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Made in Vingança - Livro 2 de Made in Favela

Made in Vingança - Livro 2 de Made in Favela

J.C. Rodrigues Alves

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Leituras
5
Capítulo

Depois de sobreviver a uma assassinato, Marcela agora está movida pela vingança, esquecendo de uma vez como é que se ama. Seu objetivo é apenas um só: encontrar, torturar e matar Gael. Nem que para isso, tivesse que entrar de cabeça no trafico.

Capítulo 1 Prológo

A primeira coisa que fiz quando tive minha primeira arma em minha mão, foi procurar por Josué.

Cacei ele igual se caça agulha em palheiro. Procurei, perguntei para os poucos vizinhos que ainda moravam no mesmo lugar, da minha antiga casa. Mas nada. O cara simplesmente tinha evaporado no ar. Sumido do mapa.

Ainda no Jacarezinho, comecei de baixo, como vapor. Dava meu melhor. E mesmo nessa missão, nunca deixei de acompanhar o crescimento de Renata, mesmo de longe.

Ela crescia devagar, aos poucos, ultrapassando um obstáculo todos os dias. Gabriela continuava estudando, levava a menina consigo para as aulas, durante o dia ou trabalhava no sinal ou vendendo bolo na rua.

Ela estava sempre se virando. E isso me dava um orgulho da porra dela, mais pela mãe que ela havia se tornado.

Uma vez sem ela fazer, encomendei três bolos. Fiz com que uma conhecida comprasse no meu lugar e a surpresa de Gabriela ao ouvir a quantidade de bolos, nenhum dinheiro comprava; Sem antes mesmo de comer, já sabia que estavam ótimos, lembrava de uma certa forma, os bolos de fubá que minha mãe fazia em tempo chuvoso.

Neste período, antes dos dezoito, acabei indo parar na Fundação Casa.

No primeiro dia em que cheguei lá, novato e sem conhecer ninguém, os meninos mais velhos que já estavam ali, a mais tempo que eu, embaçaram para meu lado.

Nunca fui muito bom de briga, o que sabia era apenas o básico, mas os primeiros minutos que estavam me batendo pareceram ser os mais longos.

Não tinha como me defender, já que eram cinco contra um. E meu corpo nada atlético, não ajudava muito naquela época.

Ouvindo meus pensamentos naquele momento, Deus mandou alguém.

Essa pessoa conseguiu bater em três, antes de ser atingindo pelos outros dois e acabar nós dois apanhando.

Quando a sova acabou e todo meu corpo doía de uma forma indescritível, olhei para o menino de pele parda e cabelo cacheado do meu lado, olhando com atenção seu estado.

Estava com o nariz sangrando e um olho visivelmente roxo, além do lábio inferior inchado, lembrando uma picada de abelha.

De um instante para o outro, comecei a rir e dessa forma, ele também.

- Qual seu nome? - pergunto quando o riso começa a passar.

- Marco. E o seu?

- Gael.

Ele assenti ainda sorrindo.

Os poucos meses que passei na Fundação Casa, conseguiram ser um pouco pior do que o orfanato. Mas pelo menos, tinha Marco por perto, não apanhava sozinho e sempre compartilhávamos os mesmos sonhos contendo dinheiro.

Aquela era quarta passagem dele por ali, fora as prisões.

Acabou que sai mais cedo dali com a promessa da gente se encontrar quando ele saísse.

Voltando para o Jacarezinho, tudo parecia normal, como se tivesse apenas ficado dois dias fora.

Até que chegou o dia que nunca achei que nunca chegaria.

O dia que tive que ir embora do Jacarezinho, por decisão da minha "tutora". Não queria ir não mas, ali, sempre por perto e ajudando Gabriela do jeito que dava, o meu segredo estava correndo risco. Renata estava correndo risco.

Acabamos nos mudando para o Complexo do Alemão, tive que pedir autorização para entrar na área, já que eu era novo no pedaço e por causa do meu trabalho, podia ocorrer algum conflito. Por sorte, éramos todos parceiros, irmãos da mesma facção.

Continuei como vapor por mais algum tempo, até que subi mais um nível. Me tornando soldado.

Até aquele momento, nunca tinha matado ninguém. Mesmo me imaginando inúmeras diversas vezes, matando Josué de todas as formas possíveis.

