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26
Capítulo

Etienne Sinclair Fontaine, francês residente no Brasil, um bilionário cujo império foi construído no ramo de carros importados, é um homem que domina e controla tudo ao seu redor. Ele sofre devido ao seu passado conturbado, seus monstros interiores costumam vir à superfície. Rayssa Mattos, uma jovem criada pela avó, desde recém-nascida conhece a dor da rejeição. Precisou travar muitas lutas para sobreviver em meio ao caos de sua vida. A traição do namorado foi como um último suspiro. Com a pretensão de ressurgir das cinzas como “espírito livre”, e temendo se decepcionar, estabeleceu como única regra a de não se apaixonar novamente. Mas ela não contava que seu caminho seria cruzado pelo enigmático Étienne. Duas pessoas de mundos completamente diferentes se envolvendo intensamente a ponto de surgir uma pergunta: Até onde perdas e decepções podem afetar um coração?

Capítulo 1 Surpreendida fui eu

“O amor é uma rosa,

cada pétala é uma ilusão,

cada espinho é uma realidade.”

Provérbio francês

Rayssa

Chego à casa da minha sogra, sendo recebida por ela da melhor maneira possível.

— Você?

O desgosto em seu rosto por me ver é mais do que evidente.

— Boa tarde para a senhora também sogrinha, George já acordou? — pergunto cumprimentando a mãe do meu namorado que nunca foi com a minha cara e olha que estou com o filho dela há anos.

— Por que não vai lá em cima e veja você mesma? Estou de saída, se não percebeu, fique à vontade — diz ríspida com uma expressão mais estranha que o normal.

Entro e sigo para o andar de cima onde fica os quartos.

George mora com a mãe em uma casa de dois andares e confesso que é uma das melhores casas do bairro. O pai dele, já falecido, era coronel do Exército antes de falecer em um acidente de trabalho e deixou sua família em uma situação boa por causa da indenização e de uma gorda pensão. O que fez com que minha sogra tenha um rei na barriga, Dona Claudete se acha melhor que todo mundo.

Chego ao corredor, antes de levar minha mão a maçaneta e abrir a porta do quarto, ouço gemidos suspeitos. Abro a porta vagarosamente e o meu coração dispara acelerado, parecendo um tambor de escola de samba. Há três pessoas nuas na cama e meu namorado está transando com selvageria com uma mulher que está de quatro, enquanto o outro cara se masturbar assistindo a cena. Não acredito no que vejo, comigo ele é cheio de frescura e só é mais selvagem quando o provoco.

Não dá para ver a mulher direito, apenas sua cor branca.

— Ahhh George... Assim... Vai delícia, soca com força — diz a voz masculina antes de beijar George na boca.

Arregalo meus olhos, pois conheço muito bem essa voz.

O dono da voz é ninguém menos do que Luiz, noivo da minha melhor amiga.

— Faz tempo que não fodo gostoso — diz o cachorro entre gemidos.

— Já te disse para largar aquela frígida e ficar comigo, preto! Não é amor?

Arregalo ainda mais meus olhos.

Priscila continua cravando mais a faca no meu coração pela sua traição, nunca esperaria isso de uma pessoa que dizia ser minha amiga. Hoje percebo que nossa amizade era unilateral, pelo menos da minha parte era verdadeira.

Vaca, traidora!

— Concordo, somos um trio bem mais interessante George... Para que se amarrar em uma única mulher se você pode ter nós dois, cara? — diz o noivo de Priscila.

Eu jamais imaginaria que ele gostasse da mesma fruta que eu, mas agora percebo que a fruta que Luís gosta, como até o caroço.

— Se quiser continuar sendo fodida fiquem caladinhos e me dá esse rabo gostoso porque o corno está quase gozando. Agora falar da minha mulher me brocha — George diz.

— Isso negão, come essa puta por nós dois — ruge a voz do noivo da traidora.

Para tudo, produção!

Sorte desses três traidores que não sou uma pessoa violenta, mas essa traição jamais terá perdão.

Agora me pergunto:

Há quanto tempo estou sendo traída dessa forma vil por esses três escrotos?

Como esses três nojentos devem rir de mim pelas costas...

Eles me traem e ainda desonram meu nome.

Ordinários!

Ah, se vocês soubessem que vingança é um prato que se come frio...

Um sorriso perverso surge em meus lábios e cerro as mãos em punhos com tanta força que sinto a pele sendo perfurada, pois além de estar em choque, estou irada.

Que ódio!

Priscila, uma das minhas melhores amigas, sempre falou que George era um traste e que não prestava para mim, é sua amante e o traidor pelo jeito gosta de comer outro macho.

Bem que diz o ditado, "Quem desdenha quer comprar". Muito desprezo é sinal de desejo escondido...

