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Nada Menos que "Clichê"

Nada Menos que "Clichê"

RF

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36
Capítulo

Rachel Fernandes é uma brasileira que se muda para a cidade de Vancouver no Canadá, para realizar seu sonho de passar o tempo no exterior. Em um curso de Francês ela encontra Noah Levinson, um judeu de olhos azuis e cabelos loiros que seria o cara perfeito se não fosse gay, ambos se conhecem de maneira inusitada virando amigos inseparáveis durante sua estadia por lá, mas quando o visto de Rachel acaba, Noah pede Rachel em casamento, e os dois devem estarem presos um a outro por no mínimo dois anos para que tudo dê certo, mas o que Rachel não esperava, era que seu "clichê" começaria assim que conhecesse de maneira inusitada, uma certa morena de olhos azuis, independente e bem sucedida, que também tinha tudo para ser perfeita, se não fosse por sua ambição, desapego e principalmente, a enorme capacidade de mentir. OBS: Plágio é crime!

Capítulo 1 One

Dizem que os romances clichês, são aquelas velhas histórias batidas que na maioria das vezes ocorrem mais na ficção do que na realidade, a verdade é que eu não acho que a minha seja um clichê, mas eu quis chamar sua atenção com esse título, muitos falam mal do clichê mas os adoram lá no fundo, então eu quis ser irônica, e porque também divulgação é o meu ponto forte e eu trabalho com isso.

Meu nome é Rachel Fernandes e eu nasci no Brasil, minha mãe sempre gostou de nomes estrangeiros e registrou meu "Raquel" de uma forma nova que eu até gostei, um belo dia uma funcionária de uma agência de intercâmbio apareceu em uma empresa onde eu fazia curso, mostrando as várias vantagens de um intercâmbio e em especial, um lugar que se tornou a meta da minha vida, o Canadá.

Desde estão sempre tive vontade de sair do lugar onde morava e visitar o lado Norte do continente americano. Eu sou uma Designer Gráfica com boas habilidades no que faço, comecei essa área bem jovem pois apreciava mexer em computação, tomei um curso bastante demorado e com vários programas que hoje em dia nem lembro mais, mas o que importa é que retornei a estudar alguns e acabei me saindo bem.

Com o passar do tempo, achei a oportunidade que eu precisava, meu pai em específico não gostava da ideia de que eu fosse viajar para outro país, mas era um sonho pelo o qual eu queria arriscar, investi em um curso de francês por seis meses na cidade de Vancouver, pois queria aumentar minhas chances de arrumar emprego, e durante esse curso encontrei um belo amigo chamado Noah, ele tinha tudo para ser o "Cara Perfeito" ele tinha cabelos loiros e olhos azuis, seus traços eram perfeitamente delicados e esculpidos como o anjo, ele também era rico e nunca levava nada a sério, era engraçado a forma como sempre fazia piada de tudo, mas como eu disse, ele "Era para ser o cara" porque o Noah era gay. Não que isso me incomodasse, eu morria de vontade de ter um amigo gay e também sou bissexual, mas isso acabava com o coração de muitas garotas que chegavam perto de mim apenas para ganhar uma vaga em seu coração purpurinado. Noah era bem de vida e bem jovem também, nós tínhamos quase a mesma idade, eu vinte e quatro e ele vinte e cinco, mas Noah era tão criança que nem parecia ser o mais velho, além de não possuir um corpo sarado também, os pais do Noah eram judeus ricos que viviam na cidade de Toronto e conservadores, não apoiavam o seu homossexualismo e por isso ele vivia longe. Nosso encontro foi até cômico, eu raramente conversava com alguém ou tinha muitas amizades, eu sou uma pessoa cativante se quiserem me conhecer bem, mas sou muito tímidas para abordagens, então muitas vezes saio como grosseira ou fechada, Noah sentou-se perto de mim sem me dizer nada, apenas: "Você sabe as horas?" Olhei para ele e ele me deu um sorriso, já iria pegar o telefone para conferir o horário mas quando olhei para a bolsa no meu colo, percebi que ele já estava de relógio.

- O que houve com o seu relógio?

Ele fez um dar de ombros para mim e respondeu.

