Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
Consequências de Uma Aposta

Consequências de Uma Aposta

Thaísa de Oliveira

5.0
Comentário(s)
2.6K
Leituras
9
Capítulo

Tudo começou há três anos. Quem diria que minha vida inteira mudaria depois dela. Eu era professor de física, sua matéria mais falha. Apesar disso sempre fui um cara como muitos outros: 23 anos, baladeiro, mimado, e livre. Ela era a nerdzinha da sala, mas quem diria, ela não era nada santa. Baladeira, apesar de pobre, bêbada de carteirinha, pagava de santa para os pais mas não era nem de perto. Além de ser linda e inteligente. Era o combo perfeito de uma mulher perfeita, que vivia escondida por trás da fantasia de uma menina qualquer de 18 anos, que nunca foi de ter amigos, era isolada e na dela. Quem não conhecia dizia que ela era a nerd excluída da escola. Todos estavam muito enganados. Ela não tinha amizades porque não gostava disso, amava ser sozinha. Só se mostrava de verdade para quem ela realmente confiava. E foi difícil conquistar a confiança daquela garota que era mais madura do que aparentava. Foi difícil fazer com ela o que eu queria fazer. Mas eu fiz, sem a menor dor na consciência. Fiz rindo, me achando o machão. E aí ela sumiu. E aí eu percebi que sempre foi muito mais que um jogo. O nome dela é Marina Moschen, e tudo que aconteceu depois que eu a conheci foram as mais puras Consequências de Uma Aposta. "Todo mundo tem alguém na vida que foi feito sob medida um para o outro"

Capítulo 1 Como Tudo Começou

~ Três anos atrás — 6 de fevereiro de 2017 ~

"E lá vamos nós."

Depois de cinco anos de faculdade eu vou pro meu primeiro ano como professor.

Eu não estava nada empolgado, dar aulas pra um bando de adolescentes mimados e bagunceiros nunca foi meu forte, mas era isso ou eu ficava sem carro. Ordens do papai.

E como não tem como eu levar as mulheres para o motel sem carro, acabei aceitando.

É, pois é! 23 anos, moro sozinho e ainda sou subordinado do meu pai. Fazer o que? Ele é o diretor da escola.

Acordei de manhã com uma leve dor de cabeça, por conta da bebida que tomei na boate ontem. Nada melhor que uma boa festa pra começar o ano.

Levantei e fui tomar café pra poder ir trabalhar. Cida, minha empregada, já tinha deixado a mesa posta pra mim, então só me sentei e comi. Meia hora depois peguei tudo que precisaria e fui em direção à escola.

Era uma escola particular, do tipo que só estuda filhinho de papai. Eu, claro, fui um deles.

Cheguei na escola e saí do carro distraído, sem olhar quem entrava, quando esbarrei em uma menina, jogando-a no chão.

— Desculpa. – pedi, estendendo a mão.

— Tudo bem. – respondeu.

Ajudei ela a levantar e ela sorriu agradecida antes de sair.

Era uma menina bonita, morena cabelos longos, aparentemente tinha uns 17 ou 18 anos, mas se vestia mal pra caramba, como se quisesse esconder algo de errado que tinha no corpo.

Deixei-a de lado e fui até a sala dos professores, onde meu pai e mais alguns colegas de trabalho estavam.

— Bom dia. – falei assim que entrei na sala.

— Ah, chegou. Esse é o novo professor de física, Nicolas Bittencourt. – meu pai me apresentou.

— Prazer. – eles responderam.

Eles me cumprimentaram e começaram a conversar coisas aleatórias, mas nem prestei atenção. Eu não estava a fim de estar ali, mas era obrigado então, fazer o que.

Comecei a dar as aulas que me cabiam e, quando acabei, fui pra casa. Ainda estava a fim de sair com a Bruna hoje, então fui guardar energias pra mais tarde.

Bruna, para quem não sabe, é a minha “comida” mais fiel. Sempre que eu quero, levo ela pra um motel e deixo ela fazer o que sabe de melhor ("risos").

Quem me vê assim até pensa que eu sou do tipo que come qualquer uma, mas nem sempre. Já levei viárias pra cama, isso é fato, mas são todas muito bem selecionadas.

Estava quase dormindo quando recebi uma ligação do meu amigo de sempre, Brenno.

Ligação:

— Fala aí irmão.

— Rola uma social hoje no Bruno?

— Na segunda-feira cara?

— Como se você ligasse pra isso, né Nick?! – rimos.

— É, não ligo mesmo. Mas vou ficar muito não hein! Quero sair com a Bruna hoje ainda.

