Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
Memórias Interrompidas

Memórias Interrompidas

Larissa Reis

5.0
Comentário(s)
26
Leituras
5
Capítulo

Jade Melo é a herdeira mais rica da América do Sul no ano de 2235 e precisa escolher um homem elegível entre os seus cinco pretendentes perfeitos para se casar. No entanto, ela se vê num doloroso mártir quando percebe que está apaixonada por Robert Liam, um pianista que ela achava estar morto há séculos e é fã desde os 15 anos de idade. Liam é um homem bonito, de 27 anos, gentil, e um inelegível para se casar. Porém, quando conhece Jade, descobre que a vida pode ser muito mais bela e generosa do que ela realmente é, e escolhe arriscar tudo em nome desse amor proibido - incluindo a sua própria vida.

Capítulo 1 Prólogo

Jade Melo não se recordava do momento em que disse "sim" a Luigi Giordano.

Ela não se lembrava das palavras ou ações que a convenceram a torná-lo seu primeiro marido. Não conseguia compreender o que havia acontecido em seu coração no exato momento daquele pedido para aceitar essa decisão.

A verdade é que Jade sabia que Luigi não era nada do que ela queria. Na realidade, nenhum dos pretendentes "perfeitos" escolhidos cuidadosamente pelas agências de homens mais conceituadas de seu país o era.

Todos eles eram incrivelmente semelhantes. Ridiculamente parecidos, na verdade.

A maioria dos homens com potencial para gerar filhas tinha cabelos escuros. Todos tinham mais de um metro e oitenta de altura. Todos ostentavam corpos esculturais com, no máximo, dez por cento de gordura corporal. O nível de testosterona precisava estar acima da média, que atualmente se situava em pelo menos 300ng/dl*. Qualquer valor abaixo disso era excluído automaticamente.

No entanto, o critério determinante para considerar um homem digno de se casar e ter uma posição elevada na sociedade era a contagem de espermatozoides capazes de gerar mulheres. Se essa contagem atingisse pelo menos vinte por cento em relação ao total de espermatozoides, significava que o homem em questão era merecedor de se casar.

Luigi se encaixava perfeitamente nesse perfil. Moreno, alto, musculoso e com um atributo íntimo considerável que poderia satisfazer qualquer mulher que o escolhesse como marido.

No entanto, o grande problema era que Jade sabia que não o queria. Quando despertou no hospital no dia 6 de janeiro, a aliança já adornava seu dedo e a promessa de casamento fora cumprida enquanto ela se recuperava da amnésia resultante de eventos ocorridos no último ano.

Contudo, boa parte de suas memórias não foram recuperadas. Ela sabia que havia se encontrado com Luigi diversas vezes e se lembrava de seus momentos juntos. Também guardava lembranças de seus outros pretendentes: Richard, Cauã, Yugi e Jafari, todos igualmente bonitos e fortes como seu primeiro marido. No entanto, por mais remédios que tomasse, não conseguia recordar o fatídico momento em que disse "sim". Muito menos se lembrava do seu primeiro beijo ou do instante exato em que se convenceu a abrir mão dos demais para ficar com ele de uma vez por todas.

Isso a consumia profundamente. Não porque era inesperado que ela se casasse com Luigi, mas justamente o contrário. Todos já comentavam que Luigi seria seu marido desde que Jade floresceu. Ele era o pretendente ideal e aquele que combinava melhor com ela. Desde quando completara quinze anos, ele fora instruído a ser o homem perfeito quando ela alcançasse seus vinte e um, e assim foi. Durante seis longos anos, Jade soube que Luigi seria o número um de sua lista de pretendentes e que ele a esperava. Ela também sabia que, apesar de sentir uma falsa sensação de poder escolher outro além dele, o orgulhoso descendente dos extintos italianos era a escolha mais óbvia e aguardada.

E ela o odiava por isso.

Luigi não parecia ter personalidade própria. Boa ou ruim, não havia nada nele além de um imenso vazio que deveria ser preenchido por ela, pelos desejos dela, pelos anos dela e por suas decisões. Ele havia sido instruído a gostar dos mesmos pratos que ela, da mesma decoração, dos mesmos livros que ela lia e dos lugares favoritos que ela visitava. Ele não passava de um robô preenchido com inúmeros comandos criados pela agência que o moldou, comandada com mãos firmes por sua mãe, Sonya.

