Paulah, uma talentosa fotógrafa, viaja à Itália para registrar a posse de um político renomado. No caminho, um acidente a deixa ferida e perdida em uma floresta densa. Ao despertar, ela encontra-se em Culla del Crimine, uma cidade misteriosa e isolada, que não consta em nenhum mapa. Governada pelo enigmático Benício Mendelerr, um mafioso tão perigoso quanto fascinante, a cidade guarda segredos sombrios. Agora, Paulah precisa descobrir como escapar, enquanto é atraída por um mundo de poder, intrigas e sedução.
Sou Paulah, fotógrafa e sempre quis ganhar o mundo a partir da minha profissão. Quem sabe isso tivesse acontecido, se não fosse a confusão que ocorreu no último casamento em que trabalhei há uns anos. Uma sucessão de mal entendidos tirou de mim a oportunidade de realizar eventos ainda maiores!
O pai da noiva resolveu se aproximar de uma forma nada convidativa, acabei desferindo uma grande bofetada nele, o que resultou em expulsão do local e uma matéria no dia seguinte, acabando com o meu perfil profissional. Isso me fez permanecer por um bom tempo com trabalhos menores e sem me atrever a trabalhar em eventos de maior porte.
O que importa é que agora estou aqui seguindo uma estrada belíssima pela Itália, essa é a grande oportunidade que eu esperava para calar a boca de todos que duvidaram do meu potencial.
Meu ex-namorado jamais permitiria que eu desse um passo tão grande, ele sempre me preferiu ao lado dele e sem maiores ambições. Agora que não tenho mais nenhum tipo de relacionamento, chegou o momento exato de pensar na minha vida, aqui longe de tudo.
Olho pela janela do carro e avisto paisagens lindas, vilarejos tão elegantes quanto as pinturas e filmes.
- A senhora quer que eu feche os vidros? Como está um pouco frio! - perguntou o motorista, atenciosamente.
- Não precisa, quero contemplar cada paisagem!
Havia uma curva sinuosa à frente, um flash de luz branca tomou conta de minha visão e então tudo se tornou escuro.
Quando acordei, minha cabeça estava latejando e meu corpo inteiro doía e eu tentei me mover, mas tudo parecia girar ao meu redor. E quando olhei para baixo, uma gota de sangue da minha testa pingou no banco do carro.
- O senhor está bem? - perguntei olhando para o banco da frente e sem avistar qualquer sinal do motorista.
Só pude me dar conta do tamanho da tragédia assim que consegui abrir a porta que estava amassada e sair do carro, avistando em seguida o corpo do motorista taxista que havia sido arremessado para longe.
Estremeci por inteira, mas tentei manter a calma e me aproximei dele, tocando para sentir algum sinal de vida.
- Maldição, ele está morto!
Caminhei novamente até o carro, tentando respirar profundamente para manter a calma. Vasculhei os destroços até encontrar minha bolsa entre eles, peguei meu celular e tentei encontrar algum sinal, mas naquela mata eu não conseguiria de forma alguma.
Sempre soube que os táxis possuem canais de rádio para conversarem entre si, tentei mexer nos equipamentos e o cheiro forte da gasolina me assustou. O rádio estava danificado, não consegui nenhum sinal.
Minhas pernas fraquejavam, a sensação de desorientação me dominava. Ajoelhada no chão, ainda tentava fazer aquele maldito celular funcionar e estou há muitos quilômetros da cidade mais próxima.
- Por favor, funcione!
- Quem é você? - uma voz feminina que me fez virar.
- Preciso de ajuda, sofremos um acidente.
A mulher manteve a seriedade ao me olhar por inteira, até que percebi que ela estava armada e apontou seu revólver em minha direção.
- Não atire nela, droga! - disse um homem que vinha logo atrás.
- Essa vadia sabe demais!
- Benício arranca seus olhos se tomar uma decisão sem o aval dele...
Os dois se olharam, conflitando e pensando sobre minha vida e para ela, não valia abolutamente nada.
- Foda-se ele! Não saberá sequer da existência dela. - respondeu, apenas ajeitando os cabelos ruivos e olhando em minha direção.
Aquela mulher estava decidida a atirar em mim, mas o homem, com um movimento certeiro, a desarmou.
- Nada disso, Elisa! A levaremos até ele!
