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Codinome Robin Hood

Codinome Robin Hood

Bruna Calil

5.0
Comentário(s)
49.4K
Leituras
37
Capítulo

Na faculdade de ciência e tecnologia San Andreas, em Chicago, um grupo de alunos é desafiado a descobrir a identidade de um Hacker famoso na cidade que tem roubado dinheiro de ricos em diversos bancos de forma virtual e transferido para milhares de pessoas, na maioria delas, pessoas carentes e usuárias de programas sociais do governo. O codinome do Hacker é "Robin Hood", por motivos óbvios. Bianca Cupertino é uma estudante intercambista de programação de jogos, que teve sua faculdade completamente paga por Robin Hood. Apesar de não ser uma hacker, ela está fazendo de tudo para descobrir a identidade do homem que tem deixado o prefeito da cidade de cabelo em pé... E que tem mexido com seu coração. Se apaixonar por um hacker de rosto desconhecido não parece ser uma boa ideia... Mas Bianca parece corajosa o suficiente para ir até o fim desse mistério.

Capítulo 1 1

CAPÍTULO 1

BIANCA NARRANDO

- Vocês viram que o Robin Hood atacou de novo? Ele derrubou o site da prefeitura e deixou o símbolo dele lá. Parece que umas dívidas de hipoteca foram pagas, ele ferrou com o prefeito essa madrugada. - Ouvi uma garota comentando com a outra. Eu nem sei o que dizer, esse tal de Robin Hood tem tirado meu sono.

Eu fui uma das beneficiadas pelos roubos do hacker Robin Hood. Ele quitou minha faculdade, e eu torço para que um dia eu consiga encontrá-lo e agradecer. Cheguei na faculdade San Andreas como intercambista, mas meus pais foram à falência e eu quase fui embora. Só que ele pagou minha faculdade, e eu ainda estou aqui por isso. Temos desconfiança de que o Robin Hood seja aluno da San Andreas porque muitos alunos pobres tiveram suas mensalidades pagas integralmente.

Tenho vinte e três anos. Vinte e três longos anos de vida que foram uma grande porcaria. Sinto que não fiz nada importante, sinto como se eu não me encaixasse nessa faculdade de gente tão inteligente. Eu entrei aqui no intuito de aprender a programar jogos infantis e pedagógicos, para trabalhar com ressocialização de crianças, e eu tenho me dado bem nisso, mas parece tão... Superficial mesmo assim. Eu queria poder fazer a diferença, como o Robin tem feito.

- Olha lá, o Bill Hammer. Nem parece preocupado que a cidade do pai foi roubada essa noite. - Marcela girou os olhos. Ela é intercambista brasileira como eu, e minha amiga.

Nós trabalhamos juntas nos jogos, mas o visual dela não se parece em nada com o meu. Ela é morena, de cabelo escuro e longo, olhos levemente puxados e castanhos... Tem muitas tatuagens e uma beleza completamente diferente de todas que já vi. Essa garota poderia dominar o mundo só com a aparência, mas escolheu ser programadora de jogos. Vai entender.

- Ele é um ridículo. Aposto que vai marcar uma festinha particular já que toda sexta é a mesma coisa. - Desdenhei.

- Se ele marcar e pagar tudo, eu vou. Você devia ir também. - Marcela deu risada. Eu também.

- Você é doida, Marcela. Completamente.

- A gente tem que viver a vida, e se o filho do prefeito tá pagando álcool para a galera, por que não?

Entramos na sala de aula cheia de computadores. Eu sentei no meu, Marcela no dela e começamos a assistir a aula. Marcela parecia mais preocupada com seu próprio Instagram do que com a aula, ela é assim. E meu pano tá pronto para passar para ela.

Eu não consigo tirar a droga do Robin Hood da mente. Quando tudo aconteceu, eu abri meu aplicativo do banco e apareceu aquela máscara: Olhos em forma de X, um sorriso com dentes a mostra. Eram traços simples, mas que tornavam a máscara muito assustadora e ao mesmo tempo, irônica. Era como se uma criança estivesse buscando vingança através da tecnologia.

Mais tarde, naquele mesmo dia, o prefeito estava fazendo um pronunciamento na TV. Ele estava tentando acalmar a população (principalmente os ricos, que foram os afetados pelos roubos de Robin), e fazer com que se sentissem seguros. A verdade é que esse cara, seja lá quem for, tem ganhado posto de herói aqui em Chicago. E a faculdade de ciência e tecnologia San Andreas inteira o venera.

