Filha do falecido barão, Katherine era uma menina alegre apesar da perda de seus pais. Desde criança adorava correr pelos campos, subir em árvores e seus pais deixavam ela ser livre, ela tinha tudo. Aos nove anos seus pais faleceram em um acidente e seu mundo desabou, mas aos poucos tudo foi se ajeitando. A governanta Lucy era uma segunda mãe para ela e alguns anos acabou por falecer a deixando sozinha, sem chão e seu tio até então ausente entrou de vez em sua vida a deixando com cicatrizes em seu coração. Ian, é um duque libertino e melhor amigo de Kate. Ao se deparar com aquele ser humano frágil e cheio de tristeza promete a si mesmo a proteger. Porém, as coisas ficam mais difíceis quando a sua noiva de um casamento por contrato que o falecido duque arranjou com o pai da moça, Lilian começa a jogar seu veneno em cima de Kate. Ela está ferida e cheia de traumas para ficar o meio de picuinhas e toma uma decisão que abala Ian. Tal decisão a motivou por anos, ela queria somente uma coisa: vingança. Para o seu total infortúnio, ela não esperava sentir algo pelo antigo melhor amigo, Ian Frederick Ross. Ambos iniciam uma pecaminosa relação cheia de conflitos, paixão e a descoberta de um amor. Porém, Katherine teria de fazer uma escolha e talvez essa escolha destruísse qualquer possibilidade de um relacionamento entre os dois. Uma paixão recém descoberta sobrevivera em meio ao caos? O amor suporta tudo? Os traumas podem ser curados? Qual a verdadeira vingança?
(Katherine)
Londres, 12 de abril de 1822.
- Papai! Papai! - corro em direção a ele.
- O que quer, princesa? - sua voz é doce.
- Posso ir com a Lucy até o parque?! - indago, eufórica.
Lucy é a minha babá desde que me compreendo por gente, os fios brancos já estão aparentes no seu cabelo preto. Lembro que ela sempre me tratou com carinho, é como se fosse uma segunda mãe para mim. Mamãe sabe desse detalhe, mas ao contrário do que se esperava, ela se alegra e não sente ciúmes.
- Não vejo problema algum, querida. Apenas se cuide e fique longe dos garotos! - ele me alerta e eu gargalho, deixando em evidência um espaço vazio de um dente para o outro.
- Nenhum garoto quer uma desdentada, papai! - esbravejo emburrada.
- Você tem muito o que aprender com a vida, mocinha!
- Claro! Eu tenho apenas 7 anos!
- Ah, é?
- Sim! Ou se esqueceu que completei 7 anos há alguns meses?!
- Não seria tolo para esquecer o dia mais importante de toda a minha vida!
Ele ri de um jeito contagiante, mas logo recupera a postura questionadora. Mamãe está quase completando mais um ano de vida, então, papai e eu estamos planejando uma festa surpresa para ela.
- O que quer dar de aniversário para a sua mãe?
- Livros!
- Não quer dar joias, roupas ou fitas?
- Eu prefiro os livros!
- Por quê?
- Assim ela poderá ler ele para mim antes de eu dormir! - digo, com simplicidade e como se esse fosse o melhor plano do mundo.
- Veja se não é espertinha! Iremos ao centro amanhã e compraremos para você dar a ela.
Ele acaricia os meus cabelos e sorri. Papai e eu temos os mesmos olhos azuis vibrantes e o mesmo tom de castanho. Às vezes mamãe sente ciúmes da nossa semelhança, pois os cabelos dela são cor fogo.
Somente penso nela, quando mamãe surge na porta da sala de estar com um sorriso brilhante no rosto. O seu vestido é azulado e contrasta tão belamente com o seu cabelo alaranjado.
- O que estão aprontando? - questiona, semicerrando os olhos.
- Jamais faríamos isso, mamãe!
- Não estou crente disso! - ela brinca conosco.
- Kate quer ir dar um passeio com a Lucy no parque, o que acha?
- Uma ótima ideia! Hoje o dia está belo e as macieiras estão com os frutos prontos para a colheita.
Assinto, alegre. Então, dou um beijo na bochecha do meu pai e outro na da minha mãe e corro em direção ao meu quarto para me aprontar para sair. Quando chego lá, Lucy já está apostos me esperando.
- Eles deixaram? - ela indaga.
- Sim! - grito, contente.
- Que notícia feliz, então! - Lucy bate palminhas, animada.
Ela então me mostra o traje que escolheu para mim. Os tons são de um lilás delicado e cheio de rendas. A mulher mais velha me ajuda a vesti-lo e eu me sinto linda ao ver como ficou em mim.
A princípio, tenho de usar esses vestidos que deixam a mostra as canelas. Mas, eu gostaria de usar calças ao ar livre, assim como os homens! Mundo injusto, o que há de mal em usar essas roupas? Os adultos inventam cada tolice.
Então, para suprir as minhas vontades, mamãe e papai me permitem usar calças somente nos limites da nossa propriedade.
