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TRÊS LADOS PARA UMA MOEDA

TRÊS LADOS PARA UMA MOEDA

Raquel Amorim

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Capítulo

Um mês de férias em um acampamento modifica a vida de três garotas para sempre. Três destinos, três corações, três personalidades e apenas um final, a felicidade. Clarisse, Jasmine e Beatriz, três meninas que descobrirão o significado do amor e para elas esse vai se manifestar de formas diferentes, ensinando-as uma lição para a vida.

Capítulo 1 FASE 1 - CLARISSE: A PERSUASÃO

Clarisse é uma garota meiga, tímida e que sempre prefere seu mundo particular e privado, o fato de gostar de meninas influencia muito nesse seu jeito. Sua irmã, Camila, a convida para um acampamento escolar, o que vai modificar sua vida para sempre. Ela se ver na situação mais dramática da sua vida, dividida entre dois amores e tendo que tomar sua decisão. Em meio a isso ela só quer fazer a melhor escolha para chegar a sua felicidade.

_____________________________________________________________________

Era uma manhã de domingo, especificamente dia 03 de julho de 2016, onde eu, teoricamente iria acordar na hora que eu bem entendesse e meu corpo respondesse, pois estou de férias, tanto do trabalho quanto da faculdade, mas, sem se importar com isso, minha irmã está na sala dando pulos de alegria e gritando alto "EU CONSEGUI, EU CONSEGUI", o que? Eu não sei, mas forço-me a me manter deitada e de olhos fechados, em vão, os gritos são maiores que a vontade de ficar.

Minha irmã Camila tem 16 aninhos, somos filhas de pais diferentes, ou seja, meia-irmã, ela é uma pessoa interessante, digamos que é uma pessoa popular em sua escola, nós conversamos bem pouco, talvez por nosso círculo de amizades ser bem diferente, o que explica muita coisa, mas nos damos bem, ela no mundo dela e eu no meu.

Ela tem cerca de 1,60 m de altura, cabelos cacheados, do qual se orgulha muito, magra, um pouco mais morena que eu, de um corpo que pode causar inveja a qualquer uma, ou um, e ela sabe disso, sei que os garotos e muitas garotas, babam por ela na escola, o que a deixa mais orgulhosa ainda, e sei que se ela está gritando por algo, é porque ela realmente conseguiu alguma coisa que queria muito, mas até então não escutei nem um barulho da minha mãe.

Minha mãe é extraordinária, a melhor, sei que todos dizem isso das suas, então é inevitável eu não falar da minha, ela tem 49 anos, cerca de 1,70 m de altura, magra também, Camila teve de quem herdar, cabelos curtos e lisos, estilo o da atriz Gloria Pires, ela sempre falava que seu cabelo iria ficar igual ao dela, e ficou, sua cor de pele é idêntica à da minha irmã, um pouco mais morena que eu, talvez por meu pai e o de Camila serem muito diferentes fisicamente, o meu era mais branco, estilo galego, o dela já é moreno, mostra o gosto diversificado da minha mãe. Ela casou-se duas vezes, na primeira com meu pai, que veio a falecer quando eu tinha 4 anos, ele era militar, não sei exatamente como ele faleceu, ela não costuma falar disso, só diz que ele era maravilhoso, na segunda vez com o pai da Camila, ficaram juntos 5 anos e separaram-se, ela só diz que foi por falta de entendimento, ele trabalha mais viajando, talvez tenha sido isso, mas ele é uma pessoa muito boa, sempre traz presentes e conversa comigo quando chega de suas viagens, João Paulo, mas só Paulo para nós.

Bem, minha mãe se chama Adriana, moramos nós três, ela não teve mais nenhum relacionamento após o Paulo, as vezes acho que eles ainda têm alguma coisa, mas nunca mais presenciei nada, Camila ficaria muito feliz se eles voltassem, e confesso que eu também, sinto que minha mãe sente falta de dormir de conchinha, e até das brigas de casais, ela sempre conversa com a gente, mas sempre respeitando nosso espaço. Comprou nossa casa com o dinheiro que recebeu de indenização pela morte do meu pai, e apesar de receber pensão, trabalha como secretária em um escritório de advocacia, dos Srs. Dr. Rodriguez e Dr. Moreira, eles demonstram confiar muito nela, tanto que até hoje permanecem sendo seus chefes.

Eu? Eu me chamo Clarisse, tenho 21 anos, de 1,70 m de altura, magra, pelo menos puxei isso da minha mãe, cabeços longos, lisos, pretos, e cor de pele razoavelmente branca, acho que isso vem do meu pai, que se chamava André, sobrancelhas bem grossas, gosto delas assim, moro com minha mãe e minha irmã, faço faculdade de direito, muito influenciada por minha mãe, moramos em São Luis, no Maranhão, trabalho em uma loja de roupas, mais para conseguir ajudar minha mãe à pagar minha faculdade.

