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Capítulo

"Desejo Súbito" mergulha nas reviravoltas intensas da vida de Rafaela, filha de um respeitado chefe de investigações, cuja existência é drasticamente transformada pela misteriosa morte de seu pai em um acidente de carro. Com sua mãe em coma, decorrente do mesmo incidente, as suspeitas de um crime premeditado pairam sobre a tragédia, instigando Rafaela a buscar uma válvula de escape em uma jornada em direção ao desconhecido, ansiosa por recomeçar. Nesse caminho inesperado, Rafaela cruza destinos com Gael, um ex-mafioso que deixou para trás um passado sombrio para se tornar um CEO de sucesso na indústria hoteleira. Quando uma tentativa de abuso resulta em tragédia, Rafaela se vê envolvida em um turbilhão de segredos, vinganças e paixões proibidas. Gael, impulsionado pela descoberta de que o irmão de Rafaela está vinculado à morte de seu próprio pai, inicia uma perigosa busca por retaliação. No entanto, suas intenções se desviam ao se deparar com uma atração irresistível por Rafaela. O que começa como um jogo perigoso de sedução rapidamente se transforma em um romance ardente e proibido. No epicentro de suas vidas tumultuadas, Rafaela e Gael enfrentam obstáculos inesperados, navegando por uma teia intrincada de conspirações, traições e revelações surpreendentes. Descobrirão que o amor verdadeiro pode surgir nos lugares mais inusitados, desafiando as expectativas e lançando luz sobre um futuro incerto. "Desejo Súbito" é uma narrativa envolvente que explora a força do amor diante das complexidades do passado, desvendando os mistérios da vida e do coração.

Capítulo 1 Sorte ou azar (Parte 1)

