Carolina pode ser considerada louca, talvez devesse estar internada em um hospital psiquiátrico, mas no fundo ela e Fábio sabem quem aquilo não passa de amor, estridente, avassalador e doloroso. Promessas feitas, uma vida construída e uma vida destruída. Um conjunto de decepções que culminaram em Carolina Banchero.
Eu não aguentaria nem mais meia hora ali foliando revistas, já havia perdido a conta de quantas vezes olhei para o relógio esperando que finalmente chegasse a hora de nos encontrarmos frente a frente diante de Deus e do mundo. O nervosismo tomava conta de mim, minhas mãos suavam como se fizesse um calor de Miami no verão, meu cabelo parecia que ia se desmontar a qualquer momento. Já havia se passado mais de cinco horas desde que eu havia chegado ao salão para começar toda a minha preparação.
O maquiador estava para chegar e eu esperava ser um dinheiro muito bem gasto num dia tão importante para mim. Eu respirei fundo e vi a porta de vidro frontal se abrir e ele entrar apressado com umas sete maletas e joga-las a minha frente pedindo apenas para que eu relaxasse que ele me deixaria igualmente a inspiração que eu havia mandado.
Uma hora e meia passou desde que aquela imensidão de pincéis e produtos haviam invadido meu rosto e colo. Então, finalmente pude escutar todo o barulho parar e a confirmação de que eu estava pronta vir. Rapidamente me ajeitei na cadeira e me olhei. Estava bonita, ou ao menos dava para o que havia me proposto. Levantei-me e fui até a sala dos fundos, ouvindo cada pessoa dali dizer, como se não falassem para todas:
-Você está linda, a noiva mais linda que já vi! – eu sorri sabendo que aquilo era apenas o bom e velho elogio de atração de freguesia e fui pegar meu vestido.
-Onde está sua mãe? É a primeira vez que não vejo uma noiva acompanhada pela mãe.
-Eu preferi ficar sozinha hoje. – gaguejei ao responder.
Olhei rapidamente para o relógio preto pendurado à parede branca e nele marcavam exatas 19h. Daqui a uma hora seria o casamento, eu precisava me vestir logo e terminar de dar os últimos retoques. Abri o pacote do vestido e ele estava perfeito, como a um ano atrás quando o escolhi, como eu havia sonhado. Respirei fundo e me enfiei nele, vendo o quão feito para a mim ele era. Fui ajudada a calçar os sapatos e logo estavam dando os últimos toques em mim. O cabelo semipreso, a maquiagem sem muitos detalhes e os brincos de cristal completavam todo o look. A limusine preta já estava na porta e eu fui acompanhada até ela por alguns funcionários do salão. Meu coração parecia querer saltar de dentro do meu corpo e ao chegar a igreja eu ouvi o badalo dos sinos que indicavam 20h30, tinha chegado a hora. Eu desci calmamente do carro, enquanto algumas pessoas observam interessadas o abafar das luzes. Parei em frente a porta fechada e de lá já se ouvia as voz dele soar clara como em uma declaração.
Respirei fundo mais uma vez, já sentindo as lágrimas quentes tomarem meu rosto e abri a porta fazendo com que todos sentados ou em pé ali olhassem para mim. Eu corri direto até o primeiro vaso do corredor, sem olhar para o lado ou para frente, apenas para o vaso de flor e sem nem conseguir pensar o joguei no chão vendo o Lucca se levantar e como um flash de luz vir até mim. Eu falava tanto, mas ao mesmo tempo não dizia nada, não era fáceis de entender. Me arrastei até o vaso ao lado e o joguei no chão desta vez gritando para que pudessem me ouvir.
-Você não devia se casar com ela. – ele me olhou mais assustado ainda e eu senti as mãos do Lucca me segurarem com toda a força que havia em seu corpo enquanto ele vagaroso vinha até mim.
-O que você está fazendo, Cacá? Você está estragando tudo.
-Que se dane esse seus convidados, essas flores, essas porcarias desses vasos. Você tem noção do que é isso, olha pro seu dedo, idiota. Eu sei bem quem você ama, é a mim que você chama todas as vezes, seja na saúde, na tristeza, na alegria e na cama, seu filho da puta. – Ele me tocou desesperado. – Não me toca e muito menos me chama de Cacá. – Eu o empurrei e o Lucca me segurou com mais força tentando em conter.