Não somos ricos, mas temos uma vida boa, pelo menos eu considero assim, enfim, sou solteira, na minha, vivo em meu mundo que resume-se a meu quarto, e tenho uma melhor amiga, a Eduarda que conheci na faculdade após 4 semestres ainda somos melhores amigas. Ah! E sou lésbica, fato que poucas pessoas conhecem, muito menos minha irmã, mas sei que ela sabe, só não toca no assunto, o que agradeço, e principalmente minha mãe, as vezes acho que ela também sabe, mas se for o caso ela esconde muito bem, não sei qual seria sua reação, mas vou deixando acontecer o que tiver que ser será, muitas pessoas na faculdade sabem, algumas ex namoradas, e claro, a Eduarda.

Voltemos, após tanto barulho e gritos de felicidade resolvo levantar e ver o que está acontecendo. Desço as escadas e encontro minha irmã e minha mãe abraçadas, onde me pergunto o porquê. Estou toda descabelada, com o rosto amassado e de baby-doll:

- O que está acontecendo? Esqueceram que hoje é domingo? – Pergunto.

Minha mãe me olha e só abre os braços num sinal de que não sabe o que aconteceu.

- A Camila chegou aqui toda alegre com esse papel que ainda não me disse o que é. – diz minha mãe.

Então Camila à solta e corre para me abraçar, me assustando com o seu salto.

- Camila fale logo o que aconteceu. - Diz minha mãe.

E Camila me solta e começa a gritar ao mesmo tempo que pula:

-NÓS VAMOS ACAMPAR, NÓS VAMOS ACAMPAR.

Eu e minha mãe nos olhamos sem entender nada, Camila me olha com uma cara que já conheço e não é de hoje, "está implorando por algo", e então em um estalo de lembrança, sei do que ela está falando. E digo:

- Não! Nem pensar.

E ela continua me olhando daquele jeito, minha mãe sem entender nada grita:

- Alguém pode me dizer o que está acontecendo?

Camila explica:

- Mãe, lembra daquele acampamento de férias que eu ia me inscrever? E você disse que eu só iria se a Clarisse fosse? – Minha mãe assente em um sinal de sim com a cabeça. Camila continua. – Pois é, acabaram de confirmar que realmente terá, e eu tinha colocado o meu nome e o da Clarisse, começará no dia 08 de julho, sexta, até o fim do mês. – Camila explica cheia de entusiasmo em sua voz.

Eu permaneço de cabeça baixa o tempo todo, maldita hora que concordei com isso, mas ela veio com essa cara dela de "pidona", não pude dizer não, isso já faz 2 meses, já havia esquecido e tinha certeza que não daria certo, pois até onde eu sabia, a escola não havia conseguido recurso para o acampamento, mas pelo visto conseguiu.

- Mas como? Se é da escola, como a Clarisse poderia ir? Eu falei isso, justamente porque sabia que ela não iria. – Fala minha mãe com a voz cheia de dúvidas.

- Não Mãe. Não é só para estudantes. É para todos. Na verdade, como não conseguiram um número de inscritos compatível com a necessidade de gastos, abriram vagas para outras pessoas. – Explica Camila.

Então aparece uma esperança, como assim "necessidade de gastos? ", encontrei minha saída.

- Então será pago? – Digo cheia de esperança da resposta ser sim.

Em um movimento rápido minha irmã faz aquela cara para a minha mãe, sei que a resposta dela será sim.

- Mãe, por favor, será só um custo de alimentação, o resto a escola conseguiu, até o aluguel do acampamento será de graça, ônibus, tudo, só tem uma taxa de alimentação. Por favor, diga sim. – Camila fala isso quase chorando.

Minha mãe não diz uma palavra, apenas olha para Camila, sei que ela vai dizer sim, até porque imagino que Camila já falou com seu pai, e se mamãe disser que não tem dinheiro ela dirá que o pai deu, então minha mãe me olha, sei o que quer dizer.

- Bom, acho que no momento você só depende de Clarisse, você sabe que só vai se ela for. – Diz minha mãe, e por um momento visualizei o mesmo olhar de pidão de Camila em sua face.

Meus Deus, estou ferrada, e agora? Não tenho como fugir, se duvidar Camila conseguiu dinheiro até para mim, como escapar dessa? Então lembro-me de algo.

- Você lembra-se da nossa condição para eu ir?

E com um sorriso irônico de lado a lado Camila fala:

- Ah irmãzinha, você realmente não me conhece. Então pronto, Clarisse vai mãe. – Camila fala olhando para mamãe.

O que ela quis dizer com isso? Não entendi nada. Mas se ela disse, já está feito, terei de ir a esse acampamento, que na verdade nem é um acampamento verdadeiro, está mais para um parque com a temática de um acampamento. Sorrio internamente.

- Bom se está tudo certo, então, está ok, comecem a se organizar para não fazer tudo às pressas. Como funcionará esse pagamento Camila? – Diz minha mãe.

