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ATRAVÉS DOS SEUS OLHOS - LIVRO 1

ATRAVÉS DOS SEUS OLHOS - LIVRO 1

Natália S.I.C

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27
Capítulo

Lia é uma arquiteta assumidamente workaholic e está focada em alcançar o sucesso em sua carreira. Conhecida por sua teimosia e personalidade forte, nem mesmo suas melhores amigas desconfiam que por trás do temperamento difícil, se esconde uma mulher insegura. Lia está a poucos passos do objetivo de se tornar chefe de um setor no escritório que trabalha, quando conhece Henrique. Sem saber que trabalharão juntos, eles têm uma acalorada discussão. O que ela não imagina é que aquele encontro casual, foi um empurrão do destino e do desejo do Co-CEO de conquistar e torná-la sua esposa. Henrique terá que se esforçar para quebrar as barreiras em volta do coração da moça e manter o passado de ambos afastado do caminho deles.

Capítulo 1 CAPITULO 1 - Por Lia Elizabeth

Definitivamente, acordar às cinco da manhã deveria ser proibido. Não era justo ter que levantar tão cedo em uma segunda-feira, principalmente depois de um feriado prolongado.

A dor de cabeça, resultado de uma noite de bebedeira com as amigas, já havia desaparecido. Mas eu ainda sentia uma forte irritação no estômago, que não passava nem mesmo com todos os sucos, chás e sermões da minha mãe.

Abri os olhos, afastei as cobertas preguiçosamente e sentei na beira da cama. Meu corpo não tinha se recuperado nem noventa por cento, como eu faria para me concentrar e colaborar com a Concepta Arquitetura, na reunião com os novos investidores?

Como não tinha outro jeito, me preparei psicologicamente para aquele dia e, após repassar mentalmente minha agenda, fui me arrastando até o banheiro.

"Acorda mulher."

Meu reflexo no espelho estava deplorável: cabelo embaraçado, olheiras enormes, lábios ressecados, a imagem de uma pessoa sem a menor noção do ridículo e pensava que ainda era uma adolescente.

"Irresponsável!"

Fiz minha higiene bucal, ignorando deliberadamente a Lia horrorosa que me encarava no espelho, dizendo que eu precisava tomar serias providencias com relação à aparência.

Entrei no chuveiro e deixei o jato de água fria fazer seu trabalho. Se eu tinha certeza de algo era que, nunca mais, entraria na onda de Lorena e Lisandra. Eu não aguentava beber no mesmo ritmo que elas, precisava me conscientizar disso e aprender a controlar meus impulsos.

Saí do chuveiro revigorada.

Parei novamente na frente do espelho, desembaracei os cabelos e me tornei apresentável para a reunião.

Aquela segunda-feira era a mais importante da minha vida, o dia em que eu seria promovida a arquiteta-chefe, responsável por um setor inteiro e projetos importantes. Tudo o que eu havia sonhado, me preparado e trabalhado a vida inteira estava prestes a acontecer.

Fiz o melhor que pude com meu visual, mas não adiantou muita coisa. Somente uma passada no salão de beleza resolveria minha situação. Então, resolvi me fantasiar de arquiteta competente, vesti meu conjunto de calça e blazer preto, combinando com uma camisa social lisa, da mesma cor e o scarpin com o solado vermelho - que custou os dois olhos da minha cara - completei com relógio, semi-joias e uma maquiagem leve, mas eficiente. Deixei os cabelos soltos, para secarem naturalmente e saí de casa - atrasada para variar.

***

A Avenida Luís Viana Filho, mais conhecida como Avenida Paralela, estava completamente engarrafada.

No rádio, o locutor informou a hora: faltavam quinze minutos para às oito, horário do início do meu expediente. A reunião estava marcada para às nove.

***

Uma hora e centenas de meias embreagens depois, finalmente passei pela cancela de acesso ao estacionamento do World Plaza II.

Pela hora, eu não conseguiria encontrar vaga em nenhum dos cinco primeiros níveis, então, avancei para os superiores onde ficavam as vagas destinadas aos diretores e executivos das empresas instaladas no prédio. Eu conseguiria estacionar rapidamente e usaria os elevadores para chegar no meu andar a tempo da reunião.