Com a arma apontada em minha direção, os dois me fizeram caminhar em meio à floresta. Eu estava muito cansada e ainda ferida do acidente, me pego a olhar para trás e tenho certeza de que não saberia regressar ao carro sozinha em uma possível fuga.
Eu mal me atrevia a olhar nos olhos deles, pareciam vampiros saídos de algum filme. Pessoas frias e completamente sem emoção ou empatia!
- Eu juro por Deus, não me importo quem sejam, só preciso de um telefone!
- Se ainda quer aproveitar os últimos minutos de vida, continue de boca fechada! - respondeu à mulher.
Chegamos a um lugar distante, cada passo que dei pareceu me afastar cada vez mais da realidade.
E finalmente saímos da floresta chegando em algo feito pelo homem, havia alguns sobrados antigos e portas de ferro forjado, o que mostrava ainda mais que aquele local escondido em meio à floresta parecia existir há muitos anos. Sombrio, distante de tudo o que eu poderia ter imaginado e, na verdade, estranhamente oculto.
- Elisa, eu levarei a mulher até Benício.
- Nada disso, eu a encontrei! - retrucou ela.
- Ele continua chateado por causa da mercadoria apreendida. Desapareça das vistas dele por um tempo e deixe de se insinuar para ele. Não se cansa da rejeição?
Ela apareceu ser acatar o pedido dele... Talvez por vergonha do que do ouviu, não sei quem é esse tal Benício... tudo o que sei é que muitos parecem temer ele.
Entramos em um de sobrados, decoração provinciana e várias coisas luxuosas. Na parede, a figura imponente de um Chacal e dois seguranças me olhavam curiosos.
O homem que me levava conversou em outro idioma com os demais, não parecia ser italiano. Após um deles entrar na sala, assentiram e eu fui levada para dentro e o avistei sentado em uma bela cadeira.
- Ela fala português, Senhor!
- Quem é você e o que faz aqui? - perguntou o belo, enigmático e imponente homem trajado de preto.
- Me chamo Paulah, sou fotógrafa e estava no país para fazer a cobertura do casamento de um vereador! Na verdade, governador... Algo assim! - As palavras não estavam me ajudando, nervosismo, medo e cansaço misturados dentro de mim.
- Parece muito confusa para alguém que veio a trabalho. - indagou o líder, entrelaçando os próprios dedos sobre a mesa.
- Acabo de sofrer um acidente de carro, queria que eu estivesse sorrindo?
- A senhora é muito petulante! Sabe com quem está falando?
- Não sei, fui trazida contra a minha vontade sob a mira de um revólver. Me diga o senhor, quem é?
Minha resposta fez com que aquele Benício se levantasse de sua cadeira, como um flash, ele veio até o meu lado e eu pude sentir o calor de suas palavras.
- Não acredito em um só fragmento de sua história, passamos toda uma vida escondendo este lugar para que uma qualquer o encontre e revele por aí! - ele então virou-se para o outro homem. - Encontraram a tal câmera da fotógrafa?
- Não, senhor, mas não mente quando diz que sofreu um acidente. O carro estava em pedaços e havia o corpo de um homem do lado de fora!
- Você é mesmo inocente, meu caro, temos inúmeros inimigos e todos eles são astutos o bastante para forjar uma situação. Mate-a!
Enquanto eu tentava processar tudo aquilo que estava acontecendo, o tal Benício me observava com um olhar curioso, como se estivesse estudando cada reação minha e considerando sua decisão final.
- Sim, senhor! - respondeu o outro.
Fiquei em choque, minha palavra não valia absolutamente nada para aquelas pessoas.
- Espere! - balbuciou Benício ajeitando a própria gravata. - Leve-a até a mansão, antes eu quero interrogá-la.
Tiraram meu celular, ele não serviria para nada sem sinal, mas ao menos eu o tinha.
Não sei em qual tipo de confusão eu me meti desta vez, mas aquilo só piorava a cada segundo Caminhamos novamente, dessa vez até o centro daquela cidade... Em definitivo, eu posso chamar de cidade porque era imensa, havia pelo menos cinquenta casas naquele local e uma delas se destacava pela beleza e imponência. Certamente pertencia a Benício...
- Cuidem dela, Medelerr precisa de respostas!
Orientou o homem que me levava, mais capangas e agora fui levada para dentro da casa até um dos quartos onde fui trancafiada.
