Garotas fortes, também choram!

LORENA!

_ Acordei em uma cama de hospital, mas não sei o que está acontecendo. Olho para todos os lados, tentando entender o que de fato está acontecendo, tampouco sei onde estou.

Lorena: Onde estou? Alguém pode me ouvir? Ou vir aqui?

_ Aos fundos ouço vozes, não sei de quem são, não consigo reconhecê-las, meus olhos estão embaçados, nada vejo com claridade, apenas reconheço minha voz. De repente sinto alguém tocar minhas mãos, seu toque gelado me assusta, eu tento em vão enxergar, mas vejo uma roupa branca, pergunto seu nome:

Lorena: Quem está aqui? Eu não sei onde estou, você pode me contar onde estou? Onde está minha mãe? Meu pai, cadê ele?

_ A voz me responde serena:

“Você está viva, é o que importa menina, como se sente?”

Lorena: Eu não sei, quem é você?

“Eu sou o Doutor Mark, pode me falar seu nome?”

Lorena: Meu nome é Lorena, eu estava viajando com meus pais, é a única coisa que me lembro. Pode me dizer onde estão eles? Quero vê-los!

D.r Mark: Infelizmente querida, tenho que te falar algo, algo grave!

Lorena: O que houve? Pode falar doutor!

D.r Mark: Menina, você terá que ser forte, pois você sofreu um acidente, como consequência, seus pais faleceram, sua mãe teve uma hemorragia interna, seu pai, não achamos seu corpo, o resgate está efetuando as buscas, ainda não desistimos dele!

_ Nesse momento eu só queria minha casa e voltar no tempo, talvez tivesse evitado essa tragédia, minha mãe não queria vir, eu apenas vim para satisfazer à vontade de meu pai, havia muito tempo, ele não tinha umas férias legais, então, eu topei, mas, contra minha vontade e de minha mãe, mas ela sempre estava sem vontade, já que, desde que meu irmão faleceu na barriga de minha mãe, ela não teve mais as mesmas vontades de antes, ela vivia triste, desconsolada. O médico disse que ela teve depressão, mas eu não sei porque, ela sempre pareceu tão feliz, bom, pelo menos era o que eu achava.

_ A notícia de suas mortes me deixou abalada, sim, mas não exatamente como eu queria, por mais incrível que pareça, eu estava mais preocupada com minha melhor amiga, ela era o motivo de eu não querer vir para esta viagem que nos custou nossas vidas, ou melhor, a vida de meus pais, afinal, eles se foram, mas estou ainda aqui, esperando para poder sair daqui sem problemas, quando, na verdade, queria estar mesmo com os meus pais, onde quer que eles estejam. Quando enfim o médico chega, ele me passa o telefone para falar com as pessoas responsáveis por mim. Atendendo à ligação reconheço a voz de minha avó, ela está bastante preocupada e diz que vai cuidar de mim, mesmo com tudo o que aconteceu e minha mãe tendo me afastado dela, seu amor por mim, é incondicional, eu nunca a conheci e não sei quem ela é, mas vou dar uma chance, já que meus pais não estão mais comigo e não adianta lutar contra isso, eu apenas queria poder ter me despedido deles, eram tudo o que eu tinha e também poder rever Gabi, ela sem dúvida era uma peça muito importante na minha vida, minha melhor amiga e confidente, o maior amor que guardo em meu peito e eu a quero de volta, assim que sair daqui, dessa cama de hospital vou buscá-la. O médico diz que se eu me recuperar bem, os meus avós poderão vir me buscar em uma semana, mas quero falar com Gabi primeiro, ela tem que saber onde estou, eu peço para ligar para alguém que me conhece bem, o médico me passa o telefone e eu ligo para Gabi, ansiosa por ouvir sua voz.

Lorena: Gabi, meu amor sofri um acidente, por favor vem me ver antes que eu vá morar com meus avós, não estarei mais em minha casa, meus pais faleceram e eu não tenho mais ninguém por mim.

Verusca: Aqui não é a Gabi, ela viajou para Portugal com seu pai, vou pedir por favor que não ligue mais nesta casa, Gabi não quer mais ter nenhum vínculo com você, acha que não sei? Já falei com a minha filha, você é uma péssima influência para ela e não quero que ela se misture com uma pessoa como você garota, não ligue mais, esqueça este telefone e nunca mais chame minha filha de “amor”, quem você pensa que é?