RAFAELA

Mais um feriado de Corpus Christi desenrolava-se, e celebrar esse dia com toda a família reunida já era um ritual estabelecido. Contudo, de maneira abrupta, tudo mudou. Aquela data se tornou uma das piores da minha vida, e, sinceramente, eu não sabia como superaria a perda do meu pai. Quem poderia imaginar que o perderia em um terrível acidente de carro? Desolada, retornei para casa após o ato fúnebre. "Sem dúvidas, o funeral dele ficará marcado para sempre na minha memória!", ponderava. A polícia suspeitava que aquele misterioso acidente tinha motivações criminosas, iniciando uma investigação para verificar a fundação dessa teoria. Eu acreditava firmemente que os investigadores estavam certos. Certamente, aquele acidente poderia ter sido criminoso, dado o fato de meu pai ser um excelente motorista, incapaz de perder facilmente o controle do carro. Talvez sua posição poderosa como chefe do departamento de investigação da polícia federal tenha contribuído para a tragédia. "Tenho certeza que esse cargo pode ter levado meu pai à morte!", pensei. Minha mãe também estava no carro e, felizmente, sobreviveu, mas estava internada em coma fisiológico. O médico mencionou que a pancada que ela levou na cabeça quase foi fatal. Ela ainda não sabia que havia perdido o homem que mais amava. A casa, antes cheia de risos e calor humano, agora estava envolta em um silêncio sombrio. As lembranças do último feriado de Corpus Christi pareciam agora uma cruel ironia. Enquanto eu tentava lidar com a dor da perda, as perguntas sobre as circunstâncias do acidente pairavam incessantemente em minha mente. Cada detalhe do funeral, desde as condolências dos amigos até o som solene dos passos dos carregadores de caixão, era uma representação dolorosa da realidade. A incerteza sobre a natureza do acidente apenas intensificava minha angústia. Eu me encontrava mergulhada em um turbilhão de emoções, lutando para aceitar que o meu pai, um homem íntegro e dedicado à justiça, havia sido tirado de nós de maneira tão abrupta e inexplicável. Enquanto aguardava notícias sobre a investigação policial, eu me via revivendo os momentos felizes que compartilhamos como família. À medida que minha mãe lutava pela recuperação, o peso da responsabilidade recaía sobre meus ombros. Eu me via confrontada não apenas com a perda irreparável, mas também com o desafio de manter as forças intactas diante daquela circunstância. A partir daquele dia, éramos apenas eu e meu irmão Guilherme. Com vinte e seis anos, ele sempre foi uma figura misteriosa, mas ainda assim, um bom irmão. Embora não fôssemos muito próximos, ele era o único familiar que me restava. Seu pior defeito sempre foi querer ser protetor além do limite, mas eu não o julgava, considerando sua posição como o mais velho. Naquele momento, ele era meu único apoio. Havia descoberto recentemente que Guilherme seguia os passos de nosso pai, trabalhando para a polícia federal. Ele pensava que eu não sabia, e eu preferia que continuasse assim. Nunca concordei com seu envolvimento no mundo da investigação, especialmente porque antes da morte de nosso pai, nossa família sofria constantes ameaças. No entanto, Guilherme já era um homem adulto, e eu respeitava suas escolhas. Após a morte de nosso pai, Maia, noiva de Guilherme, iria morar conosco, oferecendo apoio emocional. Eu estava perdida, parada no tempo, sem saber o que o futuro me reservava. Dias e noites de angústia se sucediam, chorava em um profundo silêncio. Somente eu sabia a magnitude da dor que sentia. Não seria uma tarefa fácil, pois nunca tinha ficado longe dos meus pais por muito tempo. Estava acostumada a não ter Guilherme por perto, pois ele nunca tinha o costume de permanecer em casa. Sua presença era estranha quando decidia voltar. As paredes da casa pareciam ecoar com a ausência do riso de meu pai e dos passos animados de minha mãe. O ambiente que antes irradiava calor e segurança agora se tornara uma sombra de lembranças felizes. Guilherme, mergulhado em sua própria dor, tornou-se mais reservado do que nunca. Seus olhos, outrora cheios de determinação, agora refletiam uma tristeza profunda. Eu podia sentir que, assim como eu, ele carregava o peso da incerteza sobre a morte de nosso pai. Em meio a esse turbilhão emocional, a presença de Maia trouxe uma sensação de normalidade à casa. Seu cuidado e compreensão suavizaram um pouco a dor que todos compartilhávamos. No entanto, a sombra da investigação pairava sobre nós, e eu não conseguia ignorar a ansiedade que crescia cada vez que Guilherme saía para cumprir seus deveres profissionais. Ainda assim, éramos uma família ferida, mas unida pela tragédia. O futuro permanecia incerto, e eu, mesmo perdida em meu próprio luto, estava determinada a tentar sobreviver à minha tormenta. A jornada seria difícil, mas eu encontraria forças onde pudesse para enfrentar os desafios que estavam por vir.

Dois meses após o funeral…

Haviam se passado dois meses desde que perdi meu pai. Ainda sentia uma dor profunda e uma imensa tristeza, mas estava ciente de que só o tempo me curaria. Durante esse período, mal conseguia sair da minha cama. Minha mãe permanecia internada, e as raras vezes que tive coragem de vê-la naquela situação mexeram bastante comigo. O neurocirurgião responsável por seu caso veio até mim ao perceber meu estado de pânico:

— Olá, Rafaela, fique tranquila, em breve ela acordará! — Sentou-se ao meu lado, tentando me confortar.

— Você pode me garantir isso? Já perdi meu pai, não sei se tenho estrutura para suportar mais uma perda! — Enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

— Eu não diria para você ficar tranquila se não soubesse que ela vai acordar, contudo, não posso garantir o dia e a hora que isso acontecerá! Pode ser amanhã ou daqui a um ano, não dá para dizer com precisão! Olha, recomendo que você não venha vê-la com muita frequência, isso não está fazendo bem a você! Prometo que ligarei assim que ela acordar. Tente mudar sua rotina, faça coisas para se distrair! — Aconselhou.

— Me distrair? Como farei isso? — Suspirei.

