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Capítulo 1 Prólogo - O Primeiro Confronto

Alessandro Spinola se manteve imóvel à porta, com os punhos cerrados ao lado do corpo, o maxilar travado. Seu olhar frio e severo se fixou na garota que abria a porta com total naturalidade, como se não estivesse com uma camiseta larga e uma calcinha minúscula vermelha que fazia seu sangue ferver por motivos errados.

Errados e perigosos.

Nina Sanchez. A melhor amiga da sua sobrinha. A universitária de gênio explosivo e olhar afiado. A garota que havia o confrontado por telefone, que tinha o tratado como um moleque e o desafiava sem medir as consequências.

Ela cruzou os braços sob o peito, sem se importar com a exposição, ou talvez exatamente por isso. Os olhos azul-acinzentados o encaravam com firmeza, ousadia e um toque perigoso de provocação.

- Ora, ora... se não é o magnânimo Alessandro Spinola em pessoa. A que devo a honra?

- Vim falar com a minha sobrinha - ele respondeu, seco. - Será que pode fazer o favor de chamá-la?

Nina arqueou uma sobrancelha, recostando-se de leve na porta com um sorriso enviesado nos lábios carnudos e provocantes.

- Agora você quer estar presente na vida da Catarina? Depois de anos sumido, ignorando ligações, aniversários, decepções... e agora bate na porta como se fosse o herói da história? Que timing impressionante.

O sangue subiu às têmporas de Alessandro. Aquela menina atrevida era um pecado ambulante, o verdadeiro mal encarnado. E o pior: ela sabia.

Ele deu um passo à frente, sentindo o perfume floral que escapava da pele dela. Um aroma doce e insolente, como tudo nela. Os olhos escuros desceram por um instante, rápido demais para ser notado, lento demais para ser inocente.

- Olha aqui, garota - disse ele, tentando manter o controle, porque a garota além de atrevida e sensual, era cheirosa. - Você não sabe de nada. Não se meta no que não lhe compete. Agora pare de fazer cena e chame minha sobrinha. Agora.

- Alessandro... - murmurou David, seu amigo, tentando intervir ao ver o fogo que se acendia entre os dois.

- Não se mete, David! Essa menina insolente e sem educação precisa ouvir algumas verdades!

Nina arregalou os olhos e o sorriso desapareceu por completo do seu rosto delicado. Ela se aproximou mais, com o dedo indicador erguido, e bateu no peito dele com força.

- Minha mãe me ensinou a ter educação com quem merece - cuspiu as palavras, com os olhos faiscando. - E sabe o que mais? Nós oferecemos exatamente o que recebemos, senhor Spinola.

Alessandro estava prestes a retrucar quando notou o vizinho do lado, com a porta entreaberta, observando a cena com interesse demais. O velho sorria abertamente, encantado com a calcinha vermelha à mostra da morena. Alessandro sentiu o sangue ferver de novo, mas por outro motivo.

Antes que dissesse qualquer coisa, a esposa do vizinho puxou o marido pela orelha para dentro da casa com um grito em espanhol, encerrando o espetáculo alheio.

David coçou a nuca, visivelmente desconfortável, mas Nina não recuou nem um centímetro.

- Ora, sua... - começou Alessandro, já sem filtro.

- Tio?

A voz suave de Catarina ecoou da escada, abafando toda a tensão. Alessandro desviou o olhar e seu peito finalmente se acalmou ao ver a sobrinha ali, com o rosto ainda amassado de sono, descendo as escadas com os olhos marejados.

Ela correu e se jogou nos braços dele, e Alessandro a acolheu como quem segura a própria alma de volta.

- Cata... - ele sussurrou, apertando o corpo dela contra o seu. - Eu estava tão preocupado.

- Eu sei - disse ela baixinho. - Mas estou bem agora, tio. Prometo.

Nina recuou alguns passos, o semblante mais suave, mas ainda com os olhos atentos. Ela observava o reencontro com ternura, mas também com ceticismo.

David desviou o olhar, tentando focar em qualquer outro ponto da sala que não fosse as duas garotas de camisetas largas e pouca roupa. Percebendo a inquietação do homem, e ainda aborrecida com a discussão, Nina disparou, ríspida:

- Algum problema?

David corou, desviando o olhar da garota sem graça.

- Não, não... desculpe a intromissão. Não quis faltar com respeito a vocês.

Ela suspirou, assentindo.

- Tudo bem. Mas da próxima vez, bata antes de entrar num território que não é seu. A vista pode te custar caro.

Alessandro lançou um olhar fulminante para ela, mas se calou. Catarina o puxou pela mão.

- Tio... amanhã a gente conversa melhor, pode ser? Eu prometo que vou pra casa cedo.

Ele hesitou e seu olhar voltou novamente para Nina, que agora estava encostada na parede com o belo par de pernas à mostra. O olhar dela dizia "ouse discordar", e ele, pela primeira vez, se viu rendido.

- Tudo bem, principessa - murmurou, beijando o rosto da sobrinha. - Mas amanhã, sem plateia.

- Tudo bem - respondeu Catarina, sorrindo.

Alessandro se afastou do abraço e voltou a encarar Nina, como se ainda não tivesse terminado com ela.

- Vamos, David.

- Desculpe novamente, senhorita Nina - disse o amigo, sem graça.

- Acho bom ensinar ao seu amigo aqui o que são boas maneiras - respondeu ela, firme. - O titio precisa de uma reciclagem urgente.

Alessandro parou à porta e virou-se pela última vez.

- Amanhã, Nina - disse ele, em tom baixo e carregado de promessas. - Você não vai ter essa parede pra se esconder.

- Amanhã estarei de salto. E não vou me esconder - retrucou ela. - Pode trazer sua arrogância, titio. Eu levo minha verdade.

Ele saiu, com os olhos ainda colados nos dela e Catarina fechou a porta com um suspiro.

- Nina...

- Quem esse brutamontes pensa que é? - bufou Nina. - Cata, você só vai pra casa se se sentir segura. Eu prometi a você isso e não quebro minha palavra.

- Ele está tentando. Eu sei que errou, mas... é meu tio. E eu preciso contar o que aconteceu. Por mais que me doa.

Nina a abraçou, apertando-a com ternura.

- O que passou, passou. Agora você tem a mim. E ninguém mais vai machucar você. Nem mesmo ele.

Mas o que Nina não admitia, nem para si mesma, era que o verdadeiro perigo... era Alessandro.

E ele já morava nos lugares mais perigosos do seu corpo.

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