Móveis antigos de madeira, todos extremamente bem conservados, com um ar vintage que pareciam ter sido escolhidos por uma mulher clássica.Eu não estava ali para admirar beleza, precisava encontrar uma maneira de fugir antes que aquele homem cumprisse a decisão de tirar minha vida.
Havia uma grande janela dentro do quarto para minha surpresa. Do lado de fora, podia observar quantos homens estavam caminhando pela região e todos eles portando armas, crianças brincando como se aquele lugar fosse apenas mais uma cidade apenas parada no tempo.
Por isso, não havia qualquer receio deles sobre uma possível fuga, todos estão ali sob um mesmo propósito... Mas qual seria?
A grande cama que estava ao meu lado parecia clamar pelo meu corpo, cansada e dolorida. Eu precisava dela mais do que nunca e nem consegui me lavar primero.
- Não poderei fugir com tantos deles lá fora!
Teria que estar recuperada para tentar qualquer coisa, acabei deitada naquela imensa cama branca e sujando-a com meu sangue.
Não sei exatamente quanto tempo passou, mas quando abri os meus olhos, a escuridão da noite já havia chegado. Fui até o banheiro e eu tentei lavar meus ferimentos da forma que consegui...
Até ouvir a chave abrir a porta do quarto e era ele, Benício Mendelerr.
- Parece bem acomodada em seus aposentos!
- Agradeço por me dar um último repouso... - ele entrou no quarto e fechou a porta.
- Se me disser a verdade sobre quem a mandou espionar Culla del Crimine, quem sabe eu poupe sua vida!
- Quem sabe? - perguntei.
- Não seja estúpida! Se eu quisesse realmente te matar, já teria feito isso. Apenas me diga, quem é seu líder?
- Não tenho líder! Eu já disse tudo, sou uma mísera fotógrafa brasileira... Tive um dia infernal e só quero ir embora!
- Esse é o problema, não devia ter visto nada do que viu!
- Me trouxeram para cá, não me importo com quem sejam ou o que façam. Me deixe onde encontrou e eu seguirei em frente como se esse dia não tivesse existido!
- Impossível!
- Então, vai mesmo me matar? Diga-me alguma coisa definitiva. - perguntei, olhando em seus olhos castanhos.
- Se tentar fugir ou informar alguém de seu paradeiro, juro que pedirá pela morte!
Ele me trancou novamente no quarto, pensei em gritar e xingar de todos os nomes que eu conseguisse lembrar. Se é tão seguro de seu poder, para que me manter aprisionada dessa forma?
As horas passaram, alguém abriu a porta novamente e dessa vez era uma mulher. Ela trazia toalhas e algumas roupas, mal olhou para mim e os deixou sobre o móvel.
- Senhora! Espere...
Ela saiu sem olhar para trás, não consigo sentir mais nada e tenho medo a cada segundo que passa. Ele disse que, se quisesse me matar, já teria feito isso, mas não sei se devo acreditar na misericórdia de um homem que todos temem.
Tomei um banho, havia toalhas brancas e aquele era um quarto de casal. Que tipo de coisas essas pessoas escondem? Crimes, mortes...
- Eu nunca sairei daqui! Apenas morta.
As lágrimas fugiram dos meus olhos, agora caiu a ficha sobre tudo. Enquanto choro desesperadamente embaixo do chuveiro, ouço algo cair do lado de fora, saio enrolada na toalha que encontrei e vejo a porta entreaberta e encontro sobre a cama uma bandeja cheia de comida.
- A porta...
Essa palavra ecoa cinco vezes na minha mente, corro para fora sem pensar em mais nada. Sinto braços fortes me pressionarem contra a parede e a respiração quente rente à minha boca... Ele me aperta forte.
- Nada de truques, eu disse antes e repito: está em minhas mãos! Nada de tentar fugir.
- Solte-me! - o empurro e ajeito a toalha que estava prestes a cair.
Antes de sair, ele me entrega as chaves do quarto... Entro e me tranco logo em seguida. Ouço parte da conversa no andar de baixo da casa e isso me tira ainda mais a vontade de comer.
- Ela está aqui?
- Mandei que a trouxessem, vai questionar isso?
- Você é o capo Benício, mas ainda temos um código a manter!
Conversas e mais conversas, deixo de ouvir com clareza e chego a deitar e encostar o ouvido no piso...
- Eu também não tenho mulher! - ouço um deles.
E não escuto mais absolutamente nada!
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