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Por dez anos, meu mundo foi silêncio. Bruno era meu protetor, minha voz, meu tudo, me blindando de um mundo que eu não podia ouvir depois que meus pais morreram para salvá-lo.
Mas quando uma garota nova, Amanda, chegou e começou uma guerra cruel contra mim, eu de repente recuperei minha audição — apenas para descobrir a verdade apavorante. Bruno não era meu protetor; ele era o cérebro por trás de tudo.
"Ele adora ver você se contorcendo", zombou Amanda, sua voz um sussurro venenoso que agora eu podia ouvir perfeitamente. "Ele me disse que tem tesão nisso. Ele odeia sua cara de paisagem."
O jogo doentio deles era fazer a "Elisa sem emoção" chorar. Minha dor era o entretenimento deles. O garoto em quem eu confiava, a família que eu amava — tudo foi construído sobre uma base de culpa e engano.
Ele achava que eu era uma vítima silenciosa e indefesa que ele podia controlar. Ele achava que eu suportaria sua traição para sempre.
Ele estava errado.
Então, eu pulei da janela do terceiro andar, orquestrando um "suicídio" público para expor seus crimes. Enquanto o mundo explodia em caos e sua vida perfeita se despedaçava, eu sabia que minha verdadeira história estava apenas começando.
Capítulo 1
Ponto de Vista de Elisa:
O burburinho começou no corredor, um zumbido de vozes que vibrava pelo piso e subia até meu peito. Parecia um rosnado baixo, um som que eu mal registrava mais, mas o brilho agudo de uma luz chamou minha atenção. Amanda Nogueira, a novata, estava parada no meio do refeitório, seu cabelo ruivo vibrante era um farol na tarde monótona. Ela estava olhando para o Bruno. Todo mundo estava.
A voz de Amanda cortou o barulho, um som agudo e claro que de alguma forma perfurou o silêncio em que eu geralmente vivia. "Bruno Rocha", ela declarou, com os braços abertos como se estivesse em um palco. "Eu gosto de você. Pra caramba."
Minha bandeja de almoço pareceu pesada em minhas mãos, um peso morto. Observei Bruno, seu rosto uma máscara de surpresa, depois algo mais frio. Seu olhar piscou para mim, um relance rápido, quase imperceptível, antes de voltar para Amanda.
"Você é um lixo", disse Bruno, sua voz seca, desprovida de qualquer calor. As palavras pairaram no ar, pesadas e brutais. "A Elisa é pura. Você não chega nem aos pés dela."
Um suspiro coletivo percorreu a multidão. O sorriso brilhante de Amanda desapareceu, substituído por uma raiva sombria e fervente. Seus olhos, geralmente brilhando com malícia, tornaram-se frios e duros. Ela se aproximou de Bruno, sua voz baixando para um sussurro perigoso que ainda assim fez os pelos dos meus braços se arrepiarem. "Você vai se arrepender disso, Bruno Rocha." Então seu olhar pousou em mim, um olhar venenoso que prometia destruição. "E você", ela articulou sem som, uma ameaça silenciosa que gritava mais alto que qualquer palavra falada.
Antes que Amanda pudesse se mover, Bruno já estava lá, uma muralha entre nós. Ele não me tocou, mas sua presença era um escudo. Sua mão foi ao próprio peito, um sinal familiar para "minha", depois ele apontou um dedo para Amanda, um aviso claro. Era um gesto que eu conhecia, um gesto que sempre me fez sentir segura. Por um momento, o peso em meu peito se aliviou.
O inspetor do refeitório, Seu Valdir, um homem com um rosto perpetuamente cansado, finalmente interveio. Amanda recebeu um dia de suspensão interna por "perturbar o serviço de almoço e agressão verbal". Pareceu uma pequena vitória, um alívio temporário. Mas eu sabia que não era bem assim. Amanda não era do tipo que recuava.
A partir daquele dia, os corredores da escola se tornaram um campo de batalha. Amanda fez de sua missão atormentar Bruno e, por extensão, a mim. Ela o derrubava no corredor, derramava "acidentalmente" suco em seus livros ou deixava desenhos grosseiros em seu armário. Era infantil, mas implacável.
Toda vez, Bruno revidava, suas ações escalando com as dela. Ele "esquecia" o nome dela na aula, corrigia publicamente sua gramática na frente de todos, ou uma vez, em um acesso de raiva, jogou o açaí caro dela no lixo. A guerra deles era barulhenta, pública e exaustiva.
Então, o foco mudou. Passou a ser sobre mim. Amanda começou a deixar bilhetes anônimos no meu armário, desenhos cruéis de uma garota com a boca amordaçada ou fotos de chamas. Estavam sempre escondidos, sempre destinados apenas a mim. Eu os encontrava, minha respiração presa na garganta, e os enfiava no fundo da minha mochila, fingindo que não tinha visto nada.
Uma tarde, eu estava indo para a sala de artes, um lugar que geralmente parecia um santuário. O corredor estava vazio, a luz fraca. De repente, fui empurrada para dentro de um armário de limpeza. A porta bateu, me mergulhando na escuridão. Eu podia ouvir a voz de Amanda, abafada, mas inconfundível, do lado de fora. "Olha pra ela, a aberraçãozinha muda. Não consegue nem gritar por socorro." Risadas, frias e agudas, seguiram suas palavras. Meu coração martelava contra minhas costelas, um pássaro frenético preso em uma gaiola. Eu me pressionei contra as prateleiras empoeiradas, tentando desaparecer.
A porta se abriu com um estrondo, inundando o armário de luz. Bruno estava lá, seu rosto contorcido por uma fúria que eu raramente tinha visto. Ele agarrou Amanda pelo braço, seus dedos cravando em sua pele. "Eu te disse pra deixá-la em paz!", ele rugiu, sua voz ecoando no corredor vazio. Ele a empurrou para longe da porta, com tanta força que ela cambaleou para trás, batendo nos armários com um clangor.
Amanda riu então, um som agudo e perturbador. Seus olhos, brilhando com um brilho perigoso, encontraram os meus por cima do ombro de Bruno. "Ele te protege tão bem", ela zombou, sua voz pingando uma doçura falsa. "Como um cachorrinho leal. Mas me diga, Elisa, ele te protege de mim quando estamos sozinhos?" Meu estômago revirou. A insinuação me atingiu como um golpe físico.
Bruno se virou, sua mão me alcançando, seu rosto suavizado pela preocupação. Mas eu vi então, no pescoço de Amanda, uma leve marca vermelha, um chupão. Gritava uma intimidade, uma traição, que arrancou o ar dos meus pulmões. Meu mundo inteiro, aquele que Bruno havia meticulosamente construído ao meu redor, desmoronou em pó.
Uma dor cegante rasgou minha cabeça, um som metálico e agudo que me fez dobrar. Meus ouvidos, por anos selados em um silêncio profundo, de repente rugiram com uma cacofonia de sons. As luzes fluorescentes zumbiam, os gritos distantes de crianças no ginásio, a pulsação do meu próprio sangue em meus ouvidos — era uma sinfonia brutal e avassaladora. Meu corpo enrijeceu, cada terminação nervosa gritando em protesto.
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