- Nada, só queria conversar mesmo.

- E porque simplesmente não disse "Oi"?

- Aquele grupinho ali disse que se você saísse comigo me dariam cem dólares.

- Tenho cara de troféu?

Eu também podia ter uma ironia ácida quando eu queria.

- Não, mas eles acham que você é um bicho que vai morder e não sabem que sou gay, então resolvi te conhecer.

Olhei para o grupinho que ele havia apontado e vi alguns olhares curiosos sobre nós.

- Vamos fazer um acordo?

- O quê?

- Vou te dar um abraço e um beijo na bochecha, você vai fingir que eu estou pegando o seu telefone e então ganhará o dinheiro dos seus amigos. Cinquenta é Meu!

- Fechado! - Vi ele com um sorriso

Eu me levantei, lhe dei um abraço e um beijo na bochecha, peguei o meu telefone e ele pegou o dele.

- Vamos, diga seu número. - Disse ele

- Era só para fingir...

- Noah! E se vamos fingir, façamos direito!

- Tudo bem. - Revirei os olhos com aquilo, era desnecessário mas ele era gay, então não me importei e trocamos os números.

- Vou ficar ali atrás te esperando.

Eu esperei ele atrás de uma árvore escondida com as costas contra ela, não podia arriscar que ninguém me visse e aguardei uns cinco minutos até ele voltar.

Enquanto eu estava esperando percebi uma coisa, Noah era um rapaz muito bonito, como aqueles jovens não saberiam que ele iria conseguir um possível encontro comigo?

- Trouxas! - Ele estirou a nota de cem.

- Espera! Como conseguiu fazer seus próprios amigos apostarem um encontro, se você faz o tipo de todo mundo?

- Eu menti! Eu sou de Toronto, não tenho amigos aqui, só queria me aproximar de você. - Ele estirou a nota

- Por que simplesmente não disse "Oi"? - Repeti de modo óbvio.

- Não sou normal. - Ele deu de ombros enquanto falava

- Vai querer ou não? - Ele ofereceu o dinheiro

- Poderia ter destrocado não é?

- Pode ficar com o dinheiro todo, eu não preciso.

Estranhei sua generosidade ou até mesmo o quão inteligente ele era de ter armado um tamanho plano como aquele.

- Você é gay, não é?

- Por que? Está interessada? Posso abrir uma exceção para você. - Ele me olhou com olhos brincalhões e percebi o seu tom de sinismo

- Passo!

- Ah Qual é? Você mesma disse que eu faço o tipo de todo mundo!

- Mas isso não signifique que quero um encontro com você.

- Mas poderia...

- Se veio me cantar, sai fora!

- Você é lésbica?

- Não é da sua conta! - E virei as costas

- Eu só estava brincando, eu sou gay.

Virei e olhei de soslaio para ele.

- Háhá Quero só vê!

- Eu não vou achar ninguém para me beijar aqui, então acredite em mim.

- Foi bom te conhecer Noah! - Continuei andando e ele me seguiu.

- Meus pais são judeus e por isso vim pra cá.

- Ah olha só, não estou vendo você utilizar kipáh. - Disse irônica

- Parei de usar quando meus pais não me quiseram mais em casa.

- Sinto muito. Detesto religião, pra mim elas acabam com o mundo.

- Concordo. Já teve alguma?

- Não, pela a graça de Jesus minha mãe nunca me forçou a nada, apesar da família do meu pai ser puramente católica, exceto ele mesmo.

- Legal, ele é rebelde?

- Não, é protestante.

- Oh que merda.

- Não mais que a sua!

Olhei para ele com um rosto neutro enquanto ele começou a rir como se fosse a melhor piada do mundo.

- Você é demais! Qual é o seu nome?

- Fica com o nome que você salvou no contato.

- Mas eu tive que salvar "Garota do curso", porque você não me falou o seu nome.

- Ótimo pra você então. - Dei um sorriso de lado e voltei a andar

- Por favor!

Revirei os olhos

- Se me encher a paciência vou bloquear! Anota aí. Ráchél com ch.

- Quê? Você é estrangeira?

