Mil acasos me levam a você

Estou super cansada da viagem, mas estou tão eufórica, casei com o homem da minha vida. Quando entrei na igreja e o vi me esperando, aqueles cabelos dourados, aquele sorriso perfeito, me senti no céu.

Agora estamos na estrada, estamos indo para nossa lua de mel, acho que ele está mais ansioso do que eu, pois prometemos nos guardar para esse dia, confesso que estou nervosa, não sei como vai ser, sem contar o fato de que demorei muito para escolher qual camisola iria usar na nossa primeira noite juntos, escolhi uma lingerie branca, acho que nenhuma outra cor poderia ser tão simbólica.

- Amor falta pouco para chegarmos

- Andrew você disse isso a uma hora atrás, e tudo que vejo é um breu.

Ele abriu um sorriso maravilhoso, dava vontade de beija-lo infinitamente, várias e várias vezes incansavelmente, tenho certeza que ele é o cara certo, nossos pais disseram que eramos jovens demais para nos casarmos, mas nos deram todo apoio quando decidimos que era o que queríamos de verdade.

- Ashley você é muito impaciente, mas eu amo você mesmo assim

- eu também te amo.

Tirei o cinto e me aproximei para roubar um beijo, mas tudo que deu pra fazer foi gritar de susto, uma luz forte vindo em nossa direção, nosso carro foi jogado pra fora da estrada, capotamos, fui jogada pra fora do carro enquanto o carro continuava capotando na barranceira, fiquei imóvel, minha perna fraturada, meu vestido de casamento agora está todo ensanguentado e sujo, tento me mover e grito de dor e desespero, minha cabeça está doendo, passo a mão e vejo que estou sangrando.

Vejo varios carros pararem, pessoas começam a se aproximar para prestar socorro, vejo a aglomeração logo se formar, a polícia não demora para chegar, noto que um dos policiais se aproxima do local onde estou agonizando de dor, se abaixa para falar comigo, é um homem de uns 26 anos à 28 anos, cabelo preto, e mãos quentes.

- moça consegue me dizer seu nome?

- Ashley

- sou o soldado Oliveira, vou ficar com você até o socorro chegar

- por favor, salve meu noivo, ele está no carro

Minhas lágrimas rolam quentes pelo meu rosto, estou desesperada, meu corpo todo está doendo, não consigo mexer meu braço e nem minha perna esquerda, quando a adrenalina passar de vez sei que vou sentir uma dor infernal, pois parece que quebrei alguns ossos.

Estou sentindo o mato meio úmido, não sei se do meu sangue, mas parece que não é só isso, acho que deve ser por causa do sereno noturno, estou sentindo a terra com minhas mãos.

Noto que o soldado oliveira olha a barranceira para ver a situação, o vejo se levantar e pedir para isolar a área, pediu as pessoas para se afastarem, mas não impediu que eu pudesse escutar os burburinhos, ouvi alguém dizer que meu doce Andrew estava morto, entrei em mais desespero ainda e tentei inutilmente me levantar e me mover.

- Ashley não se mecha, você está muito ferida

- por favor, por...Por favor ajuda meu noivo, acabamos de nos casar, salva ele por favor.

O soldado acariciou meu rosto tentando me acalmar, mas a dor em meu peito é imensa, parece que parte de mim está morrendo, como se a escuridão estivesse me puxando, me absorvendo, meu corpo dói mais ainda, mas sou incapaz de gritar, sinto como se tudo estivesse ficando fora de foco e minha voz estivesse sendo roubada, acabei desmaiando justamente quando o socorro estava chegando.

Não fui capaz de ouvi mais nada, nem mesmo ver mais nada, eu havia perdido muito sangue e a dor estava mais intensa, o que deve ter me feito perder a consciência.

***

5 anos depois...

- Ashley você vai trabalhar hoje?

- vou sim Yuna, você vai voltar pra casa hoje ou vai ficar na casa do lucca?

Yuna é minha colega de apartamento, moramos juntas a 2 anos, mas ela vive mais na casa do ficante namorado, do que no nosso apartamento.

- Vou ficar na casa do Lucca, você vai ver o Andrew depois do trabalho?

