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Frase
Saboreiem do amor tudo o que um homem sóbrio saboreia do vinho, mas não se embebedem.
- Alfred de Musset
Prólogo
Sete meses antes.
A vésperas de Natal combinei com Jana de irmos ao shopping, o Rio estava movimentado, as ruas cheias de pedestres em busca dos preparativos para ceia, mas esse ano tive a brilhante ideia de comprar uma árvore de natal maior, pois queria proporcionar a Daisy uma nova experiência, enfeitar nossa casa com mais luzes e colocar os presentes embaixo da árvore. Ivan não gostou muito da ideia, disse que são coisas desnecessárias, gasto de dinheiro atoa para um dia que passará tão rápido, mas tenho certeza que nossa filha irá amar a surpresa.
Claro que não discordo com o fato de ser um gasto a mais, mas não considero desnecessário como Ivan diz, sempre amei a época de natal e para mim é um dos melhores feriados do ano por isso quero que Daisy tenha essa mesma sensação de amor, paz e prosperidade, mas para Ivan tudo isso é irrelevante, para ser sincera nossas brigas têm se tornado frequente e a cada dia que se passa ele está mais distante.
Ivan sempre foi um homem amoroso, carinhoso e gentil, gostava de sair e passear, levar nossa filha em um pequeno ressorte a alguns quilômetros do Rio, uma fazenda aconchegante, mas nos últimos três meses as coisas estão bem diferentes, sua mudança brusca de humor as vezes me assusta e sinceramente não sei ao certo o que devo fazer quanto a isso, mas sinto falta do homem que ele já foi, pois ultimamente as coisas estão de ponta cabeça e talvez esse seja o motivo maior de querer tornar nosso natal ainda mais especial, mostrar para Ivan a família linda que ele tem.
Jana e eu aproveitamos as compras no shopping o máximo que podíamos, compramos tudo que uma boa árvore de natal precisa e acredito que Daisy se encantará com os pequenos enfeites de papai noel que compramos, além das luzes coloridas para enfeitar a árvore e deixa-la ainda mais bela, tenho certeza que os olhos da minha menina irão brilhar de alegria e ansiedade ao nós ajudar a montar tudo.
Mesmo ansiosa para chegar em casa e começar os preparativos junto a Daisy, resolvo fazer uma surpresa para Ivan na tentativa de reconciliar a briga que tivemos ontem à noite. Deixando Jana em sua casa sigo para a livraria que vem se destacando entre os comércios da cidade, a Mr. Book ainda é pequena, mas vem se destacando entre as outras por ter um espaço aconchegante e silencioso para os leitores usufruírem por tempo ilimitado. Faço questão de ajeitar meus cabelos, passar um batom suave nos lábios e retocar a maquiagem, queria estar apresentável, até mesmo abusei do salto alto está tarde como apelo, pois sei que Ivan adora.
Ao chegar sou recepcionada por Amanda que cuida da limpeza, acho estranho ela estar no lugar da secretaria, mas resolvo não questionar, afinal, talvez Karina precisou ir em algum lugar.
-Senhora, posso ajuda-la? –Pergunta com um sorriso no rosto, mas visivelmente inquieta.
-Amanda, tudo bem? Karina precisou sair? –Questiono e ela aperta as mãos em um sinal de desconforto.
-Ela só me pediu para ficar no lugar dela por alguns minutos.
-Tudo bem, você saberia me dizer se Ivan está em reunião?
-Não senhora.
-Por favor me chame de Hana, isso faz com que eu me sinta tão velha. –Acabo rindo e ela concorda ruborizando.
-Me desculpe, Hana. –Ela olha para trás apreensiva e ergo a sobrancelha a observando.
-Aconteceu alguma coisa Amanda? Você parece meio assustada.
-Não é que o senhor está meio ocupado agora, talvez devesse voltar mais tarde. –Sorri sem graça.
-Ivan está no escritório? –Pergunto desconfiada.
-Sim senhora. –Ela desvia o olhar.