Por um tempo, Jade achou que ele poderia mostrar algo interessante que ela desconhecia. Imaginava que houvesse algum desejo dentro dele além do de simplesmente gerar as filhas que ela merecia. Esperava que a conversa entre os dois pudesse, pelo menos por um minuto inteiro, girar em torno dele de uma maneira que Luigi parecesse minimamente incomum.

No entanto, isso nunca aconteceu no ano e meio em que estavam casados.

— Senhora? — A voz de Olívio, seu criado pessoal, chama sua atenção e a tira dos devaneios de seus pensamentos matutinos. — Trouxe-lhe o chá e seus remédios.

Jade suspira antes de desviar sua atenção do quadro de estrelas pendurado na parede de seu quarto, ao lado de sua cama.

— Eu não aguento mais esses remédios. Eles não estão me servindo para nada.

— Mas os médicos disseram que precisa continuar tomando.

— Há mais de um ano não tenho memórias significativas recuperadas — lamenta. — Não se preocupe, Olívio, eu arcarei com as consequências da minha escolha e não o culparei. Não precisa mais me trazer essas pílulas.

— Tem certeza de que quer fazer isso? A senhora ainda não me parece cem por cento recuperada.

Jade assente.

— Sei que posso perder um pouco a paciência e entrar em um estado de depressão profunda, mas preciso passar por isso, Oli. Não há nenhum remédio que possa me ajudar agora. O que eu gostaria de esquecer, não será esquecido — ela diz enquanto passa as mãos em sua barriga levemente inchada.

— Sinto muito por sua perda — Olívio responde, parado em seu lugar, ainda segurando a bandeja de chá.

— Por outra, você quer dizer — ela lamenta, mas tenta colocar uma feição simpática no rosto. — Já é o segundo bebê que perco em um ano.

Olívio coloca a bandeja na mesa de cabeceira e ajuda Jade a se sentar novamente.

— Quero voltar a me sentir bem, você me entende? Não aguento mais ficar nesta cama tomando remédios que me prometem curar algo que não me lembro.

Oli balança a cabeça compreendendo a mensagem.

— Gostaria ao menos do chá? Prometo que não contarei a ninguém sobre sua decisão, contanto que me garanta que buscará ajuda caso sinta algo.

— O que tem dentro dele?

— Apenas camomila. — Ele garante com um sorriso simpático entregando-lhe a xícara. — Natural, colhido nesta manhã na horta feita por Seu Jacinto, lá perto da enseada da fazenda.

— Ah, então deve estar delicioso. Obrigada, Oli. E eu prometo, sim, que procurarei ajuda caso a falta dos remédios me afete. Não se preocupe. Não estou em minha melhor forma, mas ainda não desejo morrer.

Olívio a encara com um pouco de pena, algo facilmente perceptível para qualquer pessoa.

Amava Jade. Entre todas as mulheres que ele um dia conhecera, ela era a mais doce e a mais delicada com os homens comuns. Jade nunca encarava um homem comum como se estivessem abaixo de seu nível, muito menos exigia que eles beijassem seus pés e a tratassem como a deusa que o mundo havia dito que ela era.

E Oli sabia muito bem que ela era verdadeira em relação a isso. Sabia que Jade tinha um apreço gigantesco por pessoas comuns e suas vidas, que poderiam parecer tão ordinárias para os excepcionais.

E ele sabia, também, de seu passado. Aquele que ela não conseguia se lembrar de maneira alguma, por mais remédios que tomasse.

Entretanto, isso era segredo. Ele não podia contar a ela, ou sua vida estaria em risco.

Mas Olívio não conseguia deixar de sentir pena por ela e pela vida que estava levando agora. Jade não se parecia em nada com aquela garota de dois anos e meio atrás, quando havia se libertado das asas de sua mãe e estava disposta a descobrir o mundo. Ela não parecia ter sequer um por cento da felicidade que um dia demonstrou emanar de dentro de si. E isso, obviamente, estava consumindo-a aos poucos e afundando-a cada vez mais em um limbo macabro, onde sua única função na vida era tentar gerar filhos para Luigi Giordano.

— A senhora não teve mesmo nenhuma memória nova no último ano?

Era óbvio que ela não recuperaria a memória. Ele sabia disso. Sabia que os comprimidos, na verdade, não passavam de inúmeros calmantes leves que a mantinham inerte na maior parte do tempo. Talvez deixar de tomá-los realmente a ajudasse a recuperar sua vitalidade.

— Não. Nenhuma. Apenas sensações que são absurdamente inexplicáveis.

Olívio franze as sobrancelhas.

