Perla era apenas uma jovem de dezoito anos quando foi usada como pagamento de uma dívida que ela nem sabia da sua existência. Casou-se com um sanguinário chefe da máfia que tornou sua vida um verdadeiro inferno. Durante anos foi humilhada e tratada com desprezo. Motivada pelo sentimento de vingança, Perla deixa de ser apenas expectadora da sua própria vida e começa a jogar com as cartas embaralhadas que o destino colocou em suas mãos. Mistério, segredo, violência, drama e muito amor, fazem parte dessa história envolvente.
PERLA
Estou tão cansada. Desde que comecei meu curso de direito, não faço
outra coisa que não seja estudar. Estou no final do segundo período, em fase
de prova, as quais tenho praticamente todos os dias. Nesse período, minhas
disciplinas são direito civil, penal, constitucional, do trabalho, administrativo
e econômico. Esse último, em especial, é o que preciso melhorar as notas.
Sou nascida e criada em Nova Iorque, porém, meus pais são italianos,
nasceram em Roma. Eles vieram viver o sonho nova-iorquino a pouco mais
de dezoito anos atrás. Minha mãe estava no seu segundo mês de gestação
quando eles vieram morar na grande maçã.
Meus pais mantêm suas origens. Em nosso cardápio diário, fazem
questão da comida da sua terra natal, e também se comunicam entre si em seu
idioma. Apesar de o meu lar ser praticamente italiano, gosto de ser americana
e de tudo que aprendi nessa cidade que nunca dorme.
Saí da faculdade com intenção de tomar uma ducha, almoçar,
descansar um pouco e estudar, porém, ao entrar em casa, encontro minha mãe
um pouco mais agitada do que o normal. Assim que me vê, ela fica contente.
Que bom que você chegou, tesoro. Tuo padre vai oferecer um
jantar de negócios hoje à noite, você precisa estar apresentável para nossas
visitas.
Acho estranho seu comentário.
Por que eu preciso estar apresentável? Do jeito que a senhora disse,
parece que eu sou o motivo da negociação do meu pai.
Minha mãe não me responde. Caminha em direção ao armário, abre as
portas e fica olhando dentro do armário em silêncio. Parece que está
pensando o que fazer para o jantar.
Madre chamo-a.
O que você acha? De entrada podemos fazer uma bruschetta; de
prato principal, gnocchi.
Nossos convidados são italianos?
Si ela diz.
Alguém da nossa família, ou conhecidos de vocês?
Digamos que é alguém que não vemos há muito tempo. Agora, me
deixe sozinha. Faça o que te pedi, esteja apresentável, nada de jeans e
camiseta.
Quem será essa pessoa? Minha mãe me disse que é um jantar de
negócios, ao mesmo tempo, disse que se trata de alguém que ela conhece,
provavelmente do tempo em que ela e meu pai moravam em Roma.
Sempre que meus pais querem me exibir para alguém, a primeira
coisa que eles vetam é o meu jeans. Desde criança, nunca fiz o estilo
bonequinha. Sempre gostei de short, calça, de correr, jogar bola. Eu podia ser
eu mesma em casa e quando não tínhamos visita. Nos meus aniversários, ou
em eventos em que eles me levavam, eu tinha que ser a filha perfeita, uma
verdadeira Barbie.
Era obrigada a ser amiga da criança que meu pai escolhesse. Com o
tempo, conforme fui crescendo, percebi que eram filhos de homens
poderosos com quais ele queria fechar negócio.
****
Meu pai entra no meu quarto, beija minha testa e me entrega uma
caixa. Abro-a e dentro dela tem um lindo vestido branco. Ele possui uma
renda delicada, me lembra aqueles vestidos das personagens donzelas de
filme à espera de um príncipe encantado. Apesar de lindo, não tem nada a ver
comigo.
Visto-o no jantar. Você tem meia hora para ficar pronta. Não me
desaponte.
Não posso nem argumentar, apesar de saber que seria inútil, mas nem
consigo perguntar de quem se trata. Ele simplesmente termina de falar e sai.