— Fechado. Oito horas na casa do Bruno. Te vejo lá.

— Falou. Até mais tarde.

Essas sociais que rolam na casa do Bruno são as melhores. Sempre tem muita bebida e mulher bonita.

Voltei a deitar em minha cama e rapidamente dormi. Quando acordei já era 18:30, então fui tomar um banho e me arrumar pra sair. Cheguei na casa do Bruno às 20:10 e já estava cheia, como sempre.

— E aí mano. – Bruno veio me receber assim que me viu entrar.

— Opa. Tá animado aí, hein?

— Bastante. Tem umas novinhas aí, que é até pecado. Quase uma pedofilia.

— Pô Bruno, de menor não né, caralho?

— Brenno garantiu que não, e as minas vieram só pra dançar, segundo elas. – eu ri.

— Só pra dançar até a segunda dose de vodka. – ele assentiu rindo.

— Né. Bora lá.

Fui pro jardim da casa dele, onde estava a maior parte das pessoas, e realmente tinha muitas meninas ali.

***

A festa estava animada, eu já tinha bebido umas 3 vodcas quando um grupo de meninas começou a dançar. Elas rebolavam muito e desciam até o chão.

Aparentemente não queriam provocar, só dançar mesmo, mas elas estavam provocando pra caralho. Tinha novinha de todo tipo: loira, morena, ruiva, alta, baixa, magra, gordinha.

Meu pau estava duro só de ver elas dançarem.

— “As novinha tão sensacional, subindo gostosa prendendo legal, descendo gostosa tá sensacional, isso aqui tá gostoso tá fenomenal”. – Caio, um outro amigo nosso, cantou e eu tive que concordar.

Não demorou para Bruno e Brenno se juntarem à gente.

— Aí, chamei tua mina também. Tu disse que queria comer ela hoje, quarto tá liberado lá em cima pra tu.

— Olha, entrada vip é? – rimos – Valeu mano.

— Mas diz aí, tu pensa em assumir as coisas com ela? Bruna pensa que tu quer namorar com ela. – Bruno falou e eu ri debochado.

— Quero nada. Pretendo me amarrar em mulher não. Só pegar tá bom demais.

— Tu vai morrer sozinho cara. – Brenno zombou e os outros riram, concordando.

— Falaram os casadões, né?

— Né. – Caio riu.

— Fora que ela é mais rodada que prato de micro-ondas. – falei.

— E para sempre na tua mão, né? – Brenno disse.

— No meu pau, você quis dizer.

Eles riram, mas logo mudamos de assunto e eu fiquei ali curtindo com eles.

Vez ou outra aparecia alguma menina querendo dar, mas como eu disse, são todas muito bem selecionadas e essa noite eu queria mesmo era a Bruna.

— Aí, tua mina chegou. – Caio chamou minha atenção.

Olhei em direção a porta e lá estava Bruna em seu vestidinho curtindo que ela sempre usa quando a gente vai sair. Deu até água na boca ver ela assim, dei tempo nem dela chegar em mim e já fui beijando-a.

— Nossa gatinho. Isso tudo é saudade?

— Tá mais pra vontade de ter uma boa foda. – falei e ela riu.

— Eu sei! Sou a única que te satisfaz, né gatinho. – falou, se achando a última bolacha do pacote.

Tadinha! (risos).

— Que tá nessa festa, sim. Vamos logo, essas novinhas me deixaram de pau duro.

—Aí gatinho, você devia melhorar um pouco seu romantismo.

—Anda logo, vadia.

Dei um tapa na bunda dela e ela riu, se virando e indo pra dentro da casa.

Levei ela pro quarto e já entrei tirando sua roupa. Ela era até gostosinha e sabia quicar bem.

Tivemos uma transa bem boa e quando finalmente acabou, eu estava exausto.

Levantei da cama e fui pro banheiro tomar um banho pra tirar o suor do corpo. Não demorou para Bruna entrar no banheiro também, mas eu já tinha feito o que eu queria, então assim que ela entrou no chuveiro eu sai.

Sem saco pra vozinha irritante dela depois do sexo.

Vesti minha roupa e me arrumei mais ou menos pra descer de volta pra festa, que mesmo depois de duas horas ainda estava bombando.

— Já mano? – Bruno zombou de mim.

— Xiu. Tô indo pra casa ok? Tenho aulas pra dar amanhã.

— Ala, o cara tá todo responsa. – Caio brincou.

— Fazer o que né. – ri – Tô indo! Valeu, valeu.

