Felipe Franco é um investigador da Polícia Federal, um integro jovem que busca desvendar todos os supostos crimes que são colocados em sua frente. Natural de Serra da Liberdade, uma pacata e aconchegante cidade de Minas Gerais. Torcedor fanático do Fluminense, ele nunca pensou que moraria na Capital Fluminense, mas agora o destino o leva para o Rio de Janeiro e para maravilhas e dramas que esse lugar traz. Rubens Barros é um jovem aventureiro que saiu do Brasil para estudar finanças, mas voltou formado em Moda e sendo um dos melhores estilistas da Universidade que estudou em Paris. Ele sabia que seu destino era se tornar Dono do Morro da Comunidade Fabiana, mas ele não queria essa vida. Com a morte da sua irmã, ele foi obrigado a assumir o morro que sempre foi comandado pela Família Barros. Felipe é designado para investigar a Comunidade Fabiana, o morro que por anos viveu pacífico, mas que é um dos lugares com mais fornecedores de drogas e armas ilegais. Ele achava que deveria investigar Fabiano, o pai do Rubens, mas ele não contava que outra pessoa agora se intitulava dono do morro, e estranhamente era alguém que mexia com seus pensamentos que até então era algo novo, pois nunca se sentiu atraído por um homem. Rubens nunca sentiu interesse por alguém do mesmo sexo que ele, mas encarar os olhos azuis do Felipe estava se tornando o melhor momento do dia. O contato entre eles se torna mais frequentes, as faíscas da perdição vão deixando tudo mais sério e prazeroso, enquanto os medos e inseguranças decidem se isso é somente desejo ou pode se tornar ardente como o fogo. Traições e sofrimentos são fortes emoções que rodeiam os dois, mas o carinho e cuidado talvez sejam levados em conta na cartada final.
FELIPE
Eu sempre fui uma pessoa apegada a família, mas a primeira vez que tive que sair da minha saudosa cidade no interior de Minas Gerais, eu me tornei alguém que não cria raízes.
Sinto saudades da minha família, mas eu sempre ligo para minha mãe, meus irmãos e o meu padrasto, que eu chamo de pai, na verdade ele sempre foi o meu verdadeiro pai.
Jorge é o meu genitor, mas ele e a minha mãe nunca se casaram, e depois que ele formou uma nova família, a gente perdeu um pouco do contato, principalmente por sua religiosidade e ele não aceitar que eu sou um policial.
Assim que me formei em Direito na UFJF, com vinte e dois anos, eu fiz o concurso para PF, e eu fui aprovado em terceiro lugar, foi uma felicidade para minha família materna, e demorou apenas um ano e meio para que tomasse posse, podendo assim escolher ficar na Capital mineira.
Agora as coisas mudaram, e eu terei que passar um tempo no Rio de Janeiro, não sei quando e se um dia voltarei para a unidade que estou desde quando me tornei policial.
Ontem foi a despedida com os meus colegas, várias pessoas especiais, que passei mais de três anos.
- Eu acho que devemos terminar dessa vez. - Vitória fala quando fecho a minha terceira mala.
Vitória foi minha primeira e única namorada, estamos juntos desde a faculdade, mas ela não parece animada com minha partida para outro estado, e eu nem a julgo, pois se fosse ela, eu também não estaria bem.
Olho a mulher loira de cabelos cacheados, a mesma garota que me conquistou no início da faculdade e que eu amo muito.
Vitória veio morar comigo há dois meses, mas eu ainda não sabia que seria transferido. E agora nossas brigas são constantes, pois ela está construindo sua carreira em BH, e não aceitou ir embora comigo, mas não queria que eu fosse também.
- Vitória, eu não quero brigar no meu último dia aqui. - Me sento na cama, e ela suspira.
- Eu vou sair um pouco. - Ela avisa, pegando sua bolsa e a chave do carro, e saindo do quarto.
Olho pela janela do apartamento, e eu suspiro, pois não terei mais essa vista, pelo menos não por enquanto.
Eu comprei esse apartamento depois de um ano morando aqui, e não vou desfazer dele, pois a Vitória vai continuar morando aqui, e talvez a Cecilia, minha irmã mais nova, virá no próximo ano morar aqui para estudar.
Mesmo ficando um pouco mais distante da minha família materna, eu vou conviver com os gêmeos, Fernando e a Ananda, os filhos de vinte e três anos do meu pai biológico, que felizmente não são como nosso pai.
Antes que eu fizesse um ano de vida, o meu pai biológico, deixou a pacata cidade de Serra da Liberdade para morar no Rio de Janeiro, e assim conheceu a mulher da sua vida, Sheila, que eu particularmente gosto muito, só merecia alguém melhor do que ele.
Até os meus dezessete anos, eu me dava bem com meu pai, mas depois que entrei na faculdade de Direito e falei que queria ser policial, ele veio com sermões que me estressava cada dia, e no fim cada um seguiu seu caminho, conversando somente em datas comemorativas.
Volto para cama, e sei que estou pensativo sobre minha viagem, mas eu não queria terminar com a Vitória, estamos juntos há mais de oito anos, e eu acho que me casarei com ela um dia.