Desapontada, pego o vestido em minhas mãos, virando-o de um lado e do
outro. Levanto-me, vou até o grande espelho que tem no meu quarto e o
coloco na minha frente. Penso em não o usar, mas sei que se não o fizer
haverá consequências. Uns dos motivos por eu ter escolhido direito é poder
advogar a minha própria causa; meu pai queria que eu fizesse contabilidade
para poder trabalhar em sua empresa, mas, se assim eu fizesse, nunca teria
opção de escolha. Sempre são eles que decidem tudo.
Vinte minutos antes do horário marcado para o jantar, minha mãe
entra no meu quarto. Quando me vê só de lingerie, reclama. Ela diz que os
convidados chegaram. Apressada, pega o vestido em minha cama e o joga em
cima de mim. Foram pouquíssimas as vezes que a vi tão nervosa. Peço que
ela se acalme, digo que estou me maquiando para depois pôr o vestido. Ela
não me ouve, apenas diz que tenho dez minutos para me juntar a eles antes de
sair e bater à porta.
Visto-me, calço minhas sandálias, dou uma última olhada no espelho,
saio do quarto e desço as escadas. Ouço uma voz grossa, firme, sem
gentileza, conversando com meus pais. Nos dois últimos degraus, três
homens surgem no meu campo de visão. Um deles, o que falava com meu
pai, me vê. Seus olhos percorrem meu corpo de cima a baixo; me sinto
desconfortável.
Ele se levanta e meus pais, que estão no sofá a sua frente, olham para
trás. Ao me verem, também se levantam.
Figlia, você está linda meu pai diz assim que me vê, sem muito
entusiasmo. Aproximo-me deles. O homem, que está em seu terno elegante e
aparenta ter uns quarentas anos, permanece com seus olhos em mim.
Esse é Salvatore, figlia, um amigo do seu pai que mora na Itália.
Salvatore pega minha mão e a beija. Um estranho arrepio percorre
meu corpo, me deixa temerosa.
Tua figlia è molto bela. Fico satisfeito de você honrar nosso
compromisso, cheguei a pensar que queria me enganar quando se referiu à
beleza dela.
Esse jantar marcado de última hora é estranho, essas pessoas são
estranhas, o clima nesta sala está estranho. Não sou apresentada aos outros
dois homens. Minha mãe até agora não disse uma única palavra. Olho para
ela e vejo medo em seus olhos. Meu pai fala o tempo todo de o quanto sou
perfeita, fala sobre qualidades que nem tenho, como saber bordar. Não sei de
onde ele tirou isso. O homem me analisa, e eu faço o mesmo, mas seus olhos
e sua postura são frios.
Alguns minutos depois, minha mãe pede permissão para pôr a mesa.
Permissão? Isso é muito estranho. Acompanho-a até a cozinha. Estou
morrendo de curiosidade para saber o que está acontecendo, mas sei que se
eu perguntar agora será em vão. Depois da mesa posta, voltamos para sala. O
tal do Salvatore está exaltado, ele grita com meu pai.
A última lembrança que tenho é de correr em direção ao meu pai.
Acordo em um enorme e belíssimo quarto. Sobre meu corpo, uma
camisola que não vesti. Olha tudo em volta, assustada, sem entender como
vim parar neste lugar. Flashes da noite do jantar piscam em minha mente.
Minha mãe chorando. Os dois homens que estavam acompanhando Salvatore
segurando-me, cada um em um braço, enquanto eu me debatia e gritava,
implorando para eles me soltarem.
Onde estou?
De quem é esse quarto?
Cadê meus pais?
Por que aquele homem estava enforcando meu pai?
Uma senhora de uniforme de empregada entra no quarto. Assusto-me
e jogo o lençol sobre mim. Estava tão perdida tentando lembrar sobre aquela
noite que nem vi a porta se abrir.