- Rachel para vocês. Sou brasileira.

- Uau! Nunca tive um amigo gringo, uma vez me disseram que as brasileiras tinham bundas grandes.

- É, porque toda mulher aos dezoito anos põem silicone na bunda e os homens são negros e bem sarados com pênis grande. - Disse irônica

- Mas você não tem a bunda grande! - Ele olhou rapidamente para meus quadris

- Sou uma exceção! - Disse debochada

Ele começou a rir de mim

- Você é hilária! Mas é verdade?

- O quê?

- Sobre os homens...

Eu e o Noah éramos loucos e de início não pensei que fosse dar certo, mas vi que duas pessoas loucas se encaixam mais que duas pessoas normais, Noah começou a falar de si e de sua vida, eu era muito curiosa com a religião judaica, pois um dia já tive vontade ser uma, mesmo que não fosse possível, ele também pediu para eu descrever como funcionava o Brasil, eu cozinhei pra ele uma especialidade minha, Estrogonofe de frango e ele gostou, fiz brigadeiro de colher e também mostrei com o comemos cachorro quente.

- Não acredito, o nosso cachorro quente é uma porcaria. Vocês também fazem o molho?

- Não comemos salsicha grelhada no Brasil. E isso é porque você não provou a Coxinha.

Eu apresentei a ele os gêneros musicais que eu gostava: Sertanejo,

- "Agora eu fiquei doce doce doce doce doce, agora eu fiquei do do do doce doce, agora eu fiquei doce igual a caramelo, tô tirando onda de camaro amarelo.."

Rock Nacional,

- "Sentes não saber o que houve de errado, e o meu erro foi crer que estar do seu lado, bastaria, ai meu Deus era tudo o que eu queria, eu dizia seu nome, não não me abandone jamais, mesmo querendo eu não vou me enganar, eu conheço os seus passos eu vejo os seus erros..."

até mesmo Funk neutro e nós dançamos juntos.

- Selinho na boca lá lá lá lá...intimidade doida lá lá lá.. não posso ficar sem..

Funk com palavras de baixo calão mas que eu sabia que ele não entenderia.

- Essa é em sua homenagem!

- "Caralho de Porra que não desce, fica mó estresse e não quer descer...Botei tudo na boca, chupei que nem uma louca, achei que não vinha e quando veio me afoguei, tomei minha proteína nesse drink eu me acabei...Catarro de Porra que não desce e nao quer descer!"

- Essa musica é legal! Do que fala? - Perguntou ele confuso

- De Pênis!

Ele olhou para mim e a forma como eu dançava

- Você é demais!

Quando meu visto estava próximo de ter um fim, incluindo o meu curso, eu sabia que seria a hora de voltar, nessa época eu e Noah ficamos quase inseparáveis, eu até havia lhe ensinado algumas coisas de Português enquanto estudavamos francês, havia descoberto que Noah vivia como programador e sua família tinha um grande mercado de produtos orgânicos e naturais em Toronto, mas meus documentos tinham prazo de validade, e eu já estava tentando preparar um discurso que não me fizesse chorar, fui até o apartamento dele como sempre pois eu morava em um alojamento do curso, já que saía mais barato no pacote do intercâmbio.

- O quê? Isso é uma brincadeira não É?

- Não Noah, eu tenho que ir embora, meu visto é estudantil.

- E quando você volta?

- Eu não sei, uma viagem dessa não é barata.

- Então isso é um não?

- Isso é: Você pode me visitar. - Tentei ser otimista.

- Não vai ser a mesma coisa.

- E o que quer que eu faça? Sou uma turista.

- E se você fosse uma imigrante?

- Quê?

- Você poderia ganhar um um visto permanente para ficar aqui.

- Isso não é possível a não ser que eu fique aqui por tempo com um visto de trabalho, ou me case com você.

Ele olhou para mim e sorriu e aí então notei o que ele havia acabado de pensar, ele se ajoelhou perto de mim e pegou em minha mão.

- Rachel Fernan, você aceita se casar comigo?

- É Fernandes! E não! Que ideia maluca é essa?