— Seja criativa, procure algo que te faça bem! — Levantou-se da cadeira onde estava sentado e saiu do quarto.

Permaneci por mais algum tempo ao lado da minha mãe e decidi que era hora de ir embora. Naquela manhã de segunda-feira, após voltar da visita ao hospital, fui direto para casa. Ao chegar, entrei no meu quarto, deitei-me, cobri minha cabeça com o edredom e fiquei pensativa. As palavras daquele médico vieram à minha mente, e num lampejo, sentei-me na beira da cama.

— Estou decidida! — Exclamei em voz alta. O médico estava certo; minha rotina precisava mudar. Não podia mais ficar trancada no quarto o dia todo, senão acabaria caindo em depressão.

Levantei-me da cama, olhei no espelho e passei um batom clarinho. Em seguida, desci as escadas e fui até a cozinha para tomar o café da manhã. Me servi com um copo de leite gelado e observei o jornal do dia sobre a bancada. Peguei o mesmo para dar uma olhada, sentei-me à mesa, cortei um pedaço de bolo de chocolate e comecei a folhear as páginas. Distraída com algumas fofocas das celebridades locais, meus olhos atentos pararam na sessão de vagas de emprego. Ao percorrer as opções disponíveis, me deparei com uma que me interessou bastante; o anúncio dizia: “Contrata-se acompanhante.” Sem experiência anterior, pensei que cuidar de um idoso não seria difícil. “É provável que precise dar banho, alimentar e fazer companhia até que algum familiar chegue!” Pensei. As palavras lidas me deixaram animada. Mal terminei de comer, peguei minha bolsa e já estava prestes a chegar à porta quando a voz do Guilherme me interrompeu:

— Aonde você vai? — Ele perguntou, curioso.

— Vou ver uma vaga de emprego! — Tentei ser breve.

— Vou levar você; depois do que aconteceu com o nosso pai, não quero que fique andando sozinha por aí! Seu “modo super irmão” foi ativado. Após a morte do nosso pai, Guilherme ficou protetor além do necessário, o que estava me irritando.

— Certo, então vamos logo, não quero me atrasar! — Revirei os olhos.

— O correto seria você ficar em casa. O dinheiro que ele deixou é suficiente para nós! — Tentou me fazer mudar de ideia. “Eu sabia que ele não iria gostar!” Pensei.

— É mesmo, querido irmão? E por que você continua tentando entrar para o departamento de investigação? O que nosso pai deixou não é suficiente? — Perguntei, ironicamente, e uma expressão de irritação se formou em seu rosto.

— Não misture as coisas, Rafa. A minha situação é complicada e delicada! — Suas sobrancelhas franziram inesperadamente.

— Isso é sério, Gui? Eu não vou discutir agora; preciso me distrair e quero muito essa vaga. Vamos logo ou irei sozinha! — Abri a porta de casa para sair.

Percebendo que poderíamos passar o dia discutindo, ele liberou um longo suspiro de desapontamento, não argumentou mais e apenas pegou as chaves do carro, dirigindo em silêncio até o local desejado. O ambiente no carro estava tenso, com sentimentos não ditos pairando entre nós. Cada rua percorrida parecia uma extensão da distância emocional que se formava entre mim e meu irmão. O luto e a frustração flutuavam no ar, e o silêncio entre nós era tão denso quanto a tristeza que ambos compartilhávamos.

***

Ao chegar no local indicado no anúncio, senti uma certa desconfiança. Imaginava que seria o endereço de uma casa comum, mas era apenas um imenso galpão. Gui estacionou o veículo e me analisou, visivelmente arisco. Antes que tentasse me convencer a desistir, abri a porta do carro agilmente.

— Ei, pode ficar esperando aqui. Não preciso que me acompanhe! — Apoiei-me na janela para trocar algumas palavras.

— Certo, vai lá, mas se demorar muito, vou atrás de você! — Comentou, com um tom ameaçador em sua voz.