- vou sim, hoje é nosso aniversário de casamento, hoje faz 5 anos

Yuna por fim sai do banheiro e posso usá-lo, precisamos mudar para um apartamento com suíte, pois ela demora demais no banheiro quando entra.

Faço minhas necessidades e por fim saio de casa, para ir direto para o banco, entrarei mais cedo para sair mais cedo, pego minha bolsa e vou para o banco, vou sempre andando, mas hoje preciso ir de bicicleta, pois vou sair depois, e desde que tive aquele acidente com Andrew evito ao máximo andar de carro.

Chego ao banco e dou bom dia a todos, pois já tem cliente na porta esperando por atendimento.

Entro e vou direto ao armário guardar minhas coisas pessoais.

- bom dia Ashley

- bom dia Brunet

- você ficou bonita com esse looke todo pretinho, vai sair depois do trabalho?

- vou sim, tenho que ir a um lugar encontrar uma pessoa.

- vai arrasar corações.

Brunet estava muito animada, mas eu não estava tão animada como ela.

Me encaminhei até minha mesa e comecei a fazer meu trabalho.

Queria adiantar o máximo que pudesse para sair a tempo, inclusive avisei o gerente que hoje sairia mais cedo, pois tinha um compromisso inadiável.

No final do expediente peguei minhas coisas para me retirar, mas o gerente acabou me pedindo para atender mais um cliente, então tive que deixar minhas coisas no armario novamente.

Ao voltar a minha mesa percebi que era um policial, estava todo fardado, ao me sentar olhei para seu nome em sua farda, estava escrito soldado Oliveira, seu rosto me parecia familiar, ele é um homem muito bonito, com certeza as meninas teriam adorado vê-lo, mas elas saíram mais cedo.

- em que posso ajudá-lo Sr. Oliveira?

- gostaria de fazer um financiamento

- Só me diga um valor, que vejo o que posso fazer pelo Senhor.

Ele não tirava os olhos do meu crachá, me senti desconfortável.

- me empresta seu documento de identidade

Ele tirou a carteira do bolso, revirou até achar o documento, me entregou e dei uma boa olhada, será que poderia ser ele o policial que me salvou?

- conheço o senhor de algum lugar?

Perguntei meio incrédula com a situação, mas já quase me arrependendo da pergunta.

- Talvez, a uns 5 anos atrás conheci uma pessoa com o nome igual ao seu, e foi uma jovem durante um acidente

Quase não acreditei, ele era o policial que cuidou de mim no local do acidente.

- já faz tanto tempo, nunca imaginei que fosse reve-lo

- nem eu acreditei que fosse reve-la, quero dizer, não imaginei que trabalhasse em banco

- não tive a oportunidade de agradecer aquele dia, mas obrigada Rafael por ter cuidado de mim

- de nada Ashley, fico feliz que tenha ficado bem.

Ele é um homem bonito, cabelo preto, olhos castanhos claros, boca rosada, pele branca, levemente bronzeada, sorriso bonito e uma cara de safado.

- Senhor Rafael o pedido foi aceito, entrou em analise, tera que voltar semana que vem e trazer alguns documentos.

Passei a lista de documentos, ele me agradeceu então se retirou, peguei minhas coisas e sai as pressas, pois estava ficando muito tarde. Sai do banco e fui direto ao encontro do Andrew, ir de bicicleta é mais rápido do que a pé.

- esta tarde Ashley, esse ano não trouxe flores?

- esse ano não deu para trazer senhor Joaquim, tive um pequeno imprevisto

Entrei no cemitério e fui direto ver o Andrew, sentei perto de sua lápide, fiquei olhando sua foto por um tempo, parece que foi ontem que nos casamos.

- meu amor por que me deixou? Sinto tanto a sua falta, quando me sento na varanda de casa ainda sinto que vai chegar a qualquer momento, parece que estou vivendo um pesadelo e que vou acordar a qualquer momento

Choro feito uma criança, meu coração nunca se curou nesses 5 anos, ele se foi e levou parte de mim, desde aquele maldito acidente.

Não tivemos tempo de viver nada, nosso casamento mau começou e logo terminou.