Eu adorava roubar vagas de carros maiores e mais potentes que o meu, por isso, deixei que meu lado competitivo desse as caras no instante que avistei um SUV se posicionando para ocupar uma das vagas.

"A hora é agora. Vamos lá, Lia. Se concentra!"

Pareei meu carro, engatei a ré, soltei a embreagem e alinhei o veículo. Acertei o volante e deslizei vitoriosa para dentro dos limites da vaga.

Identifiquei que o possante se tratava de um modelo Bentayga, da marca britânica Bentley. Não me lembrava de ter visto um veículo como aquele circulando pelas ruas de Salvador, por isso, aumentei consideravelmente a pontuação do meu ranking pessoal de roubo de vagas. Afinal, não era todo dia que uma saboneteira, como meu Fiat Mobi, vencia um modelo importado que nem português falava.

Reuni meus pertences e me preparei para desembarcar. Foi quando ouvi umas batidas insistentes no vidro da porta do meu carro.

- Essa vaga era minha, senhorita! - a voz máscula e muito grave, avisou que alguém estava disposto a iniciar uma discussão.

Pendurei a bolsa no ombro, abri a porta e quase tive uma morte súbita: não muito mais alto que eu - cerca de um metro e oitenta e cinco de altura - cabelos castanhos - impecavelmente penteados - vestindo um terno cinza-escuro - caro e muito bem cortado - um verdadeiro "problema" de olhos azuis me encarava fixamente.

"Minha Nossa Senhora, que gato!"

Minha vontade era ficar o dia inteiro admirando aquele monumento cheiroso e enfezado. Mas, lembrei que eu tinha uma reunião e estava muito atrasada. Sendo assim, recuperei o fôlego, juntei com o resto de dignidade que eu ainda não havia perdido, apoiei as mãos na cintura e o encarei de volta.

- Tinha seu nome escrito na vaga? - fiz o melhor que pude para sustentar o olhar e não demostrar o quanto estava afetada.

- Não, não tinha. Mas, pelas regras de trânsito, quando a lanterna está piscando para a esquerda, significa que o condutor pretende manobrar para aquele lado. Como meu carro estava bem à sua frente, acredito que deve ter visto a seta indicando o que eu pretendia fazer. - ele apontou na direção da luz traseira do veículo, que acendia e apagava freneticamente, confirmando que ele tinha razão.

Claro que aquilo não me intimidava, nem um pouco. Roubar vagas era meu hobby, algo que eu fazia para me distrair. Nenhuma das minhas "vítimas" jamais haviam se dado ao trabalho de vir reclamar, piorou me corrigir se baseando nas Leis Nacionais de Trânsito. Ele que aceitasse a derrota e fosse procurar uma vaga em outro lugar.

- Eu gostaria muito de ficar, discutir sobre as leis de trânsito, suas brechas e emendas, mas estou muito atrasada e preciso chegar no meu andar - consultei o relógio -, em cinco minutos para entrar numa reunião que começa em seis. Sua palestra terá que ficar para outra ocasião.

Falei de maneira bem debochada, enquanto pendurava novamente a bolsa no ombro, trancava meu carro e me preparando para sumir dali. Mas, o homem parecia disposto a briga e não havia, sequer, saído do lugar.

- Você pode dar licença, por favor?

A proximidade com o corpo dele estava provocando uma série de reações descabidas para aquele momento.

- Ah! O que foi? Estou pedindo licença. - enfezei a cara para ele também.

- Está desculpada. - ele continuou me encarando.

Notei um quase sorriso em seu rosto e me dei conta de que ele estava se divertindo com a situação e bloqueando propositadamente minha passagem.

- Ok! Me desculpe! - falei apressadamente - Qual é? Eu já pedi desculpas! Pode me deixar passar?

- Por favor? - ele pendeu a cabeça um pouco para o lado e arqueou a sobrancelha esquerda.

"Oh! Diacho, não faz isso. Não faz essa cara que eu gamo."