Quando me vi em meio a uma guerra por causa de território, me senti completamente um peixe fora d'água, me questionei enquanto tentava me proteger, se aquela era a vida mesmo que queria para mim.

Mas que vida além daquele tinha como opção?

Não conseguia pensar numa vida diferente. Mesmo o sonho de menino ainda estando fresco na minha cabeça. Queria ser médico, cuidar e salvar a vida das pessoas. Só que no pais que eu morava, para se formar doutor, tinha que ter uma mente pica, se matar em estudar e passar em primeiro em tudo.

Um dia voltando para casa, me surpreendi quando quase não reconheci a frente da casa.

- Que porra é aquela lá fora? - A fachada da casa havia sido pintada completamente de vermelho. Não era um vermelho opaco, mas um vermelho vivo. Quase se igualando a sangue.

Em frente da televisão, Jô lixava as unhas.

- Vou abrir um bordel.

- Por quê?

- Por quê as pessoas trabalham, Gael? - rebate ainda sem me olhar.

Só mais tarde fui descobrir, que aquele não era o primeiro bordel dela e que ela já havia sido detida por aliciamento de menor. Por não ter provas o suficientes, concretas, ela acabou sendo solta.

E é claro que essa experiência não valeu de nada.

A casa aonde até então eu dormia, começou vagarosamente a ser habitada por meninas de quase todas as idades. Começando dos 14 e indo até seus vinte e poucos anos.

Vinham de toda parte. Uma mistura de raças e características únicas, iludidas por um futuro melhor, aonde trabalhariam no emprego dos sonhos.

Muitas vezes, passei a noite em claro, ouvindo choros ou as surras que Jô dava naquelas que queriam simplesmente ir embora.

Isto começou a me incomodar e foi o principal motivo de querer ir embora.

No dia de ir embora, Jô me confrontou:

- Vai embora por quê? - Continuo arrumando as poucas roupas que tinha numa mochila - Não vai responder não, Gael?! - Ela puxa a mochila com força da minha mão.

Olho dentro dos olhos dela com o maxilar travado.

- Ser preso por droga até que vai lá. Mas por isso que você tá fazendo aqui dentro, tô fora.

- Não sou a primeira e nem a última pessoa que faz isso!

- Tô nem aí pras outras pessoas. Cada um sabe o quê faz.

Ela estreita os olhos, pressionando os lábios com força.

- Você é um hipócrita filha da puta! Um ingrato! - Ela grita - Devia ir embora daqui só com a roupa do corpo! - Ela joga a mochila em mim, espalhando algumas peças de roupas sob a cama.

- Se faz tanta questão, fica pra você - Jogo a mochila de volta nela, saindo do quarto em seguida.

Quando saí da casa de Jô, com dezoito anos, achei que nunca mais teria que dar satisfação alguma da minha vida. Já que não dependia mais dela.

Passei para responsável pelas armas mais rápido do que imaginei. Todo o armamento do morro, ficava sob minha responsabilidade.

Patamar que muitos não chegavam por falta de confiança.

De alguma forma, entrava no conhecimento todas as mina com qual tinha algum movimento e todas essas levavam uma enquadrada dela depois.

No início, fingi que nada tava acontecei. Tentei ignorar, mas a cada vez, Jô ficava mais agressiva, chegando ao ponto de agredir.

Quando fiquei sabendo que a menina que tava ficando, havia levado uma surra dela, não pensei duas vezes e fui atrás de Jô.

Algumas meninas do seu bordel, me olha confusa, quando entro de repente na casa, a procurando no andar térreo, até que a encontro na cozinha, tomando café da manhã sozinha.

Dominado pela raiva, pego a xícara da sua mão e jogo na parede, sentindo os cacos de porcela contra as minhas costas quando encaro Jô.

- É melhorar parar de fazer o quê tá fazendo. Pra na próxima vez, não ser sua cara - digo entre dentes.

- Está falando daquelas vagabundas que você trepa? - pergunta erguendo as sobrancelhas - Um homem como você, não devia se relacionar com aquele tipo de mulheres.

- Ah, não. E com que tipo de mulher tenho que me relacionar? - pergunto sarcástico.

- Mulheres como eu - Franzo o cenho - Com algumas que tem aqui no bordel.

- Nem fudendo - digo sem pensar - Não sou o Rubinho que vive te comendo não.

