Login to Lera
icon 0
icon Loja
rightIcon
icon Histórico
rightIcon
icon Sair
rightIcon
icon Baixar App
rightIcon
Problemáticos

Problemáticos

MagoAthame

5.0
Comentário(s)
648
Leituras
5
Capítulo

Um conjunto de histórias de humor protagonizadas principalmente por Dídala, a pessoa mais arrogante do mundo, pois não nasceu para ter paciência com gente lerda, dramática ou preguiçosa. Ela mora na Rua dos Cornos, um lugar completamente maluco porque com frequência acontecem coisas como fofocas, mentiras, brigas, traições, obsessões, baixaria, golpes, roubos, e mortes de vários jeitos.

Capítulo 1 (1.0) Bem-vindo à Rua dos Cornos

A Rua dos Cornos não mostra harmonia nem na aparência, porque embora tenha algumas casas bem feitinhas, também tem aquelas construídas uma em cima da outra que parecem trabalhos em grupo quando cada integrante faz sua própria parte e junta tudo depois: uma verdadeira bagunça. Ainda bem que poluição visual não é crime (ou será que é?). Bom, de qualquer forma a justiça mal chega nessa rua quando acontece coisa pior.

Agora falando dos moradores, esses sim têm menos estrutura que as casas, pois grande parte é composta por desequilibrados, barraqueiros e fofoqueiros que vivem causando desavença por aí. A maioria fica de boa quando está se divertindo em algum cabaré, porém às vezes nem assim, porque alguém acaba descobrindo que levou chifre e começa uma briga fora do comum.

Por esse motivo, quem mais odeia cabaré com todas as forças, é uma moradora conhecida pelo seu estresse excessivo. Ela mora numa simples casinha amarela semelhante àquele desenho padrão de casa meio de lado que fazemos durante nossa infância, o que já se pode considerar uma mansão se levarmos em conta as outras residências.

Ao longo da sua vida, ela ganhou vários apelidos, a exemplo de: cria de Satanás, causadora de todo o mal, abominável, anticristo, endiabrada e Leviatã, mas na verdade chama-se Dídala. Quem conhece, não esquece e pode se arrepender, afinal ela não tem paciência nenhuma com pessoas lentas, melosas, sensíveis e dramáticas. Para seu azar, casou-se com um rapaz dono de todas essas características, o que a fez ter mais raiva de emoções, pois se deixou levar pelo lado emocional e quando percebeu, já tinha feito um filho.

Neste momento, está varrendo a humilde sala da sua casa e mesmo assim deixou o ventilador ligado para se refrescar, já que devido aos surtos, sua cabeça pega fogo com facilidade.

Após uma longa manhã de trabalho na qual não fez nada, seu marido, Fábio, bate à porta e berra:

— Amor, vem aqui fora!

Lá de dentro, Dídala pergunta gritando:

— Por quê?!

— Vem logo! — Fábio insiste desesperado.

— Primeiro diga o motivo!

— Não dá tempo explicar! Chega, rápido!

— Esse idiota vive trazendo problema... — ela resmunga enquanto corre. Graças à pressa, mal olha para baixo e acaba tropeçando no fio do ventilador. Porém, por sorte seus seios amortecem a queda, o que a faz dar um mortal de 360 graus e cair em pé de frente para a entrada de sua residência. — O que foi? O que foi? — indaga assim que toca na maçaneta.

— Nada, só queria que você abrisse a porta mesmo — Fábio responde entrando com um grande sorriso.

— Cria vergonha, cabra véi safado! — Enfurecida, Dídala fecha a porta com tudo.

— Poxa, eu trabalho tanto e nem uma gentileza você quer me fazer? — ele diz meio cabisbaixo.

— E eu não faço nada, não? — ela coloca os punhos na cintura. — Falando desse jeito, parece até que eu sou uma vagabunda que fica o dia inteiro com o rabo pra cima deitada no sofá. Além de trabalhar fora, trabalho aqui em casa. Inclusive você era pra me ajudar, seu idiota!

— Tá bom, querida. Sem briga, por favor. Hoje vamos fazer o almoço juntos, ok? — ele sugere bem calminho.

— Bora! — Dídala dá alguns passos em direção à cozinha e olha para trás. — Quer cozinhar o quê?

— Algo diferenciado... — Ele põe a mão no queixo e olha distante. — Sabe, ontem eu estava pensando... E se nós comprássemos uma churrasqueira?

— DE JEITO NENHUM! — ela berra de olhos arregalados. — Compra sei lá... uma cama nova, já que a nossa está quebrada desde aquele dia em que fomos rápido demais.