Revirei os olhos e caminhei em direção à porta de entrada. Ao passar por ela, deparei-me com uma mulher de cerca de cinquenta e sete anos. Ao me aproximar, abriu um breve sorriso e começou a conversar amigavelmente.

— Em que posso ser útil, querida? — Perguntou, simpática.

— Oi, meu nome é Rafaela Oliveira! Vim pela vaga de acompanhante! — Expliquei, e ela me observou atentamente.

— Tem certeza disso? Você é tão jovem e bonita! — Seu olhar espantado me deixou um tanto confusa.

— Vou anunciar ao senhor Ortega da sua presença! — Avisou, retirando-se e me deixando sozinha na recepção. A curiosidade sobre quem seria o tal senhor Ortega começou a aumentar, e eu me perguntei que tipo de lugar era aquele.

Apesar de não ter sido convidada a me sentar, acabei escolhendo uma poltrona confortável e peguei uma revista para folhear. Tentei concentrar-me, mas a curiosidade falou mais alto. Levantei-me para dar uma volta na área de entrada, observando uma prateleira com porta-retratos que continham documentos em vez de fotos. Peguei um deles, mas fui obrigada a colocá-lo de volta ao ouvir a voz da senhora.

— Querida? Por favor, me acompanhe. O senhor Ortega irá lhe atender! — Sua voz suave fez com que a seguisse. Ela abriu uma porta, pediu para entrar e retirou-se. Encontrei-me numa sala pouco iluminada, permeada por um grande silêncio, até que, de repente, ouvi uma voz masculina.

— Por favor, sente-se. Qual é seu nome e idade, querida? — Perguntou a voz sem rosto.

Fiquei por um instante procurando de onde vinha aquela voz e logo percebi que no fundo da sala havia uma sombra. Meu instinto afiado conseguia sentir que aquela sombra me observava. Cautelosamente, me sentei e respondi à pergunta:

— Meu nome é Rafaela Oliveira, tenho vinte e três anos. A sombra permaneceu imóvel, mas a voz continuou:

— Hum, Oliveira? Você tinha algum parentesco com o José Alberto Oliveira? — Logo percebi a sombra se movimentando, caminhando na minha direção.

— Sim, ele era meu pai! — Fiquei atenta, prestando atenção em cada detalhe da silhueta que se movia.

— Oh, sinto muito pela sua perda. Seu pai foi um grande homem! — Pigarreou. E então, surgiu à minha frente um senhor de terno preto. Seus cabelos eram brancos, feitos bolinhas de algodão, e ele possuía um sotaque diferente de todos que eu já havia escutado.

— Sou Antonio Ortega. Você é uma jovem muito bonita, vou adorar ficar com você, querida! — Analisou-me, de cima a baixo.

— Como assim ficar comigo? — Perguntei, extremamente confusa.

— Você será minha acompanhante de luxo! Pagarei por horas trabalhadas e, se me deixar fazer tudo que quero, pagarei em dobro! — Percebi uma grande empolgação em suas palavras e, de repente, um longo sorriso se formou nos seus lábios. "Acompanhante de luxo? Deixar ele fazer tudo que quer? Me pagar em dobro? Será que ele está pensando que sou uma garota de programa?" Pensei.

— Acredito que houve um grande equívoco, senhor! Eu não pretendia trabalhar dessa forma. Pensei que a vaga fosse para cuidar de um idoso. Peço desculpas pela confusão que fiz! — Levantei-me e comecei a caminhar até a porta.

O homem caminhou rápido na minha direção, chegando até a porta primeiro que eu, bloqueando por completo a passagem pela mesma, impedindo-me de sair. Ele segurou firme nos meus braços. Tentei me soltar, mas apesar da idade, ele era bastante forte. De imediato me desesperei. Percebi ele descendo uma de suas mãos, com a intenção de levantar meu vestido e ao mesmo tempo, tentava me beijar à força.