- Eu sou um nativo Canadense, você casando comigo ganha residência permanente, eu corro atrás dos formulários de licença do casamento, pago as taxas, nós podemos viajar até Toronto e nos casar na presença dos meus pais. Você fala o inglês bem e o francês já está quase perfeito, suas chances serão ótimas.

- Seus pais são judeus! Se eu me casar com você, nunca mais vou poder pedir o divórcio.

- Não é assim. O marido pode dar o "Get" a sua esposa se assim ela consentir, mas você não é judia, não precisamos nos casar sob as leis judaicas, ou com um Ketubá.

- Ah e você acha que isso vai dar mesmo certo?

- Casar com uma mulher, mesmo que não judia é melhor do que eu ser gay pra minha família.

- Isso deveria ser reconfortante?

- Eu já me acostumei, só estou fazendo isso porque meu pai é um empresário, ele tem contatos e pode nos ajudar.

De início pensei várias vezes em recusar aquela ideia absurda, principalmente depois de pesquisar a respeito, e saber que tinha que ficar com o Noah por dois anos ou meus documentos poderiam ser cancelados, mas vi que durante todos esses meses Noah não era uma má pessoa e eu esperava que não fosse, mais uma decisão que eu arrisquei, e então fomos para Toronto. Conheci os pais deles e eles ficaram surpresos ao saber que Noah havia me pedido em casamento, fiquei impressionada ao ver que Noah era igualzinho a sua mãe, Esther, por isso tinha traços tão delicados e perfeitos, ambos loiros e de olhos azuis, Samuel Levinson, seu pai, nos olhava com um rosto sério desde que havíamos chegado, mas saber que o filho dele estava querendo se casar também o surpreendeu, ele tinha cabelos negros e olhos escuros, uma barba espessa preta, e um kipáh na cabeça, ficava me perguntando, qual era a das trancinhas que eles usavam, uma perto de cada orelha. Noah usou o dia que nos conhecemos como base e incrementando uma história de amor que não existia entre nós, mas era divertida de se ouvir, os dois conversavam entre si enquanto eu e Noah nos olhávamos.

- Sabia que é pecado mentir assim?

- Estou fazendo isso para ajudar ao próximo, Hashém irá me perdoar.

- Aonde fica o banheiro?

- Próximo ao escritório tem um.

Enquanto isso no escritório da casa dele, ao caminho do banheiro ouvi Samuel e Esther conversarem entre si, sobre o nosso futuro.

- Precisamos ajudá-lo querido. - Diz Esther

- Ela é uma estrangeira não judia. De que adianta um casamento sem as leis de Hashém?

- Não podemos cobrar de nosso filho, mais do que ele pode nos dar. Ele já está fazendo as pazes com Elohim, cabe a ele abençoar para que ambos voltem para as leis sagradas. E se isso significa que podemos ajudar, por que não ajudar?

- O que irei dizer aos outros rabinos? Que estou ajudando meu filho a fugir das leis de Deus?

- Não, que está o ajudando a se reconciliar com Deus. Já não basta todo o tempo que estivemos longe dele querido, por favor dê essa chance a ele.

Alguns dias depois com a ajuda de seu pai, Noah conseguiu a licença para o casamento mais rápido do que deveria, e nós viajamos para Toronto outra vez para a realização da cerimônia, Samuel conseguiu um juíz de paz, e Esther me encheu de perguntas sobre minha família e meu modo de vida No Brasil. Noah exigiu que eu usasse um vestido cheio de pompas mesmo em um casamento de mentira, e também comprou um smoking sob medida branco para combinar comigo.

- Seremos os noivos mais lindos de Hashém, morena.

- Acho que vou prender os cabelos.

- Seus cabelos são lindos soltos, eles combinam com o castanho de seus olhos, use uma tiara.

Depois da prova de roupas, Samuel nos levou a sua loja de produtos orgânicos, a loja era enorme e o mais impressionante era que o senhor Levinson estava já fazendo uma rede com elas, olhei para umas ervas que tinha por ali, eram produtos naturais e imaginei se não haveria aquelas ervas recreativas como maconha.

- Ei moça!