- Rubinho gosta daquelas que tem experiência. Que sabe o que está fazendo e sabe dar prazer.

- Bom pra ele - digo andando para a porta.

- Vou fazer coisa pior, se continuar a sair com aquelas mulheres - diz num tom ameaçador, que me faz parar de andar de imediato.

- Tá comprando briga com a pessoa errada.

- Sei o que estou fazendo.

- Não! Você não sabe e para de tentar ser minha mãe! - Elevo a voz, me virando para ela. Notando que a mesma já estava de pé.

- Não quero ser sua mãe. Quero ser mais do que isto, quero ser sua mulher.

- Vai meter o louco no inferno.

- Gael...

- Para, porra!! - grito empurrando ela com força para longe. A mesma quase perde o equilíbrio e se espatifa no chão.

Não tinha noção de onde ela tinha tirado aquelas ideias. Mas era bom ela começar a esquecer.

Sou empurrado de repente para o lado, com força, o que me faz quase perder o equilíbrio, batendo o lado do corpo no armário. Quando me viro naquela direção, me dou de cara com Rubinho.

- Empurra ela de novo pra tu vê - diz ele com o dedo indicador apontado para mim.

- Fica na sua que não é com você.

- Se quer dar de homem, por que não dá pra cima de mim?! - Rubinho rebate, se colocando na frente dela.

Forço uma risada incrédulo com o que estava vendo.

Não era para estar me sentindo daquele jeito, não depois de tudo que havia presenciado na companhia daqueles dois. Das noites longas de sexo e o fato de me fazerem participar mesmo quando não queria, colocando drogas em bebidas.

Os dois juntos, eram mais do que tóxicos.

- É tão ruim assim ela querer que nós três fiquemos juntos? - Ele questiona.

- Vão pro inferno - digo sério, olhando cada um separadamente - Vocês dois.

Esperava que depois daquela conversa, de ter deixado claro tudo que sentia a respeito daquela situação, fossem me deixar em paz, principalmente Jô, com toda aquela vigilância gratuita sobre mim.

E por um tempo, parou. Mantinha uma distância saudável, mesmo com Rubinho começando a trabalhar no morro. Fazia minha parte e para mim, era só isso que importava.

De responsável pelas armas, passei rapidamente para gerente do preto, onde ficava responsável por toda maconha do morro, depois disso fui para gerente do branco, onde toda a cocaína ficava sob minha responsabilidade.

Fui conquistando meu lugar no morro, com amizades, favores. Subindo um degrau de cada vez, sem pisar ninguém, ajudando principalmente moradores como a minha família, que não tinha ninguém por eles.

Dessa forma, enquanto alguns me odiavam, pelo fato de colocar ordem em tudo e querer X9 bem longe dali, outro já cultivavam algum tipo de afeição por mim.

Quando cheguei no posto de gerente geral, não foi muita surpresa para mim, mas para Rubinho, que continuava como vapor. Eu administrava todas as bocas, todos os faturamentos tinham que passar pela minha mão antes de chegar no sistema.

E quando o Maikão foi morto pela polícia, no próprio morro, acabou que sendo o próximo na linha de sucessão do morro, me tornei o dono do morro. Da boca, para ser específico.

Acima de mim, só tinha Deus. E dali em diante, era minhas regras que tinham que seguir.

A promessa que fiz a mim mesmo, de ser temido por todos, se realizava aos poucos diante dos meus olhos.

As pessoas quando falavam comigo, não me olhavam nos olhos. Mantinham o olhar sempre baixo, em sinal de respeito ou por medo mesmo.

- Tu chegou onde quis, não é mermo? - Rubinho pergunta um dia, ao me encontrar no alto do morro.

Continuo olhando todas as favelas de cima, ignorando praticamente sua presença.

- Graças a mim mesmo.

- Esqueceu que se não fosse eu, não estaria nessa vida? - diz cheio de marra.

Olho para ele por cima do ombro, estreitando os olhos.

- O quê é que você quer?

- Um posto na altura. Não nasci pra ser vapor não, ficar trabalhando nesse sol quente - Me viro para ele, me encostando no muro baixo, cruzando os braços sob o peito.

Assinto devagar, fingindo estar concordando com o quê dizia, quando realmente acreditava que se uma pessoa quisesse algo, que precisava correr atrás, realmente merecer.

E este nunca foi o propósito de Rubinho.

