A Química Dos Olhos Azuis

O ensino médio costuma ser um pesadelo para qualquer adolescente, principalmente quando as provas finais vão chegando, a pressão para ser aceito por alguma universidade, o medo de que a carta de aprovação nunca chegue.

Todo esse estresse estava deixando Manuela com os cabelos em pé. O dia parecia pequeno demais para todas as aulas que tinham que assistir e para todas as matérias que tinha que estudar.

- Mila não vai dar tempo de estudar tudo isso.

- Claro que vai Manu, a gente ainda está no meio no ano, relaxa um pouco.

- Fácil falar, você parece que já sabe a matéria antes que o professor explique, não é senhorita "pulei uma série"?

- Calma baixinha, a gente vai conseguir, e ano que vem estaremos nós duas na universidade, indo a várias festas, com vários gatos pra beijar.

- Seu pai sabe dos seus motivos para ir para a faculdade?

- Se ele sonhar que eu disse essas frases ele não me deixa nem terminar o ensino médio, não me dá muita atenção, mas ainda tem toda aquela coisa do ciúmes. Mas a faculdade é a melhor fase de nossas vidas, preciso aproveitar o máximo que eu puder. Tem que ser diferente do que está sendo o ensino médio.

- Eu não sei se vou conseguir passar. Meus pais devem estar se revirando no túmulo por minha causa, e por causa do Diogo, mais por causa do Diogo, mas enfim, sei que eles não estão nada felizes comigo.

- Isso não é verdade amiga, você está se saindo super bem, você só está preocupa com algo que vai acontecer daqui a meses, o máximo que podemos fazer agora é estudar, e tentar prestar atenção nas aulas.

- Mas as matérias não entram na minha cabeça, por que diabos Hitler achou que poderia ganhar a segunda guerra mundial? Já tinha dado tudo errado na primeira. E aquelas cadeias de carbono? Por que só quatro ligações? Sem falar no demônio de Newton.

- É binômio amiga.

- Não, aquilo é o demônio, e não entra na minha cabeça.

- Olha vamos fazer assim, todos os dias depois da aula eu vou pra sua casa estudar com você, pode ser? Aí você fica mais tranquila.

- Certo! Não! Espera, isso não é uma boa ideia, mas eu preciso mesmo de ajuda, mas antes eu tenho que pedir o meu irmão. Não pode ser na sua casa?

- Gente você fala do seu irmão como se ele fosse seu pai. A casa também é sua, você não pode receber uma amiga nem para estudar? E não, tudo sempre é na minha casa, quem precisa de ajuda aqui é você, então vamos para sua casa.

- Na verdade a casa é dele, e meio que ele é responsável legalmente por mim, até eu atingir a maior idade.

- Já acabou? Quase dormi aqui com essa falação. Eu vou para sua casa hoje, quando a aula acabar, veremos se seu irmão é tão ruim assim.

- Ele não é ruim, é difícil explicar, me deixa falar com ele primeiro?

- Não.

- Então vamos estudar na sua casa?

- Não.

- Camila facilita pra mim?

- Não.

- Por favor?

- Não, somos amigas à anos e você nunca me deixou ir na sua casa, nunca me apresentou seu irmão, e sempre arruma uma desculpa para dormir na minha casa. Hoje faremos o contrário, você querendo ou não.

- Camila...

- Não adianta me olhar com essa carinha de cachorro perdido, eu já disse o que vamos fazer e pronto.

Camila estava irredutível em relação a passar o dia na casa da amiga, o que ela não sabia era que a baixinha só estava tentando protegê-la, não que Diogo fosse um perigo, mas ao mesmo tempo era, Manuela só não queria Camila no meio daquilo.

Ela assistiu as aulas em silêncio, e não conseguiu se concentrar em nada, ela tinha que achar um jeito de fazer a amiga desistir daquela ideia, mas as horas iam passando e nada lhe ocorria, só restava se render. Mas para evitar qualquer contratempo, achou melhor avisar que receberia visitas.

Manuela: *Diogo, a Camila vai para casa comigo para estudarmos.*

Vários minutos se passaram e nada do irmão responder.

Já estavam na última aula, por Deus, ela estava quase desmaiando de ansiedade, até que seu celular vibrou.

Diogo: *Nem pensa nisso Manuela, os caras estão todos aqui, é um péssimo dia para você receber sua amiga.*

Droga! Na verdade, nunca era um bom dia para receber alguém.