Olhei para a funcionária organizando uns aparelhos estranhos e perguntei o que era, ela me explicou que eram vaporizadores, viciados em fumos usavam isso para vaporizar as ervas sedativas como chá verde, e dormirem.

- Aqui vende maconha?

Podem achar estranho minha pergunta mas no Canadá a maconha é legalizada, até turistas podem consumí-las, desde que seja no máximo trinta gramas dessa erva na rua, e é proibido traficar, somente estabelecimentos com autorização do governo é permitido vender a erva.

Pedi para ela explicar como funcionava, e coloquei um pouco da maconha no aparelho, achei engraçado o modo como o aparelho funcionava e comecei a inalar a fumaça, depois pus na boca e tentei puxar, comecei a tossir sem parar.

- Legal ein? - Tossi com o rosto avermelhado.

Comecei a brincar com aquele vaporizador, como se estivesse com cigarro e depois expelir o ar pela a boca, sentindo a onda relaxante da erva, então comecei a cantar.

- Olha A maconha...Maconha...Maconhaaaa - A funcionária começou a encarar meu rosto, eu vaporizei a erva na boca.

Até que o pai do Noah entrou na hora que eu estava brincando de fumante com o vaporizador ao lado do filho dele, e me encarou por longos instantes até eu notar que ele estava lá.

- Senhor Levinson, posso ajudá-lo? - Fala a funcionária e então eu me viro imediatamente

- Maconha....Maconha...Olha a...- Expeli a fumaça sem querer em seu rosto.

- Maconha? - Olho pra ele com um sorriso amarelo, vejo Noah também olhando para mim.

- Além de estrangeira, Sua noiva gosta de fumar maconha? - Pergunta Samuel sério a Noah.

- É...que...É que a Rachel tem problemas de asma!

(...)

O casamento foi realizado no cartório da cidade de Toronto

- Eu Vos Declaro Casados! - Disse o juíz

Eu e Noah demos um lindo beijo encenado e sorrimos um para o outro, mas por dentro eu sentia um calafrio interno.

A festa ocorreu na casa da família Levinson, não tínhamos amigos e eu não tinha meus pais ali, já fazia até um certo tempo que não ligava pra eles, mas me faltava coragem para dizer a eles que eu não iria voltar como o planejado porque estaria casada, o que me surpreendeu era que judeus estavam vestidos e bebendo em um casamento não judeu, e o Samuel pediu que o Noah usasse o Kipáh.

- Por que está usando Kipáh?

- Papai disse que é simbólico, em respeito a nossa religião e as pessoas que estão aqui.

- Confesso que não entendo o porquê das trancinhas.

Ele me puxou para a mesa de som.

- Fiz uma surpresa pra você!

- O quê?

- Lembra da nossa Playlist de Funk?

Olhei para ele sem acreditar

- Vai colocar putaria em uma festa cheia de judeus?

- Minha festa, minhas regras.

Balancei a cabeça em negação

- Você é demais. - Disse a ele.

- Eles não irão entender mesmo.

"Se for dar um selinho na minha boca não pense que vai dar namoro, fica me filmando desse jeito posso te hipnotizar..."

Nós dois demos um selinho

"Selinho na boca lá lá lá intimidade doida lá lá lá"

"Selinho na boca lá lá lá não posso ficar sem"

Achei que ele não iria levar a sério até ouvir a segunda música, ninguém entendia mesmo devido ao idioma, e era engraçado ver as moças com vontade de dançar musicas extremamente proibidas que elas não sabiam, enquanto cantávamos e dançavamos um em cima do outro como dois loucos. Noah havia decorado a maioria das letras, mesmo sem ser fluente no português.

- "Mas o teu... catarro de porra que não desce, fica mó estresse e não quer descer...Catarro de Porra que não desce..."

- Que dança engraçada eles tem não acha? - Pergunta Esther observando

Samuel balançou a cabeça em negação

- Estrangeiros...