- No que está pensando?
- Porque não posso usar calças ao ar livre?
- Eu já lhe expliquei, minha doce menina. A sociedade não permite e nem sei se um dia vão permitir. Mas, pelo menos os seus pais deixam você usar nos arredores de casa.
- Eu sei, Lucy! Mas é que como eu posso brincar no parque com o vestido?! Olhe, isso é cheio de babados e rendas!
- Para uma criança, você tem sempre a resposta na ponta da língua! - ela gargalha e eu bufo.
- Pense só se as damas pudessem usar paletó e os cavalheiros vestidos cheios de enfeites! - dessa vez eu rio pela minha imaginação.
- Seria muito engraçado, de fato! Mas agora temos que ir, senão ficará muito tarde.
- Está bem! - seguro a sua mão, a puxo para fora do quarto e a levo para o hall de entrada.
Papai e mamãe estão me esperando com um sorriso no rosto. Corro para eles e os abraço com alegria.
- Eu amo vocês! - me declaro.
- Nós também te amamos, nossa pequena. - mamãe me dá um beijo na testa.
- Agora aproveite o passeio! A carruagem que irão será aberta para observarem a vista da cidade.
- Sério?! Será muito legal!
- Sabíamos que iria gostar! - papai diz.
Dou um último abraço neles e corro com Lucy para o lado de fora da nossa casa. Então, nos deparamos com a carruagem e um assobio chama a nossa atenção.
Direciono o meu olhar para onde o barulho vem e então, vejo o meu tio Theobaldo. Ele sorri e se aproxima de mim, se abaixa ficando na minha altura.
- Para onde vai, boneca? - o tom dele é estranho, como sempre, mas guardo isso para mim.
- Vamos ao parque, titio.
- Eu gostaria de acompanhar vocês duas, mas tenho assuntos a tratar com o seu pai.
- Não faz mal! Prefiro que seja somente Lucy e eu.
Titio dá um sorriso amarelo, mas assente. Logo me abraça de modo apertado e eu retribuo, mas alguns segundos depois trato de me afastar.
- Vamos, Katherine? - a voz de Lucy é fria.
Digamos que ela não goste muito do meu tio, e por isso sempre o trata com indiferença.
- Vamos! - concordo.
- Bom passeio, boneca! - tio Theo diz uma última vez e nós adentramos na carruagem que segue o caminho do parque.
(...)
- Posso brincar naquela direção? - aponto para o grande campo com árvores de maçãs.
- Pode sim! Tome cuidado. - Lucy me pede - Enquanto isso, vou comprar sorvete para nós duas.
- Oba! - dou um abraço nela e corro na direção oposta.
Vejo outras crianças brincando pelos arredores, mas sigo a minha direção para a árvore que sempre brinco. Fiz até marcações com a inicial do meu nome para sempre saber que é ela, pois ela tem uns galhos bons de escalar.
Os frutos dela parecem estar suculentos, minha boca começa a salivar ao observar as maçãs vermelhas e brilhantes.
Aproveito que ninguém está olhando e começo a subir pelos galhos. Quando estou quase alcançando uma das frutas, o galho estala e eu me vejo caindo ao chão.
O chão coberto com grama diminui a pressão do tombo, mas uma dor agonizante começa no meu tornozelo.
Gemo de dor e tento me manter em pé, mas mal consigo andar. Observo ao longe, um grupo de meninos que parecem ser um pouco mais velhos que eu.
- Me ajudem, por favor! - grito, em busca de socorro.
Os meninos então olham para onde estou. Quase todos começam a gargalhar, exceto por um, mas um deles - o único que não riu - parece assentir e começar a caminhar na minha direção.
Seus passos são rápidos, quando ele chega em mim, se ajoelha ao chão. Seus olhos são azuis como o mar e os cabelos são de um loiro escuro. Ele possui gordurinhas infantis e é tão bonito.
- Você está bem? - a voz do garoto é doce.
- Está doendo, mas estou bem. - digo, firme.
- Venha! Se apoie em mim.
O garoto me puxa pela cintura e me levanta, eu transpasso o meu braço pelo seu pescoço e nós começamos a caminhar em direção aos bancos.
- Qual o seu nome? - indago, curiosa.
- Ian Ross e o seu?
- Katherine Black, mas todos me chamam de Kate.
- É... um nome bonito. - vejo que Ian cora ao revelar.
- Obrigada! O seu também é! - quando falo, ele cora ainda mais.
Mas que garoto envergonhado! Sorrio ao ver ele tão tenso.
- Obrigada por ter me ajudado. - agradeço.
- P-p-por nada. - ele gagueja.
- Não precisa ficar nervoso! - rio - Somos amigos a partir de agora.
- Somos?
- Somos! - afirmo.
- Nunca tive uma garota como amiga.
- Agora tem! - reafirmo - E está convidado para o aniversário da minha mãe! Não aceito um não como resposta.
