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A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
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Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
A ex-mulher muda do bilionário
Um vínculo inquebrável de amor
09 de maio de 2007
Existem três tipos de homens: os que têm algo pelo que viver; os que têm algo pelo que
morrer; os que têm algo pelo que matar...
Eu sou os três.
Theodore Berrychoth fez questão de se assegurar disso. Dia após dia, descontando seus
negócios falidos com a fivela do cinto, rasgando minha carne a cada vez que o metal frio a
atingia.
Seu maldito cheiro familiar já se misturou tantas vezes ao ferroso do meu sangue a ponto
de parecerem uma coisa só.
Um sendo a consequência do outro.
Se eu pudesse aspirar o seu perfume cítrico, saberia que em breve meu sangue respingaria
pelo chão da sala... ou do quarto... ou da garagem... ou da cozinha...
Quando criança, comecei a respirar fundo sempre que o som da porta da frente de casa
soava. O baque surdo, o arranhar das suas botas pesadas no chão de madeira polido ou seus
berros chamando minha mãe eram gatilhos para eu segurar o ar por entre as paredes altas e
brancas do meu quarto, me agarrando a uma lógica infantil como um pagão proclama sua crença,
esperando perdão: Se eu não sentisse o seu cheiro, seu cinto não cortaria a minha carne.
Mas, independente de prender o ar até milhares de pontos pretos começarem a aparecer
para onde eu olhasse, meus lençóis ainda eram trocados todos os dias, escondendo as rajadas
avermelhadas dispostas no tecido.
Em um looping sem fim.
Tão comum quanto o som da mamãe tocando piano.
Tão comum quanto o cheiro de bolo de chocolate em todo café da manhã.
Tão comum quanto as cicatrizes nas minhas costas.
Elas mal se tornavam brancas para receber outro golpe e, mais uma vez, ganhar tons entre
o vermelho e o roxo.
Isso é para eu nunca esquecer o peso do seu fracasso.
Ou seus sussurros manipuladores a cada gota de sangue escorrida, destacando minha
inferioridade perante a todo o poder e mão de ferro usada entre seus homens.
Aos seus olhos azuis-acinzentados, eu era fraco.
Theo só não bostejava sobre eu ser um bastardo de sangue impuro, pois meu rosto era
uma cópia fiel e ingrata do seu. O mais parecido dentre todos os meus irmãos.
E o único acostumado com o seu olhar enrugado e o rangido incomodante de seu queixo
após cada surra, desde os primeiros passos. Sempre senti o peso da sua mão antes dos meus
irmãos. Theo gastava toda a sua força e vitalidade em mim, chegando ao limiar da fadiga para
sequer terminar em qualquer um deles.
Eu preferia assim.
Ninguém deveria saber o real peso da mão de Theodore Berrychoth.
A não ser eu.
O mais velho dos irmãos.
A função de protegê-los do limbo de crescer sobre as mãos manipuladoras do nosso pai
era minha. Nathaniel e Matteo nunca deveriam pensar que tinham culpa ou que eram péssimos
filhos.
Porque meus irmãos não eram iguais a mim.
Eles não sabiam ser castigados em silêncio.
Seus lamentos baixos ou chiados de dor só faziam a força de Theo aumentar contra seus
corpos novos.
Eu estava ajoelhado aos pés do meu pai, mais uma vez, por eles.
Para livrá-los disso. — Sua necessidade de proteger seus irmãos irá torná-los fracos — rosnou ao pé do meu
ouvido. — E você será o culpado por suas mortes, Nicolas. É isso o que quer?
Meus punhos se fecharam, forçando o pulso nas correntes de metal, como se fossem
pulseiras de ouro. O único sinal de rebeldia demonstrado diante dos seus passos ao meu redor.
Por mais que o ódio borbulhasse nas veias, pedindo para descontar em seu corpo fraco e
magricelo perante a mim, cada um de seus socos sinalizava uma hierarquia, a qual permitia
Theodore fazer o que quisesse comigo.
Afinal, ele tinha seus direitos de pai e um pai sabia muito bem como educar sua prole. E
repetiu isso em todos os poucos questionamentos maternos recebidos durante a minha infância.
Quando se irritou, na terceira tentativa de Aria, minha mãe, de intervir, deu-lhe um tapa tão forte
em seu rosto fino que nem mesmo as mais caras tinturas conseguiam cobrir a mancha arroxeada
no alto da bochecha dela.
No dia seguinte, Aria ganhou um colar de esmeralda com pedras tão grandes que
pareciam uvas. E ele nunca mais foi questionado sobre os seus métodos. — Está querendo bancar o super-herói, imbecil? — Não. — Mordi a parte interna da boca. — Só ser mais decente do que você!
Minhas palavras escaparam com naturalidade, assim como foi natural eu cuspir o sangue
e a saliva perto dos seus pés depois de seu punho encontrar seu caminho certeiro até a minha
mandíbula mais uma vez. — O que ganha com isso, Nicolas? — pausou, sem concluir. — Quer ser mais decente do
que eu, mas o que você tem para tal? Carinho dos seus irmãos, pena da sua mãe, o que mais? É
isso o que vale a sua decência? Atenção?! — Respeito.
Um silêncio sepulcral tomou a arena, fazendo meus olhos irem até o seu rosto e
presenciar o exato momento em que Theodore não riu. Ele gargalhou.
Movimentando seus ombros pela força de sua risada. — Moleque, eu que tenho respeito. — Neguei com a cabeça.
