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As mil partes do meu coração - Collen Hoover

As mil partes do meu coração - Collen Hoover

Ctaylisee

5.0
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5
Capítulo

Nem todo erro merece uma consequência. As vezes a única coisa que ele merece é o perdão. Os Voss são uma família peculiar e cheia de segredos. Eles moram em uma antiga igreja, batizada de Dólar Voss. A mãe, curada de um câncer, vive no porão, e o pai e o restante da família, no andar de cima. Isso inclui sua nova esposa - ex enfermeira da ex mulher-, o pequeno Moby, fruto desse relacionamento, o filho mais velho, Utah, e as gêmeas idênticas Merit e Honor. E, como se a casa já não tivesse cheia o bastante, ainda chegam o excêntrico Luck e o misterioso Sagan. Mas Merit sente que é o oposto de todos ali, que sempre está fazendo algo de errado e, consequentemente, que algo de ruim está acontecendo com ela. Além de colecionar troféus que não ganhou, Merit também coleciona segredos que sua família insiste em manter. Assim começa a acreditar que não seria uma grande perda se um dia ela desaparecesse. Mas, antes disso, a garota decide que é hora de revelar as verdades mais sombrias da família e obrigá-los a, enfim, encarar o que aconteceu. No entanto, seu plano não sai como esperado e ela deve decidir se pode dar uma segunda chance não apenas à sua família, mas também a si mesma. As mil partes do meu coração mostra que nunca é tarde demais para perdoar e começar a construir pontes.

Capítulo 1 Antiquário

Tenho uma coleção impressionante de troféus que não ganhei. A maioria foi comprada por mim em brechós ou vendas de garagem. Dois deles ganhei do meu pai no meu aniversário de 17 anos. Só um deles eu roubei.

Meu troféu roubado deve ser o que eu menos gosto na minha coleção. Eu tirei do quarto de Drew Waldrup logo depois que ele terminou comigo. Namoramos por dois meses e foi a primeira vez que deixei que ele passasse a mão sob a minha blusa. Eu estava pensando que seria bom, quando ele baixou os olhos para mim e falou: " Acho que não quero mais namorar você, Merit."

Lá estava eu, curtindo sua mão no meu peito, e enquanto isso ele pensava que jamais ia querer pôr a mão em meu peito de novo. Enfurecida, deslizei o corpo por debaixo do dele e me levantei. Depois de ajeitar a blusa, fui à estante de Drew e peguei o maior troféu que ele tinha. Ele não disse uma palavra. Imaginei que se ele estava terminando comigo com a mão subindo sob a blusa, pelo menos eu devia ganhar um troféu por isso.

Aquele troféu do campeonato distrital de futebol americano foi o começo da minha coleção. A partir dali, passei a escolher troféus ao acaso em vendas de garagem ou brechós sempre que acontecia alguma merda.

Tomei bomba no teste de direção ? Primeiro lugar em arremesso de peso.

Ninguém me convidou par ir ao baile de formatura? Elenco estelar em uma peça de um ato.

Meu pai propôs casamento a amante dele? Campeões do time da liga infantil.

Já faz dois anos que roubei o meu primeiro troféu. Agora tenho doze deles, embora tenha acontecido muito mais do que doze merdas comigo desde que Drew Waldrup decidiu terminar o namoro. Mas é surpreendentemente complicado encontrar troféus indesejados. E é por isso que eu estou aqui, em um antiquário da minha cidade, olhando o troféu de sétimo lugar em um curso de beleza de Dallas de 1972 chamado Botas e Beldades.

Gosto dele pelo ridículo título de beleza, mas o que me faz amá-lo é a mulher banhada a ouro na parte de cima dele. Ela usa um vestido de baile, uma tiara e um par de botas com esporas. Tudo nele é absurdo. Em particular a etiqueta de preço, 85 dólares. Mas estive economizando desde que pus os olhos neste troféu e, enfim, tenho dinheiro para comprá-lo.