— Vai levar a gata pra tua casa? – Bruno perguntou.

— Brunão, quando foi que tu me viu levando mulher pra casa? – ele riu.

— Vai lá então.

— Boa festa pra vocês.

Eles assentiram e eu fui pra casa.

Ou pelo menos era essa a ideia, até o momento em que eu vi uma menina andando sozinha na rua. Devia ter uns 17 anos, parecia sair de uma festa. Ela andava a passos largos e logo atrás dela três homens a chamavam.

Parei o carro um pouco mais à frente e desci, alcançando a menina.

— Me solta. – falou, já se debatendo.

— Não. Calma. Não vou abusar de você não. Esses caras tão atrás de você, não tão? – apontei com a cabeça para os dois homens que, agora, tinham parado a uma certa distância de nós.

Ela assentiu.

— Sim.

— Vamos. Eu te levo em casa.

Ela me olhou assustada, mas como não tinha muitas opções, aceitou. Ela entrou no carro e eu parti rápido dali. A menina parecia envergonhada.

— Qual seu nome? – perguntei.

— Marina.

— Sou Nicolas. Estava fazendo o que a essas horas na rua?

— Festa de uma amiga. Mas me arrependi, como sempre.

— E onde você mora?

— Olha pode me deixar em um ponto de ônibus qualquer. Eu moro na favela e não é legal entrar com um carro desses lá, ainda mais a noite. Você já me ajudou muito.

— Não vou deixar você na rua. Eu sou putão, mas não sou covarde. Fala aí, onde você mora?

Ela me disse e eu fui até lá. Talvez eu tenha bebido um pouco demais pra entrar no Alemão assim, fácil. Mas também não ia deixar a menina na rua para ser estuprada.

Alguns minutos depois, e seguindo as orientações que ela me dava, eu estacionei em frente ao local onde ela disse ser a casa dela.

— Está entregue.

— Muito obrigada. Eu não tenho dinheiro, é... você...

— Boa noite menina. – a cortei, para deixar bem claro que não me importava – Mais cuidado na rua.

Ela me deu um sorriso fraco e saiu.

Sai dali e fui direto pro meu ap. Necessitava da minha cama urgentemente.

Assim que cheguei comi uma coisa rápida, fiz minhas higienes e fui dormir.

No meio da madrugada sirenes de um carro de polícia me acordaram. Cheguei da varanda e vi, a poucos metros do meu prédio, os policiais prendendo três caras, aparentemente os mesmos de horas atrás.

No chão tinha uma garota de uns 18 ou 19 anos com as roupas rasgadas, pareciam uniformes, no entanto ela ainda estava de roupas íntimas.

Senti um arrepio me subindo pela espinha, ao lembrar da menina que deixei em casa.

Parabéns Nicolas! Você fez uma boa ação no dia.

Se aqueles caras não acharam ninguém depois da Marina, você evitou que eles estuprassem alguém nessa noite. Uma pena que só nessa, porque em até uma semana esses caras tão soltos de novo.

Resolvi deixar isso tudo de lado e deitar novamente. Um dia intenso, de aulas chatas, me aguardavam, e não tinha nada pior que enfrentar adolescentes morrendo de sono.

~ 7 de fevereiro de 2017

Na manhã seguinte eu acordei, pasmem, morto de sono. Minha cabeça doía e meu estômago roncava.

Fui até o banheiro e fiz minhas higienes, tomei um banho e me arrumei pra ir dar aula. Hoje eu tinha aula com o terceiro ano e não estava nem um pouco animado.

Pegar uma turma de adolescentes marrentos, iguaizinhos a mim quando estava no ensino médio, não era nem de perto o meu maior sonho. Já prevejo eu pagando todos os meus pecados nessa escola.

Tomei meu café e um remédio pra dor de cabeça, peguei meus materiais e fui. Ainda eram 6:40, e as aulas começam 7:15, então eu não precisava correr. Não tinha trânsito e não era longe.

Assim que eu cheguei vi um bando de pivete correndo pra dentro da escola. Graças a Deus, eu só dou aula pro ensino médio, porque com adolescente marrento eu posso até me virar bem, já que fui um, mas com criança birrenta eu não sirvo pra mexer.

Cheguei na sala dos professores às 7:05 e não tinha ninguém lá, a não ser uma professora bem gostosinha, que eu por acaso nem tinha notado antes. Dei uma avaliada geral nela, mas parei na mão esquerda. Era casada a peste.

— Bom dia. – falei.

— Bom dia. – ela abriu um sorriso cordial – Nicolas, né?

