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Alexandre observava a neve derreter pela janela.
A primavera se aproximava e com isso a promessa feita ao tio em seu leito de morte teria que ser cumprida, mesmo que gerasse transtornos a sua vida cotidiana.
Ser um membro da família do Czar garantia-lhe tranquilidade e favores. Fato e que nunca necessitou de nenhum deles ao longo de toda a sua vida, vivia uma vida honesta administrando suas fazendas vendendo seus produtos. Longe da agitação da corte e das tramoias politicas, amava a terra e a vida calma dos Montes Urais. Era feliz sozinho, não tinha sentia necessidade de companhia. Nunca foi propicio a interações românticas, aquilo não passava de tolices que levavam os homens a loucura e os vícios.
Não tinha intenção alguma de se casar. Em sua vida não havia espaço para essa categoria de complicação. Era um homem tranquilo, dado a uma vida recatada e reclusa.
Pensava ele fitando a neve desmanchar pelo vidro da janela.
Havia empenhado sua palavra no leito de morte do seu tio, o moribundo implorou para ele tomar como esposa sua jovem afilhada após a morte, já que uma moça órfã sem família estava destinada à miséria ou a prostituição em troca da sobrevivência.
Pela primeira vez na vida sentiu o impulso de ajudar alguém e num ato impensado empenhou sua palavra, amargando o ato após passar a emoção. Mas uma palavra empenhada era honrada. Era um homem conhecido por honrar os compromissos assumidos, por isso era conhecido como um patrão justo.
Agora estava preso a um compromisso que não queria e iria cumprir com sua obrigação, mesmo que fosse necessário ter uma esposa que não desejava.
Não tinha tempo para tolices de amor ou paciência para frivolidades femininas.
Amava a paz que tinha em sua casa. Às vezes odiava ter um código de ética próprio que o obrigava aquele sacrifício.
Pensava ele encostando a cabeça no vidro.
_ Assumirei este compromisso de casamento dentro das suas próprias regras.
Falou para si indo para porta pegando seu casaco forrado de lã rumando ao vilarejo próximo a sua casa para conhecer sua noiva.
Catarina observava a neve derreter com coração apertado. Como órfã foi acolhida pelo padrinho, um tio distante de segundo grau de seu pai.
Fora viver com ele aos sete anos. Tio Frederico era um homem bom e educado. Amava os livros e a cultura. Catarine cresceu entre os livros, aprendeu a ler, apreciar a arte, a música à dança. Graças a bondade do homem teve liberdade de pensar e falar com ele, fato que lhe permitiu esmerada educação. Com habilidades refinadas de comunicação e pensamento, fato que era raro as mulheres pobres como ela da casta das camponesas que eram vistas como escravas com objetivo de servir como mão de obra nas lavouras.
O bondoso homem lhe ensinou a se portar em uma mesa, a receber as pessoas como uma verdadeira anfitriã, além de ser discreta na fala e no agir. Ouvindo mais para depois falar. Lembrou-se da preocupação demonstrada por ele com sua a inocência e com seu jeito meigo quando atingiu seus 15 anos. Por isso ele lhe levou em viagem a capital do império e lhe mostrou a realidade triste da vida fora da aldeia dos Montes Urais.
Catarina viu a hipocrisia da corte do Czar e a pobreza dos bairros de São Petersburgo. Via a carga abusiva de trabalho imposta aos trabalhadores, e os agricultores eram tratados como escravos. Ali sua inocência foi deixada para trás. A morte do seu protetor a deixou a mercê de uma situação de vida muito difícil fadada a pobreza e miséria, por isso aceitou o casamento com o sobrinho dele.
Pensava ela indo para a prateleira de livros, o maior tesouro daquela casa.
Estava terminando de organizar os livros na prateleira quando deparou com um livro de economia que era um assunto que sempre a fascinou. Estava absorta na leitura que nem notou um homem na porta.
Alexander, irritado pela demora em ser atendido, decidiu entrar na casa. Ao observar o ambiente ficou satisfeito com a limpeza e a organização. O cheiro delicioso que vinha da cozinha demonstrou que sua futura esposa era prendada.
Caminhando pelo corredor da casa notou a porta da biblioteca aberta e ao entrar deparou com a mulher mais linda que já viu na vida. Ela estava em pé com um livro nas mãos, absorta na leitura. Os cabelos cobreados estavam presos em uma trança bem feita. Vestia um vestido de veludo simples azul, não era baixa e nem alta na medida perfeita. Mais os olhos eram excepcionais. Era de um tom violeta profundo.
Nunca havia visto olhos tão bonitos.
_ Meu senhor?
Perguntou ela envergonhada abaixando o livro escondendo o título entre as mãos.
_ O que estava lendo para não ter ouvido meu chamado?
Indagou-o andando até a moça pegando o livro entre as mãos delicadas.
Virando para ver o título ficou surpreso com o mesmo
_ Gosta de ler?
Perguntou ele a fitando sem demonstrar nenhuma emoção.
_ Sim.
Disse ela de maneira tímida.
_ Quais desses vocês já leu?
Perguntou mostrando o grande acervo de livros no cômodo.
_ Todos o meu senhor.
_ Todos!