- "Ai Ai negão tô com o cu pegando fogo" - Canta Noah

- Tá pegando fogo! Tá pegando fogo! - Cantei alto

- O que será que eles estão cantando? Eu adorei o ritmo - Disse Esther

- "Meu Grelinho de diamante...Vai chupa tudo..No pique do lambe lambe meu Grelinho de diamante" - Eu cantava

- "Chupar teu Grelinho, chupar tua buceta, lá em cima lá em cima bem devagarinho..." - Canta o Noah

Quando estávamos empolgados o suficiente, Noah chamou todos para dançar sem amarras como respeito a cultura brasileira, mal sabia os pobres convidados o tipo de música que eles estavam ouvindo e dançando como crianças inocentes.

- "Faz montagem na minha xereca, soca soca minha tcheca, ela já ta molhadinha que eu sei, machuca machuca chuca seu tralha filho da puta agora finge que é DJ"

As moças dançavam, os rapazes dançavam, até a mãe do Noah passou a dançar, apenas os homens mais velhos como o senhor Levinson observava com um rosto sério.

- "Soca...Soca...Soca.."- Puxei a mãe do Noah para dançar e ela começou a me observar

- Todas as mulheres dançam Isso no Brasil?

- As que gostam sim, é muito normal!

"Soca...Soca...Soca...Foda essa porra direito"

- Bem Exótico isso.

Quando a festa acabou, eu e Noah voltamos para Vancouver e nossas vidas, para minha surpresa Samuel deu um apartamento de presente a nós dois, e eu me mudei pra lá quando o curso acabou, renovei o visto de turista por mais seis meses enquanto a papelada da residência permanente não saía, agora eu estava casada e já tínhamos dado entrada nos documentos, liguei para minha mãe para dizer que não iria voltar e foi mais difícil do que eu havia pensado.

- Eu consegui...uma oportunidade aqui mamãe e agora meu visto será prolongado...Sentirei sua falta, beijos.

- Você não contou pra ela que se casou não foi? - Perguntou Noah se jogando na nossa cama.

- Deveria? Estou me achando agora uma aproveitadora.

- Você não É, foi eu que te ofereci a proposta.

- Eu não deveria ter aceitado! Vou te impedir de se apaixonar por alguém ou sei lá.. se envolver com alguém.

- Não, vamos nos divertir juntos como sempre fazemos ok? - Olhei para nossa foto de recém casados na cabeceira da minha cama, era a foto de nossos rostos loucos e felizes em cima da câmera.

- Gostei dessa foto! Estamos bem loucos nela!

- Esse casamento foi uma maravilha e graças a você.

- Eu não fiz nada Noh, você fez.

- Noh? Acho que vou ter que te dar um apelido agora, Ray. - Demos risadas juntos

- Não enche vai.

- Papai iria tirar meu nome do testamento.- Vi ele baixar a cabeça em desconsolo

- O quê?

- Eu ouvi uma conversa com ele e alguns homens debatendo sobre a mudança no testamento dele, e aí no dia seguinte ele me levou para a nossa loja, ele tirou o meu nome do testamento mas depois mudou de ideia, foi por isso que ele nos levou lá.

- E o apartamento também... - Completei

Ele levantou a cabeça

- Foi tudo graças a você. Os meus melhores momentos foram com você, então aconteça o que acontecer, vamos ser sempre amigos não É?

E então eu o abracei em resposta.

(...)

Dois meses depois, Noah vendeu seu antigo apartamento e investiu em um pequeno escritório de Design para nós dois, éramos sócios e dividimos os lucros meio a meio, nós espalhamos panfletos por toda a cidade e eu comecei a editar para alguns clientes, também sugeri que criassemos um estúdio pequeno ali mesmo para edição de vídeo, a amizade entre mim e o Noah era ainda mais forte e vivíamos cometendo loucuras juntos, ele trabalhava com programação e mais dois meses depois, meus documentos de residência permanente saíram, me permitindo ficar por lá, uma tremenda burocracia sem fim, exames médicos, formulários de preenchimento, vários documentos e taxas de pagamento. Os clientes deles também contrataram os meus serviços para a divulgação de seus programas e serviços em redes sociais, a demanda foi aumentando e nos vimos obrigados a contratar dois funcionários para nos ajudar, o meu era um jovem com jeito de nerd, cabelos castanhos, olhos da mesma cor e óculos, ele era bem tímido mas encontrei vontade em seu olhar, seu nome era Peter.