No tráfico, ele conseguiu mais inimigos do que aliados por causa da sua ganância desenfreada que, uma hora ou outra faria com que a conta chegasse para ele.

- Vou te deixar como gerente das armas - murmuro.

- Não - diz sem hesitar, fazendo com que franzisse o cenho - Quero ser gerente geral.

Quero ser, repito em minha mente, erguendo uma sobrancelha.

- Não posso colocar qualquer um como gerente geral.

- Não sou qualquer um - diz com o maxilar travado, se aproximando, colocando uma mão em meu ombro - Sou teu irmão - Olho para a mão dele no meu ombro, voltando a olhar para ele - E aí? Vai deixar ou não?

A probabilidade de Rubinho querer fuder meu comando, era grande. Devido a uma lista de motivos.

Mas havia um ditado que sempre me fez sentido: "Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda".

Bastava descobrir que Rubinho era meu amigo ou meu inimigo.

Sorrio de repente.

- Claro que vou - Estendo minha mão para ele, que não hesita em apertar - É meu irmão - As palavras soaram vazias em minha boca, mesmo causando um sorriso de orelha a orelha em Rubinho, que aperta minha mão com vontade.

Nos dias que se seguiram, Rubinho começou a mostrar eficiência. Trabalhava duro e mantinha tudo em ordem, inclusive aqueles que saiam da linha.

Um dia, fui comunicado que o Nem da Rocinha estava no Complexo do Alemão. Até então, só havia ouvido falar daquele cara pelas bocas dos outros e nunca tinha visto ele pessoalmente, entretanto, minha surpresa foi maior, quando fui ao encontro dele e vi que se tratava de Marco.

Sem dizer uma palavra fui até ele e o abracei. Era como se estivesse vendo um parente meu ou algo do tipo, já que tinha ele nessa conta.

- Nem da Rocinha? - pergunto com as duas mãos nos ombros dele.

- Sabe como é. Tem que fazer por onde - Ele olha ao redor, principalmente para os soldados em minhas costas, a poucos metros de onde estávamos - Dono do Morro?

Sorrio.

Quatro anos haviam se passado, desde a última vez que nos vimos mas, não havia mudado muita coisa.

- Tem que fazer por onde.

Ele sorri, me abraçando.

Assim como eu, começando de baixo, sendo preso e indo parar na Fundação Casa, Marco começou por baixo, conquistou tudo o que tinha.

Tínhamos algumas coisas em comum, como por exemplo, a família que foi destruída por alguém.

Apesar de ter tudo que um dia quis quando era criança, ainda me faltava alguma coisa, havia um vazio crescente dentro de mim. E esse vazio, tinha dois nomes: Renata e Carlos.

Renata por não poder sempre estar por perto, acompanhar seu crescimento e Carlos, por não ter conseguido ainda fazer vingança por ele. E acreditava que nunca poderia, já que com todo o dinheiro que tinha, não conseguia encontrar o maldito que havia matado ele.

Por causa disso, me tornei cada dia mais ranzinza, mau humorado. A raiva por não conseguir o que mais queria naquele momento, me consumia.

Sabia que estava completamente fora de cogitação me aproximar de Gabriela. Não depois do que fiz do jeito que fiz, completamente diferente do que ela esperava.

Até aquele momento, achava que nunca mais me apaixonaria.

Até que a vi um dia num dos baile funk que teve no morro.

Estava na cara que ela não era dali.

O jeito com que se destacava e olhava tudo e todos, como se fosse algo exótico. E pelas roupas, podia se dizer que aquele lugar que eu estava habituado, era algo completamente diferente do que ela estava acostumada.

Foi então que sem pensar duas vezes, me aproximei.

Sem dizer nada, a seguro pela nuca e a beijo.

Com poucos segundos nos beijando, ela começa a segurar meu braço com força, mostrando o quanto estava gostando.

Ela pressiona o corpo contra o meu, para ser mais exato da minha ereção que estava gritando dentro da minha cueca.

Estava começando a cogitar a ideia de levá-la para casa, quando gritos faz ela se afastar de mim e ir até a amiga que estava brigando com outra menina.

No meio de toda aquela confusão, acabei tendo que resolver outro problema no morro e a perdi completamente de vista. Já que quando voltei para o baile, não a encontrei.

Não desisti.

