Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
Finalmente te Encontrei

Finalmente te Encontrei

N.Augusto

5.0
Comentário(s)
9.2K
Leituras
70
Capítulo

Angeline sempre teve amor platônico por Arthur. Ela era o alvo da atenção de muitos, mas ao mesmo tempo ela sabia ser invisível. E depois de um pequeno e (peludo) incidente a relação dos dois mudou de unilateral para uma linda história de amor... Bem, foi o que ela pensou, até outro acidente acontecer. Ambos não sabiam o que aconteceria no dia seguinte ou pelo resto de suas vidas. Cinco anos depois, Arthur encontrou seu anjo, mas não foi nada como ele esperava, exceto a parte em que ela ainda era capaz de lhe tirar o fôlego. Angeline também ficou abalada com sua presença, mas ela negaria a todo custo. Afinal, ele a destruiu e jogou cada pedacinho do seu coração no abismo do oceano. Angeline estava diferente, sair das asas de sua mãe a fez ser livre e independente e ela não estava nenhum pouco a fim de arriscar isso. E Arthur não estava disposto a deixar ela escapar, não depois de todo o inferno que passou sem ela. Ele não desistirá, por nada. Será que depois de tanta mágoa e ódio, eles permitirão que o amor entre novamente para curá-los?

Capítulo 1 Angeline

Vou resumir o pior dia da minha vida com poucas palavras: eu tinha amor platonico por Arthur desde que me entendo por gente, mas nunca tive coragem de conversar com ele, ou ao menos, de encara-lo. E a nossa primeira interação foi com ele me pegando escondida dentro do banheiro masculino.

Mas tinha um motivo para esse desastre...

Fechei os olhos. De início, tudo ficou escuro, depois avermelhado e, por fim, surgiram aquelas bolinhas que pareciam flutuar pelo ar. Ele me abraçava, o único há muito tempo. Esquentava meu corpo e me dava energia.

Não era uma pessoa, claro que não seria. Era o sol. Amava fechar os olhos e senti-lo acalentar meu corpo.

— Senhorita Angeline?

Suspirei desanimada antes de abrir meus olhos, mas não enxerguei nada com nitidez por causa do brilho ofuscante do sol. E nada mudou, tudo estava como antes, eu realmente ia para o colégio e ainda era aquela garota. 

Otávio, o motorista, me olhava confuso, provavelmente tinha dito algo e eu não escutei, ou então disse algo no modo automático. As vezes fazia isso.

— Passou protetor solar? — Uma voz austera soou atrás de mim.

Mãe!

— Sim, mãe!

Sua mão agarrou meu braço me fazendo ficar a sua frente. Seus olhos castanhos escuros me analisavam atentamente (como todo santo dia), tentando ver se tudo estava perfeito aos olhos dela. Cabelos alinhados, rosto sem olheiras (infelizmente era algo que sempre aparecia, seja por estresse, noites mal dormidas, provas, treinos...), uniforme impecável, unhas limpas e curtas, pele hidratada e protegida. Sem falar na vistoria da minha mochila. Mataria qualquer um de tédio.

Na tentativa de um reconforto pensava que aquilo tudo era preocupação de mãe, que ela só queria o meu bem. Na maioria das vezes funcionava, eu repetia em pensamentos e minha mente acreditava.

Entramos no carro e seguimos o mesmo caminho que fazíamos a uma década, literalmente. Olhei pela janela enquanto passávamos na rua de cima da minha casa, para aquela enorme árvore em especial, assim como fazia há dez anos. Então lembrei daquela cena, dos seus olhos amáveis que me enxergou do jeito que eu realmente era, e do seu sorriso inocente. Então meu coração se esquentou, assim como o sol fazia todas as manhãs. Aquilo era o bastante para me deixar feliz, por um tempo.