*Manuela: Eu já tentei convencer ela a desistir disso, mas não adianta, ela é tão teimosa quanto você, e só quer me ajudar a estudar.*

*Diogo: Se acontecer qualquer coisa a culpa é sua.*

Droga! Por que Camila tinha que ser tão teimosa?

No final das aulas, Camila já estava esperando perto do carro de Manuela, um belo carro por sinal.

- Você demorou.

- O sinal acabou de tocar Camila.

- Eu não tive o último horário, já faz um tempão que estou esperando. Então vamos logo, porque eu estou morrendo de fome, então a gente para pra comprar algo, e depois vamos estudar.

Camila não esperou por uma resposta, bastou Manuela desativar o alarme e ela entrou no carro, que era ainda mais incrível por dentro.

- Caramba, você tem um carro muito legal, legal demais.

- Não é meu, é do Diogo.

- E ela te deixa dirigir assim na boa?

- Ele tem outro, e ele prefere me deixar dirigir, do que me trazer para a escola todos os dias. Onde está seu carro por falar nisso?

- Meu pai me deu carona hoje.

- Você tem certeza que quer ir para minha casa?

- Manuela nem começa, só dirige.

Camila ligou o som e foi o caminho todo cantando as músicas que tocavam na rádio. Mas a cada quilômetro percorrido, o coração de Manuela batia mais rápido, não tinha como isso dar certo.

O trânsito estava um caos, então elas levaram uma boa meia hora para chegarem. Manuela entrou com o carro em uma entrada de pedras e parou o carro na porta de uma casa enorme, na verdade dizer que a casa era enorme seria modéstia. Tinha alguns carros parecidos como o que elas estavam, parados na porta.

- Seu irmão está dando uma festa? Se estiver está faltando música.

- São só uns amigos dele que ficam aqui, na verdade alguns deles moram aqui com a gente.

- Sério?

- É, eles estudam juntos e meio que trabalham pro meu irmão eles são melhores amigos, mas a maioria da galera que vai estar aí moram juntos numa outra casa, que fica bem longe daqui graças a Deus.

- Nossa, como assim graças a Deus?

- O Lucas, o Zed e o JC moram aqui, eles são legais, um pouco, o JC é o mais chato deles, mas é só ignorar, o Lucas dá em cima de todo mundo.

- Até de você?

- Não, o Diogo mataria ele, enfim, o Zed é mais sério, não é de conversar muito, mas quando ele fala ele é bem legal, e muito inteligente, qualquer problema que você tenha com celular, computador ou algo assim, ele consegue resolver.

- E o resto?

- Eu não sei o nome de todo mundo, cada dia aparece um diferente.

- Tem mais alguma mulher que mora ou frequenta sua casa?

- Não, eu sou a única que mora aqui, mas às vezes eles trazem algumas garotas, mas prefiro quando isso não acontece.

- E você não tem medo? Sei lá, não estou acusando eles de nada, não conheço ninguém, mas é meio desconfortável, não é?

- Nenhum deles faria nada comigo, eu não brinquei quando disse que o Diogo mataria eles. E sinceramente, eu realmente prefiro quando eles não trazem nenhuma mulher pra cá.

- Certo, não deve ser tão ruim assim, eu acho. Todos eles trabalham pro seu irmão?

- Sim.

- Então eles não deviam estar, sei lá, trabalhando? Hoje é quarta.

- É complicado.

- O que é complicado?

- Mila, eles estudam e trabalham, não faz mais perguntas, por favor, pra ninguém.

- Nossa, parece que você está me levando para o meio de um bando de assassinos.

- Só não faça perguntas, a gente entra, vai pro quarto e estuda.

- Manuela por que você está agindo assim tão estranha? Isso tudo porque não me queria aqui? Eu pego um taxi e vou embora então, que droga, só estava tentando te ajudar.

- Não é isso Camila.

Camila já estava ficando nervosa e irritada pelas atitudes da amiga. E Manuela queria não estar tão preocupada quanto estava no momento, é só que não era bom para Camila estar ali, mas ela não podia dizer porquê.

- Então qual o problema?

- Nada, esquece.

- Certo esquece, eu vou pedir minha mãe pra me buscar.

Enquanto discava o número da mãe, a porta da casa foi aberta e saiu um rapaz alto, com os ombros largos, os olhos tão azuis que poderiam hipnotizar qualquer um, um cabelo arrumado para parecer bagunçado, e um sorriso sarcástico arrebatador.

- MANUELA?