Comecei a procurar por ela pela internet, pelo Instagram, já que era o aplicativo do momento e quase todas as pessoas tinham. E não era possível que ela não tinha.

Perdi praticamente o restante da noite nisso. Mas foi as horas mais bem gastas da minha vida, já que antes das duas da manhã, a encontrei pelo Instagram da amiga, Bianca, que ela havia ido separar a briga, pela localização que havia colocado na foto.

Lá estava ela. Marcela. Era tão linda nas fotos quanto pessoalmente.

Não pensei duas vezes. Mandei mensagem, assim que acordei no dia seguinte.

Não demorou para que ela me respondesse.

Como me encontrou?, ela pergunta.

Foi mais rápido do que pensei. Gostei daquele beijo e queria repetir.

Ela não responde, isto faz com que fique ansioso. O que me faz ligar para ela.

- Pensei que não iria atender.

- Porque ligou? - pergunta novamente direta.

- Queria ouvir sua voz.

- Está ouvindo.

Rio baixo.

- Gostei daquele beijo. Você beija bem pra cacete.

- Bom saber.

- Quando vamos repetir?

- Foi pra isto que me encontrou em meio a tantas pessoas?

- Também.

- Também? Como assim?

Penso na primeira coisa que vem na minha cabeça.

- Vou fazer um churrasco na minha casa. Deveria aparecer.

- Sei não. Estou indo pra faculdade agora.

- Faz faculdade é?

- Medicina.

- Quer ser médica - Talvez tivéssemos mais algo em comum do que imaginávamos.

- Se eu sobreviver a todos os semestres, sim.

- Essa parada aí é difícil mesmo? - pergunto curioso.

- Depende do que você acha difícil.

- Difícil é fazer um prédio - Rio - Mas e aí, vai vir mermo?

- Eu já disse, não sei.

Faço uma breve pausa. Acabando por apelar.

- Quero te ver - murmuro - Diz que vai vir, vai.

- Se eu for, aviso.

- Vou esperar você ligar - digo animado.

- Tá. Tudo bem.

Pela primeira vez em muito tempo, me senti vivo.

Meu coração quase saiu pela boca, quando depois de poucas horas ela me liga, dizendo que estava perto mas, que achava que havia se perdido.

Ela estava ali mesmo e havia ido me ver!

Marcela não havia vindo sozinha, sua amiga, Bianca, do outro dia, tinha ido junto. Não liguei.

Como dito antes, de última hora, resolvi fazer um churrasco e chamar alguns soldados, inclusive Marco.

Marcela olhava com atenção a casa e os caras ali, a deixei a vontade, indo para a laje, não demorando para que ela me encontrasse.

Vou ao seu encontro com dois pratos, entregando um a ela e outro para Bianca.

- Se quiser mais, só pegar - digo no intuito de deixá-la mais a vontade.

- Obrigada.

Antes de me afastar novamente, olho para Bianca, sentindo algo estranho perto dela. Algo nela me incomodava.

Depois de alguns minutos conversando e notando que Marcela estava deslocada ali, me aproximo novamente, oferecendo dessa vez a cerveja que estava bebendo.

- Eu não bebo nada? - Bianca questiona - Também quero uma cerveja.

Vou ate o isopor no meio da laje, voltando com uma cerveja.

Uma mensagem no meu celular, faz com que eu desviei a atenção para o aparelho.

- Abre pra mim? - Ela pergunta de repente, fazendo com que eu erguesse os olhos do celular. Pego a latinha novamente, abrindo a latinha com um movimento.

- Vou no banheiro - Marcela anuncia de repente, me olhando de um jeito que já dizia tudo.

- Vou com você - diz Bianca.

- Até no banheiro, Bianca? Sério?

- Fazemos tudo juntas.

- Mas quero ir no banheiro sozinha - Marcela olha para mim de novo - Aonde é o banheiro?

- Mostro pra você.

Segurando na mão dela, a guio para baixo, após passarmos pela cozinha, a puxo para o quarto, aonde tranco a porta.

Enquanto a beijava, minhas mãos passeiam pelo seu corpo, parando em sua bunda, onde aperto com vontade.

- Porque veio de calça jeans? - questiono perto da sua boca.

- Vim da faculdade - Ela me beija - Não deu tempo de trocar de roupa.

- Próxima vez venha de vestido. Saia... - A beijo por longos segundos, num beijo profundo e quente.