Toda a faculdade assistia o discurso do prefeito. Estávamos atônitos. Nós sabíamos que Robin Hood poderia aparecer e causar durante o discurso, e a verdade é que torcíamos para isso.

E foi exatamente o que aconteceu.

A máscara apareceu, seguida de uma frase que Robin sempre usa: "Dê poder aos bons e os maus entrarão em guerra". A faculdade foi à loucura. Parecia que o time favorito havia feito um gol.

Eu confesso que estou obcecada tanto pelo Robin Hood, o hacker que tem feito o caos na nossa cidade, quanto pelo personagem. Tenho tentado entender de onde vem essa inspiração e se algo poderia me levar ao homem por trás da máscara com olhos de X. Perdi as contas de quantas versões do livro Robin Hood eu li. Versões de Alexandre Dumas com diferença de anos, remodelagens, versões de autores desconhecidos...

E aquela frase, aquela maldita frase, me fez lembrar de uma versão específica que eu aluguei na biblioteca daqui mesmo há um tempo atrás. Será que o Robin realmente estuda aqui?

Corri pela faculdade em meio ao caos e euforia daquele pronunciamento patético do prefeito com a aparição de Robin, e fui em direção à biblioteca. Eu precisava ter certeza de que essa frase estava nesse livro específico. Me lembro de ter lido em algum lugar que muitas partes são reescritas ao longo dos anos, e essa frase não estava em mais nenhuma das versões.

Corri para a sessão de livros onde Robin Hood estava. Era um livro mal visto e com a capa rasgada. Os alunos tem alugado bastante versões da história, mas não essa, por causa das páginas amareladas e o cheiro de mofo.

Eu abri o livro e essa frase estava grifada a lápis. Te peguei, Robin Hood. Olhei para os lados, tirei uma caneta e um pedacinho de papel da bolsa e decidi agir. O bilhete dizia o seguinte: "Obrigada por pagar minha faculdade."

Não assinei. Nem ao menos esperei resposta. Eu só coloquei o bilhete ali e fui em direção a porta da biblioteca, com o coração na garganta. Por algum motivo, tenho certeza de que Robin está mais perto do que eu jamais imaginei.

Quando cruzei a porta, trombei com o filho do prefeito, Bill. Ele é um cara realmente grande, musculoso, tem um ar meio misterioso, mas ao mesmo tempo, se expõe demais. É o quase o típico filho de prefeito, se não fosse as tatuagens nos braços e mãos. Ele é bem cuidado, cheiroso e arrumado, e é alguém que adora uma festa na sexta à noite nas custas do papai... Um verdadeiro chato, na minha opinião.

- Desculpa, Bia. - Passou por mim com um sorriso no rosto.

- Não foi nada. - Eu disse. Acho que nunca vi esse cara na biblioteca...

Decidi segui-lo. Ele foi em direção ao corredor onde os livros de Robin Hood estavam. Talvez estivesse tão obcecado quanto eu, mas me preocupei dele encontrar o bilhete e fazer alguma bobagem. Então, passei discretamente pelo corredor e o vi mexendo em outro livro, chamado "Tristão e Isolda". É um conto épico também e sinceramente, não faz o gênero dele, não pela cara que ele tem. "Não julgue um livro pela capa, Bianca!" Repeti para mim mesma, mentalmente.

- Não sabia que gostava de ler. - Puxei assunto. Eu só queria proteger o livro do Robin Hood e o meu bilhete.

- Ah, eu gosto. Esse livro é bem interessante, aliás. Já leu? - Ele questionou, me mostrando a capa.

- Já li. Eu adoro o conto de Tristão e Isolda. É muito triste... Mas de vez em quando eu gosto de chorar. - Ele deu risada, e passou a mão no próprio cabelo escuro e bem arrumado.

- Eu já li todas as versões que encontrei. Essa é a última. - Ele falou. - Estou pensando em roubar da biblioteca.

- Ah, então você é ladrão como seu pai? - Brinquei.

- A fruta não cai longe do pé. Sabe como é. - Ele deu risada mais uma vez. O que ele tem de idiota, tem de lindo. Maxilar perfeito, olhos grandes e castanhos, um sorriso cativante.

Depois de uma conversa amigável, ele saiu. Eu fingi que estava vendo livros na mesma estante que ele e só fui embora quando ele foi embora também.

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