- Então? - Ele me perguntou ansioso

- Bem vindo a Raynoh Edition, Pett.

- Ah Obrigada senhorita Rachel.

- Só Rachel por favor. Começamos amanhã?

- Sim Sim.

Noah entrou na sala assim que viu Peter sair, sentou-se na cadeira e esticou os pés.

- Pela a cara dele, vi que você o escolheu.

- É, ele é bem dedicado.

- Você tem queda por nerds?

- Não. Só gostei dele.

- De quê você gosta?

- Do que está falando?

- Desde que nos conhecemos não vejo você com ninguém, nem homem, nem mulher.

- Eu não achava que iria valer muito a pena ficar com alguém aqui em uma viagem de seis meses. As pessoas levam a sério as transas casuais por aqui.

- Mas já faz quatro meses desde que nos casamos e nada também... - Ele brinca com a caneta.

- Não é como se eu pudesse dizer: " Eu quero transar mas sou casada, relaxa que somos amigos e ele é gay" Bem Simples!

Ele riu

- Você é demais.

- Ri porque não é com você.

- O problema é seu se precisa dar a ficha toda enquanto caça. Já pensou em um ménage? Seria interessante.

- Você me disse que não era normal e mesmo assim eu não ouvi, que merda. - Ele atravessou a mesa e sentou-se no meu colo

- É o seguinte deusa, vamos hoje juntos beber, dançar como sempre fazemos e nos divertir. - Ele deu um selinho na minha boca

Eu havia ficado hesitante no início mas quando a noite chegou, segui o Conselho dele e nós dois fomos para a balada aproveitar, dançamos e bebemos um com outro até eu cansar um pouco e ir até o bar pedir mais outro coquetel com vodka, Noah continuou na pista dançando, só Deus sabe como ele tinha tanto pique, eu já sentia minhas pernas lamentarem, então decidi descansar por tempo indeterminado, olhei para uns bancos acolchoados no formato de uma roda e um grupo sentado por ali, havia quatro garotas e elas riam de alguma coisa que a do meio apenas dava um breve sorriso e acenava em concordância, continuava a encará-las sem menos saber o porquê, até a que a do meio olhou para mim, de início desviei o olhar, havia ficado com vergonha de ter sido flagrada, voltei a olhar para Noah que se divertia loucamente, olhei de novo para o grupo e meu olhar foi até a do meio novamente, mas pela a segunda vez, ele flagrou o meu olhar, eu baixei novamente e virei o meu corpo para o bar e para a bebida. Tomei com mais rapidez que o normal, olhei rapidamente para o mesmo ponto e ela estava lá com o olhar preso em mim, fiquei morta de vergonha, era incrível como eu não tinha vergonha para certas loucuras, mas tinha para outras. As amigas dela chamaram atenção dela e ela tirou o foco de mim, não sabia se respirava em alívio ou me sentia menos envergonhada, estava longe e o escuro não me deixava notar com nitidez seus principais traços como por exemplo a cor dos seus cabelos. Noah veio até mim, já tão bêbado quanto uma porca e me puxou com seu corpo magro pra perto dele me fazendo dançar, olhei para a direção dela e ela estava me observando, voltei para meu amigo e ele me deu um selinho na boca.

- Noh eu acho...Eu acho que minhas pernas estão cansadas.

- Ray o que deu em você? Está parecendo uma velha, solta isso. - Ele pegou nos meus quadris

Não vendo outra opção, fiquei no embalo com ele, até o mesmo decidir que queria ir no banheiro, voltei para o banco e então vi a mesma moça no balcão um pouco mais longe, ela usava calça preta e um vestido vermelho de seda com alcinha, pude ver um pouco melhor a cor dos seus cabelos e eram castanhos escuros ou pretos, eu não sabia muito bem distinguir, não sabia bem como explicar, mas o jeito dela me puxava até ela como imã, ela exalava sexualidade e charme, ela me flagrou pela a quarta vez naquela noite e dessa vez eu tentei não fraquejar e manter o olhar sobre ela, o barman a serviu, e ela me deu um sorriso, fechei a mão contra o balcão e decidi: "É agora Ráchél! Vai lá!" Peguei o impulso para me levantar, mas quando o fiz, um homem se aproximou dela, ela se levantou e lhe deu um sorriso e o cumprimentou com um beijo na bochecha, então minha mente me condenou, como eu não havia pensado na possibilidade em que ela poderia ter um namorado? Olhei de volta para o lugar e ela não estava mais lá, pedi vodka pura e virei de vez.