- Próxima? - Ela pergunta se afastando, sem fôlego.

- Não quer mais vir aqui? - Meus olhos passeiam pelo seu rosto de um jeito ansioso.

- É só você me chamar.

- E eu vou.

Voltamos a nos pegar, dessa vez caminhando para os finalmente. Finalmente este, que foi interrompido por batidas na porta.

- Quem é? - pergunto com raiva.

- Tem uma parada aqui pra você resolver, Gael - diz Rubinho do outro lado da porta.

Abro a porta me deparando com ele.

- Qual foi, Rubinho? Tava ocupado - Rubinho olha para Marcela, voltando a olhar para mim - Tá. Vamos - digo impaciente, passando por ela.

Depois daquele dia, voltei a procurar Marcela. Algo que me puxava para ela e eu não fazia nenhum esforço para me manter longe dela.

Sem perceber, o quê tínhamos acabou virando uma bola de neve. A primeira coisa foi o fato do pai dela ter dado uma surra nela. O maluco queria ser dono dela e isto de alguma forma me lembrou Josué e acabei encorajando ela de matá-lo.

Não me senti muito surpreso quando ela fez. Quando ela matou o desgraçado, muito menos quando ela fugiu para o Complexo do Alemão.

Finalmente tinha ela só para mim, no meu mundo, mas por ela estar no meu mundo, as coisas voltaram a se complicar.

Começando pela intromissão de Jô.

Um dia estava no QG, resolvendo um das dezenas de B.O que tinha para resolver por dia, quando simplesmente ela brota ali, do nada, como fumaça.

- O que você quer? - pergunto ao notar ela parada perto da porta, não desviando minha atenção do que estava fazendo.

- Fala assim com ela também? - Ela pergunta se aproximando - Com a mulher que está morando na sua casa? Marcela, não é o nome dela?

Olho para ela, forçando um sorriso.

- Não falo com ela assim. Pelo contrário, fodo ela gostoso.

A resposta que recebo é um tapa no rosto, que faz meu rosto arder.

- Manda ela embora.

- Não vou - digo entre dentes.

Ela se inclina na minha direção.

- Quer que eu faça o que com ela? Você escolhe. Posso raspar a cabeça dela ou mandar dar uma surra bem dada, daquelas que ela pode até ir parar no hospital.

- Não seja louca...

- Ou o quê? Vai fazer o que, Gael? - Sustento o olhar dela, desejando naquele momento descarregar minha arma nela e outra se fosse necessário devido a minha raiva.

Ninguém sentiria falta daquela cobra.

Mas também havia pessoas que a protegiam, não apenas Rubinho, pessoas que era da mesma laia dela. E não queria arrumar inimigos por nada.

- Pense muito bem no que vai fazer - diz antes de sair dali, tão silenciosamente quanto entrou.

Depois daquele dia, não sabia o quê fazer. A única coisa que parecia ser mais sensata para mim, era se afastar, deixar Marcela se tocar que não a queria mais ali.

Foi isto que fiz.

Dormia fora, ia para os bailes, mesmo não ficando com ninguém.

Mas o quê me deu mais forças para afastar ela de uma vez por todas dali, foi a visita do irmão dela com meia dúzia de viaturas.

Naquele dia, ele não subiu o morro e nem tentou. Apenas fez questão de saber que ele estava ali e quando fui ao seu encontro, me mostrou que estava desarmado e que gostaria da mesma coisa de mim e dos meus homens.

- Tão fazendo o que aqui? - Eu pagava um preço alto para manter eles longe dali. Claro, de vez em quando, tinha que deixar com que fizessem o "trabalho" deles. Mas nada que me prejudicasse.

- Minha irmã adotiva - diz em tom alto e sério - Ela está no seu morro. Ela matou meu pai e tenho mais do que a obrigação de matar ela.

- Posso fazer nada por você.

- Só vou prender ela. Só isso. Não vou mexer com nenhum dos seus. Com certeza você sabe onde ela está.

Mantenho meu queixo erguido, fingindo ponderar a ideia.

- Vai só prender ela ou vai fazer mais alguma coisa?

- Pra quê você quer saber?

Dou de ombros.

- É uma mulher indefesa, no meio de um homem de macho.