Ao chegar à minha segunda casa, um dos vices diretores abordou minha mãe. O assunto deles não me interessava em nada, mas tinha que permanecer ali, ao seu lado. Poucos alunos chegavam naquele horário, de modo que tinha uma hora livre — não tão livre assim — antes das aulas começarem.

O vento soprou as folhas secas do outono e algumas agarraram no meu cabelo. Tirei-as e quando olhei para o lado, vi um cachorrinho entremeado num dos arbustos médio com pequenas flores azuis, podado milimetricamente que decoravam a entrada do colégio.

Era nítido seu medo, estava perdido e com frio. Seus grandes olhinhos demonstravam desespero. Sua pelagem parecia tão macia. Era tricolor; branco, marron e beje. Era um anjinho. Seus olhos eram claros, não sabia dizer se era verde ou azul.

Quando vi já estava agachada e pegando ele no colo. Suas pequenas patinhas se agarraram em minhas mãos como se não quisesse me soltar mais, como se eu fosse seu porto seguro, aquilo me encheu de dor e alegria. Olhei ao redor para confirmar se ele realmente não tinha dono ou se sua mãe não estava por perto. Analisei-o a procura de algum machucado e descobri que era uma menininha. Era fêmea. Meu coração estava radiante com sua beleza.

— Oh, bebê — acariciei mais ainda seus pelos sedosos e a confortei num abraço forte. — Você não tem casa? Como veio parar aqui, nesse frio? — abracei-a mais ainda, tentando esquentá-la, mesmo com toda aquela pelagem densa ela sentia frio. Sempre tive vontade de ter um cachorrinho, mas minha mãe nunca permitiu.

— Angeline! — Um calafrio percorreu minha espinha, e não era de frio. Antes fosse. — O que está fazendo agachada dessa forma? Na frente do colégio ainda.

Escutei o ranger de seus dentes e com isso meu medo aumentou. Olhei novamente para a cachorrinha e criei forças para encarar minha mãe.

— Ela está perdida... É só uma filhotinha, mãe.

— Isso não é problema seu. Agora, se levante e solte esse filhote. — Seus olhos arregalaram e sua expressão se fechou mais ainda. — Olhe o seu uniforme — indicou para o casaco na cor índigo, que naquele momento estava quase branco encoberto de pelos.

Reprimi um sorriso, pois aquilo não me incomodou em nada. Ficaria feliz em ter aqueles pelos grudados nas minhas roupas, se isso significasse salvá-la e amá-la.

Isabel ordenou que eu tirasse aquela peça, ficando apenas com a camisa branca com botões azuis.

— Tem outro reserva? — sentia a entonação da sua voz, o quanto ela se controlava, e eu, já tremia de medo.

— Sim, no meu armário — respondi num murmúrio que não tive certeza se ela escutou.

— Sinceramente, Angeline... Meu dia não começou nada bom, acho melhor você não me perturbar o resto dele — ralhou com toda sua imperiosidade revestida de um terninho e saltos.

Algo no meu peito comprimiu. E toda aquela "preocupação de mãe" que tentava enganar a mim mesma ia embora. E mais uma vez ela não se lembrou daquela data.

Escutei o choro da cachorrinha e com isso meus olhos inundaram. Encarei minha mãe enraivecida, como se fosse adiantar algo, mas era a única coisa que conseguia fazer.

— Não posso dar as costas um minuto que você já me passa vergonha — resmungou enquanto subíamos as escadas.

Engoli em seco e respirei fundo, mas a minha vontade era de retrucar todas suas ordens ridículas e voltar lá correndo e pegá-la para mim. Contudo, algo mais forte do que podia controlar, me impedia de fazer tal ato.

— Levante a cabeça! — ordenou enquanto caminhávamos para dentro do colégio.

Era sempre assim ao seu lado. "Levanta a cabeça... Ajeita os ombros... Coluna ereta... Corrija suas pernas”.

