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O filho favorito do Rei

O filho favorito do Rei

MarcySaraiva

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Capítulo

Lyrian acabara de completar 17 anos e estava finalmente sendo enviada para seu destino, traçado ainda no ventre da sua mãe: casar se com o príncipe da Bessarábia, Thomaz. A princesa Ucraniana da linhagem Douwey, sexta de uma prole de 8 filhos, não devia reclamar ou se rebelar, sabia que seu destino e única utilidade no mundo era um acordo de paz entre os reinos, mas estava profundamente contrariada. James Balan tinha uma vida até que tranquila, para um filho bastardo do rei. Aos 21 anos, dividia seu tempo entre os treinamentos do exército e a cama das meretrizes, pouco se importando com as mazelas da política. Odiava profundamente seu pai, mas amava com a mesma intensidade seu irmão Thomaz, o próximo da linha de sucessão, então suportava as obrigações reais apenas por ele.

Capítulo 1 E fez se luz

James abriu os olhos azuis completamente contrariado. A dor logo tomou conta da sua cabeça, fazendo seu estômago revirar, e ele se odiar, já que mais de uma vez já havia prometido a si mesmo não entrar de cabeça na garrafa de hidromel. Aquilo tinha um raro poder sobre ele: tirava-lhe toda a timidez e lhe causava uma terrível ressaca no dia seguinte.

Ele não era um homem fraco para bebida, raramente lhe causavam algo a mais que uma leve e passageira alegria e talvez um rubor nas faces, mas aquela bebida, muito popular entre os aldeões, verdadeiramente lhe derrubava. E o pior, é que geralmente ele acabava em alguma confusão sempre que a bebia.

Piscou várias vezes os olhos, se acostumando a claridade e pôde reconhecer onde estava: em algum dos quartos da Red Mèrcet, uma estalagem pouco elegante da capital. Sentou-se na cama e percebeu dois pares de pernas femininas enroladas ao lençol grosseiro.

As donas das pernas dormiam profundamente, e não seria ele a acordá-las. Levantou-se com cuidado e procurou sua camisa e suas botas, que estavam jogadas pelo quarto. Vestiu-se rapidamente e saiu do quarto, deixando uma boa quantia de moedas na mesa de cabeceira, talvez mais do que as mulheres ali dormindo estivessem acostumadas a receber pelos seus serviços.

Deu alguns passos pelo corredor e foi inesperadamente puxado pelo braço direito para dentro do quarto vizinho. Em apenas alguns segundos, James segurava seu raptor, apertando contra sua garganta a lâmina afiada de sua adaga. Então reconheceu os cabelos vermelhos e os anéis de ouro do meio irmão, e o soltou imediatamente.

- Futu-i Thomaz. Me deu um susto enorme. Podia ter me chamado, nem estava lembrando que você tinha vindo junto ontem.

-Shiiii... Fala baixo, Jay. Estou encrencado... – o mais novo parecia realmente apavorado.

Então James olhou para o meio irmão, vestido apenas com camisa, o cabelo vermelho desalinhado e duas grandes sombras abaixo de seus olhos. Em segundo plano, atrás dele, uma bela garota, loira e com a pele muito clara e macia, pouco condizente com a prostituição, dormia suavemente sobre a cama, logo abaixo dela, no lençol branco, uma mancha de sangue já um pouco seca...

-O que você fez com a garota, Thommy! Você sabe que eu já tirei você de muitas encrencas, mas como vamos sair dessa estalagem carregando um corpo sem ninguém perceber? – vociferou tentando manter o tom de voz ainda baixo que só o irmão pudesse ouvi-lo.

-N-não é nada disso – Thomaz tinha os olhos perdidos em algum lugar no tempo ou no espaço, enquanto James amassava os cabelos loiros escuros e sob os dedos, absolutamente atordoado com a preocupação.

-Seu pai vai me matar, e depois vai te deserdar... Como você pode ir dormir com uma prostituta e matar ela?

-Prostituta? – uma voz confusa e suave interrompeu a bronca de James – quem matou uma prostituta?

Os dois viraram ao mesmo tempo e encararam a garota, agora sentada na cama, meio enrolada nos lençóis, com uma longa e encaracolada cabeleira loira descendo sobre os ombros. Sua face estava muito rubra, fosse pela vergonha ou pela força do ódio com que ela os massacrava com o olhar.

E então o entendimento fez a cabeça de James doer ainda mais. Lembranças da noite anterior vieram à tona. O pedido do irmão já bêbado, a ida até a casa da garota, o caminho de volta à estalagem. A dança. A bebida. Tudo começou a fazer o estômago de James revirar.

