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Aquele era um dos meus dias prediletos, considerando a chuva forte e o frio, sempre foi o meu clima favorito. Eu amava sentir o vento soprar forte contra o meu rosto levando meus cabelos a balançarem. Eu gostava da idéia de estremecer de frio. Desde que eu completei meus quinze anos, eu notei em mim mesma o desejo e interesse por coisas que muitos julgavam ruins. Como dias chuvosos e frios, filmes de terror e desenhar paisagens destruídas ao invés de coisas belas.
Mas quando a minha vida mudou completamente, eu estava com dezoito anos. Morava com a minha avó desde sempre, nunca me senti rejeitada ou inferior a ninguém. Algumas pessoas até me julgavam antisocial, por ter apenas dois amigos, Olívia e João. Mas eu não me importava, aqueles dois valiam mais do que toda a escola e vizinhança.
Naquele dia eu acordei com dor de cabeça por ter tido um sonho estranho; minha mãe e meu pai vinham até mim e depositavam dois beijos na minha testa e desapareciam. O que eu mais havia achado estranho, era que eu consegui ver seus rostos, eles eram tão lindos e pareciam felizes. Eu queria muito saber sobre eles e o que havia acontecido, mas a minha avó Florence nunca quis me falar nada. Apenas concordei e não falei mais sobre, o amor dela me preenchia e nunca me fez falta uma mãe e um pai.
Durante toda a tarde do dia anterior, e já de manhã, a única coisa que passava na TV, era sobre um maníaco que fugiu do manicômio. Diziam que ele era um perigo a sociedade e que havia matado sua esposa e seus dois filhos bebês, logo depois assassinou toda a família, mãe, pai e três irmãos, demorou algum tempo para ser pego e quando foi, descobriram que ele já havia estuprado e matado doze meninas entre dezessete e dezoito anos.
A única coisa que não divulgaram foi o nome e nem sua foto. Eles estavam convictos de que antes de fugir, o homem havia destruído tudo sobre ele, fotos e documentos. Eles estavam esperando os médicos que o atendiam para fazer um retrato falado e começarem a espalhar pela cidade. Com certeza ele havia conseguido ajuda, não era possível uma pessoa declarada como doente mental, planejar tudo isso sozinho.
"Bom dia, filha." A minha avó me recebeu sorrindo na cozinha. Ela estava bebendo café e me ofereceu uma xícara cheia em seguida. Sem café eu simplesmente não existia.
"Bom dia vovó." Eu nunca deixei de chama-la de vovó, ela me mimava tanto que as vezes -na maioria- eu me sentia como uma menininha ainda. "Obrigada pelo café." Falei dando um gole. Estava bem docinho, do jeito que eu amava.
"Não esqueça de levar dinheiro para colocar crédito no seu celular." Ela disse enquanto mordia um pedaço de pão.
"Eu já disse vó, não tenho ninguém para ligar. Quando eu preciso eu ligo a cobrar para Liv ou para o João." Resmunguei bebendo mais um gole de café.
"E eu? Sou ninguém então." Eu sorri com o drama dela. A minha avó não era uma velha, ela era uma coroa bem bonitona, com seus cinquenta e cinco anos.
"Claro que não. A senhora é tudo pra mim. Mas a senhora sempre me liga, então não precisa. É sério." Expliquei e ela deu de ombros.
"Você quem sabe Eloíse." Respondeu séria e abriu um jornal que estava encima da cadeira ao lado.
A verdade era que eu gostava que me ligassem. Eu não queria que tivessem um motivo para eu ter que ligar, eu tinha muito medo de incomodar as pessoas. Mesmo meus melhores amigos e minha avó.
"Alguma novidade, sobre o maníaco?" Perguntei curiosa. A cidade para qual ele havia fugido era ao lado da nossa, eu estava com um pouco de medo.
"Ainda as mesmas coisas. Dizem que ele fugiu com as roupas brancas de lá e está todo maltrapilho. Filha, cuidado quando estiver voltando da escola, pega o ônibus rápido e vem pra casa assim que terminar a aula, tá bem?" Disse minha avó com olhar preocupado.
"Tudo bem vovó. Espero que o Lucas conserte logo a minha bicicleta, não aguento mais andar de ônibus." Exclamei. Lucas era um mecânico aqui da vizinhança, minha bicicleta estava com ele a dois dias. Havia furado o pneu e amassado a câmara de ar. "Já deu minha hora. Vou indo."
"Vai com Deus e cuidado!" Dei um beijo nela e me despedi.
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