Não gostava de encarar as pessoas, não pelo fato de ser tímida, mas pelo modo que me olhavam. Sabia muito bem a forma que eles me enxergavam, que acreditavam que eu era, quando na verdade era o contrário. Então abaixava a cabeça, pois não gostava de me ver através deles. Aquela não era eu. E há muito tempo não sabia exatamente quem eu era.

— Boa aula! — disse secamente.

Isabel seguiu pelas escadas, para sua sala no último andar, a coordenadora do colégio. Segui até o corredor dos armários, alguns alunos já estavam ali, escorados em seus respectivos armários, trocando experiências com seus amigos.

— Olha só, a Intocável resolveu querer mostrar o que não tem — escutei uma voz aguda irritantemente forçada e não precisava olhar para saber quem era. Catarina.

Fechei meus braços em cruz no meu peito, segurando firmemente as alças da mochila no meu ombro. Suas amigas, como sempre, compartilhavam das risadas e piadas. E eu, apenas ignorava, como sempre.

Dei passos mais rápidos até meu armário e coloquei o código no cadeado para destravá-lo. Arregalei os olhos assustada com o som de uma música clássica que ressoou alto o bastante para todos que estivessem ao redor pudessem ouvir.

Dividida entre pegar o casaco e desligar aquilo, optei por tentar silenciar a sonata n° 11 por Mozart. Ela era linda, mas aquele não era o momento.

Minha respiração começou a ficar acelerada e minhas mãos a suarem. Envergonhada, comecei a mexer naquela bailarina que girava numa caixinha aveludada.

— Onde desliga isso? — já estava desesperada, e pelo campo visual que tinha dava para ver que muitos me olhavam. Odiava ser o centro das atenções. Odiava.

— FELIZ ANIVERSÁRIOOOO! — a voz rouca da minha melhor e única amiga alertaram a todos algo que eu não queria que soubessem. Abaixei a cabeça e respirei fundo, era impossível ficar nervosa com ela.

Por fim, descobri um pino logo atrás da bailarina e desliguei. Kaia dava pulinhos de alegria, balançando suas marias-chiquinhas cor de mel. 

Abracei-a agradecendo o presente. E pelo que conhecia dela, não terminaria por ali. Não que achasse ruim, pelo contrário, ela fazia os meus dias melhores e aquele em especial mais ainda. A única que se lembrava do meu aniversário. Não que eu tivesse muitos contatos e familiares, longe disso, mas os poucos que conhecia, ela sempre era a única que lembrava.

— O universo me disse que esse aniversário seu será diferente — informou energizada, mexendo da forma que só ela sabia suas grossas e naturais sobrancelhas.

A conhecia desde criança, quando me mudei para a mesma rua em que ela morava. Estava carregando meus poucos brinquedos numa pequena caixa, quando escutei uma voz vindo de algum lugar, depois de muito tempo procurando, encontrei-a. Numa árvore.

Kaia sempre foi muito brincalhona e ativa. Suas brincadeiras eram as mais malucas por assim dizer. Isto é, se a pessoa considerasse descer deitada num skate em uma rua íngreme e com declive fora do normal. Com ela eu podia ser assim também, mas de tanto ser reprimida por minha mãe, acabei por me transformar em algo que às vezes nem eu mesma reconhecia.

— E o que mais o universo disse? — questionei-a entrando na brincadeira, mas ela levava a sério sobre esse assunto. Quase toda semana contava algo sobre como meu mapa astral mudava, ou seja lá o que mudava a nossa vida. Não que não acreditasse, mas nunca parei para realmente refletir naquilo.

— Se a pessoa souber as chances de não concretizar são enormes — me olhou com o queixo erguido e um sorriso astuto.

— Claro! — balancei a cabeça rindo.

Beijei sua bochecha e a abracei. Estava muito feliz, ela fazia meus dias melhores. Ela era mais que uma amiga, era uma irmã, uma confidente, meu escudo.

E que tipo de amiga eu era? Foram incontáveis vezes que deixei de brincar com ela durante nossa infância para satisfazer os caprichos de Isabel. Às vezes era difícil chamá-la de mãe.