— Sim. E você é?

— Renata, satisfação.

— Igualmente. Não lembro de você quando estudava aqui.

— Ah! Eu entrei ano passado. Dou aula de história.

— Ah sim.

— Quando Marcello falou que haveria um professor novo, não imaginei que ele fosse tão jovem.

— Ah! Eu tô aqui meio que obrigado. Me formei ano passado em física.

— Entendi! Bom, está na hora da aula, vou indo. Foi bom te conhecer Nicolas.

— Idem.

Ela pegou as coisas dela e saiu da sala rebolando. Assim que o sinal tocou peguei minhas coisas e sai também.

Cheguei na sala onde eu daria minha primeira aula no exato momento em que o último aluno entrou. Eu conhecia bem aquela sala.

~Flashback

Entrei na sala aos beijos com a Sandra. Era uma sala que ninguém usava, e todos já tinham ido embora, então ninguém apareceria. Sandra é uma putinha gostosa. Dá pra mim sempre que eu quero e dessa vez não foi diferente.

— Quanto fogo hein? – ela disse com um sorriso perverso no rosto.

— Você ainda não viu nada.

Eu tirei as roupas dela e não demorou pra estar entrando e saindo de dentro dela.

~Flashback

Foi uma foda boa, aliás quase todas são ótimas, mas ainda não achei a perfeita. Por enquanto a melhor delas é a Bruna, mas ela ainda falha muito.

— Ou professor?! – alguém gritou do meio da sala.

— Tá viajando aí? A aula. – um outro completou.

— Desculpa. Estava tendo algumas recordações dessa sala, mas vamos ao que realmente interessa. Bom dia, meu nome é Nicolas, mas eu não sou esses professores caretas que não gostam de apelidos então podem me chamar de Nick ou Nico. Sou professor de física, e bom, espero que não sejam alunos tão ruins quanto eu fui.

— Que isso prof. Somos uns anjinhos. – um terceiro aluno respondeu.

— Com certeza. – eles concordaram, mas dava pra ver o sorriso travesso no rosto deles.

— Engraçado. No meu primeiro dia de aula do terceiro ano eu disse a mesma coisa. – rimos – Bom, vou começar minha aula. Daqui um tempo eu descubro e decoro o nome de vocês, ok? – eles assentiram e eu comecei minha aula.

Até que não foi tão difícil, pra uma turma que era puro hormônio. Eu era dez vezes pior que todos eles juntos. Ainda mais no segundo dia de aula. Eu era o terror de aluno.

Na hora do intervalo eu estava quase capotando de sono. Assim que entrei na sala dos professores, vi que tinha um café e aproveitei. Eu bebi praticamente a garrafa toda sozinho.

Entre uma xícara e outra, não sei quanto tempo depois, vi meu pai entrar na sala e se sentar ao meu lado.

— Como está se saindo com os alunos?

— Bem. Pro segundo dia de aula eles até que são comportados.

— Mais do que você pelo menos.

— Sim. Quase nem acreditei que estava lidando com o ensino médio.

— Isso é bom. Espero que cumpra com as suas obrigações.

— Pai eu estava em uma festa ontem. Podia ter ficado lá e bebido todas, mas não. Eu fui pra casa cedo, porque eu tinha que estar aqui, e estou, não é? Então sem sermão.

— Tudo bem. – ele levantou – Sua mãe mandou chamar você pra almoçar conosco hoje.

— Eu apareço lá.

O sinal indicando o fim do intervalo tocou e eu voltei para as minhas aulas.

Não era tão ruim, essa geração que não faz bagunça ajuda bastante. Eu tinha a última aula com o terceiro de novo.

Assim que entrei na sala quase me arrependi. Tinha bolinha de papel voando pra todo lado. Que tipo de adolescentes são esses que ainda jogam bolinha de papel um no outro?

— Ei, ei, ei? Que isso aqui? – falei, batendo palmas pra chamar a atenção deles.

— Desculpa prof.

— Não, pera aí. – falei com falsa irritação – Que tipo de adolescentes são vocês? Caramba! Na idade de vocês eu estava dando uns amassos nas meninas da minha sala durante a troca de professores.

Não houve um aluno sequer que não riu.

— Melhor professor sem dúvida. – alguém que não conheço soltou, me fazendo rir com eles.

— Vamos estudar vamos, antes que meu pai passe aqui e me veja ensinando coisas erradas pra vocês.

— Aí professor, bora pra nossa festinha sexta?

— Bora ué. Onde e que horas? Posso levar amigos? – que meu pai nunca me ouça.