— Oxe! — Ele arqueia uma sobrancelha. — Qual seu problema com churrasqueira?

— Todos! É coisa de cabaré e eu não quero rapariga dentro da minha casa! — ela grita fungando de raiva igual a um touro nervoso.

— Pera, explica isso direito. — Ele franze o cenho.

— Simples: onde tem churrasqueira, tem cabaré e por essa porta não passa nada relacionado a ambientes de prostituição e destruição dos valores familiares! — Dídala esclarece apontando repetidas vezes para a entrada.

— Quem disse que eu vou montar um cabaré? — Fábio pergunta de braços cruzados.

— Meu sexto sentido detecta safadeza com bastante facilidade, seu imbecil.

— Estou ofendido... — Até se encolhe de tão triste que fica.

— Pois morra!

Arrastando-se de preguiça, mas sedenta pelo desejo de talaricar, Rosalinda sai do seu quarto e dirige-se à sala para então dizer:

— Pobrezinho de Fábio... Tenho tanta pena dele.

— Pobrezinho?! — Dídala indaga enfurecida. — Esse traste é chato que só!

— Chato deve ser aguentar uma barraqueira gritando direto — diz Rosa em tom de superioridade por estar calma.

— O QUÊ?!

— E digo mais: Já que você vive humilhando Fábio, seria melhor se ele ficasse comigo, pois eu sei fazer meus companheiros felizes — garante com um sorriso provocante.

— ROSA, CALA BOCA E SAI DAQUI! — Dídala se desespera.

— Ih, tá com medinho de levar chifre?

— Todo mundo tem esse medo, sua imbecil! — Dídala retruca logo em seguida. — Só porque você já foi corna, quer que os outros sejam também?

— Epa, não coloque palavras na minha boca. Agora Fábio pode colocar o que ele quiser... — Rosa faz cara de malícia.

— COMO É, SINHA RAPARIGA?! — Dídala fala rosnando com os dentes bem juntinhos enquanto belisca a orelha da sua irmã até entortar.

— Ai, ai, ai, ai! Me larga, por favor! — Rosa suplica.

— Então para de gracinha! — Dídala solta a orelha dela ao mesmo tempo que empurra sua cabeça para frente. — Some daqui!

— Tá bom! Nossa, quanta brutalidade...

— Volte pro seu quarto, pedaço de quenga!

— Só se Fábio vier comigo... — Rosa não perde uma oportunidade.

— JÁ CHEGA! — Furiosa, Dídala puxa com tudo os cabelos azuis da promíscua e começa a girá-la dando várias voltas no ar para atirá-la bem longe. No exato momento em que Rosa é lançada em direção ao quarto dos seus pais, sua mãe abre a porta e a arremessada acaba passando direto por cima da senhora.

— Se eu fosse um pouquinho mais alta, ela teria se estabacado em mim. Até que ser baixinha tem alguma vantagem — diz a velhinha aliviada, que logo em seguida, dirige-se à sala. — Filha, por que você jogou sua irmã como se ela fosse um saco de lixo?

— Porque aquela infeliz fica toda hora dando em cima do meu macho.

— E qual o problema? — A senhora faz cara de desentendida.

— MAS SERÁ POSSÍVEL?! — Dídala esgoela-se com os punhos cerrados. — EU SOU A ÚNICA PESSOA RACIONAL NESSA CASA?!

— Filha, sejamos sinceras: Fábio e Rosa dariam super certo juntos. Os dois são carinhosos, afetuosos, gentis... — Izolda afirma sem medo nenhum.

— Ai, ai... — Olhando para cima como quem não quer nada e com as mãos atrás das costas, Dídala confessa. — Às vezes me bate uma vontade de agredir uma idosa...

— Credo, que palavras horríveis! — Izolda se espanta. — Eu só dei a minha humilde opinião...

— Oh, coitadinha! Como sofre...

— Fábio sofre mais — a senhora retruca logo em seguida —, logo sua irmã merece casar com ele.

— AH, É?! JÁ QUE GOSTA TANTO DAQUELA NOJENTA, POR QUE NÃO VAI VER SE ELA SE MACHUCOU?!— Dídala grita tão alto que sua boca se expande a níveis inumanos.

— Tenho preguiça... — Izolda sorri meio sem jeito.

— Rosa teve a quem puxar, por isso até hoje vive desempregada morando aqui de favor. — Dídala vira a cara e murmura de olhos fechados.

— Ai, mudei de ideia! Fiquei preocupada com a bichinha... — Izolda desloca-se ao quarto e encontra Rosa cravada na parede com os braços e pernas abertos. — MINHA FILHA QUERIDA, FALA COMIGO!

