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Capítulo 1 A menos que você seja uma pessoa do tipo festeira, que tenha muitos amigos, ou melhor dizendo, poucos amigos dos quais esteja na mesma vibe para sair, curtir uma balada e vários drinques, a noite de domingo para uma solteira pode ser um tanto entediante e até mesmo carente. Sei que noventa por cento das matérias e posts de autoajuda no Instagram diziam que “deve-se estar bem sozinha antes de trazer alguém para o seu mundo”, que tinha que curtir a própria companhia e blá blá blá.
Ok, concordava com tudo isso, mas também precisava ter o direito de me sentir sozinha, quando tudo que mais queria era um “mozão” em quem me enroscar, trocar carinhos e fazer safadeza, ou que me fizesse companhia para assistir algo na Netflix. Solteira há cinco anos, com a terapia em dia e zero vontade de curtir a noite como se eu fosse jovem — tudo bem, com meus vinte e sete não daria para dizer que era uma idosa, estava mais para um corpo cansado —, tive tempo demais para fazer algumas viagens sozinha, me redescobrir após um término desastroso e estar disposta a me abrir para o amor novamente. "Você espera o que? Que o príncipe apareça no sétimo andar da torre B do condomínio Alabama e, por acaso, a encontre?", dizia minha melhor amiga e também vizinha, que tentou a todo custo me arrastar para fora de casa, horas atrás, com a promessa de diversão. Sério que isso seria possível numa noite de domingo, considerando que no dia seguinte eu tinha trabalho a fazer? Definitivamente, não sabia como ela aguentava. Em algum outro dia seu discurso até teria funcionado comigo, como já tinha acontecido antes, mas daquela vez, com meus pais fora de casa devido a noite de bingo na igreja, só queria ficar sozinha, no silêncio. Ter que conversar gritando ao pé do ouvido por conta da música alta era um saco. Levantando da frente do notebook, estiquei os braços acima da cabeça e, tombando primeiro para um dos lados e em seguida para o outro, alongando a coluna, constantemente castigada pelas longas horas que passava diante do computador. Ossos do ofício, afinal de contas, eu tinha uma coluna semanal para escrever e muita pesquisa a ser feita. Com o estômago reclamando após tanto tempo sem receber comida, no máximo alguns goles de água, que por sinal havia acabado horas atrás, abri o aplicativo de delivery e fiz um pedido de comida japonesa no meu restaurante favorito. Na falta de uma companhia masculina que me satisfizesse do jeito que eu precisava, teria que me contentar com o prazer proporcionado por uma porção de peixe cru. Tendo pela frente uma espera de aproximadamente cinquenta minutos até que o pedido fosse entregue, fechei a tela do notebook que ainda exibia meu texto recém-escrito, e só então notei a escuridão à minha volta. Estive tão imersa no processo que sequer vi as horas passarem. Esquivando dos móveis que estavam em meu caminho, andei até a janela do meu quarto, a única fonte de luz no momento e, antes de ligar o abajur que estava sobre a mesinha de cabeceira, me permiti apreciar a noite por alguns instantes. Mesmo tendo crescido na cidade grande, rodeada de prédios, ainda me encantava pela vista proporcionada, por cada um dos pontos brilhantes que se estendiam a perder de vista como as estrelas no céu, que por um milagre divino, encontrava-se mais “limpo” e sem nuvens do que de costume. Embora fosse mais comum ver pessoas emitirem sons de admiração para a lua cheia, que em sua plenitude já inspirou uma infinidade de músicas e poemas, jamais poderia negar que a lua crescente tinha lá seu charme, como eu bem constatei. Após longos minutos observando-a em silêncio enquanto refletia sobre sua fase atual e o significado atribuído a ela, a intenção de mudança, me afastei da janela. Depois de acesa, a luz fraca e amarelada do abajur deu um clima acolhedor ao ambiente, apesar de não iluminá- lo em sua totalidade.