— Você pode tudo prof. Só não vale fazer strip, se não, não sobra menina pra gente. – um outro aluno zombou.

Preciso decorar logo o nome deles.

— Não curto muito fazer strip. Relaxa. Depois eu quero detalhes dessa festa aí.

Eles concordaram e eu comecei a dar a minha aula. Eu ainda não tinha reparado em todo mundo. Até agora.

No canto esquerdo da sala, na primeira cadeira, tinha uma menina morena. Acho que é a mesma que eu derrubei ontem. No fundão estava a turma da baguncinha.

Tinha umas menininhas até bonitinhas. Se eu ainda tivesse meus 17 anos eu até acharia elas gostosas, mas hoje em dia o nível ficou muito mais alto. Fora que são muito oferecidas. Odeio mulher oferecida demais.

Os meninos eram os típicos filhinhos de papai. Tinha só um que era diferente, parecia estar em um nível de moral bem mais acima. Era, provavelmente, o inteligente da sala, mas ele também era gay.

Isso acarretava algumas zoações sempre que eu perguntava algo e ele respondia. Isso me deixou nervoso, odeio esse negócio de bullying. Se o garoto quer ser assim, deixa ele ser assim. Fogo no cu.

Continuei dando minha aula e quando eu fiz mais uma pergunta e ele respondeu, zoaram ele. Isso foi o estopim.

— Ei. Você. Qual seu nome? – perguntei olhando para o garoto que estava fazendo piadinhas.

— Gustavo.

— Gustavo você tem alguma coisa contra o...

— Felipe.

— Tem alguma coisa contra o Felipe?

— Não professor.

— E está zombando dele porque então?

— Aah prof! Vai dizer que não zoava os alunos insignificantes da sua sala?

— Primeiro, na minha sala não tinha alunos insignificantes. Todos tinham o seu devido valor. Segundo, sempre odiei bullying. Eu era vagabundo, mas eu sabia respeitar as pessoas.

— Desculpa, Senhor Respeito. – disse irônico.

— Sem ironias, ok? Mais uma palhaçada dessa com o garoto e eu vou complicar sua vida com meu pai. Isso vale pra todo mundo.

Eles assentiram e eu vi a menina da esquerda sorrir. Deve ser amiga do Felipe.

Depois disso o resto da aula foi em paz. Sem problemas, sem zoeiras.

Quando o fim da aula chegou, os alunos saíram até correndo, não deu tempo nem de desejar boa tarde a eles. O único que ficou foi o Felipe.

Ele levantou da carteira e veio timidamente até minha mesa.

— Queria agradecer. Por hoje. – ele falou.

— Sempre foi assim?

— Uhum.

— E você nunca fez nada?

— Sou eu sozinho contra a sociedade inteira Nick, não é tão fácil.

— Felipe você é um ser humano como qualquer outro e merece respeito como qualquer outro. Não deixa uma sociedade de merda te diminuir.

— Valeu. Boa tarde professor.

— Boa tarde.

Quando eu ia pegar minhas coisas a menina que eu derrubei apareceu.

— Licença. Posso entrar?

— Entra aí. É comigo? – perguntei, já louco pra ir pra casa. Estava morrendo de fome.

— É sim. Eu preciso de ajuda.

— Em?

— Eu estava estudando em casa ontem e teve um exercício que eu não soube fazer.

Ela me mostrou o livro. Tinha circulado o problema que ela tentou e no caderno como ela fez. Ela tinha uma caligrafia bonita, um caderno todo caprichado. Olhei o exercício e a ensinei como fazer.

— Obrigada. Desculpa tomar seu tempo.

— Tudo bem. Tô aqui pra isso. Qual seu nome?

— Marina.

— Até amanhã Mari. – ela assentiu e saiu.

Finalmente eu juntei as minhas coisas e fui pra casa da minha mãe. Estava com saudade dela, já tinha um tempo que não ia a casa deles. Assim que cheguei, só estacionei meu carro em frente e já fui entrando. Sou de casa.

— Mãe? Cheguei.

— Oi meu filho. – ela me recebeu na porta – Vem, entra. Que saudade.

— Tudo bem?

— Sim. Tenho uma novidade para você. – ela disse com um sorriso maior que o do gato da Alice no rosto.

— Boa?

— Bom, para mim e para o seu pai é maravilhoso. Para você eu não sei dizer.

— Sem essa de esperar o almoço. Conta aí. O que houve? Está grávida?

— Quando é que você vai parar de estragar minhas surpresas? – ela disse revirando os olhos.