Ele chamou, e a baixinha se assustou, e Camila estava presa olhando aquele homem que parecia nem ser real. Ela logo desistiu de ir embora, valeria a pena ver quem era ele.

- Vamos entrar. – Manuela chamou pela amiga – Sem perguntas, por favor.

Elas fizeram o restante do caminho de pedras em poucos segundos.

- Eu já te falei pra não ficar parada na porta de casa assim.

- Eu sei Diogo, desculpa, só estava conversando com a Camila.

E só então ele se deu conta da presença da amiga da irmã. E assim como ele tinha chamado a atenção dela, ela tinha roubado a dele. Eles ficaram se encarando por vários segundos, até que foram interrompidos pela voz de Manuela.

- Essa é a Camila, minha amiga, que vai estudar comigo.

Camila sorriu, e encantou ainda mais o rapaz.

- Prazer em finalmente te conhecer, Manu fala muito de você.

- É o prazer é meu, agora pra dentro, as duas.

- Educação mandou lembranças.

Diogo tinha uma expressão séria no rosto, como se pudesse matar Camila a qualquer momento só por tê-lo desafiado.

Manuela ficou encarando os dois, com medo de que aquela pequena discussão pudesse se tornar algo maior e desastroso.

- Entra Camila. – Agora ele voltou a falar em seu tom normal.

Camila entrou na frente, o que deu a Diogo a chance de fazer uma avaliação completa, sua expressão e não agradou Manuela em nada, já que ela deu uma bela cotovelada nas costelas do irmão, que ficou até sem ar de dor.

- Não olha a minha amiga desse jeito.

Enquanto seguiam por um corredor que daria na sala, Diogo e Manuela iam discutindo aos sussurros.

- Se eu soubesse que ela era gata assim já teria falado pra trazê-la aqui mais vezes.

- Diogo fica longe dela, é sério.

- Foi você quem a trouxe para a toca do lobo.

Ele disse deixando a irmã para trás, indo para mais perto de Camila.

- Vocês já almoçaram?

- Na verdade não, a Manuela não quis parar em lugar nenhum para comprarmos comida.

- Eu falei que a gente podia preparar algo aqui.

- Manuela tem no mínimo umas dez pessoas nessa casa, você vai mesmo cozinhar pra todo mundo?

- A Camila me ajuda.

- Eu?

- Você não queria tanto conhecer a minha casa, então? Eu moro com quatro homens incapazes de fazerem a própria comida, e sempre tem mais alguns mortos de fome por aqui.

- Manuela não foi essa a educação que eu te dei. Claro que vocês não vão cozinhar, eu já pedi comida daquele restaurante que você gosta, o Gabriel já foi buscar.

- Então nós vamos pro quarto e quando a comida chegar você avisa.

- Você não vai me apresentar pra eles Manuela?

- NÃO!

Diogo e Manuela gritaram ao mesmo tempo.

- Nossa gente, eu só queria ser educada, mas tudo bem, vamos estudar, vocês são dois estranhos.

Enquanto passavam pela sala cheia rapazes, quase todos tão bonitos quanto Diogo, Manuela tentava empurrar Camila o mais rápido possível, mas não deu pra impedir a amiga de ouvir vários daqueles idiotas dizendo o quanto ela era gata, que deveria ficar ali um pouco com eles, Manuela estava empurrando Camila, mas parou quando ouviu a voz do irmão, naquele tom que mete medo em qualquer um. O macho alfa pondo ordem na matilha.

- Eu não quero ouvir nenhum de vocês falando da amiga da Manuela, não falem nem dela e nem com ela, e se algum de vocês ousar tentar alguma coisa, tá morto.

Aquela ameaça foi suficiente para fazer todos os rapazes se calarem.

Logo chegaram no quarto de Manuela.

- O seu irmão é lindo além dos limites da razão, eu ainda não consegui assimilar a beleza dele.

- Meu irmão não é pra você.

- Por quê? Não sou boa o bastante pra ele?

- Não Camila, o Diogo não é bom o bastante pra você, e nem pra ninguém, ele é o maior galinha, amiga não se deixa levar por aqueles olhos azuis, porque eles já fizeram muitas meninas chorar. Pelo amor de Deus não se deixa levar pela conversa de nenhum deles.

- Bom pelo jeito eu não vou ter nem chances de me meter com eles, seu irmão ameaçou eles de morte.

- Isso que me preocupa.

- O quê?

- Nada, vamos estudar, foi pra isso que você veio.