— O telefone é desligado sem ao menos dar chances de que ela pergunte o que fez, ela apenas chora e em seu momento de tristeza, se lembra de quando conheceu Gabi, onde tudo começou e porque se apaixonou por ela, afinal, foi algo que ela descobriu sobre si mesma, sem ao menos ter chance de viver!

DIAS ANTES DO ACIDENTE!

— Diário de Lorena, 02/01/2017.

— Querido diário, hoje é dia 2 de janeiro, sexta-feira, falta apenas uma semana para o meu aniversário e eu estou muito animada, pois vou viajar com meus pais para à praia, vamos comemorar lá, eu vou fazer 15 anos e estou muito feliz, minha mãe nem tanto, ela ainda sofre pela perda de meu irmão, mas a intenção é que ela saia de casa e se distraia, ela merece ser feliz e não gosto de vê-la chorar, mas hoje vou para uma festa com minha melhor amiga Gabriela, estamos marcando já há algum tempo de ir, é uma festa para adolescentes que há em nossa escola todos os fins de semana, mas ultimamente à mãe de Gabi, senhora Verusca, não a tem deixado sair muito disse ser devido à criminalidade que está demais, mas comigo, ela deixa sim. Gabi está namorando um menino do colégio, ele é um pouco estranho, às vezes acho que ele é do tráfico, ele aparece com muito dinheiro às vezes, mas pelo menos nos protege, minha mãe não gosta muito dele, mas a senhora Verusca acha ele um máximo, ela não vê nada como tem que ser, mas enfim, hoje é nosso dia de diversão e tenho que combinar direito com minha melhor amiga, não quero ficar de vela nessa festa, então pedirei para ela arrumar um amigo para me fazer companhia.

Fim, Lorena.

— Lorena pega seu celular para ligar para sua melhor amiga Gabi, mas no mesmo instante seu pai chama-a para descer, parece que o jantar já está pronto.

Roberto: Lorena, desce logo querida, estamos apenas a esperando para o jantar.

— Lorena tranca seu diário com cadeado e termina de se arrumar para descer, como está frio ela coloca uma calça jeans e bota preta, uma jaqueta de couro e cropped de renda, apenas solta seus cabelos e passa um batom leve, descendo em seguida para a sala de jantar. Ao chegar no andar de baixo ela vê que seu pai à espera, ele observa o quanto a sua filha está diferente, parece mais adulta, ontem ela parecia apenas uma menina magrinha e esmirrada.

Roberto: Amor, minha filha linda, você está muito diferente, está mais mulher, o que aconteceu com você? Não se parece em nada, minha menininha, eu quase não te reconheci.

Lorena: Pai, desculpa, mas, eu cresci, apenas me olhei no espelho e já estava assim, o que posso fazer não é?

Roberto: Quero parar o tempo para o dia em que te vi nascer, queria que voltasse a ser minha menina, mas agora é uma mulher e só falta apenas que me torne sogro de alguém, eu nem quero pensar nisso.

— Laura sai da cozinha ao ouvir a voz de sua filhinha, ela para na porta da sala de jantar e olha atentamente para Lorena, seu olhos marejando pelas lágrimas, ela não consegue segurar seus sentimentos ante sua filha, está linda e passou de uma moleca magrinha para uma mulher em uma noite, sua mãe orgulhosa se aproxima e a abraça, agora o coração de Lorena se aperta, como se aquele momento fosse ser o último que elas fossem ter em suas vidas.

Laura: Ok, eu não sei o que dizer a você minha filha, apenas tenho muito orgulho da menina forte e linda que você está se tornado, eu sou muito feliz de você além de tudo ser estudiosa e obediente, mas quero te pedir algo.

Lorena: Pode pedir mãe, eu faço o que for preciso para te ver feliz.

Laura: Quero que você vença na vida, que por mais que as coisas se dificultem, não deixe que nada te abale, que seu coração seja sempre forte e corajoso e que nada te faça perder sua bondade, mas não seja tola, não deixe também que ninguém te diga o que você deve ser, seja você mesma acima de tudo e se coloque sempre em primeiro lugar. Faça o que fizer, nunca deixe de estudar, o conhecimento é a base de tudo na vida de um ser humano, conhecimento é poder.