— Quando você deixar de ser minha mãe. Parabéns dona Gisele Bittencourt, mamãe. – ri – Só não espere que eu troque fraudas ou faça arrotar. Eu não vou.

— Tão simpático. – ela revirou os olhos outra vez.

— Também te amo mãezinha.

Dei um beijo em sua bochecha e ela riu, me puxando pra cozinha logo depois.

Sentamos à mesa e logo meu pai apareceu também. Ele sempre foi muito rigoroso comigo, mas eu nunca o vi chegar em casa e não dar um beijo na minha mãe. Nunca ouvi uma briga entre eles. Minha mãe sempre uma pessoa amorosa, carinhosa. Sempre deu carinho e atenção pra todo mundo. Eles são um belo casal.

— E você filho, quando vai trazer sua namorada aqui?

— Que namorada, mãe?

— A Bruna. – respondeu como se fosse óbvio.

— Bruna não é minha namorada.

— Pois deveria. Bruna é uma menina bonita, e você vive com ela.

— Bonita só por fora. Mina é muito rodada. Eu só fico com ela porque ela é que transa melhor disponível no momento.

— Odeio quando você é fútil. Você devia arrumar uma mulher pra você. Já está na hora de casar.

— Mãe eu já disse, quando eu achar a mulher que tiver o sexo perfeito, aí eu penso em casar.

Ela negou com a cabeça e depois seguimos comendo em silêncio. Depois do almoço eu fui pra casa e assim que entrei, encontrei Cida limpando a cozinha.

— Ei Cida! – cumprimentei.

— Oi Nick. Tudo bem? Não veio almoçar.

— É, fui comer com meus pais hoje. Minha mãe está grávida.

— Sério? Parabéns.

— Obrigado. Vou tomar um banho e dar uma saída. Se procurarem por mim hoje, diz que morri.

Ela assentiu rindo e eu fui pro meu quarto. Entrei logo pra tomar um banho. Acho que vou dar uma caminhada hoje.

Assim que saí do banho fui conferir meu celular e tinha mensagem de um número desconhecido.

~Mensagem

Gustavo:

Ei prof, aqui é o Gustavo

Consegui seu número na secretaria

Vai na festinha mesmo?

Nicolas:

Depende

Vai ter bebida?

Gustavo:

Prof, festa nossa tem de tudo

Só não tem droga

Nicolas:

Isso é bom

Vou levar três amigos comigo

Beleza?

Gustavo:

Belezaaaa

E sei que nossas gatinhas novinhas

não passam no seu pente fino

Mas você vai se surpreender em como

algumas conseguem ficar gostosas

Nicolas:

Não vou não

Meu amigo, eu comi até a nerd da minha sala

Sei o quanto uma novinha pode ficar gostosa

Gustavo:

Tu é o bichão né professor

Nicolas:

Mas novinhas não me interessam mais

Elas são muito...

Não profissionais

Prefiro as maduras

Gustavo:

Vou anotar isso

Te vejo lá profeee

~Mensagem

Ele mandou o endereço da casa e eu ri. Esses garotos não sabem o que é ser putão. Tão inocentes.

Depois que deixei meu celular de lado eu peguei os meus materiais da escola e fui preparar minhas aulas. Hoje eu estava no meu dia de ser responsável.

Física é uma coisa muito legal, mas não serve pra ser estudada por mais de três horas. Quando acabei, coloquei uma bermuda mais leve, um tênis e fui correr na orla da praia. Preciso manter o corpo decente e parado em casa ninguém consegue isso.

A brisa do mar era ótima pro calor que fazia. Durante minha corrida eu fiquei pensando no que minha mãe disse. Eu casar, piada. Está aí uma coisa que nunca pensei em fazer.

Não serve pra mim aqueles clichês todos de casais. Apelidos carinhosos, romantismo, declarações. Nunca fui assim, menina nenhuma me fez ser assim e mulher nenhuma acredito que fará. Amor não é pra mim.

Corri por toda a orla. Estava exausto, suado e com sede, mas satisfeito. Parei em um quiosque pra comprar água de coco e depois me sentei em uma pedra mais isolada que tinha ali no fim da praia.

Estava tranquilo tomando minha água quando de repente senti um peso sobre mim. Meu coco caiu e saiu rolando pedra abaixo. Uma menina teria feito o mesmo, se eu não tivesse feito, com incrível habilidade, o trabalho de segura-la em meu colo.

— Ai meu Deus, desculpa! Eu não tinha te visto, desculpa.

— Calma. Está tudo bem, machucou?

