Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
A proposta ousada do CEO
Minha querida, por favor, volte para mim
Um casamento arranjado
Um vínculo inquebrável de amor
O caminho para seu coração
O retorno chocante da Madisyn
O Romance com Meu Ex-marido
A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
Lágrimas da Luna: Dançando com os príncipes licantropos
Pov Charlie
As pessoas costumam dizer que o ser humano é capaz de se adaptar a tudo, que nos modificamos ou modificamos o ambiente à nossa volta para nos adequar e nos adaptar.
Eu era a prova viva de que isso é mentira.
Durante muito tempo me vi em uma situação de cárcere, sem me conformar nem por um minuto enquanto era mantida naquele cubículo.
Um espaço de três por dois e meio, era possível contar nos dedos a quantidade de passos que eu dava para cruzá-lo, sufocante, escuro, com apenas uma janela retângular com grade de onde nem era possível ver a rua. Ainda assim, era o meu mundo.
Passei os dedos pelas lombadas dos livros na estante mais alta, títulos infantis e juvenis na maioria, mesmo que meus preferidos fossem romances censurados em qualquer parte onde havia toque. Eu preenchia as lacunas com meus pensamentos, isso ele não podia controlar.
Quando o autor dizia “ele se aproximou", eu deitava no travesseiro e ficava imaginando motivos para se aproximar de alguém, de mim, onde ele tocaria? No meu rosto? Na minha mão? No vão triangular entre minhas pernas? Um lugar que aprendi a odiar ao longo dos anos, coberto pelo ferro da castidade onde nem o mais hábil ladino das histórias de fantasia conseguiria invadir
Algo escorregou pelo espaço entre a porta e o chão, me tirando da minha fantasia abstrata. Me levantei depressa, o bilhete que eu tanto ansiava finalmente havia chegado.
“Tudo pronto”. Era o que dizia, mas a esperança de que sairia daquele quarto em breve foi manchada por duas marcas de digitais carimbadas em sangue no papel e sufocada pelo baque oco na porta pelo lado de fora.
Dei alguns passos para trás, até estar encostada na estante de onde caiu alguns livros, ouvi cada um dos trincos na porta serem abertos, os sons metálicos agindo como catalisador, juntando toda a agonia naquela contagem regressiva assustadora.
Ao final dos cinco cadeados, um silêncio de alguns segundos onde havia uma falsa paz, antes da porta abrir, lentamente, revelando uma visão assustadora.
O homem que me prendeu, ao qual eu era obrigada a chamar de pai, apoiou o braço no batente da porta, parecia cansado e furioso, em sua outra mão ele segurava o cabelo castanho claro de um garoto que não devia ter mais que a minha idade, alguns ainda o chamariam de criança, mas ele era o único que me encontrou ali, alguém que meu pai confiou um dia para me entregar os livros, comida, roupas. Alguém que eu também confiei que acabaria com meu sofrimento.
Ele me olhou com súplica, seu rosto estava irreconhecível, deformado pela surra, eu não tinha como ajudá-lo, eu também estava assim por dentro.
- É isso que acontece quando tenta fugir - a voz rouca que vinha carregada de pena fez meus pelos se arrepiarem - quando você vai aprender?
Meu pai sacou uma pistola da parte de trás da calça e rápido como arrancar uma farpa, ele a encostou na nuca do garoto e puxou o gatilho, o som do tiro naquele espaço minúsculo reverberou pelas paredes e fez meus sentidos entorpecerem.
Meu pai soltou o corpo morto que caiu do lado de fora do quarto e se aproximou de mim, exatamente como eu tinha imaginado, mas seu toque em meu rosto foi áspero e asqueroso.
Não era a primeira vez e naquele momento soube que não seria a última. Ele saiu do quarto e a porta bateu, ouvir aquelas trancas se fecharem doeu muito mais do que em qualquer dia.
Me sentei na cama, eu já nem conseguia mais chorar. Não sabia quando teria outra chance de ao menos tentar fugir, então precisava começar cedo. Jogar bilhetes pela janela não resolveu, meu pai colocou uma rede de pegava tudo o que caía daquele pequeno espaço que o vidro abria, assim como quebrar o vidro para pular também se mostrou ineficaz, mal tinha espaço para minha cabeça.
Fingir ficar doente, quando meu pai trouxe um médico que foi executado depois de me tratar. Gritar, implorar, ficar sem comer, sem banho, sem água. Nada funcionava. Nem mesmo partir para o coração mole dos poucos subordinados de meu pai que sabiam da minha existência.
Mas tinha que ter uma saída. O que os livros me mostravam era que coisas absurdas aconteciam, mas o herói sempre dava um jeito de tudo dar certo no final. Eu precisava ser a heroína da minha própria história, porque ninguém viria me salvar.
Só me trouxeram comida no dia seguinte, me levantei e como protesto, peguei a faca da bandeja e mesmo que ela não fosse afiada o suficiente, a usei para cortar as mechas longas do meu cabelo. Não foram cortes precisos, apenas peguei pequenas mechas e segurei em arco para então passar a faca partindo os fios.
Ainda assim, dias se passaram até que algo realmente acontecesse. Meu pai entrou no quarto com passos firmes.
- As coisas que você me obriga a fazer - seus olhos se encheram de água.
Pela porta um homem grande entrou empurrando uma caixa de madeira, a primeira coisa que pensei foi em como eu iria caminhar pelo quarto com aquela coisa ali dentro, demorei alguns segundos para perceber que ela era o suficiente para suportar minha altura e largura do meu quadril.
- Não, pai. Não.
- Você pediu por isso, Charlie - ele agarrou meu pulso, eu lutei, me debati, bravejei com toda a força que meus 156 centímetros permitiam, mas eu tinha apenas quatorze anos, contra dois homens adultos e maus.
Fui jogada para dentro da caixa, algo duro bateu na minha lombar me fazendo gritar de dor, então meu pai tirou o objeto e o prendeu em torno da minha cintura, era frio. O outro homem saiu do quarto sem expressar o mínimo de emoção.
- Eu odeio você - cuspi as palavras com toda a raiva em meu peito.
- Um dia, você vai entender - ele se afastou e olhou para mim ali dentro - você é preciosa demais para esse mundo, Charlie.
Ele bateu a porta do caixão enquanto eu gritava e ouvi mais uma vez cadeados serem trancados, bem mais perto dessa vez, em poucos segundos tudo estava escuro e silencioso, nos dias, meses e anos que se passaram, não existiu um só dia que eu não o quisesse morto, sete anos depois, Luke me deu isso.
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