- Hey Sua bandida como vira bebida sem mim? - Noah chegou com sua voz de álcool perto de mim

- Você deveria parar de beber, não vai andar se continuar.

- O quê está acontecendo contigo ein? Deixa eu beber.

- Noah você está muito rebelde!

- Você é que está muito chata! - Ele tomou a outra dose que estava na minha mão e bebeu sozinho.

- Não vai dormir na minha cama hoje.

- Tá legal, desculpe. Vamos embora?

- Vou só no banheiro.

Olhei novamente para o círculo que ela estava sentada no início mas nenhum sinal dela, então me conformei que nunca mais a veria mesmo e segui o caminho do banheiro, mas então um desgraçado bêbado se esbarrou em mim e derramou um champanhe todo na minha roupa.

- Ah vai Se foder... - Xinguei em português

Eu gostava de xingar em português, as pessoas nunca entendiam bem o que eu estava falando e isso causava menos problemas.

- Lo siento mucho - Disse o cara bêbado, mas eu queria que ele sumisse.

- Lo siento mucho, no era mi intención - Falou ele enquanto eu tentava secar a minha blusa com a mão e só piorando tudo.

- Eu não entendo espanhol filho da puta lerdo, sorte sua português e espanhol serem parecidos. - Falei em português com raiva

Senti alguém tocar em minhas costas já iria dar um grito

- Vai se foder você também....- Eu virei e dei de cara com ela, meu coração só faltou pular do corpo de susto.

- Quer uma ajuda?

Olhei para o seu rosto dessa vez mais visível, seus olhos eram azuis e ela tinha uma postura madura e elegante, durante muito tempo eu não tinha ficado tão boba quanto eu estava naquele hora, e as primeiras palavras que eu disse a ela foram "Vai se foder você também", ainda bem que ela não havia entendido.

- Você não quer?

- Querer?

- Ajuda? - Ela sorriu e estirou um guardanapo de pano pra mim.

Olhei para o guardanapo, olhei para ela, olhei para o guardanapo de novo e olhei para ela, repeti esses movimentos por mais duas vezes e nem eu mesmo me entendi, eu estava pior que o Patrick no desenho do Bob Esponja.

- Hey Ray...Acho que estou passando mal...- Noah apareceu andando de modo torto.

- Ah merda...Eu...preciso ir. - olhei para o guardanapo e peguei finalmente, acho que a chegada do Noah me fez pensar um pouco melhor.

- Obrigada.

Passei por ela e fui até o Noah antes que ele vomitasse em alguém.

- Por favor segura aí até lá fora.

Ele saiu comigo e eu estava tão agitada com o fato de que o Noah poderia me dar um banho de vômito que nem olhei pra trás, ele chegou pra fora da boate e jogou tudo pra fora e eu chamei o táxi, só então eu reparei, não havia pego número, nem o nome dela.

- ARGHHHH PUTA QUE PARIU! - Falei em português

O Táxi havia chegado e eu joguei o Noah como uma bagagem pra dentro do carro, ele estava bêbado mesmo, não faria diferença. Olhei para o guardanapo e então comecei a me limpar, mas quando o guardanapo molhou percebi uma mancha azul nele e então estirei o tecido, o Noah estava apagando dentro do carro nem se interessou por nada, eu acendi a lanterna do telefone para ver melhor, pois dentro do táxi estava escuro e vi de caneta azul: Seu número de telefone, e em baixo seu nome, Laurel.

Olhei para o guardanapo inacreditada, estava tão irritada que nem havia associado o rosto de quem jogou bebida em mim, era o mesmo cara que havia beijado ela na bochecha momentos antes, ela havia feito de propósito, salvei o número no meu telefone ainda sem acreditar naquilo, e então foi aí que começou o meu "Clichê".

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