse ele e, o homem aprisionado, Baltazar, sentiu seus ossos tremerem, porque, pelo olhar assustador do Kaleb, ele sabia que era verdade, não havia margem para dúvidas. Não era um blefe, e não existia lugar para fugir! - Se tentar fugir outra vez, vai pagar com sua vida, mas caso não tenha entendido... vou deixar bem claro para você. - Falou, segurando a mão do homem que se debatia em desespero, aterrorizado, sabendo o que o Kaleb iria fazer com aquele alicate.
- Por favor, não... - O homem se debatia, lutando contra as amarras, tentando escapar, o pânico em seus olhos ao perceber o que o Kaleb estava prestes a fazer.
- Me ajuda aqui, Scott! - Kaleb pediu, para um outro homem que estava ao fundo, quase escondido nas sombras, para que o ajudasse.
O homem, Scott, se aproximou e segurou com toda sua força o braço do outro, que permanecia amarrado na cadeira. Mesmo amarrado, Baltazar tentava se soltar, se debatendo e gritando, mas era tudo em vão, culminando em um grito de dor tão lancinante que poderia ser ouvido a quilômetros de onde estavam.
O homem loiro, Kaleb, sem esboçar qualquer emoção, com um alicate, arrancou o dedo indicador da mão direita do homem amarrado, sem nenhuma misericórdia. A crueldade era fria e calculada.
O grito de dor daquele pobre homem, podia ser ouvido muito longe dali, uma nota dissonante na noite, mas ninguém iria ajudá-lo! Aquele galpão era usado sempre para casos como aquele, um local isolado para acertos de contas sangrentos.
- Agora sim, vai ter consciência e não tentará fugir de mim. - Kaleb falou, com um sorriso diabólico nos lábios, uma expressão de satisfação sombria. - Esse foi só um lembrete. - Disse ele, com indiferença, olhando o dedo do homem, caído no chão a sua frente, em uma poça vermelha.
Enquanto os dois homens pareciam se divertir com o acontecido, o outro, chorava em desespero, tomado pela dor tão terrível de ter seu dedo arrancado daquela maneira horrenda. As lágrimas caíam pelo rosto do homem, misturando-se ao sangue em sua pele, e escorrendo pelo pescoço.
- Espero não haver próxima vez, mas se houver. Será sua cabeça que estará no chão! - Kaleb falou, olhando profundamente nos olhos daquele homem, reforçando a ameaça final. - Agora pode ir e lembre-se... Três dias e nenhum a mais! - Lembrou ele, com a voz grave, antes de começar a desamarrar o Baltazar.
Kaleb foi desamarrando o homem, o qual, assim que se viu livre, correu em desespero até a saída, sem ousar olhar para trás. Deixou um rastro de sangue da sua mão ferida, por onde foi passando e logo sumiu em meio a escuridão da noite.
- Esse com certeza não vai mais tentar fugir. - Scott comentou, rindo, com uma satisfação cúmplice, olhando o homem desaparecer pela porta do galpão.
Scott era o braço direito do Kaleb. Era moreno, alto, forte, e possuía quase as mesmas simetrias corporais do amigo, Kaleb. A única diferença era, um ser loiro e o outro moreno claro, e Scott tem o tom dos cabelos castanhos escuros.
- Ele não vai! - Kaleb falou, convicto de suas palavras, certo de que havia quebrado o espírito do Baltazar. - Não sei por que ele pensou que poderia fugir da gente! - Kaleb comentou, achando uma idiotice o que o homem fez, uma afronta imperdoável. - Vai carregar esse peso pelo resto da vida. Por ter tentado fugir, devendo dinheiro a mim, Kaleb Donovan! - Falou, rindo do acontecido, o riso sem humor, tingido de poder.
- Você se supera a cada dia. - Scott comentou, orgulhoso, lançando um olhar de aprovação para o dedo do homem, caído ao lado da cadeira, em uma poça de sangue.
Kaleb, apenas sorriu satisfeito por ter sido tão cruel. A crueldade era sua ferramenta de trabalho. Pegou a bolsa ao lado na mesa, colocando suas "ferramentas", os instrumentos de tortura e os dois saíram do galpão.
Seguiram caminhando, conversando sobre os negócios, por uns dois quarteirões até próximo ao carro, quando de repente, algo surgiu.
Foi apenas um vulto de pânico e velocidade, colidindo com o corpo do Kaleb, um impacto que o pegou de surpresa e que o precisou levar um pé atrás para não cair com tudo no chão.
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