Ah, como fui cega!

Estou com raiva de mim mesma.

Como pude me deixar enganar dessa forma?

Um ódio tão grande me domina, pego o celular no bolso da minha calça jeans, clico em gravar e após ter gravado o suficiente, saio dali sem ser vista. Jamais deixaria que me vissem depois de assistir essa cena horrenda.

Valorizo-me demais para fazer barraco e descer o nível, não choro por causa de homem e se esse filho de uma puta me traiu dessa forma sórdida é porque não me ama. Eu me garanto e me valorizo, comigo a fila anda e chorar por causa macho jamais. Posso estar com asco, arrasada, irada, chateada, pois sou humana, mas a partir do momento que colocar meus pés para fora dessa casa, George estará morto e sepultado, assim como a falsa da Priscila.

Está doendo mais a traição por parte dela do que por parte dele. Cresci junto com essa garota, ela era minha confidente, mas dela cuido depois. Pelo jeito somente eu era amiga daquela traidora.

Que raiva!

Fui à casa dele fazer uma surpresa e acabei sendo a surpreendida.

Que maravilha Rayssa, ser corna no seu aniversário de sete anos de namoro é demais até para você.

Bem que dizem que existe a crise dos sete anos de relacionamento, mas no meu caso não é uma crise, é chifre mesmo.

A velha sabia dessa safadeza e fez de propósito, que família, viu?

George andava diferente nos últimos dias e todos os sinais estavam na frente dos meus olhos.

Já do lado de fora, vejo o carro do traste estacionado do outro lado da rua. Pego duas pedras perto do jardim da sogrinha querida, confiro se não tem ninguém passando na rua praticamente deserta e arremesso no vidro sem dó e nem piedade. O alarme do carro dispara, saio pela lateral da casa em passos rápidos e me escondo. George sai da casa correndo ainda fechando a calça e fica puto pelo estrago no seu gol de cor grafite.

“Mamãe te paga outro vidro bebê”, penso e sorrio internamente, pois sei que esse filho de uma vaca ama esse carro.

Retorno para casa desanimada, agora está cientificamente comprovado que fui batizada com caca de urubu em vez de água benta, mas isso me serviu de alguma coisa, a partir de hoje essa raça masculina não terá mais chances comigo. Rayssa Mattos terá suas regras e homem nenhum, por mais gostoso que seja irá quebrá-las, já George e Priscila terão o melhor tratamento do mundo, não há coisa melhor do que o desprezo.

(•••)

Etienne Sinclair

— A saudade que sinto é esmagadora! Nunca em mil anos imaginaria que tudo fosse terminar assim e nem que você fosse partir tão cedo. Às vezes bate um desespero tão grande por não me lembrar mais nitidamente do seu rosto e da sua voz... Sei que aqui só tem seus restos mortais, pode parecer mórbido, mas aqui neste cemitério é o único lugar que me sinto em paz. Sabe pai, ainda não a encontrei, mas prometo achá-la como te prometi no seu leito de morte. Você mentiu para mim quando disse que a dor amenizaria e sei que pode passar o tempo que for e nunca deixará de sangrar. Você sempre dizia que eu tinha que seguir em frente, confesso que isso foi outra mentira que me contou. É impossível seguir adiante quando não lhe resta mais nada a não ser vazio, mas tento a cada dia fazer o meu melhor, porque sei que foi mais uma coisa que lhe prometi. Foi difícil recomeçar quando eu era apenas um garoto de 16 anos, mas tento até hoje... sabe pai, descobri que alguns heróis não entram em sua vida através dos gibis e filmes que amávamos assistir juntos e nem nas páginas dos romances que a mamãe lia. Alguns heróis não usam botas de caubói e muito menos aquelas fantasias ridículas que quando somos crianças achamos o máximo. Às vezes eles trazem segurança à vida, com calma, reflexões e cativante singularidade. Alguns heróis são reais, às vezes, eles até usam óculos adoráveis como você usava, ou têm a aparência do Harry Potter e usam camisas de botão com calças cáqui. Às vezes, seus sorrisos tímidos te iluminam, faz com que se sinta mais do que especial e seu coração palpitar o tempo todo como nos romances que as mulheres gostam, mas o meu é muito mais que isso tudo... Mesmo não estando mais aqui comigo. Feliz aniversário meu herói! — termino de falar para a lápide a minha frente.

Pode parecer mórbido, mas neste cemitério ouvindo o canto dos pássaros distantes, me sinto em paz. O lugar é lindo e já me cansei de vir aqui em momentos de desespero para pensar.

Saio do cemitério Jardim da Saudade desnorteado e dizer que estou desanimado, seria eufemismo. Vou para o trabalho sem vontade alguma, pois o dever me chama, sempre seguirei em frente mesmo que não esteja em meus melhores dias, foi mais uma promessa que lhe fiz e vou cumpri-la enquanto respirar.