Ela se refere a mim como signora Bazzoti. Olho para minha mão e
vejo que uso uma aliança de casamento, mas como? Não sei nem como vim
parar aqui, muito menos me casar. Ela me diz bom dia em italiano e diz que o
Don Bazzoti quer me ver em meia hora. Atordoada, não digo nada,
permaneço onde estou. Ela faz uma cara de poucos amigos e diz que ele não
gosta de esperar. Que porra é essa de senhora Bazzoti e Don Bazzoti?
Assim que ela sai do quarto, levanto-me e faço um tour por ele. Vou
até a sacada e vejo que ela é alta, o que dificulta caso eu precise fugir. Olho
para o grande jardim e o que vejo me assusta: vários homens armados. Com
medo, retorno para o quarto. Caminho um pouco e encontro o closet. No seu
lado direito, tem diversas roupas de mulher, todas com etiqueta.
Será que são para mim? Escolho um vestido, sem muito interesse. Ao
lado do closet, tem uma porta. Abro-a e encontro o banheiro. Retorno ao
closet e procuro lingerie; encontro uma gaveta repleta, todas novas.
Entro no banheiro e tomo um banho rápido; a mulher me deu apenas
meia hora, meu tempo deve estar terminando. Pelo o que ele fez com meu
pai, tenho medo que, se eu o desobedecer,
possa fazer pior. Em frente ao espelho, limpo minhas lágrimas e digo
a mim mesma: Perla, pare de chorar, chegou a hora de ter respostas. Saio
do banheiro e encontro a empregada aguardando-me. Eu a acompanho, com
medo do que vou encontrar no meu caminho.
Capítulo 1 NOVA IORQUE - CINCO ANOS ATRÁS
15/02/2024
Capítulo 2 ROMA – QUARTO ESCURO
15/02/2024
Capítulo 3 FACULDADE
15/02/2024
Capítulo 4 QUEBRADA
15/02/2024
Capítulo 5 ACERTO DE CONTAS
15/02/2024
Capítulo 6 REENCONTRO
15/02/2024
Capítulo 7 DESEJO
15/02/2024
Capítulo 8 MULHER DO INIMIGO
15/02/2024
Capítulo 9 COVARDE
15/02/2024
Capítulo 10 BELO
15/02/2024
Capítulo 11 ATUANDO
20/02/2024
Capítulo 12 UM PELO OUTRO
20/02/2024
Capítulo 13 EVENTO DA MÁFIA
20/02/2024
Capítulo 14 ÚLTIMO DESEJO
20/02/2024
Capítulo 15 DORMINDO COM O INIMIGO
20/02/2024
Capítulo 16 FIM DE SEMANA
20/02/2024
Capítulo 17 ROMÂNTICO
20/02/2024
Capítulo 18 PERFEITO
20/02/2024
Capítulo 19 CONTRA A PAREDE
20/02/2024
Capítulo 20 VADIA
20/02/2024
Capítulo 21 INTERESSE
20/02/2024
Capítulo 22 SEQUESTRADOR
20/02/2024
Capítulo 23 BELLO
20/02/2024
Capítulo 24 PRIMEIRO BEIJO
20/02/2024
Capítulo 25 DESCONFIADO
20/02/2024
Capítulo 26 PODEROSA CHEFONA
20/02/2024
Capítulo 27 ABRINDO O JOGO
20/02/2024
Capítulo 28 INDECISO
20/02/2024
Capítulo 29 OS MANCINNI
20/02/2024
Capítulo 30 DESCOBRINDO A VERDADE
20/02/2024
Capítulo 31 AMIGO
20/02/2024
Capítulo 32 REUNIÃO
20/02/2024
Capítulo 33 SUA
20/02/2024
Capítulo 34 PRAZER
20/02/2024
Capítulo 35 EMBOSCADA
20/02/2024
Capítulo 36 PROSTÍBULO
20/02/2024
Capítulo 37 FIM
20/02/2024
Capítulo 38 RECOMEÇO
20/02/2024
Capítulo 39 TRÊS ANOS DEPOIS
20/02/2024
Capítulo 40 Epílogo - Luna
20/02/2024
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