— Ainda não é verão não, intocável — uma voz masculina e zombeteira interrompeu nossa conversa. Suspirei pesadamente e logo desesperei. Meu casaco.

— Meu casaco! — lamentei para Kaia, ela me olhou tomando uma expressão nada boa.

— Vai lá, eu seguro seus livros — dito isso, entreguei a ela e corri ao meu armário, mas olhei para trás vendo a cena que ela armava com o garoto que tropeçou no seu pé (propositalmente colocado a frente dele) e caiu ao chão e seus amigos riram. Voltei meu foco em abrir o cadeado e pegar o casaco.

Caminhei enquanto abotoava o uniforme. Mesmo com três livros de botânica e um caderno, ela enlaçou uma de suas mãos no meu braço. 

Ao chegar à sala, como sempre, recebia os olhares e fuxicos de quase todos. Era impossível não conhecer alguém ali. Porque simplesmente não existiam novatos, eram sempre os mesmos. Repito: OS MESMOS. As turmas quase nunca mudavam também.

Desde sempre estudei naquele colégio interno. Ele era especial, o aluno começava desde o primário e ia até o ensino médio, onde era encaminhado para a melhor universidade. Ele era conjugado com a academia de esportes, tinha inúmeras modalidades, o aluno que escolhia (essa era a ilusão que eles passavam para nós, mas eu sabia a verdade) e desde criança praticava e participava de diversos torneios nacionais e internacionais.

Na parte da manhã estudávamos, à tarde treinávamos e a noite tinha a revisão dos estudos. Era uma rotina cansativa, mas já estávamos acostumados.

Sentávamos em dupla. Nossa mesa ficava a frente da sala e ao lado da janela. Sentei e organizei os livros de acordo com os horários.

— Bom dia, Intocável! — Lucca tamborilou os dedos na minha mesa.

Meu corpo enrijeceu. Elevei meus olhos até a metade de seus corpos. Os três parados a nossa frente. Marcus apoiou sua perna na minha mesa, deduzi que fosse ele pela sua pele morena. Lucca ainda mantinha a mão ali, sua voz era única.

E o último que sobrou era ele, Arthur. Ele permaneceu com os braços cruzados. Sentia que me analisava. E como sempre era o único que na maioria das vezes ficava calado. Aos poucos subi o olhar, me desafiando a olhá-lo. Meu coração disparava cada centímetro a mais que via de seu corpo. Aquele relógio era diferente... era novo. Ele ficava tão bem de azul... e quando seus olhos iam se encontrar com os meus, abaixei a cabeça.

Digna de pena!

Belisquei meu pulso, com raiva. Estava cansada de mim mesma. Isso era possível?

Se minha história fosse um livro, não passaria do primeiro capítulo e me entediaria.

— Querem alguma coisa? — kaia reverberou ao meu lado, batendo a garrafinha de água na mesa. 

— Queremos, mas ao que parece não vamos conseguir — Marcus disse com um tom sugestivo seguido de uma risada. 

— Caíam fora daqui! — ela esbravejou. Sua cadeira quase caiu quando ela se levantou abruptamente e quase jogou água neles.

Os três seguiram rindo até a porta, só então respirei.

— Babacas! — murmurou, sentando-se.

Ri para minha amiga que sempre tinha essa reação quando eles vinham me importunar.

— Obrigada!

— É um prazer enxotá-los todas as vezes — confessou enquanto mexia nas suas tranças. — Arthur é o único que nunca diz nada, fica apenas te encarando — disse com um fio de desconfiança na voz.

— Hm...

Kaia apenas confirmou o que eu imaginava.

Não tinha muito que falar. Não queria contar meu único segredo. Porque todas as vezes que imaginava ele sendo revelado, parecia que o mundo desabaria.

Será que era assim com todo mundo? Será que todos se sentiam assim a ponto de guardar a sete chaves seus segredos?