- Uma mulher "indefesa" que matou um cidadão de bem. A morte para ela seria pouco, claro, você como ninguém conhece nossos métodos, uma boa tortura seguido por morte, resolveria tudo - Fecho minhas mãos com força, ouvindo meus dedos estralarem, tencionando meu maxilar - Só me deixa vingar a morte do seu pai, que volto a deixar você e seus negócios quietos.

- Preciso de um tempo - digo rapidamente.

Ele franze o cenho.

- Tempo pra quê? Vai ser uma operação rápida.

- Preciso falar com meus homens - Dou as costas para ele, andando entre os soldados que estavam em minhas costas.

- Você têm três dias. Depois disso, eu invado - diz ele em bom som, fazendo com que eu parasse e voltasse a andar.

Sabia que não era amor que sentia por Marcela. Era um gostar que até então nunca havia sentido e por causa disso, não queria que ela fosse torturada e morta.

Achando eu que a situação não poderia piorar. Piorou de um instante para o outro, o chão sumiu praticamente dos meus pés, quando Marcela me informa que estava grávida.

Grávida. De mim. Como?

Uma coisa que sempre aprendi, era que qualquer mulher com que fosse transar, precisava me proteger de possíveis doenças e de uma gravidez inesperada.

Então, não tinha como em hipótese alguma aquele bebê ser meu, poderia ser de qualquer outra pessoa, menos meu.

Não havia sido descuidado em momento algo.

O fato dela estar se relacionando com alguém enquanto a ignorava e queria que ela saísse da minha vida o mais rápido possível, não me magoou o suficiente. Eu havia procurado por isto, afinal.

Então, fiz a última coisa que estava ao meu alcance e que sabia que a faria ir embora: comecei a dar em cima de Bianca, que desde que havia começado a meio que ficar com a Marcela, mandava mensagens para mim, como se não quisesse nada mas, sempre se insinuando e comecei a ficar com ela, mesmo ainda sentido uma certa aversão por ela.

E no fatídico dia, Marcela me seguiu até a casa onde me encontrava regularmente com Bianca.

Quando ela me pegou transando com a melhor amiga, não senti arrependimento ou algum sentido que envolvesse culpa. Pelo contrário, uma parte minha, mesmo que fosse pequena, gostava dela e mesmo assim, enquanto tentava protegê-la, ela havia me traído e engravidado de outra pessoa.

Movido pela raiva e a droga, fiz a última coisa que queria naquele momento: bati nela até a ver no chão e depois disso, terminei de comer Bianca.

Ainda sob o efeito da cocaína e da maconha, chamei Rubinho, a única pessoa tão fria quanto eu e fiz com que me ajudasse a levá-la até no meio do matagal onde fazíamos a queima de arquivo.

Foi lá em meio as lágrimas que fiz com que Marcela cavasse a própria cova com as mãos.

Ajoelhada na minha frente e com lágrimas nos olhos, ela suplicava para que não fizesse o quê estava prestes a fazer.

Mas precisava ser feito. Se eu não fizesse, naquele dia, aconteceria e seria bem pior.

Então, inesperadamente, puxei o gatilho, o barulho ressoou por alguns segundos antes do silêncio se instalar.

O corpo de Marcela tomba de lado para dentro da cova. Bianca em minhas costas dá um grito baixo abafado, colocando as mãos em frente a boca, enquanto Rubinho olhava para mim e Marcela, agora "morta", assustado.

Calmamente, me aproximo de sua cova, me agachando, a observando, passando os dedos sobre a medalhinha em seu pescoço, antes de puxá-la com força, arrancando de seu pescoço.

Com a minha visão se tornando embaçada por causa das lágrimas, levanto, segurando com força a medalhinha na minha mão.

- Fecha a cova - digo para Rubinho, sem olhá-lo.

Ele se mexe devagar, jogando cuidadosamente a terra por cima dela, até que sobra apenas seu rosto e com muita hesitação, ele o cobre também.

Bianca me olhava incrédula, mais assustada do que incrédula.

- Se não quiser morrer também. Cai fora - Minha paciência com ela já estava esgotada a bastante tempo e só de tê-la ali, fingindo que se importava, me dava mais raiva ainda.

Ela não hesitou. Foi embora.

Achando eu que voltaria para meus dias cinzas, não esperava que três meses depois uma garota de programa, tiraria completamente meu sono.

E que de vez de eu ser a perdição dela, ela seria a minha.

O nome dela?

Maria Antônia.

Gael

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