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Crônicas de uma História - O Início de uma Jornada

Crônicas de uma História - O Início de uma Jornada

Gael Kheiron

5.0
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443
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10
Capítulo

David Engelmann, nascido em 1946, de uma família judia alemã que foi resgatada do Holocausto, levada para Illinois - EUA e então ganhou uma pequena fazenda de uns parentes que já estavam morando nos EUA havia mais de vinte anos. Conforme foi crescendo, David se deu conta de que não queria ficar trabalhando em fazenda. Ele sabia exatamente o que queria da vida. Sabia também que teria que deixar a fazenda, em direção a um mundo desconhecido, e trabalhar duro, para poder alcançar seus sonhos. E ele estava pronto pra encarar as dificuldades que poderiam aparecer em seu caminho, sendo a primeira delas a resistência representada por Mika, sua mãe superprotetora que era completamente contra seu filho deixar a fazenda, sozinho, por um destino incerto. E ela faria tudo que estivesse ao seu alcance para impedir isso. Mas, felizmente, David tinha do seu lado pessoas que acreditavam nele, incluindo Ettel, seu pai. Até ele ter idade suficiente para se emancipar, ele teria sua própria pequena "guerra" na qual lutar, auxiliado pelos seus próprios "aliados". Qual seria o resultado dela? Qual lado venceria? Se os "alliados" saíssem vitoriosos, David ficaria mesmo livre e poderia ir embora de onde morava, para recomeçar do zero? Ou ele partiria apenas para lutar em uma nova guerra?

Capítulo 1 Diferenças

Quando a história de alguém começa? Quando a pessoa nasce? Não. Tampouco só se retorna até quando os pais se conheceram. Se retorna ao registro mais remoto nas lembranças dos envolvidos na história em questão, considerando o que cada um de fato souber de sua própria história.

Esta vai nos levar de volta a 1946. Foi quando David Engelmann, filho de Ettel e Mika Engelmann, nasceu, em uma cidadezinha em Illinois – EUA, onde seus pais tinham uma pequena fazenda, onde ele e seus irmãos, a partir dos sete anos de idade, eram colocados para trabalhar desde a hora em que chegavam da escola quase até a hora da janta.

Ambos Ettel e Mika eram imigrantes alemães-Mika era metade japonesa-de etnia judaica, salvos do Holocausto pelos Aliados, depois levados para os EUA, onde eles já tinham família, fazendeiros alemães que haviam imigrado para lá mais de vinte anos antes. Eles já haviam levado o(a) filho(a) mais velho(a) de Ettel e Mika, em 1939. Então, Ettel, Mika e uma outra criança, um filho de quatro anos que estava morando com uma família de amigos holandeses, durante a Segunda Guerra Mundial, também foram acolhidos e ganharam um pedaço de terra onde poderiam recomeçar a vida.

Porém, conforme foi crescendo, David se deu conta de que não queria ficar trabalhando em fazenda. Apesar de amar os animais, a natureza, ele não queria passar a vida inteira fazendo as mesmas coisas, todo dia, repetidamente. Ele tinha sonhos, objetivos a alcançar. Em primeiro lugar, ele queria ser livre para ir/fazer/ser aonde/o que lhe desse vontade, da forma que ele quisesse. Ele sonhava em conhecer lugares novos, culturas diferentes, aprender novos idiomas. Ele queria estudar e aprender um monte de coisas. Ele queria ganhar dinheiro para poder comprar sua própria casa, de preferência em um estado litorâneo, já que ele amava o mar, e um carro, para poder viajar pelo país afora. Mas ele sabia que teria que sair totalmente de sua "zona de conforto" e ralar muito, se quisesse que esse sonhos se tornassem realidade.

Os pais de David não eram brincadeira. Principalmente sua mãe, que era bastante rígida. Seu pai era um pouco durão aqui e ali, mas era mais compreensivo, no geral.

Assim que Mika soube dos planos de David de deixar a fazenda por um destino incerto, ela fizera o marido suspender a mesada do garoto, para que ele não conseguisse arranjar um meio de ir embora.

Ettel fazia os garotos trabalharem tanto e tão intensamente, mas era mais aberto à ideia de seus filhos deixarem a fazenda e tentarem fazer suas próprias vidas, quando eles estivessem crescidos e parecessem espertos o suficiente para cuidarem de si mesmos - e ele estava até disposto a ajudá-los financeiramente, quando esse momento chegasse.

Por outro lado, Mika via essa ideia como completa ingratidão, e não estava disposta a permitir que qualquer um deles fosse a lugar algum, até que eles estivessem casados e com condições melhores do que tendo apenas o mínimo para se manterem. Porque ela não carregou aquelas crianças em seu ventre por mais de quarenta semanas, só pra deixá-las viverem aos trancos e barrancos, desnecessariamente.

- Mas viver é isso, mãe. A gente vive e aprende com a experiência, como quando as mães dos passarinhos empurram eles pra fora do ninho, pra que eles possam aprender a voar, sabe? - David disse, enquanto sua mãe estava sentada à mesa do café da manhã, na cozinha, com aparência bem irritada, e ele estava calmamente preparando suas torradas com bacon e ovos mexidos.