Pego o troféu e estou me virando para ir à caixa registradora quando noto um cara no segundo andar do antiquário. Está reclinado na grade e olha fixamente para mim. Seu queixo está apoiado despreocupadamente em suas mãos, como se estivesse há algum tempo nesta posição. Ele sorri assim que nos encaramos.

Retribuo o sorriso, o que é um pouco incomum em mim. Não sou do tipo que flerta e, sem dúvida, não sou do tipo que sabe corresponder quando alguém faz isso. Mas o sorriso dele é simpático e ele nem mesmo está no mesmo andar que eu, assim não me sinto ameaçada por qualquer possível constrangimento.

- O que está fazendo? - pergunta ele de cima.

Naturalmente, olho por cima do ombro para saber se o comentário é para mim. Talvez o cara não esteja olhando em minha direção, mas para outra pessoa atrás de mim. Porém, além de uma mãe que desbrava o antiquário com o filho pequeno, não há mais ninguém. E a mulher e seu filho estão olhando para o outro lado, então ele deve estar falando comigo.

Volto a olhar para ele e o cara ainda está me fitando de cima com aquele mesmo sorriso.

- Estou comprando um troféu!

Acho que gosto do sorriso dele, mas está meio longe para saber se me sinto atraída. Sua confiança é atraente. Ele tem o cabelo preto, meio picotado e bagunçado, mas não estou criticando, porque acho que não penteio o cabelo desde ontem de manhã. Ele veste um casado cinza com capuz, as mangas arregaçadas acima dos cotovelos. Tatuagens cobrem o braço em que seu queixo descansa, mas não consigo distinguir os desenhos daqui de baixo. Deste ângulo ele parece meio novo demais e meio tatuado demais para quem procura antiguidades em uma manhã qualquer de um dia útil, mas quem sou eu para julgar? Neste momento, eu deveria estar na escola.

Eu me viro e finjo fazer compras, mas tenho consciência de que ele me observa. Tento ignorar, mas de vez em quando olho para ter certeza de que ainda está ali. Ele está.

Talvez trabalhe aqui e por isso não vai embora nunca, mas isso não explicaria porque não para de me olhar. Se esta é a ideia dele de sedução, ele seduz de um jeito estranho. Infelizmente, porém, sinto atração pelo que é estranho e pouco convencional. Assim, durante todo o tempo em que percorro a loja, tento fingir que ele não me afeta, quando na realidade estou muito afetada. Sinto seu olhar fixo a cada passo que dou. Os olhares não deviam ter peso, mas meus passos ficam mais pesados só de saber que os olhos dele estão em mim. Até meu estômago parece mais pesado.

Já olhei tudo na loja, mas ainda não quero pagar e sair porque eu estou gostando muito desse jogo.

Sou aluna de uma escola pública muito pequena que fica em uma cidadezinha muito pequena. Quando digo pequena, estou sendo generosa. A média é de 20 alunos em cada série. Não de cada turma. Na série.

Minha turno do último ano inteira consiste em 22 alunos. Doze meninas e dez meninos. Oito desses dez meninos são da minha turma desde meus 5 anos. Isto estreita bastante as opções de namoro. É difícil achar atraente alguém com quem você passou quase todo dia da sua vida desde que se entende por gente.

Mas não sei quem é este cara que faz de mim o centro da sua atenção. O que significa que já me sinto mais atraída por ele do que por qualquer outra pessoa de toda a minha escola, simplesmente porque não o conheço.

Paro em um corredor que proporciona uma visão livre de onde ele está e finjo me interessar por uma das placas exibidas em uma prateleira. É uma antiga placa branca com a palavra BURACO e uma seta apontando para a direita. Ela me faz rir. Ao lado dela, está uma placa antiga que parece de posto de gasolina. Diz LUBRIFICANTES. Isso faz com que eu me pergunte se alguém juntou de propósito as placas sexualmente sugestivas ou se foi por acaso. Se eu tivesse dinheiro, compraria as suas e começaria uma coleção de placas sexualmente sugestivas para o meu quarto. Mas meu hábito com os troféus já é bem caro.

