O caminho para seu coração
A proposta ousada do CEO
Uma noite inesquecível: o dilema de Camila
Minha assistente, minha esposa misteriosa
A esposa em fuga do CEO
A Segunda Chance com Meu Amor Bilionário
Um casamento arranjado
A ex-mulher muda do bilionário
Noiva por contrato - Bella mia(série: Destinos entrelaçados)
Um vínculo inquebrável de amor
Morrer no Brasil era extremamente burocrático.
Natália o sabia bem. Quando a avó morrera, ela tinha 13 anos; jovem demais para compreender de fato como a vida podia ser complicada, mas na idade certa para poder começar a entender o que testemunhava da luta alheia. Ela tinha visto a mãe chorar a morte da avó naquele hospital terrível, o único que o plano de saúde barato deles cobria, para depois cuidar das complexidades que cercavam o cuidado e transporte do corpo, para então lidar com o administrativo do cemitério. Ela nunca esquecera a ocasião em que sua mãe tentava, em vão, parcelar os custos do caixão, só para não ter limite em seu cartão de crédito. Sob o olhar neutro do funcionário do cemitério, ela digitou a senha várias vezes, até o momento em que sua tia interviu e chamou o funcionário à parte para conversar. Então sua mãe sentara na cadeira de plástico da capela em que estavam. Muda ela estava e muda ficou até o final do dia, bem depois das lágrimas terem secado.
Hoje, no enterro de seu próprio marido, Natália não tinha lágrimas.
A família dela era toda de mulheres desde que ela se lembrava, uma mistura de viúvas, divorciadas e mães solteiras, e quase todas estavam ali hoje, embora Natália não falasse com ninguém – incluindo as duas primas de 1º grau, que para ela não contavam realmente, mas estavam ali. Ambas a olhavam agora com os cantos dos olhos, cochichando entre si, encostadas na parede perto de onde sua mãe a olhava preocupada desde o início do funeral. Natália sabia do que as primas falavam, não porque as conhecesse especialmente, mas sim porque ela mesma o pensava agora: para que lágrimas? Não era como pudesse mudar nada do que acontecera. Tinha sido uma fatalidade. Alguns dos presentes até poderiam estar pensando, embora sem coragem de comentar entre si, que Natália não chorava porque não amara especialmente o marido.
Amado especialmente. Era como se Breno tivesse sido um gato travesso que Natália não lamentasse que tivesse fugido. Isso não era verdade. Nem que fosse muito dura consigo mesma ainda assim não poderia aceitar isso. Ela o amara bastante, anos antes, quando decidiram se casar. E era o suficiente. Ele, então, a amara o suficiente pelos dois, mesmo que Natália só conseguisse ter por ele aquele sentimento prático e direto, quase como se o relacionamento todo fosse um desafio à sua sobrevivência. Embora não tivesse motivo para ser diferente. Passar pela vida adulta era apenas sobreviver a pequenos desafios. A morte do marido, mesmo que súbita e chocante naquele acidente, era só mais um deles.
Ela só queria que tudo já tivesse acabado, pensou estafada enquanto tirava a parte da franja da frente do olho esquerdo. Queria ir para casa, ficar sozinha, e beber vinho. Eis o verdadeiro remédio para os males, e não lágrimas. Estava com dor de cabeça, e a cicatriz em seu antebraço esquerdo coçava.
Breno era um órfão já quando o conhecera. Só tinha duas irmãs, Amélia e Gabriela, sendo que a última retornara a trabalho para o estado vizinho, de onde a família dele era originária, ainda antes que Natália o conhecesse. Era apenas essa irmã que rodeava o caixão do irmão que pouco via, chorando silenciosamente enquanto tocava a madeira. A outra se acercava de Natália agora. Relutantemente, a puxou para um abraço hesitante. Era estranho e duro, como abraçar um manequim.
- Meus pêsames, Natália. Que tragédia.
Natália a observou. Gostava de forma reticente de Amélia, embora ela não exatamente retribuísse sentimentos a qualquer um que não fosse seus gatos. Nunca tinha sido muito próxima de Natália, o que lhe fora ótimo, e distanciara-se dos irmãos nos últimos anos. Apesar disso, notou ela, tinha seus olhos inchados agora.
- Um acidente de carro – descreveu ela por nenhum motivo especial, sentindo-se ausente, olhando para Gabriela perto do caixão antes de encarar Amélia – Breno ultrapassou o cruzamento e o outro motorista bateu na lateral.
Amélia assentiu, polida. Os olhos inchados faziam seu rosto parecer ainda mais redondo do que já era, refletiu Natália. A luz artificial do pequeno cômodo em que acontecia o velório parecia fazer sua pele negra brilhar.
- Você parece bem.
Natália suspirou e inclinou a cabeça para trás.
- Não tem o que fazer – disse em voz baixa.
Eles queriam ter um bebê, lembrou-se Natália com um solavanco. Mais Breno do que ela inicialmente, mas já com 33 anos achou melhor tentar. Nos meses anteriores eles não tinham alcançado nada, mas e se da última vez...
- Você vai se recuperar – disse Amélia com suavidade pouco característica, pondo a mão desajeitadamente sobre o ombro de Natália – Breno ia querer isso.
Natália assentiu sem dizer nada. Quando Amélia se afastou, pegou a aliança de Breno de dentro da bolsa e a testou em todos os dedos das mãos.
Ela só coube no polegar direito.