Elas ficam conversando, Camila explica tudo a ela, entrega-lhe o papel que ela deve assinar, pois Camila ainda é menor de idade. Eu resolvo subir para meu quarto, não dormir, mas pensar. Como pude me meter nessa? Camila sabe persuadir. Resolvo ligar para Eduarda.

-Oi.

- O que Camila falou para você?

- Como assim?

- Eu falei a você do maldito acampamento, e que colocaria imposição para não ir, e a imposição, seria você. Eu só iria se você fosse.

Escuto risadas do outro lado da linha. Ela está achando graça de mim. Não consigo conter a minha raiva dela nesse momento.

- Não acredito que você fez isso Duda?

- Você precisa sair Clare, precisa respirar novos ares, conhecer novas pessoas, principalmente novas garotas, a última deixou você acabada, fora que nesses acampamentos tem muitos garotos lindos.

Sim, ela não é gay, eu tenho sim uma melhor amiga hétero, por incrível que pareça, isso ajuda muito na vida. Ela é uma pessoa ótima, 20 anos de idade, cerca de 1,60 m de altura, cabelos incrivelmente loiros e lisos, olhos claros, um pouco mais gordinha que eu, mas como sou magra, digamos que ela também seja, pele branca como a neve, gosta de usar uma maquiagem um tanto forte, confesso que ela é muito linda, e se não fosse minha amiga.... Ah! Se não fosse hétero, o que não nos impediu de muitas coisas, mas não vem ao caso. Ela é de uma família razoavelmente rica.

- Então você fez isso por você e não por mim.

- Fiz por nós duas, da última vez que nos decepcionamos em nossas relações você sabe como acabou, foi bom, mas não foi saudável.

Sei bem do que ela está falando, logo que nos conhecemos na faculdade, ela tinha um namorado e eu uma namorada, fomos a uma festa, bebemos todas, e saímos por um minuto, quando voltamos eles estavam aos beijos no meio do clube, aquilo foi um choque tanto para mim quanto para ela, então sem pensar duas vezes, fomos embora da festa, e decidimos ir para sua casa, pegamos mais bebida e subimos pro seu quarto, já estávamos muito bêbadas, mas ali, nas nossas cabeças malucas resolvemos nos vingar, e então rolou, como ela disse foi muito bom, mas foi loucura, afinal, ela até onde eu sabia é hétero, e sei que é. Mas ela soube usar do seu lado gay nesse dia, bem, só sei que no dia seguinte, nossas expressões de arrependimento eram mútuas, resolvemos esquecer e nunca mais falar nisso, e desde então somos melhores amigas, jeito meio maluco de começar uma grande amizade.

- É. Eu sei, mas isso não justifica nada, você sabia que eu não queria ir.

- Clare, por favor, deixa rolar, é só um acampamento bobo, eu estarei lá. O que de mal pode acontecer?

Por um momento pensei o mesmo, ela está certa, é só um mês, como outro qualquer, vou e fico o tempo todo no quarto ou barraca seja lá onde for, contanto que eu esteja no meu mundinho.

- Tá certo, afinal já foi mesmo, vocês duas já decidiram como será meu mês. Espero que esteja certa.

- Tá bom, cabeça dura. Você vai ver Clare, será tudo ótimo, e quando voltarmos irá nos agradecer. Beijos.

- Tchau Duda.

Bom, ela pode estar com a razão, tenho que conhecer gente nova certo? Não vou pensar nisso, eu vou, levo livros e meu tempo será bem aproveitado. Isso, assim será.

Na terça minha mãe sai para depositar o dinheiro, não sei porque, mas ela faz questão de pagar o meu também, e parece muito animada porque decidi ir, isso parece estranho, será que ela sabe de algo? Não! Se soubesse já teria falado alguma coisa. O pensamento sai da minha cabeça, e volto-me para continuar a arrumar a mala.

Já está quase tudo pronto. E Camila está mais animada do que nunca com a proximidade, acho que o carinha que ela gosta ou namora, ou fica, ou paquera, ou sei lá o que, irá também, o que explica sua animação. Duda a todo momento, manda um WhatsApp perguntando algo, acho que ela está mais preocupada em eu desistir do que qualquer outra coisa. Ela me conhece melhor do que ninguém.

E assim a semana passa, mala, mensagens e animação. Em minha mala coloco bastante biquínis, e umas camisetas, gosto muito de me sentir confortável, e alguns shorts de pano mole para poder vestir por cima do biquíni, esse é meu estilo, principalmente dentro de casa, digamos que dentro de casa eu e Camila nos vestimos igual, mas fora, ela tende a ser um pouco mais sofisticada.

Costumo ficar de cabelo solto, mas gosto também de usar um rabo de cavalo. Chega a sexta, hora de ir, mamãe passará na casa da Duda e vamos juntas até o ponto de encontro do ônibus, que será na escola que Camila estuda. Saímos de casa às 7:00hs para pegar a Duda. Chegamos à escola antes das 8:00hs.

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