(•••)

— A entrega da frota dos carros foi adiada — diz meu gerente entrando na minha sala sem ser anunciado.

Desvio o olhar da tela do computador e o encaro.

— Você já ligou para os responsáveis pela entrega? — pergunto diretamente, pois não gosto de rodeios.

— Pensei em te avisar primeiro — Mark diz e coça a cabeça sem jeito.

— Não pago você para pensar, mas sim para resolver as coisas. Temos menos de 15 dias para a entrega dessa frota e você tem noção do prejuízo que posso ter com isso? — pergunto perdendo a paciência que já não tinha.

Estou por um fio de ruptura e esse sem noção do caralho me pegou em um dia ruim.

— Qual é cara! A culpa não é minha do atraso.

Sente-se ofendido o incompetente.

— Ok, deixa que eu resolvo então, já que você não tem nada a ver com isso. Só vá direto para o RH. — Dispenso-o já digitando no celular.

— Qual é, Etienne? Você não pode me demitir por causa disso... Cadê o cara cordial e amigo de todos?

— Está vivendo no inferno no momento!

Ele ainda tem a cara de pau de me questionar, mas não lhe dou resposta, faço sinal para ele sair e me deixar sozinho.

Max vai embora indignado e xingando.

Ser cordial demais dá nisso.

Passo o resto da tarde resolvendo problemas e mais problemas até que minha secretária me liga pelo ramal.

— Diga Cléo.

— Sua madrinha está ligando de dez em dez minutos querendo falar com você, não sei mais o que dizer para ela.

— Só diga que quando eu puder, retorno.

— E o que respondo se não aceitar essa desculpa? — pergunta irritada.

Conhecendo minha tia imagino como ela deve ter infernizado a coitada com vários insultos.

— Diz para ela fazer o que sabe de melhor.

(***)

No final do expediente estou exausto e receber a ligação da madrinha novamente só piora meu humor que já não era bom.

— Você anda muito desnaturado ultimamente, onde já se viu não atender minhas ligações? O que pode estar fazendo de tão importante que não tem um tempinho para mim? — diz praticamente gritando.

— Fazendo algo que os reles mortais fazem madrinha... Trabalhando — digo puto.

Minha madrinha acha que sou sua única fonte de renda e isso para mim já deu.

— Estou voltando essa semana para o Brasil com suas primas e quero um lugar decente para ficar. Preciso de mais dinheiro porque preciso fazer umas comprinhas antes de viajar. — Exige autoritária.

— É mesmo? — pergunto com ironia.

— Vou te mandar o valor por mensagem e como quero o lugar para me hospedar... Não quero qualquer espelunca, lindo sobrinho. — Ela continua falando suas asneiras e corto logo a dela.

— Até onde sei não sou banco e nem dono de hotéis de luxo. Não vejo motivos para vocês virem para cá de uma hora para outra.

— Não acredito que vai nos deixar no olho da rua! Você nem me ligou para me desejar feliz aniversário! — diz dramatizando.

— Olha madrinha, o dia hoje não é um dos melhores... Estou cansado e onde vocês irão ficar não é problema meu, pois sei que vocês têm casa aqui na cidade. Agora quanto ao resto, se virem, não tenho nada a ver com suas despesas e luxos.

— Aposto que começou o dia visitando o cemitério, você deveria dar mais valor aos vivos — me repreende.

— Da mesma maneira que lhe mandei felicitações e um belo presente por sinal. Não recebeu?

— Felicitações por um cartão que Margô me entregou logo cedo. Custava ao menos me ligar? — reclama.

Minha tia era irmã gêmea do meu pai e cuidou de mim até que completasse a maioridade.

— Agora, voltando a viagem... Providencie tudo e me avise. Só mais uma coisa aprenda a valorizar mais os vivos, Etienne Sinclair.

— Quem tem filhos barbados é gato madrinha, até mais!

“Família encostada do caralho!”

Desligo antes de dar tempo dela recomeçar o drama, sigo para a janela do meu escritório e olho para o final de mais um dia ensolarado ao redor das águas calmas da Lagoa Rodrigo de Freitas, lugar onde os cariocas e visitantes praticam esportes, realizam piqueniques e aproveitam momentos de relaxamento.

Observo tudo como mero espectador e sei que nem tudo é o que parece, pois a vida de ninguém é perfeita.

O dia foi uma merda e ainda mais essa!

Desde que saí da França vindo para o Brasil não quero mais ver minha madrinha e minhas primas nem pintadas de ouro, mas pelo jeito não conseguirei isso.

Respiro fundo e mentalizo...

Terei que seguir em frente, perdido com os meus monstros.

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