— O que pensa que está fazendo? Tire as suas mãos de mim! — Tentei empurrá-lo, mas fui impedida por suas mãos. De forma grotesca, ele me empurrou e acabei caindo. Rapidamente, suas mãos agarraram-se em meus cabelos e fui arrastada até o fundo da sala. — Socorro, alguém me ajude! — Gritei inúmeras vezes; no entanto, a minha voz parecia não sair. — Me solta, pelo amor de Deus! — Implorei, e ele fingiu não me ouvir, apenas me ignorou. “Meu Deus, esse nojento não pode fazer isso comigo! Não posso permitir que isso aconteça!” Pensei, envolvida em um completo desespero.

Em certo momento, minha voz aumentou de intensidade, ecoando um grito de socorro mais nítido. Exclamei com todas as minhas forças, ansiando profundamente que alguém ouvisse e viesse em meu auxílio. A situação tornava-se desesperadora, e, por uma fração de segundos, minha mente se voltou para meu irmão que aguardava do lado de fora do galpão. "Será que ele me ouviu? Estará estranhando minha demora?" ponderava, enquanto a angústia tomava conta de mim. De repente, um estrondo ensurdecedor ecoou da porta. O barulho, impactante, reverberou pelo ambiente. Enquanto era lançada para um canto qualquer, pude vislumbrar a silhueta de meu irmão adentrando a sala. A partir desse momento, tudo parecia transcorrer em câmera lenta. O senhor Ortega tentou alcançar uma arma, mas Guilherme foi incrivelmente ágil, disparando duas vezes contra ele. Naquele instante, testemunhei o corpo do agressor deslizar lentamente até o chão, formando uma imensa poça de sangue ao seu redor. Permaneci estática, em choque, minha mente à beira da insanidade ao compreender o que havia acabado de ocorrer. "Meu Deus, era apenas uma entrevista de emprego! Como isso se transformou abruptamente em um assassinato?" Refleti, mantendo-me paralisada ao escutar a voz de meu irmão ecoando ao longe:

— Rafa? Você está bem? Está machucada? — Ele me deu leves tapas no rosto, buscando minha atenção. Olhei na direção de sua voz e encarei seus olhos. Por mais que me esforçasse, minha voz não saía. Desviei o olhar novamente para o corpo do velho repugnante no chão, depois fixei meus olhos em Guilherme e finalmente consegui articular algo:

— Meu Deus, o que você fez? Ele está realmente morto? — Gritei, ainda em estado de choque, tentando processar a realidade do que acabara de acontecer.

— Sim, ele está morto! — Respondeu naturalmente, como se fosse um fato corriqueiro do cotidiano.

— Gui, você enlouqueceu? Você matou um homem! — Arregalei os olhos, fora de mim e incapaz de controlar as emoções.

— Ele estava tentando algo contra você, o que queria que eu fizesse? Escutei seus gritos e entrei na sala para ver o que acontecia, quando vi ele em cima de você, acabei enlouquecendo! — Andava de um lado para o outro. — Ele queria pegar uma arma, tive que atirar. Era eu ou ele, não tive escolhas! — Gritou alto, e eu sabia que ele tinha razão. Ele apenas me defendeu.

A mão gelada de Guilherme segurou forte na minha, e ele começou a me puxar para fora do galpão. Eu ainda me sentia estranha, completamente anestesiada. Nunca tinha presenciado um assassinato, nunca tinha visto alguém morrer. "Parece um pesadelo", pensei enquanto entrávamos no carro, e rapidamente percebi a inquietação de meu irmão. Ele virou-se para mim, segurando firme no meu rosto:

— Rafaela, olhe pra mim. Tudo vai ficar bem, você vai ficar bem! — Ele se mostrou atencioso, mas eu não conseguia responder a ele. — Droga, aquele desgraçado certamente tinha alguns familiares na máfia mexicana! Vi o sobrenome Ortega em um diploma na prateleira da recepção, e esse sobrenome ficou martelando na minha mente. Agora me lembrei; eles eram bastante conhecidos no mundo da máfia. Já ouvi muitas coisas obscuras sobre eles quando frequentava o departamento! — Ele explicava, e notei uma grande preocupação em sua expressão.