-Seu pai vai te matar. Você sabe disso! – James tentou pensar em alguma coisa enquanto andava pelo quarto e o irmão conversava algo com a garota. Ele tinha razão de estar desesperado. Se ele tivesse matado uma prostituta, por mais terrível que fosse, o pai poderia tapar a boca de testemunhas com dinheiro, que não lhe faltava, ou com ameaças, já que era o maldito rei.

Mas Thomaz havia deflorado uma virgem. E ainda pior, não era uma simples virgem camponesa, tratava-se da única filha do Duque de Prior, amigo íntimo do rei e grande proprietário de terras. A mãe da menina havia morrido durante o parto e o duque nunca havia se casado novamente, dedicando a vida a cuidar dos negócios e da filha única.

A noite passada, a noite de jogos do rei, enquanto todos estavam se divertindo em jogatina e bebedeira, o herdeiro e o bastardo do rei haviam saído furtivamente do palácio, sequestrado a filha do Duque e participado de uma festa na aldeia. Tudo sem o conhecimento do rei.

-Eu sei o que está pensando. Mas eu vim porque eu quis. Sou apaixonada pelo Thommy desde que nos conhecemos, ainda crianças...

-Vocês ainda são crianças – James a cortou antes que pudesse dizer mais algo.

-Falou o irmão 3 anos mais velho...

-Meio irmão. Eu tive a sorte de ser o filho da concubina do rei. Só isso. – deu de ombros, sem querer comentar sobre o assunto.

-Já disse que vim por vontade própria, se os dois me derem licença vou me vestir e voltar pra casa.

-As coisas não funcionam assim, senhorita. Se alguém mais souber o que houve aqui, você estará arruinada, e provavelmente o acordo de paz com o casamento do Thomaz também.

A garota olhou para o príncipe e seus olhos ficaram marejados.

Thomaz também ficou instantaneamente triste e quase amoleceu o coração do irmão. Ele claramente não queria o casamento arranjado.

-Vamos tentar resolver isso. Fiquem aqui e não saiam – disse fechando a porta atrás de si.

*

Assim que a porta foi fechada, Thomaz se aproximou da cama e deu um beijo casto nos lábios de Isobel.

-Você sabe que não quero me casar com ela. Mas não sou dono de mim.

Isobel fechou os olhos em resignação e soltou um breve suspiro. Era o preço de estar apaixonada por um príncipe.

-Eu sei disso. Mesmo assim, não é fácil pensar no que será amanhã.

-Pensaremos no amanhã, amanhã... Por hoje quero apenas pensar que você é minha – falou no meio dos seus cabelos.

Isobel sentiu um breve alívio, mas logo algo lhe incomodou:

-Ela é bonita? Sua noiva? – perguntou triste.

-Não mais que você – Thomaz a abraçou – só a vi uma vez quando foram assinados os acordos, éramos bem pequenos, mas me lembro dela não ter nada de especial. Parecia uma menina comum, muito tímida e estranha.

Isobel apenas assentiu com a cabeça e ambos ficaram abraçados em silêncio quando a porta se abriu e James entrou com uma grande capa preta feminina, bastante velha, e lhe entregou.

-Vista-se vamos sair pelos fundos. O capitão do Lorde Prior acaba de chegar na estalagem, não podemos ser pegos.

*

Após deixar a filha do conde no bosque ao lado de sua casa, James observou até que ela estivesse em segurança em casa, e então voltou a companhia do irmão que esperava oculto na estrada.

Cavalgaram em silêncio por um longo tempo, até que Thomaz emparelhou seu garanhão ao de seu irmão.

-Não há nada mesmo a fazer? – questionou Thomaz, no fundo já sabendo a resposta.

-Não entendo muito de política, ou de leis, você sabe que sou um homem de armas, não de livros. Mas conheço a lei da honra da palavra de um homem, e sei que esta não deve ser desfeita –James afirmou, desanimado.

-Por Deus! Não fui eu quem empenhou minha palavra! Não é justo que tenha eu de cumpri-la... – o jovem príncipe estava visivelmente revoltado.

-Sua posição de sangue real te impede de tomar suas próprias decisões, você sabe disso. Quem nasce na realeza não pertence a si mesmo, mas pertence à vontade do povo... – disse James imitando a voz do monarca. Não havia diversão em sua voz. Apenas um pouco de amargura.

- Você também é da realeza, James. Nem por isso vejo você seguindo essas malditas vontades do povo.

- É diferente. Eu não sou da família real. Sou um bastardo. Não sou o herdeiro do trono.