— Sensações? — Isso era novo para ele.

Jade assente.

— Como quando acordo e olho para este quadro.

Ela aponta para a representação de um céu cheio de estrelas. Na verdade, não era uma pintura e parecia muito genérico, mas ela adorava.

— Eu o descobri debaixo do meu tapete há algum tempo. Desde então, olho para ele como se soubesse o que há ali. Acho que em algum momento eu o comprei e ele caiu da parede, mas não me lembro quando nem o porquê.

Olívio observa atentamente o quadro. Não parecia nada de especial, mas era fato que não combinava com o resto da decoração do quarto. No geral, Jade era muito cautelosa com relação ao ambiente que a agradava, e aquele quadro se destacava dos tons nude e clássicos que o cômodo possuía. A moldura era azul, a madeira era simples e a inscrição em amarelo abaixo do céu estrelado deixava ainda mais simples o seu visual.

— "Making Great Memories" — ele lê em voz alta e encara a patroa. — Está em inglês. O que significa?

— Algo como: fazendo memórias incríveis.

Oli franze o cenho.

— Isso diz algo para a senhora?

Jade suspirou.

— Sim. Eu me lembro que, em um dos encontros com Luigi, eu disse a ele que não era uma pessoa memorável. Que ele era igual aos outros e não havia nenhuma lembrança nossa que eu pudesse distinguir das demais. Que não havia nada que ele me deu que pudesse fazê-lo ser inesquecível.

— Uau, isso foi um pouco pesado. — Olívio se surpreendeu.

Jade riu.

— Mas é verdade.

— Então foi Luigi quem te deu?

Ela negou com um aceno.

— Apesar de ter a data exata em que tivemos essa conversa, ele me garantiu que jamais compraria algo tão feio como isso.

Jade levantou-se e passou a encarar o quadro novamente com tanta intensidade que parecia estremecer seus olhos.

— E eu até concordo que ele não se encaixa aqui, contudo... eu gosto. E ele me traz uma sensação absurdamente reconfortante.

Olívio observou a data quase transparente e minúscula no meio daqueles desenhos de estrelas. Mais uma vez, franziu as sobrancelhas, mas permaneceu em silêncio.

— Isso diz algo para você? — Jade quis saber.

— Que eu sou absolutamente desatento, porque não me lembro de quando a senhora o colocou aqui — disse e disfarçou bem seu semblante quase incrédulo.

— Talvez precise de um desses comprimidos afinal, Oli.

— Se eu descobrir qualquer coisa, prometo que contarei.

Ela sabia que era apenas uma mentira. Na verdade, tinha que ser assim. Olívio estava ao lado dela desde que completara dezesseis anos, mas desde o acidente tem relutado em contar os detalhes dos momentos que ela havia esquecido.

— Bem, acho que irei me trocar e tomar café com meu adorável marido.

Jade deu apenas dois passos quando ouviu a bandeja de Olívio cair da mesa de cabeceira, junto com a xícara e o bule, que espalhou parte do líquido pelo carpete. Junto com os utensílios de cozinha que rolavam pelo chão ao som dos lamentos de seu criado, o quadro de estrelas havia parado quase aos pés muito bem cobertos pelos sapatos brilhantes de Oli.

— Sinto muito, senhora. O quadro caiu bem em cima da quina da bandeja — lamentou-se enquanto tentava limpar o líquido que estava sendo sugado rapidamente pelo carpete.

Jade mal ouviu o pedido de desculpas. Ela notou que a moldura do quadro havia se soltado e desejou que não tivesse quebrado algo nele. Por mais estranho que pudesse parecer, o apego emocional que não sabia se ainda tinha algum fundamento fez seu coração disparar.

Havia uma parte branca bem abaixo, com um link que direcionava para um site: mapaestelar.com.

Franziu o cenho.

Aquilo era um mapa? Um mapa do céu daquele dia em que estava registrado em letras quase transparentes no meio das estrelas?

Isso fazia sentido, mesmo que ela não tivesse tido a brilhante ideia de achar que as estrelas estavam naquele alinhamento naquela noite. Afinal, nunca tinha visto nada parecido com aquele quadro.

— Making Great Memories — repetiu em voz baixa enquanto ainda o encarava.