-Eu não posso, Cacá ! É ela que eu amo. – Ele falou calmo, como alguém que não estivesse magoando a pessoa que mais o amava, exatamente no momento em que eu já sentia o meu colo totalmente molhado pelas lagrimas que escorriam até ele.
-Você também disse que me amava, Fafá. Você também me prometeu o mundo e me deixou dias antes do nosso para sempre. – Eu disse entre soluços e ele estendeu a mão para acariciar meu rosto, fazendo com que eu me afastasse. – Por favor, Lucca, me deixe ir. Acho que eu já fiz tudo o que pude, ele a ama AGORA. – ele me soltou calmamente me acompanhando até a porta e nesse momento percebi todo o transtorno que havia causado, todas as pessoas ali nos assistiam como a um teatro e era sim, mas da parte dele, um perfeito personagem.
Novembro de 2009, 18h, casa do Brighman
- Ei, Carolina. Pizza de que? – o Lucca perguntou enquanto organizávamos o baralho.
-Ah, Lucca, não sei caralho. Pergunta as meninas. Aí pergunta a Jéssica. – Eu disse vendo-a entrar pela porta.
-Pepperone. – ela gritou jogando as sacolas na cozinha.
Nós nos sentamos em volta da mesa e começamos a jogar e beber enquanto a pizza não chegava. A bebida já estava subindo, já havíamos perdido todos os filtros que um jovem poderia ter, se é que tínhamos e nada de a pizza chegar, minha barriga roncava ao som das risadas deles durante o jogo. A Jéssica já estava perdendo pela milésima vez e resolveu desistir de tudo jogando todas as suas cartas e o montinho do meio para o alto.
-Cansei, cansei. Vamos fazer outra coisa. – ela disse já se ajeitando – Vamos brincar de verdade ou consequência. – ela olhava desafiadora para eles que logo concordaram. Ela organizou as cartas direitinho e durante esses poucos minutos ouvimos a campainha tocar. Brighman se levantou mais do que rapidamente e foi até a porta pegando o dinheiro que estava na mesinha de centro. Meus olhos atacaram a pizza antes mesmo de eles a abrirem, eu estava mesmo com fome. Comemos um pouco e depois fomos nos sentar no chão da sala pegando uma das garrafas para podermos brincar.
-Deixa eu rodar? – O Lucca pediu e nós apenas assentimos – Tá, mas antes deixa eu tirar a camisa. – Ele riu e sua risada me fez entrar num transe totalmente alcoólatra enquanto eu observava o Brighman também tirar sua camisa a pendurando no braço do sofá.
Ele rodou a garrafa e ela parou com o bico virado para ele e a bunda da garrafa para o Fábio o que o fez gargalhar.
-Verdade. – ele respondeu antes mesmo de ele perguntar.
-Qual a garota da faculdade que você mais tem vontade de comer? – Ele perguntou rindo audivelmente.
-Todas. – Ele respondeu rindo e eu rolei os olhos em sinal de reprovação.
-Como se não fosse obvio. – A Jéssica comentou e rodou a garrafa fazendo-a a parar novamente com o bico virado para o Lucca e a bunda para o Brighman.
-Tá viciada essa garrafa. – ele comentou antes de perguntar – Verdade ou consequência? – ele riu.
-Consequência. Sou homem. – ele falou e todos nós rimos.
-Como eu sei que você está morrendo de vontade mesmo. Quero ver você parar de ser um frouxo e agarrar a Cá. – minhas mãos mesmo diante de tanto álcool gelaram e meu coração aceleraram.
-Não velho, para. – eu disse transpirando nervosismo.
-Não tem dessa velho. Além do mais minha masculinidade tá em jogo. – ele disse rindo e colocando as mãos na minha cintura.
Ele me puxou para o seu colo me fazendo colocar as penas entrelaçadas a sua cintura e colou nossos rostos beijando-me com voracidade. Eu havia esperado por aquele momento a anos, mas não dessa maneira, não em um jogo e muito menos com tamanha voracidade. As mãos dele agarram o meu cabelo e os puxaram com força, fazendo com que nossas bocas separassem, mas apenas para junta-las novamente. Estava presente ali o nosso primeiro dos mil e um beijos.
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