O garotinho que esteve andando pela loja com a mãe agora está parado perto de mim. Ele parece ter 4 ou 5 anos. A idade do meu irmão mais novo, Moby. A mãe disse a ele, pelo menos dez vezes, para não tocar em nada, mas ele pega o porco de vidro que está na prateleira a nossa frente. Por que as crianças são atraídas por objetos frágeis? Seus olhos brilharam enquanto ele examina o porco. Fico satisfeita em saber que sua curiosidade seja mais importante para ele do que obedecer às ordens da mãe.

- Mãe, posso ficar com isso?

A mãe está em um corredor vasculhando uma prateleira de revistas antigas. Nem mesmo se vira para ver o que ele tem nas mãos. Simplesmente diz: "Não".

Prontamente vai uma sombra nos olhos do menino e ele franze a testa quando vai devolver o porco à prateleira. Mas suas mãozinhas se atrapalham quando ele tenta baixar o objeto e o porco escorrega, espatifando-se a seus pés.

- Não se mexa - digo a ele, alcançando o menino antes de sua mãe. Abaixo-me e passo a catar os cacos de vidro.

A mãe pega no colo e o coloca a alguma distância para que ele fique fora do alcance do vidro.

- Eu te falei para não tocar em nada, Nate!

Dou uma olhada no garotinho e ele encara os cacos de vidro como se tivesse perdido o melhor amigo. A mãe coloca a mão na testa como quem está exausta e frustrada, depois se abaixa e me ajuda a catar os cacos.

- Não foi ele que fez isso - digo a ela. - Fui eu que quebrei.

A mulher olha novamente o filho e o garotinho me olha como se não soubesse se isso é um teste. Dou uma piscadela para ele antes de ela se virar de volta pra mim e digo:

- Nao o vi aqui. Esbarrei nele e caiu.

Ela fica surpresa e talvez até sinta meio culpada por pressupor que aquilo tenha sido obra do filho.

- Ah - diz ela.

Ela continua a mãe ajudar a pegar os pedaços maiores de vidro. O homem que estava na caixa registradora quando entrei aparece do nada com a vassoura e uma par de lixo.

- Vou tirar isso daqui - diz ele. Mas entao aponta uma placa na parede que diz QUEBROU, PAGOU.

A mulher segura a mão do garotinho e se afasta. O menino olha por cima do ombro e sorri pra mim, e graças a isso sinto valer a pena ter assumido a culpa. Volto minha atenção para o homem da vassoura.

- Quanto custa?

- Quarenta e nove dólares. Mas só vou cobrar trinta de você.

Deixo um suspiro escapar. Já não tenho tanta certeza se o sorriso do garotinho vale trinta dólares. Devolvo meu troféu de beleza a seu lar e tiro da prateleira um troféu muito mais barato e muito menos atraente. Levo até o caixa e pago pelo porco quebrado e pelo meu troféu de primeiro lugar no boliche. Quando o homem me entrega a sacola e o troco, vou para a porta. É no momento em que abro a porta que me lembro do cara estava observando da grade do segundo andar. Olho para cima antes de sair pela porta, mas ele não está mais lá. De algum modo, aquilo faz com que me sinta mais pesada.

Saio da loja, atravesso a rua e vou a uma das mesas perto da fonte. Morei toda a minha vida no condado de Hopkins, mas raras vezes estive na praça. Não sei o motivo, porque meu amor por ela se solidificou quando colocaram as estranhas placas de cruzamento de pedestres. As placas exibem a imagem de um homem atravessando a rua, mas sua perna é alta demais e é exagerada a tal ponto que pode passar por uma saída boba de um episódio do Monty Python.

Também existem dois banheiros que a prefeitura instalou alguns anos atrás. Eles têm duas estruturas de vidro que parecem cubos altos de espelhos se vistos de fora, mas quando você está dentro consegue enxergar do lado de fora. É perturbador que uma pessoa possa sentar na privada, fazendo suas necessidades, enquanto vê os carros passarem. Mas sinto atração por coisas incomuns, então sou uma das poucas pessoas que provavelmente têm orgulho dos banheiros estranhos.

- Para quem é o troféu?

E por falar na atração a coisas estranhas

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