Não queria que ninguém soubesse a forma como ele mexia comigo. Não queria que descobrissem que o sorriso que exibia antes de dormir era por ele. Não queria que ela ou ninguém soubesse que sempre quando tinha a oportunidade o espiava (Aah, eu amava fazer aquilo). Se fechasse meus olhos teria todos seus traços gravados na minha mente.

Kaia não estava errada, ele era diferente sim, mas com o passar dos anos ele mudou, infelizmente não era mais aquele garotinho fofo e heróico que conheci.

E nem eu. Não me lembrava da última vez em que sorri verdadeiramente, ou que não mantinha a cabeça baixa, com medo. Eu era ridícula.

Aquela era a semana dos simulados, o que significava que tínhamos um intervalo a mais na parte da manhã, que duravam vinte minutos. Durante as provas não parava de olhar através das janelas, preocupada com a cachorrinha. E no final, depois de quase perder o tempo na última questão decidi que pegaria ela. Com o intervalo estendido seria perfeito para encontrá-la.

— Kaia, você me ajudaria em algo? — perguntei assim que olhamos o mural do gabarito.

— Sempre! — confessou com a expressão distante. Ela sempre ficava assim depois que fazia as provas de física. Kaia era uma garota esguia, não tão alta, mas ao meu lado era como se ela ganhasse dez centímetros a mais e eu dez a menos.

— Essa manhã eu vi uma cachorrinha perdida ali na entrada e já sabe qual foi a reação da minha mãe, queria saber se...

Ela arregalou os olhos, esquecendo de olhar suas notas e sua atenção era totalmente em mim.

— Vamos lá agora, ela pode ficar na minha casa, meus pais não vão brigar... — franziu a testa — Quer dizer, acho que não... não importa, vamos resgatá-la — afirmou extasiada.

Estávamos indo juntas, mas parei e segurei no seu pulso.

— Vamos fazer assim, você pega minha mochila e eu a procuro, já que sei onde ela estava.

Kaia assentiu e nos separamos.

Respirei fundo e comecei a procurar por ela. Não a encontrava em lugar algum. Olhei em cada arbusto, cada entrada e nada. Meu horário livre já estava acabando e em breve tinha que subir para a última aula.

Devia ter passado uns dez minutos, e nada de encontrar ela. Kaia me encontrou ali com a mochila e juntas a procuramos. Por fim a achamos do outro lado da rua, novamente entre arbustos.

Assim que a tinha em meus braços, fiquei um tempo a mais para que se acostumasse comigo.

— Vou ser sua mamãe — disse encantada com sua beleza. Ela era muito fofa. — Vou te dar todo o amor do mundo, vamos ser amigas. Seu nome vai ser... Lizzie.

— Ah, meu Deus! Por que será né?! — Kaia inquiriu rindo, mesmo já sabendo a resposta.

Sorri e ela abriu a boquinha exibindo aqueles dentinhos afiados, parecia rir também. Jane Austen que me perdoe, mas era muito fã dela e colocaria sim o nome de uma de suas personagens no meu bebê.

— Bem, Lizzie, estamos atrasadas para a última aula. Vou te colocar num lugar quentinho e não tão macio, mas prometo que terá um lugar só seu mais tarde.

Seus olhinhos me analisavam, até parecia que ela entendia perfeitamente o que dizia.

Ela era quietinha, não parecia ser do tipo inquieta e bagunceira. Peguei-a com cuidado e coloquei na minha bolsa.

O resultado disso mais tarde, foi:

— Está tudo bem, Catarina? — o professou perguntou depois de dez espirros sucessivos dela.

— Não... Atchiim — outro espirro. — Não entendo, só dou essas crises de espirro quando tem algum cachorro sarnento por perto.

Olhei de relance para Kaia, que colocava o dedo na garganta forçando um vômito diante da fala da Catarina. Ri das suas caras e bocas, mas de repente criei na minha mente várias versões onde Isabel arrancava minha cabeça. Se eu fosse descoberta seria algo inaceitável, não só para minha mãe, mas para as regras do colégio.