— Meu Deus, a mulher! Ela sabe o meu nome; eu o disse quando cheguei. Vão descobrir que fomos nós, Gui!

— Não se apavore. Você não fez nada; fui eu que fiz! Se tiverem que procurar por alguém, virão atrás de mim! — Ele permaneceu estático, notavelmente calmo, ao contrário de mim, incapaz de raciocinar direito.

— Eu não posso te perder, Gui. Com a mamãe no hospital, você é tudo que tenho agora! — Sussurrei com a voz embargada, e ele me deu um abraço forte, parecendo até ser um abraço de despedida. Apesar de não sermos os melhores irmãos do mundo, eu não queria que algo ruim acontecesse a ele.

— Mantenha a calma, meu bem! Vamos dar um jeito em tudo isso! Irei me esconder por um curto período, até a poeira baixar! Pedirei a um amigo de confiança, o Diogo, para cuidar de você e da Maia até eu voltar. Ele tem uma pequena empresa de segurança e tenho certeza de que não me negaria esse favor. Não fale sobre o que aconteceu hoje com ninguém, pois estou perto de conseguir uma vaga no departamento e um assassinato na minha ficha agora não cairia bem! — Sussurrou, acariciando meu rosto suavemente. Eu apenas concordei com a cabeça.

Ele ligou o veículo e dirigiu de volta para casa. O silêncio entre nós era assustador. Ao chegarmos, ele pegou algumas peças de roupas e as colocou em uma bolsa, entrou novamente em seu carro, e o vi desaparecer no horizonte. Ainda em estado de choque, corri até o banheiro e tomei um banho para me livrar de qualquer possível evidência de sangue. Em seguida, liguei a churrasqueira e incinerei as roupas que estava usando na hora do ocorrido. "Se a polícia aparecer, não terão prova para me acusar. Sou cúmplice de um crime; isso me torna uma criminosa? O que meu pai pensaria sobre isso?" Meu inconsciente começou a me questionar. Durante a noite, foi extremamente difícil conseguir pegar no sono, e quando finalmente consegui, acordei com pesadelos terríveis. Cada sombra projetada nas paredes do quarto me fazia lembrar do momento em que tudo desmoronou. A sensação de culpa e o medo do desconhecido me assombravam, tornando a noite um tormento.

— Céus, não consigo parar de pensar naquele homem! — Suspirei. Ao fechar meus olhos, só conseguia enxergar aquele velho nojento caindo na minha frente. A imensa poça de sangue que se formou em volta do corpo passava como um filme na minha memória. A cena se repetia várias vezes, fazendo-me acreditar por uma fração de segundos que, talvez, eu estivesse enlouquecendo. — Eu só queria poder esquecer tudo isso, queria poder voltar no tempo; com certeza, faria tudo diferente! — Falei para mim mesma, enquanto as lágrimas escorriam silenciosamente pelo meu rosto.

Cada pensamento, cada imagem, era uma tormenta em minha mente. A sensação de impotência frente ao ocorrido e a incerteza do que o futuro reservava se mesclavam, formando um turbilhão de emoções. Buscava desesperadamente uma maneira de apagar aquelas cenas da minha memória, como se pudesse simplesmente apertar um botão e resetar a realidade. O peso da culpa se transformava em uma sombra que pairava sobre mim, tornando cada respiração um desafio. Desejava ardentemente a capacidade de reverter os acontecimentos, mas a cruel realidade insistia em manter-me mergulhada na angústia e no remorso. Ao amanhecer, me vi encarando o espelho, contemplando uma versão diferente de mim mesma. A vida pacata que levava agora estava manchada por um episódio sinistro. A incerteza do que o futuro reservava me consumia, e a única certeza que permanecia era a ausência de Guilherme. O vazio que ele deixou era tão palpável quanto a angústia que me corroía por dentro.

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