— Graças a você não. Nossa. Desculpa mesmo. – ela me olhou toda envergonhada.

A menina não me era estranha, e logo entendi o porquê.

– Ei... você não é a menina da escola? Como é seu nome mesmo... é... Ma...

— Marina. É sou eu sim. Eu não tinha visto você aí professor, desculpa.

— Me chame de Nick.

Ela se levantou do meu colo e ajeitou o cabelo. Usava uma calça legging rasgadinha, blusa de mangas compridas e tênis. Gente?? Quem vem assim pra praia?

— Ok. E obrigada. Eu estaria em uma enrascada se caísse ali.

— Que nada. Eu mesmo, vivia brincando de pular daqui quando era menino.

— É que eu não sei nadar.

— Ah. Realmente isso seria um problema.

— Sim.

— Veio fazer o que aqui com essa mochila? – perguntei o que estava me intrigando desde que ela chegou.

— Estudar.

— Na praia?

— Tem lugar que traz mais paz do que praia? – perguntou e eu assenti sorrindo.

— Não. Só que... as pessoas costumam usar roupas mais frescas na praia. – ela riu.

— Não gosto de usar roupas curtas. Sei lá. Acho meu corpo estranho. Complexo de beleza. Não é fácil ser a nerd.

Que menina mais pessimista. Nem a nerd da minha sala, que não tinha um rosto tão bonito, era assim.

— Deveria se mostrar mais garota. Faz bem se libertar.

— Haam... acho que eu prefiro estudar física.

— Você vem pra um lugar lindo desse estudar física? – essa menina é o que? Um ET?

— Sim.

— Aluna preferida eleita no segundo dia de aula. Parabéns. – nós dois caímos na gargalhada.

— Não deveria. Física é a única matéria que eu não me dou bem.

— Não estou ofendido. – falei em tom de ironia, mas com um sorriso que entregava que era brincadeira, o que a fez rir.

— Desculpa. Mas é porque... sei lá. Não me dou bem sabe?

— Sei, eu também não me dava bem com biologia.

— Você estudava?

— Claro que sim. Dona Gisele fazia questão de ficar pelo menos uma hora todos os dias sentada na sala me vendo estudar.

— Aah! Então você estudava obrigado, não porque queria.

— Nunca disse que gostava. – brinquei.

Ela riu e começou a tirar os livros da mochila e eu fiquei ali ondando as ondas se quebrando na pedra. Meu coco estava lá, boiando.

De repente eu lembrei de uma coisa que ainda não tinha pensado.

~Flashback

— Qual seu nome?

— Marina.

— Sou Nicolas. Estava fazendo o que a essas horas na rua?

— Festa de uma amiga. Mas me arrependi, como sempre.

~Flashback

— Ei, você é a menina da festa. – falei.

— Ham?

— A menina... que os caras estavam perseguindo. Eu te levei em casa ontem.

— Ah! Sim, sou eu.

— Nossa, nem parecia você.

— É. Uma das únicas vezes que eu tento sair, bom. Você viu o que acontece. – ri sem jeito.

— Entendo.

Fez-se um silêncio por alguns minutos. Marina olhava para o livro, mas dava pra ver o ponto de interrogação enorme na testa dela.

Eu ia oferecer ajuda, mas antes que eu pudesse fazer isso, ela se virou pra mim e me olhou com uma cara bem parecida com a do gato de botas.

— Pode me ajudar?

— No que eu puder, menina Mari.

Ela riu e eu me virei pra ela. Tive meio que explicar tudo de novo, mas ela era boa em ouvir, aprendia rápido. Ela me olhava atenta, enquanto eu fazia alguns exercícios pra ensiná-la. Tem razão de ser a nerd, ela aprende tudo muito fácil.

— Ei! Você não é ruim em física.

— Com o professor do lado, não mesmo. – eu ri.

— Boba. Você é inteligente garota. Agora precisa só tirar esse monte de roupa aí e os garotos vão cair em cima.

— Acho que não vou querer não. – riu – Homem só dá trabalho. Os livros são mais legais.

— Obrigada pela parte que me toca. – rimos.

— Desculpa, de novo.

Ela voltou a estudar e quando terminou ficou ali comigo, conversando.

Passar o tempo ali com a Marina foi tão relaxante que eu nem percebi quando a noite caiu.

— Nossa. Ficou tarde, eu preciso ir. – ela levantou.

— Vai sozinha? De novo?

— Meu ônibus passa em... 10 minutos, no ponto que tem aqui perto.

— Tem certeza? Se quiser eu te levo, sem problemas.