- Certo, irei. Onde você mora?
- Na mansão dos Black, ao final da Rua Regent Street.
- Não é tão longe da minha. - ele diz, pensativo.
- Espero que vá.
- Quando é?
- Depois de amanhã. Ocorrerá pelas 14:30, pode trazer os seus pais se desejar.
- Pode deixar! - enfim, ele dá um sorriso.
Quando vejo, Lucy se aproxima de nós com os dois sorvetes na mão. Ela entreolha de Ian para mim e logo após enruga as suas sobrancelhas.
- Olá! Quem é você?
O garoto se levanta, educadamente e tenta segurar a mão da minha babá, mas ela está com as duas mãos ocupadas por carregar o sorvete. A situação é um pouco engraçado, mas logo digo para ela me alcançar.
- Sou Ian Frederick Ross, filho do duque de Royer. - diz com simplicidade ao beijar a mão de Lucy e eu fico surpresa pelo título familiar dele.
- Um nome belo! Sou Lucy, a babá da Katherine.
- É um prazer conhecê-la. Infelizmente, ela se machucou e eu a ajudei.
Lucy direciona o olhar preocupado para mim, me analisando de cima a baixo.
- O que aconteceu?
- Eu torci o tornozelo, mas não creio que seja grave. - dou de ombros.
- Oras! Isso quem vai dizer é o médico, vamos! - ela pega o sorvete que está quase todo derretido e pensa sobre o que irá fazer.
- Dê o meu para Ian, Lucy. Acho que ele irá gostar do meu sabor favorito! - sorrio.
- Mas você ficará sem! - ele protesta.
- Quando papai e mamãe descobrirem que eu me machuquei, compraram 10 potes para mim! - confesso, risonha.
- Se você diz. - enfim, ele aceita o sorvete.
Os dois comem rapidamente, enquanto isso, fico observando o meu novo amigo.
Sei que este será o meu amigo para a vida toda.
(...)
O dia da festa de mamãe enfim chegou. Comprei um livro de princesa para dar para ela e um lindo vestido esverdeado.
Infelizmente, terei de repousar por duas semanas. O médico disse que torci o tornozelo e por pouco não quebrei, então eu teria de usar essa tala pelas próximas, ir aplicando ervas medicinais e por fim, tenho de usar muletas.
Uma chatice!
Visto que se Ian realmente vir, não poderei brincar com ele.
Fico chateada com essa perspectiva, mas terei de aceitar.
- Aquele seu amigo vem mesmo? - papai questiona com a voz estranha.
- Ele disse que sim.
Papai então assente contrariado. Ele ficou um pouco com ciúmes de Ian, mas sei que quando ele conhecer o meu novo amigo, irá gostar dele também.
- Sua mãe logo chegará das compras, temos que aguardá-la com tudo pronto.
Mamãe e Lucy foram às compras, a minha babá sabe dos preparativos, então faz parte do nosso plano. Elas não devem tardar para retornar.
- Certo! - caminho com dificuldade, pois não me acostumei com esse novo jeito de caminhar.
As mesas estão cheias de comidas suculentas. Há chá com várias opções de combinamos e frutas recém colhidas.
Alguns convidados já chegaram e se espalharam pelo salão. Mamãe é querida por todos, sempre dócil e amorosa. Assim que os convidamos, aceitaram prontamente.
Na lateral do salão possui uma mesa destinada aos presentes que eles trouxeram para ela.
Olho para o relógio de cima da lareira e vejo que são 14:00 em ponto. Estou vencida que Ian provavelmente não virá.
- Acho que ele não vem, papai. - meu tom é tristonho.
- Acho que está errada, querida. - olho para ele de maneira incompreendida, então ele aponta a cabeça para a direção da porta.
Olho para lá e avisto Ian juntamente com os seus pais, um sorriso escapa dos meus lábios e papai e eu nos direcionamos para recebê-los.
Meu pai faz a sua reverência e eu tento acompanhá-lo, mas o meu tornozelo não permite.
O pai de Ian possui olhos esverdeados e postura imponente. Seu jeito é de poucos amigos. A mãe de Ian possui os cabelos do mesmo tom dele e os olhos são de um tom azul. Ian é a cópia dela e isso não dá para negar, mas os traços do rosto de Ian parecem com o do pai.
- Boa tarde! Sejam bem-vindos a nossa residência! Sou Edward Black, barão de Lancaster e esta é a minha filha, a Srta. Katherine Marie Black.
- Boa tarde! Obrigado. Já deve nos conhecer, somos a família Ross.
Capítulo 1 Amigo para a vida toda.
07/03/2024
Capítulo 2 Hoje o dia foi perfeito!
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Capítulo 3 Eu tinha a vida perfeita!
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Capítulo 4 Marcado no meu coração como uma cicatriz.
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Capítulo 5 Doce e amada ilusão.
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Capítulo 6 Vossa Graça
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Capítulo 7 a vida não é nada justa.
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