Minha sorte era que faltavam poucos minutos para a aula acabar e ela estava quietinha. Mas os espirros da Catarina não cessaram. Com medo de ser descoberta, pedi licença para o professor e sem ter seu consentimento saí da sala apressada.

No meio do corredor avistei minha mãe conversando com um professor. Seria o meu fim. Minhas mãos tremiam e minha respiração... Bem, até aquele momento eu não respirava.

Antes que ela me visse, entrei na primeira porta que vi. Era o banheiro.

Assim que fechei a porta e escorei na mesma trancada, com a bolsa apertada contra meu peito, soltei o ar e respirei melhor, mas logo vi algo estranho.

Não!

Não!

Mil vezes não!

Estava no banheiro masculino. MASCULINO!

Se nunca tive alguma crise de Pânico, com certeza teria uma ali.

Vários garotos entravam, alguns silenciosos, outros barulhentos.

Somente a Kaia me ajudaria naquela enrascada, mas como se ela nem sabia onde eu estava.

Congelei quando escutei a voz deles, daquele trio maldito. Exceto o Arthur. Sorri um pouco, mesmo em completo e total desespero.

— Sai logo daí — Marcus bateu na minha porta, que estremeceu com seu toque. — Quero usar.

Droga!

Meus olhos estavam saindo da órbita já. Olhei pela milésima vez a tranca. Estava trancado. Será que ele poderia abrir? Tudo poderia acontecer.

— Deve ser o Fred — Lucca zombou — ele sempre fica uma hora dentro do banheiro.

— Sonhando com as garotas que jamais vai pegar, de certo — Marcus e sua boca suja. Todos os outros riram. — Fred, seu nerd virjão, se você não sair daí em um minuto eu vou subir no banheiro ao lado e filmar você brincando com a mão.

Que nojento! Ele não seria tão ousado de subir, seria?

Lizzie começou a se remexer dentro da bolsa. Se ela chorasse ou latisse seria o meu fim. Sentia meu coração na garganta. Percebi que segurava a respiração de novo.

— Olha aí, Arthur — um deles pediu. Já não sabia mais reconhecer a voz. 

QUÊEE?

— Deixa o cara... — escutei sua risada.

Até você, Arthur?

— Se está demorando tanto assim deve estar pensando na Catarina — Marcus falou.

Qual era a invocação que eles tinham com ela? Seus peitos enormes? Só isso?

— Ou com a Int... — Arthur não finalizou a frase.

— Com quem?

— Ou se ele está demorando pode ser que esteja apenas com diarreia — escutei sua voz um pouco mais perto... Como se não tivesse aquela parede de granito que nos separava.

Então minha intuição martelou na minha cabeça. Não podia ser. Pela primeira vez, meu sexto sentido tinha de estar errado.

Olhei para cima e o vi. Engoli em seco. Seus olhos cintilavam diversão ao contrário dos meus que clamavam para que não contasse aos outros que estava ali. Seria o meu fim. Mordi a boca reprimindo um ganido sufocado. Balancei a cabeça em negativo implorando para que não me revelasse.

Ele entortou a cabeça e ficou me analisando de uma forma que não sabia o que significava e não queria descobrir.

Aaah! Queria gritar. Aquela era a primeira vez que mantínhamos o contato visual e tinha que ser daquela forma? Tão vergonhoso. Tão, tão humilhante.

— Vocês têm que ver isso — disse abrindo um sorriso malicioso.

Lucca soltou outra piada desnecessária:

— Aposto que quebrou a mão ou o p...

Mas o Arthur o interrompeu.

Arregalei os olhos e minha boca não conseguia se fechar.

Não, ele não faria isso.

Não faria!

Faria?

Continuar lendo

Você deve gostar

Capítulo
Ler agora
Baixar livro