— Ei, você é meu professor não meu pai. – ela brincou e nós rimos.

— Ué, custa nada.

— Não precisa. Vai, que tua mulher deve estar te esperando.

Ela apontou com a cabeça pro meu celular que não parava de acender no bolso. Era a Bruna mandando mensagem perguntando onde eu estava, porque não esperei ela ontem e blá, blá, blá. Quando acabei de ler bufei e guardei de novo o celular.

— Não tenho mulher. Dá muito trabalho. Prefiro dar aulas. – parafraseei ela mesma, que riu.

— Nem é vingativo você. – nós rimos – Agora eu vou. Até amanhã. Muito obrigada, mas uma vez.

— Gostei de conversar com você. Meninas da sua idade normalmente não têm o papo tão bom.

— Valeu. Tchau.

Dei um tchau somente acenando e ela saiu. Pouco depois eu fui também. Estava cansado e com fome.

Cheguei em casa e fui direto pro chuveiro relaxar. Quando acabei fui na cozinha preparar minha comida e praticamente devorei ela. Só então fui responder a Bruna.

~Mensagem

Bruna:

Oi amor!

Como você tá?

Porque não me esperou ontem?

Queria tanto ter ficado com você

Nicolas?

Onde você tá Nicolas?

Não vai me responder?

Nicolas:

Tava correndo na praia

Bruno:

Não tava não!

Não te vi

Nicolas:

Tá me seguindo agora?

Bruna:

Você me deve uma explicação

Sou sua namorada

Nicolas:

Primeiro, você não é minha namorada

Segundo, não devo explicação nem para minha mãe

Terceiro, não enche!

~Mensagem

Larguei o celular e fui ver se passava algum filme na descente na tv. Peguei uma dose de whisky pra relaxar e me sentei no sofá.

Hoje foi um dia tão, normal. E tão estranho. Eu que costumo só sair pra festa, fiz amizade temporária com a minha aluna, pode isso produção?

Depois que minha dose de whisky acabou e o filme também eu fui fazer minha higiene pra dormir. Bruna deve estar puta comigo, mas... tô nem aí também.

~ 8 de fevereiro de 2017

No dia seguinte fui pra escola até mais relaxado. Correr, a praia. Tudo tem um dom de me deixar melhor. Assim que cheguei, dei de cara com a Bruna e sua cara bonitinha toda emburrada.

— Agora você vai conversar comigo.

— Bruna, me erra. Eu tô indo trabalhar.

— Não antes de me falar quem era a vagabunda que estava com você ontem. Vai fala.

Nessa mesma hora vi Marina passando e olhando pra mim, como se questionasse se eu deixaria a Bruna chama-la de vagabunda.

— Não estava com vagabunda nenhuma, Bruna. Para de ser doida e chega dessa palhaçada.

— Acha que eu sou idiota? – acho!

— Eu estava com a minha aluna Bruna, estudando. Será que dá parar de show?

— Não sabia que puta agora é aluna.

— Lava sua boca para falar da Marina. Ela tem muito mais QI que você e você é a única puta que tô vendo aqui. Agora sai da minha frente e me deixa trabalhar. Vai dar a bunda e me erra. Que saco. – me exaltei.

Eu hein! Garota doida!

Eu sai dali e fui tentar me desculpar com a Marina, mas não a vi então deixei pra lá.

É por essas e outras que eu não namoro. Sem paciência pra essas crises de ciúme ridículas que a Bruna tem. Pra mim já deu isso. Arrg.

Fui pra sala dos professores e como aqui não tinha whisky, tive que beber café mesmo.

— Sua namorada é bem ciumenta né? – Renata me abordou assim que chegou perto de mim.

— Não é minha namorada. – revirei os olhos.

— Ficante fixa?

— Foda fixa. Fico com ela só pra comer.

— Bem delicado você. – Diego, um outro professor, se aproximou rindo.

— Ah, é verdade. Bruna só serve pra comer.

— Você sempre fala assim das mulheres que pega?

— Sempre! É só pra isso que eu pego, então, sim. – fiz careta logo depois de falar, notando o quanto isso é escroto.

— E o que tu vai fazer com essa Bruna?

— Já mandei dar a bunda. Mulher doida! Daqui a pouco bate na porta dos meus pais me pedindo em casamento. Tô correndo disso.

— E faz muito bem.

Nós rimos e continuamos conversando até o sinal tocar indicando o começo as aulas do dia.

Hoje o dia já começou ruim, e continuou pior um pouco.

Continuar lendo

Você deve gostar

Capítulo
Ler agora
Baixar livro