-Com quem Amanda? Me diga. –Sinto o nervosismo tomar conta do meu corpo e a sensação desconforto me dominar.
Já desconfiava que ele estivesse me traindo, mas aqui, bem aqui embaixo do meu nariz era demais para mim.
-Pode deixar que eu tiro minhas próprias conclusões. –Afirmo caminhando para os fundos em direção ao escritório de Ivan. O som do meu salto ecoa pelo piso que imita madeira seguindo as batidas frenéticas e descompassadas do meu coração.
Ao meu aproximar escuto barulhos estranhos e gemidos exagerados o que faz meus olhos se enxerem de lágrimas, a dor se espalha por meu peito e tremores de ódio e raiva tomam meu corpo. Apesar das nossas brigas e das minhas desconfianças nunca acreditei que Ivan teria coragem de me trair.
Os sons aumentam e a dor desesperante em meu peito também, as lágrimas já rolavam solta e sei que deveria ir embora, mas algo me impulsionava a ver com meus próprios olhos, a ter a absoluta certeza de que ele realmente estava fazendo aquilo, estava destruindo o nosso casamento, a nossa família por momentos e quando vejo já abri a porta do escritório confirmando com meus próprios olhos o que meus ouvidos já sabiam.
Ivan segurava Karina debruçada sobre a mesa de madeira enquanto movia o quadril com força, os gemidos que ecoam de sua garganta me enojam e o prazer estampado em seu rosto me causa ânsia. O suor escorre do rosto de Ivan enquanto ele segura os cabelos de Karina com força e ódio só cresce em meu peito.
Ódio por todas as nossas brigas, por todas as vezes ele me chamar de louca quando desconfiei dos cheiros de perfumes femininos que vinha em suas camisas, por todos as noites que ele me recusou quando o procurei.
-Hana? –Saio do meu torpor quando vejo Ivan procurando as calças e Karina tentando tampar sua nudez com a camisa preta com detalhes vermelhos que eu dei de presente para ele no seu último aniversário.
O ódio que sentia era tanto que minha única vontade era avançar em Ivan e esbofeteá-lo até sentir minhas mãos doerem, entretanto contenho minha raiva fecho a porta e sigo em direção a saída a passos rápidos e descidos.
-Hana minha flor. –Ouço Ivan gritar e bato a porta de entrada com força o deixando lá dentro.
O ódio só aumenta ao ouvir aquele apelido que tinha tanto significado para mim, já que foi escolha dos meus pais por amar a cultura japonesa escolher um nome com esse significado. Sabendo disso, Ivan sempre me chamou de minha flor, confesso que gostava do gesto de carinho e me sentia especial, mas agora o odeio com todas as minhas forças.
Mal vejo os pedestres que caminham e acabo trombando em alguns, as lágrimas embasando minha visão e a dor consumindo cada cantinho do meu coração não colabora em nada. Já estava caminhando a um bom tempo sem rumo e sei que preciso ir para casa, mas deixei o carro no estacionamento da livraria, como não queria voltar até lá para busca-lo chamo o primeiro táxi que vejo passando meu endereço para o homem que me observa com preocupação.
Nessa altura minha maquiagem já estava borrada, o rímel preto escorrido, além da vermelhidão em meus olhos, ignoro aqueles fatos e peço apenas para que ele siga em frente, mas ele insiste em puxar conversa.
-Dia difícil dona? –Questiona me observando pelo retrovisor.
-Você não faz ideia. –Dou um meio sorriso cheio de sarcasmo, pois “difícil” era apenas apelido para aquela situação caótica.
Com uma expressão de compaixão estampada em seus olhos o motorista segue em silencio e aproveito para me encolher no banco do carro chorando minhas frustrações, lembrando dos bons momentos que tive com Ivan e pensando em como contaria para nossa filha que o pai não moraria mais na mesma casa que nós. O pai que ela tanto venera e que ultimamente tem a ignorado, evitado suas brincadeiras e até mesmo se irritado quando na verdade nossa filha só queria um pouco de atenção.
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