Jade sabia que aquele quadro era importante desde o primeiro segundo em que o encarou depois do acidente e de recuperar parte de suas memórias, mas nunca teve a brilhante ideia de abri-lo para explorá-lo. Retirou-o de dentro da moldura e esperou que algum bilhete estivesse guardado lá dentro. No entanto, abaixo dele só havia madeira. Suspirou com a falsa expectativa, sentou-se novamente na cama, enquanto Olívio continuava com sua árdua tarefa de não deixar o carpete encharcado, e agradeceu internamente por ele não ter quebrado.

— Vou chamar Greg para me ajudar a secar isso antes que tenhamos que tirar todo o carpete do quarto — Olívio justificou e saiu.

Entretanto, um dos parafusos de sustentação do quadro estava frouxo, o que provavelmente causou sua queda. Jade retirou o fundo de madeira e o apoiou na cama, juntamente com o mapa e o vidro. Enroscou o parafuso novamente e estava prestes a posicionar o mapa quando viu algumas letras quase minúsculas demais atrás das tão misteriosas estrelas.

"𝓥𝓸𝓬𝓮̂ 𝓶𝓮 𝓭𝓲𝓼𝓼𝓮 𝓺𝓾𝓮 𝓷𝓪̃𝓸 𝓺𝓾𝓮𝓻𝓲𝓪 𝓬𝓸𝓲𝓼𝓪𝓼, 𝓪𝓹𝓮𝓷𝓪𝓼 𝓵𝓮𝓶𝓫𝓻𝓪𝓷𝓬̧𝓪𝓼.

𝓔 𝓿𝓸𝓬𝓮̂ 𝓮𝓼𝓽𝓪́ 𝓮𝓶 𝓶𝓮𝓾𝓼 𝓹𝓮𝓷𝓼𝓪𝓶𝓮𝓷𝓽𝓸𝓼 𝓮𝓶 𝓽𝓸𝓭𝓸𝓼 𝓸𝓼 𝓶𝓸𝓶𝓮𝓷𝓽𝓸𝓼 𝓭𝓸 𝓶𝓮𝓾 𝓭𝓲𝓪.

𝓝𝓸 𝓶𝓪𝓹𝓪, 𝓾𝓶 𝓭𝓲𝓪 𝓶𝓪𝓻𝓬𝓪𝓭𝓸 𝓮𝓶 𝓷𝓸𝓼𝓼𝓪𝓼 𝓶𝓮𝓶𝓸́𝓻𝓲𝓪𝓼.

'𝓢𝓸́ 𝓹𝓮𝓷𝓼𝓸 𝓮𝓶 𝓿𝓸𝓬𝓮̂,𝓔𝓶 𝓺𝓾𝓮𝓻𝓮𝓻 𝓽𝓮 𝓮𝓷𝓬𝓸𝓷𝓽𝓻𝓪𝓻.'

𝓡. 𝓛."

Jade sentiu um arrepio percorrer sua espinha e subir até o couro cabeludo depois de ler aquelas palavras. Quem era R.L.? E o mais importante, aquilo era realmente para ela ou apenas teve a sorte de comprar algo que não se lembrava, mas que poderia ser importante para outra pessoa?

Mas não poderia ser. Não fazia muito tempo que o quadro tinha sido feito, a data não era antiga. Ele tinha sido enviado para ela.

O problema era que Jade não fazia ideia de quem poderia ser. Ela sabia que o sobrenome de Richard, um dos seus pretendentes audaciosos, era De Fontaine, nada mais.

Não poderia ser ele. Richard e ela tiveram apenas três encontros que não foram nem um pouco proveitosos. Entre todos os pretendentes que ela teve, ele era um dos que ela menos gostava.

Decidiu tirar uma foto do bilhete e colocar o quadro de volta no lugar. Quem quer que fosse R.L., não estava mais em sua memória.

E por que isso tinha acontecido? Algo tão importante tinha marcado sua vida naquele dia, e ela podia sentir isso através daquele objeto, mesmo que não se lembrasse dele.

Jade sentiu uma mistura de frustração e curiosidade. Ela não podia deixar isso passar em branco. Decidiu que iria investigar e descobrir a verdade por trás daquele quadro e da mensagem enigmática. Talvez aquela fosse a chave para desvendar seu passado e recuperar as memórias perdidas.

Determinada, Jade guardou o celular na gaveta da escrivaninha e se vestiu para o dia, sentindo-se pronta para começar sua busca. Ela não descansaria até desvendar o mistério de R.L. e se recordar das lembranças que estavam escondidas dentro de si.

Continuar lendo

Você deve gostar

Outros livros de Larissa Reis

Ver Mais
Capítulo
Ler agora
Baixar livro