- Por favor.

Ele deu um sorriso fraco e eu revirei os olhos.

Sem dizer uma só palavra, ele deu as costas e voltou para o carro, entrando pela porta traseira.

Aquilo me irritou demais.

- Que maravilha! Você não estava nem dirigindo, seu babaca. Porque não mandou o corno do seu motorista procurar outra vaga? Riquinho de merda!

Perdi o controle e proferi um monte de palavrões acompanhados por uns gestos obscenos, usando a língua e o dedo do meio, para enfatizar.

***

Entrei no elevador tremendo de raiva.

"Quem autorizou uma humilhação desse porte, uma hora dessa da manhã?"

Respirei fundo.

Meu rosto estava em brasas e o calor sobrepunha o ar fresco do ar condicionado.

Prendi os cabelos num coque alto e saí do elevador quando chegou ao andar. Passei pela recepção da empresa parecendo um foguete. Guardei minha bolsa na última gaveta da mesa que eu ocupava, apanhei o material da apresentação e me dirigi à sala de reuniões.

Quando entrei, já haviam se passado mais do que quinze minutos do horário marcado para o início da reunião. Meu chefe estava sentando bem de frente para a porta de entrada da sala e me saudou com um olhar sério e pouco amistoso.

- Lia Elizabeth, até que enfim. Já estava aqui pensando em como faria para apresentar o projeto, já que você não disponibilizou o material para mais ninguém da equipe.

Dominique Randon deveria ganhar um Oscar de "Melhor Ator da Década" por sua atuação naquele momento. Quem não o conhecia - ou sabia que aquilo tudo era uma farsa - poderia jurar que ele estava possesso pelo meu atraso e do não cumprimento das regras básicas da empresa.

Mas, a maioria das pessoas naquela sala eram funcionários da Concepta. Logo, todos sabíamos ele estava tentando passar uma boa imagem para impressionar os acionistas e futuros investidores dos nossos projetos. E, já que ninguém se atrevia a desmascará-lo, não seria eu que o faria. Fechei a porta e incorporei meu papel de funcionária arrependida e super constrangida pelo meu atraso e falta de comprometimento.

Sentei ao lado de Melina, minha estagiária assistente. A menina estava tão nervosa que poderia ter uma síncope a qualquer momento.

- Está tudo bem? - perguntei demostrando preocupação com seu estado de nervosismo.

- Você não faz ideia de quem será o novo investidor da Concepta, não é? - ela falou baixinho, quase sussurrando.

- Não. - respondi no mesmo tom - Quem é?

- Henrique Medeiros Villas Boas.

- E daí? - perguntei enquanto organizava meu material sobre a mesa.

- Simplesmente, o cara mais insuportável do mercado imobiliário. O tipo que te deixa sem graça só com um levantar de sobrancelhas, é muito mal-humorado e vive de cara fechada.

- Belo currículo! - debochei - E quem é ele? Já chegou? Está nessa sala?

Ela estava reclamando do meu descaso com as informações, quando nossa atenção foi atraída para a movimentação na entrada da sala. Encolhi-me na cadeira e desviei os olhos para uma parede tão vazia quanto minha mente naquele momento.

O ar-condicionado perdeu totalmente a utilidade e, o frio que correu pela minha espinha, congelou também minhas mãos e o ar em meus pulmões.

- Bom dia, peço desculpas pelo atraso. Acabei demorando mais que o necessário para estacionar, depois de um contratempo com uma motorista que roubou minha vaga.

E foi nesse instante nossos olhares se encontraram e eu percebi a gravidade do problema em que havia me metido.

"Agora sim, eu me ferrei em verde e amarelo!"

***

O nervoso devido à apresentação do projeto, cedeu espaço para o pânico. Lembrei dos impropérios e palavrões que disse no estacionamento, enquanto me dava conta de que o reclamante da vaga e o novo investidor da empresa eram a mesma pessoa.