Meu celular começa a tocar, e dou um sorriso quando vejo a foto da minha mãe, e assim que atendo a chamada de vídeo, ela me acena com um sorriso.
- Oi, filho. - Encaro seus olhos azuis, exatamente como os meus, e eu mando um beijo para ela.
- Oi, minha rainha.
Minha mãe, Luiza, tem apenas quarenta e cinco anos, ela brinca que eu fui seu presente de aniversário de dezoito anos, pois eu nasci um dia antes dela completar tal idade.
Às vezes eu sentia que a minha chegada atrapalhou a vida da minha mãe, mas ela sempre deixou claro que eu fui um lindo presente em sua vida.
Mamãe não aceitou se casar com Jorge, mesmo os meus avós quase a obrigando. Ele sempre fez sua obrigação como pai, mas ele também nunca quis se casar com minha mãe, o que foi bom, pois hoje ela é mais feliz com meu pai Carlos.
- Que carinha de tristeza é essa?
Faço careta com sua pergunta, mas me ajeito na cama para explicar melhor o que está acontecendo em minha vida.
- Vitória não aceita a minha ida, ela falou em terminar. - Conto, e ela revira os olhos.
- Vocês estão juntos há quase dez anos, eu também terminaria com você. - Ela brinca, mas sempre há uma verdade em suas palavras.
- Mãe!
- Termine com ela, deixe que a menina encontre alguém que ame. - Ela pede.
- Eu a amo! - Resmungo, e ela me encara e sei que está com as mãos na cintura.
- Rio de Janeiro é um pouquinho longe.
- Mamãe! - Falo mais manhoso, e consigo ouvir a risada do meu pai, e sei que ele está escutando tudo.
- É sério, Felipe, eu não estou brincando, você tem quase trinta anos...
- Mamãe, eu acabei de completar vinte e sete anos! - A corto, e ela me encara com raiva.
- Vai me deixar terminar?
Sua voz parece brava, e eu dou de ombros, como se não tivesse escolha, pois ela falará de qualquer forma.
- Sim, mamãe.
- Vocês estão em situações diferentes, se estão brigando tanto, precisa que algo seja resolvido, então deixe ela livre para pensar no que fazer. Se vocês voltarem um dia, talvez seja para a vida. - Ela me encara profundamente, eu fecho meus olhos, passando as mãos pelos meus cabelos.
- Tudo bem, vou esperar ela chegar e conversaremos melhor. - Falo, e meu pai surge na tela.
- Escute sua mãe, ela sabe das coisas. Quando tiver um jogão do seu tricolor com meu Mengão, eu estarei em sua casa. - Ele informa e eu mando um beijo para ele.
- Com certeza vou adorar ver o Fluminense acabando com seu time. - Provoco, e ele manda dedo, me fazendo gargalhar.
- Veremos, merdinha!
Agora sou eu que devolvo o dedo do meio para ele que desaparece da tela rindo.
- Corte esse cabelo. - Mamãe exige, e eu nego com a cabeça.
- Deixe seus cabelos desse jeito, igual do seu pai. - Papai grita de algum lugar, eu gargalho quando minha mãe revira os olhos.
Eu tinha cabelos curtos, mas depois que deixei meus cabelos crescerem, nunca mais os cortei, eu me sinto bonito e fico parecido com meu pai, assim como ele mesmo mencionou.
- Faça o que achar melhor.
Ela desliga antes que eu posso perguntar sobre a Cecilia, e eu apenas suspiro, voltando para as malas.
Ananda me ajudou arrumar um apartamento que estivesse tudo que precisasse, o lugar fica no mesmo prédio que ela mora com o namorado, para o desespero do meu pai, que não aceita que sua linda filha esteja cometendo fornicação.
Jorge é um cantor gospel, vive viajando o Brasil, e até foi no ano passado para alguns países europeus, e ele quer que todos os seus filhos não cometam pecado, mas isso é impossível, somos pecadores.
Fernando é o único filho que vai na igreja, mas ele é diferente do Jorge, e não vai na mesma igreja do pai, ele é da Adventista, e ainda assim recebe críticas do senhor perfeição.
Escuto o conselho da minha mãe, e mando uma mensagem para Vitória, avisando que precisamos conversar.
Como sou péssimo na cozinha, e vivo pedindo comida, eu peço algo que a Vitória goste. Levo minhas coisas para o outro quarto, pois não iremos mais compartilhar a cama hoje, e talvez nunca mais.
Assim que vejo a porta se abrindo, eu me levanto do sofá, e abro meus braços para ela que caminha em minha direção.
- Desculpe, eu estava muito chateada. - Ela começa a chorar, e eu inclino sua cabeça para beijar sua testa.
- Você tem razão, devemos terminar. - Falo, e ela me aperta em seus braços.
- Não, assim que possível, eu vou viajar para o Rio. - Ela promete, eu nego.
- Você merece mais, Vivi.
Ela chora um pouco, e eu a ajudo se sentar no sofá, abraçando carinhosamente, esperando que ela fique bem para encerrar nossa história.