— Igskafdvczsdfgekhghuogp — Rosa reproduz gemidos ininteligíveis.

— MEU DEUS, ELA JÁ ERA BURRA E NÃO SABIA MUITA COISA, AGORA NEM FALAR SABE MAIS! — A pobre idosa entra em completo desespero.

— Para de fazer drama, velha doida! — Dídala puxa Rosa pelos cabelos, de modo a desprendê-la da parede e assim, esta cai no chão mais fina que uma folha de papel.

— MINHA NOSSA, ELA ESTÁ AMASSADA! — Izolda volta a se desesperar.

— Nada que uma bomba de encher bexiga não resolva... ou até mesmo exploda — Dídala sugere bem tranquila.

— Não precisa. — Rosa se chacoalha para os lados com a cabeça e retorna ao seu estado natural. — Dídala, sinto muito, mas eu vou te processar por danos morais.

— Com que dinheiro, sua otária?

— Há várias formas de conseguir dinheiro em cabaré — Rosa responde como se fosse algo óbvio.

— Vocação pra ser puta você tem — Dídala "motiva".

— O QUÊ?! — berra Izolda.

— Mas, mãe... Eu tenho mesmo — Rosa admite receosa.

— Relaxa, filha! — A senhora joga as mãos para frente. — Eu já tive minha fase puta, hippie, anarquista, evangélica, wicca, k-popper e "eticétera".

— É sempre bom se reinventar! — Rosa afirma em concordância.

De saco cheio, Dídala dá meia volta e deixa o seguinte recado:

— Fiquem aí conversando merda que eu vou fazer o almoço, porque se eu não fizer, ninguém faz.

Inesperadamente, surge Fábio segurando um panelão do tamanho de uma bacia:

— Não precisa cozinhar, querida. Olha só!

Ao retirar a tampa, ele mostra uma belíssima e fumegante macarronada com fios dourados ao mesmo tempo que avermelhados por causa do molho de tomate, o qual se faz presente junto a uma boa porção de carne moída acompanhada de cebolinha por cima. Basta sentir o cheiro para imaginar o sabor.

— Fábio, mas que prato mais lindo! — Impressiona-se Dídala com ambas as mãos cobrindo sua boca.

— Gostou? — ele pergunta animado.

— Amei! Mal posso imaginar o prazer de comer algo feito pelas suas mãos que sabem fazer outras coisas tão bem.

— Imagina se eu fizesse churrasco... — Ele joga no ar.

— Como é?! — Ela arqueia uma sobrancelha.

— Ah, sei lá. Seria interessante.

— JÁ ENTENDI! — Em milésimos, desvanece a calma dela. — VOCÊ FEZ ESSA MACARRONADA TODA CAPRICHADA PRA VER SE EU DEIXAVA COMPRAR UMA CHURRASQUEIRA, MAS ESQUEÇA PORQUE EU NÃO ABRO MÃO DOS MEUS PRINCÍPIOS!

— Caramba, que raciocínio rápido. — Fábio se surpreende negativamente.

— Eu só não sou burra igual a você — Dídala retruca com ódio perceptível em seus olhos.

— Mas eu sou inteligente — ele afirma convicto.

— É mesmo?

— Sim! — ratifica ainda mais seguro.

— Então vai tomar banho — ela pede sorrindo.

— Por quê?

— Burro, não imaginou que eu fosse fazer isso! — Dídala vira o panelão na cabeça de Fábio e este, sem reação, apenas observa a macarronada escorrendo pelo seu corpo.

Após ficar vegetando em pé, Rosa ganha um pouco de energia, pelo menos o suficiente para gritar:

— FÁBIO, VOCÊ ESTÁ MAIS DELICIOSO DO QUE NUNCA! — A preguiçosa promíscua pula em cima do rapaz e ambos caem juntos.

Ao ver sua própria irmã comendo seu marido, Dídala se joga em cima deles e começa a agredi-los formando uma grande nuvem de fumaça com muito BUM, POF, TAP, CRÁS e várias outras onomatopeias.

— Gente, calma! Sejamos civilizados! — Izolda tenta apaziguar, mas acaba sendo puxada para dentro da confusão.

De repente, ecoa um forte barulho como se dois carros tivessem se chocado. Neste momento, todos param o fuzuê.

— Eita porra, teve batida! — Izolda grita espantada ao mesmo tempo que feliz enquanto corre um quilômetro negativo rumo à porta. — Bora ver quem morreu!

— Espero que tenha sido Ludovina, aquela velha nojenta já viveu demais! — fala Dídala após puxar o cabelo de sua irmã para passar na frente.

Continuar lendo

Você deve gostar

Capítulo
Ler agora
Baixar livro