A essa altura, eu já não conseguia raciocinar direito e o único pensamento que me ocorria era: "Fudeu!". Eu não tinha somente discutido com o futuro sócio do meu chefe, também insultei a pessoa que - dependendo do desempenho da minha apresentação - poderia alavancar ou destruir meu plano de carreira na empresa.

Durante os dez minutos seguintes, eu morri centenas de vezes. Enquanto alguns diretores e acionistas apresentavam os resultados de suas empresas e setores, de tempos em tempos Dominique me olhava, intrigado, como se estivesse tentando ligar os pontos e descobrir qual era a relação do meu atraso com o incidente mencionado pelo bonitão encrenqueiro.

Dom havia oferecido a Henrique, justamente a primeira cadeira do lado direito, de onde ele teria a visão de todos à mesa, o que significava que nossos olhares e cruzariam furtivamente durante a reunião. E, já que estava praticamente demitida, me dei ao luxo de admirar a "encrenca de olhos azuis" minuciosamente.

A expressão séria e concentrada o deixava ainda mais bonito. O brilho de suas íris azuis focados na tela do monitor, era uma coisa fora do comum. Ele estava com um dedo - o indicador - pousado sobre os lábios, aquele gesto lhe conferiam um certo ar de mistério e faziam dele, definitivamente, o homem mais lindo que eu já vira na minha vida.

"Cretino. Um cretino lindo."

Ouvi meu nome ser pronunciado por Dominique e isso atraiu minha atenção. Ele me apresentou formalmente, mencionando que eu era a autora do projeto e faria uma explicação mais detalhada.

Eu deveria ter escolhido uma roupa melhor e um salto mais confortável para a ocasião? Deveria. Mas, na história da minha existência, eu nunca estava dignamente vestida quando algo estava prestes a dar errado.

Coloquei a pasta com minhas anotações sobre a mesa e me dirigi ao assistente de mídia para conectar o pendrive.

Eu não precisava olhar para saber que estava sendo observada. Era possível sentir o calor vindo dos olhos dele, queimando minhas costas, causando arrepios e trazendo a lembrança do momento exato em que senti a intensidade e o poder daquele olhar, de perto.

Respirei fundo, virei para frente, saudei a todos e comecei a apresentação.

***

Henrique não tirou os olhos do monitor gigante, instalado em um das paredes da sala, onde a imagem em 3D de um condomínio de luxo, era exibido.

Aparentemente, ele estava satisfeito com o que via e ouvia, pois, não interrompeu a apresentação em nenhum momento. Tudo o que fazia era concordar e anotar algo em seu laptop.

Aqueles foram os trinta minutos mais demorados de toda minha vida.

***

Terminei a apresentação e voltei para minha cadeira. Não me atrevi a olhar na direção de Henrique, mas tinha certeza de que ele estava com os olhos em mim. Era estranho ter esse tipo de certeza, principalmente se eu fosse julgar o que realmente estava evidencia. Ele devia estar se preparando para pedir minha cabeça e tinha que ter bastante detalhes para embasar seu pedido. Por isso fez tantas anotações e estava prestando tanta atenção em mim.

Eu só queria que aquela reunião terminasse logo. Precisava me esconder da perturbação que aquele olhar azul causava e minha alma. Por isso, assim que o final da reunião foi anunciado, driblei o máximo de pessoas que queriam me parabenizar pela apresentação, o tanto quanto foi possível e escapei para o refúgio da minha mesa.

"Mas que droga! Como foi que eu não prestei atenção ao nome do principal investidor do projeto?"

Meu desabafo tinha ares de frustração e, depois, de irritação. Se eu tivesse ao menos lido as minutas ou os comunicados internos, saberia o nome do homem, teria feito uma pesquisa, veria a cara do dito cujo e, com certeza, evitado o episódio do estacionamento. Eu queria cavar um buraco e me enfiar nele, como aquela opção estava indisponível no momento, coloquei meus fones de ouvido, escolhi uma playlist bem heavy metal e mergulhei de cabeça no trabalho. Aquilo me ajudaria a esquecer a reunião, o fracasso da minha apresentação, a eminente perda da minha promoção, o ocorrido no estacionamento e, principalmente, Henrique.

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