-Mas deveria, já que é o primogênito do rei – Thomaz sabia onde essa conversa chegaria, ainda assim provocava o irmão.

-Chega dessa conversa –cortou– se quer chegar antes que alguém note a sua fuga, precisa aprender a cavalgar como um homem.

Antes que o irmão pudesse responder, instigou o mustang negro e tomou rumo do castelo, enquanto o jovem príncipe tentava o alcançar.

*

James entrou na antessala dos aposentos reais sem ser anunciado. Apenas cumprimentou a guarda na porta e empurrou a pesada porta. O rei encontrava-se sentado na banheira de costas em direção à porta, e um delicioso aroma de ervas se erguia no vapor.

Puxou uma cadeira da escrivaninha e sentou-se, deixando o barulho do arrastar da cadeira anunciar sua chegada.

Domenicus II fez um breve gesto, e a criada que lhe servia na banheira rapidamente se levantou, as roupas molhadas deixando ver suas formas quase esqueléticas. Sem uma palavra a criada enrolou-se aos trapos que chamava de vestido e saiu pela porta lateral do aposento.

Apenas um gesto com a mão e um criado, muito pálido, entrou com o roupão do rei, ajudando-o a se vestir. Depois, saiu dos aposentos tão silencioso quanto entrara.

-Vossa majestade precisa mesmo de criadas tão jovens para satisfazer sua lascívia? Essa menina não tem mais que 15 anos – James externou sua repugnância.

-Vejo que tem seguido meus conselhos e colocado pra fora suas opiniões, meu filho – disse abrindo um franco sorriso – só não se acostumou ainda a me chamar pelo que sou: seu pai.

-Não me sinto à vontade para isso – foi sincero – mas diga-me, por que mandou me chamar?

-Ainda espero ouvir você me chamar de pai, assim como você fazia na infância. Nada mudou – disse convicção o rei – mas agradeço que tenha vindo tão rapidamente. Notei que não passou a noite de jogos conosco – James podia ouvir seus próprios batimentos, o medo de que o pai soubesse o que havia ocorrido na noite anterior o corroía – nem Thomaz. Sei que devem ter se entediado com os velhos, mas prefiro que estejam presentes para aprenderem mais sobre política.

James soltou o ar, que nem notara que estava prendendo, e apenas assentiu.

-Já que não estavam aqui, acabaram não sabendo da notícia – o rei caminhou até a escrivaninha a frente de James, pegando uma carta com o selo da família real ucraniana – a noiva de seu irmão deve chegar amanhã ao porto. Preciso que prepare um destacamento para a segurança da princesa. E preciso da sua presença para recebê-la no castelo.

James ficou um tanto confuso, uma vez que, sendo um bastardo, não fazia parte da família real para precisar recepcionar ninguém.

Como sabia ler seu filho como ninguém, Domenicus completou:

-Já disse que você precisa se habituar à política. Tudo isso faz parte.

-Certo. Estarei lá – concordou com um muxoxo de desgosto – mais alguma coisa, senhor?

-Sim. Peça ao Antomnus que venha até aqui. Preciso que prepare os aposentos para a princesa.

O rapaz saiu do quarto real bastante contrariado e após avisar ao mordomo real que atendesse ao rei, bateu à porta do irmão.

-Já sabe que sua noiva chega amanhã? – disse, colocando a cabeça pela porta entreaberta do quarto.

-Sim. Parece que ela virá com o próprio navio – Thomaz fez uma cara de desgosto – pode imaginar uma princesa com seu próprio navio?

-Dizem que ela é bem excêntrica –James riu, assentando-se a vontade na cadeira.

-Você diz excêntrica para não dizer louca, né? –ambos riram, mas logo James ficou muito sério.

-O que você pensa em fazer com Isobel?

-Eu a amo. E não temos culpa desse acordo. Também não posso desapontar nosso pai – Thomaz estava visivelmente desanimado – mas ainda tenho esperança de encontrar uma saída.

-Thommy, não pode condenar Isobel a uma existência como a da minha mãe. Você sabe que isso aconteceu com eles, você está tentando repetir os mesmos erros do seu pai.

-Não, irmão. Eu jamais faria isso com Isobel. Mas talvez eu possa fazer minha noiva me repudiar antes do casamento. Uma parte do acordo é que ela só se casará aos 18 anos, e ela deverá aceitar por livre e espontânea vontade. Por isso ela ficará conosco esses 8 meses, para que possa decidir se aceita se casar comigo. Meu plano é fazê-la desistir.

James ouviu o plano do irmão em silêncio pelos próximos três quartos de hora, era um plano elaborado e talvez, apenas talvez fizesse algum sentido.

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