Meu pai não tinha o respeito de ninguém, o medo só estava a seu favor.
E só comprovou isso quando o movimento negativo da minha cabeça foi freado com
brusquidão por seus dedos pinçando meu queixo. Ele puxou, não só o meu rosto para a frente,
como o meu corpo todo, deixando meu peso se pendurar totalmente nas correntes em volta dos
pulsos. — Olhe para a frente — ordenou. O barulho da areia chutada por suas botas penetrava
meus ouvidos na mesma intensidade que os berros de seus homens sentados na arquibancada
para assistir o show de um pai exterminando a vida de seu filho. — Eles temem o meu nome,
Nicolas. Eu mando e eles obedecem. Eles não me questionam. — Isso não é lealdade, isso é medo.
Seus lábios voltaram a se repuxar, com um único entreolhar e meneio de cabeça, um de
seus homens andou para fora da arena.
Pela primeira vez na noite, eu o temi.
Eu sabia o que isso significava.
O que aquele soldado iria buscar.
Quem. — Não, querido filho… — Theodore forçou um falso carinho na voz. — Isso é
obediência! Algo que, se continuar agindo como um fraco de merda, nunca irá conseguir ter de
nenhum deles.
Bufei falsamente, segurando o instinto de revirar os olhos.
Me mostrei mais uma vez o garoto rebelde para aplacar a ansiedade percorrendo cada
centímetro meu. Esperava seu foco nas minhas atitudes supérfluas para mascarar todos os
segundos olhando para onde o seu soldado saiu e só voltaria quando estivesse com o meu irmão
mais novo a rebote. — E algo que, pelo visto, eu falhei muito em te ensinar também.
Ah, esse é só o primeiro item da lista.
Theodore se afastou até alcançar as grades de metal que nos cercavam e atirei meu peso
de volta aos joelhos de pele desgastada, irritado com os círculos vermelhos e flamejantes
contornando a carne dos meus pulsos. As lacerações demorariam algumas semanas para se
tornarem linhas brancas.
Por outro lado, a dor já era tamanha que as pequenas queimaduras de atrito com o metal
nem causavam tanto efeito, perto do espetáculo montado por meu pai. Já durava horas. Ao
menos, meu corpo sentia como se horas infernais tivessem passado por ele.
Eu estava deplorável.
Talvez só não pior do que a mediocridade da arena. Ela se assemelhava a um coliseu
romano com grades do teto ao chão, prendendo quem fosse lutar em um fosso sem saída. Era
grande e, mesmo assim, calorenta. O chão de uma areia um dia branca, mas, hoje, tão escura
quanto o moletom rasgado protegendo a parte inferior do meu corpo.
A parte superior estava suspensa por uma corrente que vinha do teto, os braços presos
para o alto e eu ajoelhado no meio do coliseu particular de Theodore.
Os gritos aumentaram à nossa volta, eram ensurdecedores. Esperava assistir meu pai
vindo em minha direção, querendo testar mais um de seus brinquedinhos cortantes, mas ele
andou para o lado oposto.
Bom, eu deveria agradecer ou qualquer coisa semelhante a isso, se não tivesse visto o
meu irmão de quatro anos entre as passadas de suas pernas, ajoelhado e preso como eu.
A insegurança contraiu as minhas entranhas, logo tornando-se violenta. — Você está aqui, Matteo, por culpa do seu irmão, que é incapaz de calar a boca e aceitar
que eu eduque vocês. Então, quando chorar — Theodore puxou os cabelos castanhos-escuros do
meu irmão para trás —, lembre-se de quem é a culpa... dele.
Apontou para mim com o dedo em riste e em seguida começou a desatar a fita de couro
presa em seu quadril com calma. Observei quando os músculos de Matteo vibraram sob a camisa
desgastada. Lágrimas grossas banharam o rosto jovem à espera da dor.
Ela veio seguida do estalo de couro no ar.
Nosso pai levantou a mão uma segunda vez, mas não bateu. Ainda.
— Sabe… bater em você, Nicolas, nunca solucionaria, não quando você não sente mais o
peso correto da minha mão pelo costume. Mas nesse pequeno pirralho, ou no outro? Isso me
daria muito mais resultado. Assim, você irá aprender.
Mesmo de longe, arreganhei os dentes e impulsionei meu corpo para a frente, remexendo
os braços na tentativa inútil de me soltar. — Prometo que, na próxima, o couro estará encerado para os estalos serem mais altos,
querido filho! — E desceu o cinto. — Ainda irá insistir em me desobedecer, Nicolas?
Avancei mais uma vez, sentindo minha mão travar nas algemas metálicas. — Creio que isso seja um sim!
Minha respiração estava ofegante ao som do terceiro estalo.
Toda atitude possui uma consequência, Theodore sempre disse.
Matteo estava pagando por mim, porque eu não queria vê-lo sofrendo.
Todo o meu esforço não tinha adiantado de nada. — Tire a blusa, Matteo. Agora.
Theo não gritava. Nunca.
Eu também não. Mas, agora, ansiava por isso.
Queria mandá-lo parar e me colocar no lugar de Matteo.
Eu queria matá-lo.
Meu irmão levou seus pequenos dedos aos botões da camisa, tremendo.
E eu fechei os olhos, respirando fundo.
Eu iria matá-lo.
Matteo era somente uma criança.
A adrenalina correu solta pelo meu corpo.