Para um garoto de sua idade, até que ele cozinhava bem decentemente. Bem, isso é o mínimo que se espera de alguém que quer ir morar sozinho.

Todos os outros já havia comido, exceto David. Ele excepcionalmente teve permissão para acordar mais tarde do que seus irmãos, naquela manhã, por ter tido que ficar acordado até tarde, na noite anterior, para terminar um trabalho escolar. Ele devia tê-lo entregado no dia anterior, mas não pôde terminar a tempo, já que o trabalho na fazenda havia lhe consumido ainda mais tempo do que o habitual, naquela semana toda. Então, Ettel acompanhou David à escola, explicou à professora o que havia ocorrido, se desculpou pelo seu filho e prometeu que isso não aconteceria novamente. Então, a professora, senhorita Fletcher, deu a David permissão para ir até a casa dela e entregar o trabalho, no dia seguinte, sábado.

Depois do Holocausto, Ettel e Mika ficaram tão traumatizados, que resolveram abandonar ou adaptar a maioria de seus costumes judeus, temendo a possibilidade de sofrerem mais discriminação, mesmo na "Terra dos Livres", os Estados Unidos, seu novo lar. Então, já que domingo é o sétimo dia da semana, nos Estados Unidos, eles decidiram que o Shabbat agora seria respeitado aos domingos. Eles também decidiram acabar com a restrição quanto ao consumo de carne de porco, já que isso era o que mais os denunciava como Judeus. Acabar com a abstinência não significava que eles tinham que ignorar o princípio por trás dela, em seus corações.

- Você ouviu o que esse menino acabou de dizer, Ettel? Você não fica se perguntando de onde ele tira essas ideias malucas? Se eu fosse do tipo que gosta de apostar, eu apostaria com você que ele tem aprendido essas besteiras na escola. Com os colegas dele, provavelmente, porque eu não creio que os professores cometeriam o absurdo de incitar as crianças a inconsequentemente fugir de suas casas - Mika soltou, enquanto despejava café no leite que ela havia reservado em uma caneca marrom de porcelana.

- Bem, onde é que tá a besteira? Eu não ouvi besteira alguma. Na verdade foi bem maduro e admirável da parte dele, se você quer saber. E não se trata de fugir. Você não acha que tá exagerando um pouco?

Após a resposta de Ettel, Mika cuidadosamente colocou sua caneca de volta sobre a mesa e o encarou, fula, se inclinando na direção dele.

- Como é que eu tô exagerando, Ettel? Se isso não é fugir, então você chama isso de quê? E faça o favor de me explicar como os planos inconsequentes dele parecem admiráveis pra você. E como assim maduro?? Ele só tem doze anos. Doze, por tudo que é mais sagrado!

- Eu não vou ir embora com a idade que eu tenho agora, mãe. Eu quero terminar o colégio, primeiro. Então, eu vou ver se consigo aguentar até lá.

Os outros dois garotos já estavam lá fora, cuidando de seus afazeres. Otto, o mais velho, estava tentando puxar Johann, o mais novo, da janela de onde ele estava bisbilhotando. David percebeu e enxotou Johann, gesticulando com a mão.

- Fique quieto, menino! Eu estava falando com seu pai, não com você. E, não, você não vai a lugar algum. Está me ouvindo?

- Esse é exatamente o meu ponto. Ele só tem doze anos, mas tem mentalidade e maturidade bem acima do que se espera de um garoto da idade dele. E o que ele disse é verdade. Como alguém pode aprender a viver, sem passar por coisas na vida? Como as crianças aprendem a andar? - Ettel respondeu, evitando o olhar ameaçador de Mika.

- Tem uma diferença muito grande entre essas situações que você tá tentando comparar. Quando as crianças estão aprendendo a andar, nós estamos lá pra evitar que elas se machuquem.

- Mas não o tempo todo. Não dá pra estar presente o tempo todo, pra evitar que elas caiam, dá? Elas vão tropeçar e cair em algum momento, e tá tudo bem, porque é assim que elas vão se levantar e continuar tentando andar, e com o tempo estarão andando sozinhas. Não podemos protegê-las de tudo, Mika.

"Exatamente! Nossa, eu te amo, pai!" David pensou, enquanto pegava suas torradas e as colocava em seu prato, tentando se livrar de seu sorrisinho, antes de se virar e se dirigir à mesa.

- Ettel, se eu não estiver prestando atenção nos meus filhos, e eles torcerem o tornozelo, enquanto estão aprendendo a andar, a culpa vai ser minha. Ponto.

- Bem, nós vamos ter bastante tempo pra discutirmos o assunto, mais tarde. Tá certo? Agora, vamos deixar o menino comer em paz. - Ele piscou e sorriu para ela.

- Você o mima demais, sabia? Essa é outra coisa pra discutirmos, mais tarde.

- Ok, meu bem. Vai ser uma longa conversa, então. Bem, eu vou dar uma olhada nos garotos. - Ettel se levantou da mesa, pegou seu chapéu do cabideiro e saiu pela porta de trás. - Dave, assim que você tiver voltado da casa da Srta. Fletcher, venha ajudar o Johann e eu a tosquiar as ovelhas. Tente não se distrair e esquecer disso, quando estiver voltando.

- Sim, senhor! - David se levantou e respondeu, se sentando novamente, após seu pai ter saído.

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