Meu Querido Açucar (My Dear Sugar)

"...Obrigado por ter sido tudo em minha vida; ter me dado amor e carinho, feito-me sorrir e ter secado minhas lágrimas quando elas ainda insistiam em cair.

Obrigado por ter cuidado de mim e não ter desistido nenhum segundo, foi a sua força de vontade que me motivou e me ajudou a lutar. Eu te amei, mesmo com todos os problemas que nos rondavam e te agradeço por tudo, meu querido açúcar..."

Após um milhão de tentativas finalmente Jia conseguiu ingressar na faculdade dos sonhos - ainda que toda a sua família acreditasse que, na verdade, ela estava indo aos Estados Unidos para fazer medicina.

"Uma pequena mentira em prol de um sonho maior!" ela pensou.

À caminho do aeroporto, tentava conter a animação que tomava seu corpo quando se dava conta de que estava prestes a realizar seu maior sonho. Balançava as pernas inquieta, a ansiedade estava à todo vapor, e até chegar ia demorar uns bons minutos, o peito pulava em animação, ela mal podia esperar...

"Se você não se acalmar vai ter um troço antes de desembarcar, Jien." Foi tirada de seus devaneios pelo irmão mais velho, Dante, que encarava o retrovisor com um semblante de preocupação.

"Eu estou tão ansiosa, não consigo me controlar." Jia respondeu, respirou pesadamente e concluiu que não deveria ter tomado tanto café, pois estava piorando sua ansiedade.

Eram quase duas da tarde quando finalmente chegaram ao aeroporto, a fila do check-in estava enorme, a paciência de Jia estava por um fio e o grupo de rapazes na sua frente não colaborava com a situação. Ainda que a fila tenha diminuído após algum tempo, eles não conseguiam se decidir, aparentemente o vôo deles havia sido cancelado e agora, eles imploravam desesperadamente por uma passagem na primeira classe atrasando não só os outros passageiros, mas Jia também.

Ela via seu sonho se tornar cada vez mais distante, conforme os minutos passavam e os caras continuavam com o mesmo drama...

"Moça, é o seguinte... " Um deles falou. "Nós precisamos de sete passagens para a Califórnia, na primeira classe, tipo... para agora!"

"Lamento senhor, só temos seis poltronas disponíveis na primeira classe!" a mulher disse sem muita animação

"Moça, você não está entendendo" O rapaz engoliu em seco e continuou "... Nós precisamos embarcar quanto antes e todos temos que permanecer juntos, não é possível liberar uma prioridade, não?" Ele falava sem parar. "Você sabe quem sou eu?

"Sem prioridade, senhor. " A moça respondeu. "Deseja ficar as seis passagens?"

Ele fez um aceno para que a moça aguardasse alguns minutos e voltou-se para o seu grupo, por estar muito próxima, Jia conseguiu escutar o que eles conversavam:

"Eu disse que não seria uma boa ideia pedir ao manager para deixar-nos aqui mais um dia para curtir." Um loiro falou, tinha a pele clara e os olhos bem puxados, trajava uma camiseta de flanela e uma calça bem larga que parecia até um pijama.

"Jimmy... você foi o primeiro a concordar, não tem direito a reclamações." disse, era o mesmo cara que estava discutindo com a moça no balcão.

"Sim e agora, nós precisamos de uma solução para chegar em LA no horário certo!" o tal Jimmy exclamou soando indignado.

Jia revirou os olhos achando tudo muito patético, se haviam apenas seis poltronas disponíveis na primeira classe, então algum deles embarcaria de classe econômica. Não era difícil e francamente, se ela perdesse o vôo por conta daqueles caras, bolas iriam voar, era uma certeza.

"Licença" pediu se aproximando. "... Se vocês não conseguem resolver, por favor, libere a fila... nós temos horário."

Eles pararam de conversar para encará-la, um deles, o mais Cretino de todos - e Jia podia ter certeza - a olhou de cima a baixo e sorriu no instante seguinte. "Desaforado!" Jia pensou.

"Nós temos horário para chegar..."

"E qual o problema em esperar o próximo vôo ou simplesmente ir de classe econômica?" Jia o interrompeu. "Uma vez tendo contato com pobre não mata, e, além disso, vocês estão atrasando a mim e a outras pessoas com esse show de estrelismo."

"Ela tem razão, caras." um outro rapaz disse, parecia o mais novo do grupo. "Vamos decidir quem vai de classe econômica no jokenpô."

"Sério?" ela se segurou muito para não rir.

Iria demorar, a paciência de Jia estava por um fio e sua vontade era de esganar aqueles caras por simplesmente não liberarem a fila e tampouco chegar num acordo, ela olhou no relógio e sentiu o corpo estremecer quando percebeu que faltava pouco menos de quarenta minutos para o embarque.

"Não precisa, eu vou." o moreno resmungou e todos olharam surpresos.

"Caraca, Damon, você faria isso por nós?" o castanho perguntou incrédulo.

"Que fique bem claro que só estou indo porque não aguento mais essa discussão sem fim." Damon respondeu áspero.

Jia respirou aliviada e sorriu quando a confusão finalmente acabou e ela pode embarcar, a ansiedade já estava deixando seu corpo, não ia demorar para que o remédio fizesse efeito, então ela se acomodou na poltrona pensando que finalmente estaria em paz.

"Poltrona 46, poltrona 46..." ouviu uma voz familiar dizer.

... Ah não!

Ela se afundou na poltrona e jogou seu casaco no rosto na tentativa falha de se esconder, mas aparentemente o seu lugar era lá, a expressão no rosto de Jia fora impagável, quando ela assistiu o cretino extremamente bonito sentar-se ao seu lado desejou poder voltar no tempo para escolher a poltrona mais distante possível.

Talvez fosse o universo dizendo que ela deveria passar por algumas provas antes de finalmente realizar seu sonho - o que fazia sentido considerando que as coisas começaram a ficar díficeis a partir do momento em que ela pisou no aeroporto -, no entanto, ela imaginou que não seria tão ruim assim, ele tinha um cheiro bom, "cardamomo", pensou e concluiu que aquele rapaz deveria ser podre de rico...

"Você aceita?" Ele perguntou tirando a garota de seus devaneios, ergueu uma caixinha de chocolate e sorriu simpático. "Uma oferta de paz já que você teve uma ótima ideia e graças à isso não entraremos em uma enorme confusão!"

Ela encarou seus olhos e no instante seguinte, desviou o olhar, pensou em recusar, mas percebeu que não era um chocolate qualquer - simplesmente um Grand Cru de Pierre Marcolini - e concluiu que o cretino não estava de brincadeira. Ele simplesmente lhe ofereceu um chocolate que custava uma bagatela de 100 doláres em troca de... paz?